Black Desert escrita por Kallin


Capítulo 107
(D) Sáshia


Notas iniciais do capítulo

Minna-san (pessoal)!! K.K. wo yurushite kudasai (por favor perdoem K.K.)! ヽ(°〇°)ノ
Eu sei que extrapolei todos os prazos com esse capítulo, mas vocês não tem ideia de quão difícil foi fazer ele (ou talvez percebam, pelo tamanho que ele tomou... me desculpem por isso, eu juro que tentei não exagerar)! (・_・;)
Honestamente nem sei se passei por algum tipo de bloqueio criativo (possivelmente não), ou se simplesmente eu tentei tirar leite de pedra dessa vez (possivelmente sim)! σ(゚-゚;)
Fato é, eu estou direto desde a semana passada tentando fazer esse capítulo dar certo, e nunca me convencendo de que estava indo (nem agora admito que ainda sinto estar 100%)! (ᗒᗣᗕ)՞ E é tão vital mais para frente que ele funcione e faça um mínimo de nexo! Por isso a minha demora toda! (╥﹏╥)
(Se bem que se vocês acharem que ficou bom, me ignorem então. Eu confio muito mais na opinião de vocês do que na minha que é meio paranóica.) ┐( ̄ヮ ̄)┌

Aliás vocês possivelmente também irão ver algumas divergências hoje já que Damian será bem pouco perceptivo dessa vez, diferente de seu normal. Mas peço que considerem que sua inteligência é racional, e que entre muitos Humanos ele fica emocional demais para conseguir pensar tão bem quanto deveria. (・`ω´・)
Eu só não salientei isso no capítulo por ele já estar grande demais para eu ficar enchendo vocês com o reforço dessa informação. (・・;)ゞ
Mas bem, tirando isso do caminho e tendo minha demora explicada, eu espero então que todos aproveitem o capítulo de hoje que foi feito com muito carinho (e crueldade)! (ΦωΦ)Ψ Estamos muito próximos das grandes revelações dessa história, e agradeço por terem resistido até aqui comigo! (´• ω •`) ♡
Uma ótima leitura para todos vocês hoje, e até nosso próximo -não tão distante- encontro, bye bye! °˖✧◝(⁰▿⁰)◜✧˖°



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— "Damian?"
— "Humph...?"

Damian não soube esconder a sua expressão de desagrado nem mesmo quando então a voz de Yura surgiu ao seu lado. Encarando-o brevemente antes de tentar voltar com seus olhos para o outro lado, no que Yura precisou ter o trabalho de relevar aquela sua desagradável atitude só para tentar abordar um assunto que ele já estava querendo abordar fazia algum tempo.

— "As-... as suas mãos. Como elas estão?"

A expressão do Skrea então suavizou enfim, no que ele levou alguns segundos para processar aquela inesperada frase e voltar finalmente com os seus olhos -em surpresa- para Yura. Descruzando os seus braços e encarando surpreso as suas mãos machucadas pelo fogo, sem conseguir se convencer de quão óbvio foram os seus ferimentos para que aquele Humano tivesse conseguido afinal percebe-los sem qualquer tipo de ajuda.

"Desde quando que ele-...?"
Damian se questionou. Incomodado, já que ele mesmo -como Skrea- não possuía o hábito de receber o interesse dos outros quanto aos seus próprios problemas. Para a sua raça não havia porque perder tempo com isso já que, aos olhos de todos, a dor era apenas uma consequência e a regeneração um fato. E que um Skrea que não suportava suas próprias adversidades, era porque já estava morto.
Nisso Damian não teve como saber reagir àquela dúvida de Yura senão apenas com uma desajeitada evasão.

— "Não foi nada, logo vão se recuperar."
— "..."

Seu rosto se virou para o outro lado, buscando ele então resguardar mais uma vez as suas mãos por debaixo do grosso tecido de seu casaco. No que em qualquer outro cenário ele não iria ter se importado tanto assim com o estranho clima que sua atitude gerou, se não tivesse porém isso feito Yura começar a se revolver em um sentimento desagradável de culpa pelo estado de Damian que ele mesmo causou -no instante em que o Skrea precisou erguer aquela pilastra de madeira sozinho enquanto contrariando a temperatura insuportável do fogo com suas mãos.
Assim Damian precisou fechar os seus olhos e suportar o resvalo do peso da responsabilidade que atingiu na mesma hora o peito de Yura, não percebendo ele com isso porém, o instante em que Yura resolveu passar por cima de tudo e puxar à força mais uma vez as suas mãos para fora de seu casaco!
Segurando ele com certa frustração Damian pelos pulsos, no que as pupilas do Skrea em reação se contraíram e seus caninos se expuseram em ameaça -por puro instinto!

— "Mas o quê é que você-!?"
— "Você se machucou por minha culpa. Me deixe ao menos cuidar disso, é o mínimo que posso fazer!"
— "Eu já disse que vão se recuperar sozinhas!"
— "Mas está doendo, não está!?"
— "!"
— "Você pode ser um Skrea e se regenerar mais rápido do que qualquer um nessa sala. Mas isso não significa também que você é imune a dor. Ou estou errado?!"

Ouvindo aquilo Damian não conseguiu responder ou contrariar as intenções de Yura. Ignorando o abusivo gesto de pretensão daquele Humano, por se ver diante da (quase esquecida) lembrança de um antigo gesto de gentileza que aquele momento inesperadamente o remeteu.
"... Ele... falou igual à 'ela'."
O peito de Damian então ressoou com a instantânea memória de sua mãe. A única pessoa que sempre insistiu em o amar e se importar com ele, mesmo que ele por outro lado fosse incapaz de retribuir seus sentimentos da mesma forma que uma criança Humana poderia ter conseguido retribuir. Ao que ela também nunca pareceu se importar com esse detalhe. E nem com os seus disparates, ou com as suas crises de fúria, ou com quando ele perdia a noção e a mordia ou machucava. Nunca, em nenhum momento, ela pesou as suas limitações contra ele na hora de o dar toda a compreensão e o carinho que esse mundo jamais lhe permitiu novamente ser digno de possuir.

E essa exclusividade não pasou a ser um fato só após ele ter sido afastado dela também. Não, até mesmo para os Humanos daquela época com os quais ele e sua mãe conviveram, faltava o desejo de tratarem Damian bem -fosse ele ou não apenas uma criança inocente. O que acabou fazendo com que a ideia de gentileza se tornasse -em suas memórias- um traço apenas de sua mãe, ao ponto dele jamais se permitir iludir esperando encontrar em outra pessoa esse tipo de atitude novamente -nem mesmo em Yura.
Afinal as pessoas para ele tinham tão pouca credibilidade, que Damian se rendia incapaz até mesmo de acreditar que a mesma gentileza que ele tinha com Yura -pelo fato de amá-lo, e de ter aprendido através de sua mãe a ser assim- iria em algum dia vir a ser recíproca. Mesmo que o sentimento de amor por outro lado fosse. E quem poderia culpá-lo por pensar assim, tendo ele herdado de seu pai a incapacidade de compreender os sentimentos, e da vida, a incapacidade de conviver com algo diferente do ódio?

Sendo assim Damian ficou sem reação. Demorando para assimilar aquele momento enquanto Yura quieta e seriamente alcançava um frasco que estava próximo a eles, derramando sobre as suas mãos o seu conteúdo líquido e gelado -de cheiro forte- para logo em seguida espalha-lo por sobre a sua pele com muito cuidado.
No que logo ao contato, Damian pôde sentir a palma de suas mãos formigarem aliviando a sensação desagradável das queimaduras até que então Yura se afastasse para pegar algumas bandagens que estavam ali próximas sobre uma mesa. Mantendo ele uma postura profissional, enquanto que o Skrea na sua frente se encontrava totalmente sem atitude.

— "As suas queimaduras não foram muito fortes, então eu vou só cobrir um pouco para o remédio conseguir se manter. Se passar a incomodar, você pode tirar."

Yura o alertou no que então ele começou a enrolar as bandagens ao redor dos seus dedos. Fazendo com que no contato do áspero tecido das bandagens contra a sua pele Damian fechasse a sua expressão um pouco em desconforto, até que enfim Yura terminasse aquele cuidadoso curativo e só restasse após isso o agradável calor das mãos dele ao redor das suas. De uma forma tão aconchegante, que Damian não conseguira ser capaz de desviar a sua atenção da pessoa diante dele -dividido, porém totalmente mesmerizado pelo gesto de Yura.

— "Obrigado."

Sua voz sussurrou em uma honestidade instigante. No que no segundo em que os olhos de Yura em resposta se voltaram então para Damian, agilmente sua cabeça se inclinou para baixo como se ele temesse não saber se conter diante do contentamento expresso nos olhos do Skrea bem diante dele!
Se ao menos não fosse pela certeza de que Gale estava -muito provavelmente- encarando ambos do outro lado daquela sala, ele então não iria ter se dado tanto assim ao trabalho de se conter diante do convidativo e magnético calor que emanava de Damian.
Só que Damian por outro lado não poderia se importar menos com Gale. Pelo contrário, sua presença ali até o instigava ainda mais em passar um pouco dos limites já que, por cima de Yura Damian ainda podia observar de relance a figura daquele desagradável Humano segurando com vontade o encosto da poltrona como se lutando para não se levantar e ir até eles dois arrancar Yura de perto dele!

Assim sendo, Damian perversamente se permitiu abusar um pouco da situação só para atingir o Humano que ele fisicamente ainda não podia agredir -como em um revide pelo tanto que Gale também abusou dos gestos de preocupação de Yura na sua frente. Levando com isso uma de suas mãos enfaixadas até o rosto de Yura. E deslizando seus dedos sem qualquer remorso por aquela pele ainda escurecida pelas cinzas, pela sua boca, pelo contorno de seu rosto, até enfim repousa-los por entre aquelas douradas mechas de cabelo que estavam bagunçadas.

— "D-Damian...!?"

Yura o encarava com o receio de Damian publicamente o estar tocando daquela maneira, mas sem conseguir por outro lado afastá-lo de cima dele! No que sua espantada voz fez enfim Damian tirar um pouco a sua atenção de Gale, e voltar a encarar Yura como se não houvesse ninguém mais ali dentro senão eles dois.
Podia haver raiva dentro de Damian, mas sequer ele era capaz de focar nela enquanto os sentimentos intensos de Yura o distraíssem daquela maneira. Fazendo o seu peito acelerar, e mais uma vez um sorriso se formar em seu rosto no que ele então se inclinou em sua direção e apoiou despretensiosamente a sua cabeça sobre a dele.
Apreciando Damian aquele instante onde Gale estava longe de ser importante para ele, mais do que Yura por outro lado que parecia estar se desfazendo por sob suas mãos. Constrangidamente olhando para baixo, enquanto Damian observava tão de perto o seu rosto ficar cada vez mais vermelho e frustrado.

— "... É melhor que você se afaste, ou eu vou acabar fazendo algo na frente dele que eu sei que você não vai gostar."

Damian -tentado a abusar daquele momento- ameaçou então Yura com o receio racional de não ser sozinho capaz de parar -mesmo que diante de seu protesto. Sorrindo para aqueles olhos azuis alarmados, no que o som de Gale bruscamente se levantando de sua poltrona fora abafado pelo ágil som de Yura recuando forçadamente em seus passos diante daquele aviso! Não querendo ele testar a palavra de um Skrea, em um lugar tão cheio de pessoas como aquele em que eles estavam!
E no que Yura tentou se posicionar defensivamente contra qualquer nova investida de Damian, ou contra a tentativa dele próprio de querer se reaproximar, Gale igualmente decidiu voltar a se sentar naquela poltrona já que ele também não estava muito em posição ali dentro para querer arrumar uma confusão. Definitivamente ele estava "entre a cruz e a espada" com Ebraín e Damian sobre o mesmo teto que ele. Se acalmando enfim, apenas quando a voz de Yura preencheu o tenso silêncio daquela sala.

— "E-eu... Eu tenho que pegar mais algumas coisas para Saret lá nos fundos. Se vocês precisarem de mim, o laboratório fica no fim do corredor. E-..."
— "Pode ir lá, eu ficarei aqui tomando conta deles para você."

Em meio às afobadas palavras de Yura para Gale e Damian, o som então da voz de Ebraín surgindo pela porta da cozinha interrompeu Yura onde ele estava!
Desde quanto tempo ele estava ali parado!? Será que ele viu algo!? Yura desejou, mas tentou não pensar demais naquelas perguntas perigosas ao que sua cabeça compelidamente concordou com Ebraín e ele apenas deu as suas costas para todos ali em uma encabulada pressa! Fugindo para os fundos, no que Ebraín o observou sem muito conseguir entender pois ele na realidade não tivera conseguido testemunhar nem uma fração daquilo que Gale por outro lado presenciou integralmente.

Mas a quem lhe sobraria para perguntar também se havia acontecido algo de errado? Sabendo que respostas seriam a última coisa à sua disposição ali dentro, Ebraín apenas relevou em partes a atitude de seu protegido e começou a andar por aquela sala. Passando direto pela figura de Damian na porta, e ignorando-o propositalmente enquanto carregando uma bandeja com várias xícaras de chá até a direção das poltronas. No que em um gesto cortês ele serviu para Gale uma das bebidas -muito para a sua surpresa-, antes de então deixar a bandeja sobre a mesma mesa de centro e pegar duas outras xícaras quentes de cima dela. Levando-as sem nada dizer até a direção de Damian, que automaticamente estranhou o gesto de Ebraín sem saber se devia ou não realmente pegar uma daquelas xícaras de sua mão.

— "Está tudo bem, pode pegar. O chá de altéia irá relaxar o seu corpo e o ajudará a respirar melhor depois de toda a fumaça que vocês inalaram. Afinal, se não me falha a memória, o sistema respiratório é uma das poucas coisas que temos biologicamente em comum. Aposto que os seus pulmões também devem ter se intoxicado."
— "... Obrigado."

Damian o respondeu olhando para aquele velho humano com ainda muita estranheza. Ele não esperaria que Humano algum pudesse inicialmente querer tratá-lo bem sem ter uma intenção hostil por trás disso. E o fato dos sentimentos de Ebraín lhe parecerem altamente dúbios só serviam mais ainda para aumentar o seu desconforto em consequência.
"Esse Humano... Parece até que ele está propositalmente mascarando os seus sentimentos comigo."
Damian indagou sem realmente esperar que aquilo em fato fosse verdade.

Levantando a sua guarda ainda sim em receio, enquanto que por outro lado a despretensão de Ebraín acabou fazendo-o não conseguir em resposta tomar de fato qualquer postura verdadeiramente defensiva.
Aquele Humano apenas ficou ali, em pé ao seu lado enquanto bebia calmamente seu chá até que Damian por fim desistisse de se dedicar à sua desconfiança e começasse também a imitá-lo -afinal querendo ou não, ele estava com bastante sede depois de tudo pelo que passou.

E assim os dois dividiram um inquietante momento de silêncio entre os goles de chá. Olhando ambos para a frente sem trocar qualquer interação, como se o silêncio pudesse ser a alternativa mais segura de convívio até Ebraín por fim decidir que estava pronto para lhe dirigir a palavra -após muito pensar sobre como ele iria abordar um Skrea que obviamente fugia ao padrão comportamental da raça.

— "Me perdoe pela minha postura, mas é porque eu estou realmente surpreso."
— "...?"
— "Eu já possuía a ciência de que Yura havia se envolvido com o líder da BlackHole há 3 anos atrás mas, jamais esperaria porém descobrir que ele estivesse andando com um Skrea também."

Damian por um instante então olhou para Ebraín que continuamente não lhe dirigiu o olhar. Intrigado se Ebraín havia visto-o interagindo com Yura, antes dele mesmo voltar atrás na sua curiosidade buscando uma impessoalidade que poderia à essa altura resguardar não só a ele, como Yura também.
Afinal, Damian podia não se importar com questões interpessoais para com um Humano que ele mal conhecia mas, ainda sim, se expor para qualquer um não seria menos do que um incomodo para ele, e muito mais do que uma perigosa perda de tempo que não iria lhe servir de nada.
Sendo assim ele então desviou mais uma vez os seus olhos daquela pessoa ao seu lado e o respondeu de forma indiferente.

— "Nos conhecemos recentemente, não faz tanto tempo. E foi por mero acaso."
— "E ainda sim, ele parece considerar você muito mais do que eu poderia esperar."

Ebraín enfim jogou uma indireta para Damian como se sua ignorância àquela altura fosse apenas parcial. Levantando ele -diante do discreto e incomodado olhar que recebera- um de seus dedos, e apontando para a mão do Skrea antes então de decidir misturar seu convencido sorriso à mais uma nova golada de chá. Rondando analíticamente com seus olhos aquela sala, em uma autoafirmação impossível de ser contestada até eles enfim pousarem na figura de Gale -que distraidamente dava toda a sua atenção para o corpo ainda imóvel de Saret, como se acuado pela presença das duas pessoas do outro lado daquela sala.

Ebraín podia não saber exatamente toda a extensão do que estava acontecendo entre Damian e Yura, mas ele também não precisara ser nenhum gênio para finalmente notar -quando entregou a xícara nas mãos de cada um dos dois- o fato de que Yura tivera se dado ao trabalho de cuidar apenas Damian mesmo que por outro lado ele conhecesse Gale por muito mais tempo do que Ebraín poderia até vir a apreciar.

E se a sua intuição estivesse correta, então que Grivah o perdoasse por desejar intervir. Ele sabia o quanto de ingenuidade havia em Yura para ele talvez não maldar a presença de Damian em sua vida mas, dadas todas as coisas que Ebraín sabia a respeito de seu protegido, ele não tinha como por outro lado fazer o mesmo e fingir ignorância.
Ele precisava descobrir até onde as intenções de Damian se resumiam ou não realmente a um "mero acaso", e até onde o Skrea na sua frente poderia significar um grave perigo ao seu protegido. No que já que ele sabia que não iria conseguir se aprofundar (ou intervir) naquela situação através do teimoso Yura, então que ele o tentasse através de Damian mesmo.

— "Honestamente, estou mesmo surpreso."
— "..."
— "Você não vai me perguntar o porquê?"
— "Não sinto que eu deva, se você próprio não decidiu me dizer ainda."
— "Uma resposta típica de Skrea. Mas ainda sim, você não é um Skrea típico não é? Posso ver isso apenas pelo fato de você estar na companhia do jovem Yura... e isso tudo, por qual razão afinal?"
— "Já tivemos muitas razões diferentes."
— "E a atual, qual seria?"
— "Eu precisei protegê-lo."
— "Então você se importa com ele..."
— "..."
— "De fato isso é uma possibilidade interessante mas, em nada impossível. Ou pelo menos não tanto quanto a inesperada possibilidade DELE em troca também parecer se importar. Afinal, você já deve ter ouvido falar na relação que ele teve com a jovem Sáshia."

Ao ouvir aquele nome, Damian afastou a xícara de sua boca e olhou Ebraín de uma forma confusa. Não se recordando de ter ouvido esse nome, ainda mais diante da pressão que Ebraín o estava causando pela estranha expectativa de que ele já o pudesse saber. No que o próprio Ebraín com isso -dada aquela ambígua expressão de Damian- por conta própria deduziu a resposta.

— "Então Yura nunca te contou sobre ela, não é?"
— "... Não que eu me recorde."
— "Isso é ainda mais interessante. Me pergunto como esse assunto nunca surgiu entre vocês quando, afinal, ela fora a grande razão para ele começar a odiar os Skreas."
— "!..."
— "Me pergunto se você também soube que foi essa a razão para ele ter decidido há 3 anos atrás se juntar à BlackHole sem sequer ter contado para mim, com medo do que eu poderia lhe dizer. Tudo para conseguir a vingança que ele nunca teve o direito de ter, contra aqueles que mataram a pessoa que ele amava."
— "!?"

Os olhos confusos de Damian tentavam observar Ebraín sem conseguir muito encontrar nele a real intenção por trás daquelas suas palavras.
"O que esse Humano está afinal querendo de mim?!"
Ele se perguntou um tanto irritado, não pelo que ouvira mas sim pela perversidade que Damian pôde perceber haver por trás das palavras daquele velho -independente das suas intenções serem ambíguas.
Ele estava tentando jogá-lo contra Yura? Ele estava apenas tentando provocá-lo? O que Ebraín achava que poderia vir a conseguir de Damian, por lhe contar aquelas coisas?
O Skrea então fechou a sua expressão defensivamente, dando todo o incentivo que Ebraín precisava para saber que sua pressão estava de fato funcionando. Prosseguindo ele nas suas indiretas, a fim de testar se as reais intenções daquele Skrea para com Yura eram motivadas por uma ingênua emoção, ou uma vil pretensão.

— "Aquele foi um dia realmente trágico. Já estávamos todos tensos por conta do fechamento da cidade, a falta de alimentos, medicamentos, as repressões... E então Yura surge nesse mesmo lugar em que você está agora, coberto de sangue e incapaz de dizer uma palavra sequer."
— "..."
— "O garoto depois disso entrou em um luto que me fez acreditar que iríamos perdê-lo de vez. Me pergunto como alguém consegue superar um sentimento como o que ele tinha por Sáshia. Talvez não consiga. Talvez ele apenas tenha aprendido a engoli-lo através do ódio que ele passou a sentir pela raça que a matou."
— "..."
— "Seja como for, eu não acho que esse seja um sentimento que possa ser substituído ou esquecido por nenhum outro. Tanto que ele acabou se fechando muito para as pessoas desde então, com medo de passar por tudo isso novamente... Por isso não me interprete mal quando digo que me surpreendi em saber que ele jamais te contou sobre ela. Afinal, duvido que ele não consiga deixar de pensar nela sempre que olha para você... ou você por outro lado acha que -no lugar dele- seria capaz de perdoar e esquecer a pessoa que a matou bem na sua frente?"
— "!!"
— "Bem... Pelo menos eu não conseguiria. Por isso não vejo como-... a não ser talvez que ele esteja usando você para de alguma forma se reaproximar das lembranças e dos sentimentos que ele ainda guarda por ela. Mas é claro, eu não posso afirmar isso com tanta propriedade assim afinal, essa é só a dedução de um velho que o criou por menos tempo do que a própria vida."
— "Tsc!"

Em um ofendido choque, Damian enfim deixou a sua frustração escapar pela boca em um som de clara perturbação que fez Ebraín finalmente em resposta também se conter! Constatando ele com isso que de fato podia haver mesmo alguma honesta afeição naquele Skrea para com Yura, por ele ter sido capaz de reagir daquela forma (mesmo que com muita resistência) à questões que, para qualquer outro Skrea por outro lado não iriam ter significado tanto!
E no que enfim ele conseguiu aquela sua resposta, Ebraín contentemente decidiu permitir que o silêncio voltasse mais uma vez a envolvê-los. Abandonando temporariamente Damian sozinho nos questionamentos que ele levantou, por tranquilamente saber que aquele Skrea ao menos não iria ter qualquer impulso de fazer mal às pessoas ali dentro enquanto enfeitiçado pela opinião de Yura sobre ele -aquele era um problema que poderia ser deixado para se resolver mais tarde, com calma.

Só que enquanto o velho alquimista estava satisfeito com o fim daquele diálogo, por outro lado, Damian por sua vez não parecia estar muito contente com a provação pela qual acabara de passar. No que as palavras de Ebraín lhe desceram como um veneno em sua mente, o fazendo levar em consideração suas deduções muito mais do que ele realmente deveria -e no que Yura não estava ali por perto para suavizar suas reações, foi que então Damian ainda mais se vira incapaz de amenizar a forma que aquelas informações lhe desceram.
Sendo ele incapaz de resistir muito contra as diversas perguntas (relevantes ou não) que ele ainda não queria ter que pensar sobre enquanto estando no meio daqueles Humanos, até que por fim a sua atenção fora novamente roubada pela figura de Yura enfim voltando dos fundos -carregando algumas toalhas brancas e limpas.
Mas quem poderia dizer que Damian iria agora se ver feliz ou aliviado por aquilo? Dados os questionamentos de Ebraín, seu coração na mesma hora respondeu à imagem daquela pessoa com uma pontada de desconforto que Damian não estava acostumado a sentir! Ao que visivelmente o desagrado em seu olhar foi também instantaneamente recebido pelo jovem Feiticeiro, com uma alarmante preocupação!

"Espera, porque Ebraín está com ele?!" foram as únicas palavras que Yura teve tempo de pensar antes então dele desviar de sua rota -sem sequer se importar em colocar aquelas toalhas em algum lugar- para se meter às pressas entre os dois! Temendo que palavras erradas pudessem ter sido trocadas entre eles, no que ele tinha uma expectativa igualmente baixa sobre Damian ter a sorte de ser tratado por qualquer um propositalmente bem!
Se aproximando então às pressas dos dois, no que a cada passo, mais ainda Yura começava a se culpar por ter deixado Damian despreparado, sozinho e à mercê da imprevisível engenhosidade seu mentor! Sendo Yura porém interrompido no meio do caminho pelo próprio Ebraín, que resolveu ignorar o conturbado Skrea ao seu lado para agora focar as suas atenções no jovem Feiticeiro que também o estava devendo muitas respostas desde que chegou.

— "Yura, você não parou desde que chegou. Deixe que eu cuido disso, você claramente precisa descansar."
— "Não, tudo bem Ebraín, eu-... Eu só vou..."
— "Sente-se um pouco e beba o chá que eu fiz. Seu corpo também está precisando da sua atenção."
— "..."

O velho Alquimista insistentemente pegou então as toalhas de seu braço e começou a empurrá-lo para longe de Damian. Na direção de uma das poltronas, próximas ao centro de mesa que era contornado pela lareira, pelo sofá onde Saret repousava e pela poltrona em que Gale estava sentado.
Tendo Yura nenhuma outra opção senão conter sua inquietude e encarar preocupado Damian de longe, no que o Skrea o olhava de volta com seus braços cruzados e uma expressão quietamente desagradada -sem conseguir ele também esconder seu transtorno dos olhos daquele Feiticeiro, que àquela altura já sabia deduzir algumas de suas mais sutis expressões.

— "Então Yura. Agora que todos finalmente se acomodaram, que tal você enfim me contar tudo o que aconteceu? E como vocês todos acabaram juntos nessa mesma confusão?"
— "!..."

Yura se tencionou sobre aquela poltrona diante da inevitável pergunta de Ebraín! Aproveitando a distração de seu mestre enquanto lhe ia buscar uma xícara de chá, para encarar um Damian que parecia não ter qualquer interesse em participar de uma nova conversa com o alquimista, assim como um Gale que igualmente parecia abrir mão da possibilidade de tomar a frente na palavra enquanto embaixo do teto de alguém que ele não deveria de desafiar.
Ele estava sozinho nesse barco, e sendo assim, Yura acabou suspirando sabendo que a responsabilidade daquela explicação iria ser realmente só dele. Tomando enfim a xícara da mão de Ebraín, e olhando para aquele líquido escuro enquanto se esforçando para suportar o risco de acabar revelando muito mais sobre a sua vida do que ele gostaria.

— "E então?"

Ebraín o encarou pacientemente como o guarda de uma cela que não iria deixar seu prisioneiro ter a chance de escapar. Fazendo enfim Yura respirar fundo, antes de engasgar com suas palavras por conta da pressão e do receio que ele estava sentindo. No que sem saber, ele acabou foi entregando a única informação que o próprio Ebraín jamais iria ter cogitado ouvir sair de fato de sua boca naquele dia.

— "Eu... Eu não sei os detalhes ainda do que realmente aconteceu. N-na verdade, eu acho até que pode ter sido culpa minha de alguma forma. Afinal eu estava ali por perto, é claro que isso deve ter atraído de algum modo a Oráculo até aquela região-...!"
— "Espera, você disse 'Oráculo'? Há uma oráculo nessa cidade!?"


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