ALMARA: Ameaça na Ilha de Xibalba escrita por Xarkz


Capítulo 9
CAPÍTULO 8 | Ciência Mística


Notas iniciais do capítulo

Finalmente alcançam a cidade de Tengkorak, aonde fica o grandioso Laboratório das Ciências Místicas, berço da alquimia moderna. Se inicia a busca pelo grande alquimista Dhondal, a quem Eril pretende recrutar.



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No navio dos piratas Roughknuckles, Voughan desafia um por um dos marinheiros para uma queda de braço, derrotando-os facilmente, enquanto Kore está debruçado na beirada da proa, olhando para o mar, ao lado de Broderick.

— Mas que história. — comenta o monge. — É um bocado de informação de uma só vez. Quer dizer que a Eril é a princesa de Galvas e ao mesmo é filha de um pirata?

— Exatamente. — responde o sorridente Broderick. — Falar sobre isso é um tabu, no reino de Galvas, mas no fundo todos sabem a verdade e ao mesmo tempo ninguém liga. Apesar de tudo, aquela gente é bem acolhedora. Tanto o povo quanto o irmão dela, Thaldron, sempre a tratou com todo o respeito, como se fosse uma filha legítima de Ghaladar.

— Esse rei Ghaladar devia ser realmente incrível. O tal dragão verde saiu impune?

— Ghaladar lutou com uma determinação que apenas quem viu consegue entender. O dragão mensageiro teve seu orgulho ferido, foi uma punição suficiente para um dragão. Apesar de ser apenas um mensageiro, ele possuía um ego gigantesco.

— Ainda sim, gostaria de dar uma boa surra nele.

— Bater em um dragão é uma missão para poucos, garoto. Eles são enormes, inteligentes, vivem quase mil anos e são muito poderosos. Deve haver apenas uma meia dúzia de guerreiros, na história, que lutaram contra eles e sobreviveram pra contar história.

Nisso, Eril se aproxima, puxando o imediato de Broderick, pelo pulso. Voughan enxerga o imediato passando e sorri, lembrando da surra que lhe deu em terra.

— Papai, o que aconteceu com Dreken? Porque ele não consegue falar?

— É uma boa história. — responde, sem perder o sorriso. — O garoto foi capturado pelo Império Mundial. Foi torturado por horas. Queriam que ele contasse onde eu estava. O garoto é duro na queda, mas estava desesperado, esses caras podem ser bem cruéis quando torturam alguém. Então o garoto teve uma ideia, enfiou os dedos na boca e arrancou a própria língua com a mão. Não é genial? Assim não poderia contar, mesmo que quisesse.

Kore e Eril ficam boquiabertos com o que ouviram e também com a indiferença de Broderick ao contar o ocorrido.

— E você diz isso sorrindo? — se exalta o monge.

— Não se irrite, moleque. Eu sei bem o quão corajoso foi esse ato. Ele demonstrou fidelidade e sou grato à isso. Felizmente conseguimos resgatá-lo. Não é apenas a força dele que o tornou meu primeiro imediato.

O clima se torna um pouco deprimente, pela situação de Dreken, mas tensão é quebrada por Broderick.

— Não fiquem assim, isso faz parte da aventura da vida. Há, há, há, há, há. — anima o pirata, dando um grande tapa nas costas de Kore, que parece sentir dor.

— Cuidado! Não esqueça que você me baleou no ombro.

— Qual o problema? Eu levo tiros à todo momento. Já tiramos as balas então vai ficar tudo bem.

A viagem corre tranquila e, após um dia inteiro, a embarcação chega em Tengkorak.

Eril, Kore e Voughan se despedem dos Roughknuckles.

— Até mais, papai. E tente parar com estes saques, as pessoas ficam assustadas.

— Não se preocupe com isso, só levo o necessário e não machucamos ninguém que não mereça.

As sobrancelhas franzidas de Kore demonstram sua indignação com a afirmação do pirata.

— Quanto à você, grandão. — diz Broderick, enquanto aponta para Voughan. — Da próxima vez eu vou ganhar a queda de braço.

— Vai sonhando, vovô. — responde o shamarg.

— E você, garoto. — agora apontando para Kore, enquanto faz uma pausa sem saber o que dizer. — Hã… Tente não morrer.

Novamente as palavras de Broderick o deixa indignado.

O navio zarpa e o trio volta-se para a cidade, se deparando com um ambiente um pouco diferente das cidades anteriores.

O nível de civilidade é maior, se assemelhando à uma metrópole, mesmo sendo uma cidade pequena.

Alguns estranhos veículos, semelhantes à carroças, porém, movidos à vapor, passam pela cidade normalmente, chamando a atenção dos visitantes. Coisas assim não se veem todos os dias, mas parecem fazer parte do cotidiano em Tengkorak.

O grupo caminha, vislumbrado, até que se depara com algo ainda mais estranho. Um construto robótico, semelhante à um golem, com cerca de três metros de altura. Seu corpo é formado por diversas chapas metálicas soldadas de forma aleatória, possui dois canos saídos de suas costas e voltados para cima, por onde emite uma forte fumaça branca, demonstrando que sua fonte de energia é o vapor. Algumas engrenagens podem ser vistas, girando por várias partes de seu corpo e, em seu ombro, um pequenino homem com cerca de um metro e vinte de altura está sentado dando ordens ao seu servo robótico, que carrega algumas caixas.

— Vocês já tinham visto algo assim? — pergunta Kore, boquiaberto.

— Apenas ouvi falar. — responde Eril. — A tecnologia deles é impressionante.

— Como aquela carroça anda se não tem ninguém puxando? — questiona Voughan.

— Funciona à vapor. — esclarece a elfa. — A água é aquecida e o vapor movimenta um pistão, que faz com que as rodas girem. É basicamente como um trem. Utilizar isso em um veículo que se movimenta sem trilhos é interessante, mas aquele golem de metal é o que realmente me chamou à atenção.

— Muito doido, não né? — diz uma voz conhecida, vinda de trás do trio.

Ao se virar, deparam-se com um monge. Espantado, Kore fica feliz em rever seu amigo.

— Farkas? O que faz aqui?

— Onde mais eu iria? Este é o caminho mais curto para a capital. A não ser que vocês fossem para Galvas, esta cidade era parada obrigatória. Vocês demoraram, estava quase desistindo de esperar. Quem é o seu novo amigo? — voltando seu olhar para o shamarg.

— Este é o Voughan. — responde Kore. — Ele é bem forte, vai nos ajudar na missão.

— Sabe, Kore, tem outra pessoa bem forte bem aqui na sua frente. Eu sei que se passou pouco tempo desde nossa última luta, mas eu gostaria de uma revanche.

— Você está bem confiante, mas saiba que eu também estou mais forte. Enfrentei bárbaros, magos, shamargs e piratas.

— Não é o único que evoluiu. Enfrentei golens, assassinos, bárbaros, trolls e até harpias. Mas o motivo real de eu achar que vou ganhar é outro. Vou lhe mostrar enquanto lutamos. Conheço um lugar aqui perto.

— Vocês precisam mesmo fazer isso toda vez que se encontram? — questiona Eril, incomodada.

Um pouco afastada da cidade existe uma clareira, rodeada por árvores e algumas pedras. O campo de batalha ideal para os monges. Algumas pessoas, que ouviram a conversa, espalharam a notícia da luta que iria ocorrer. Em pouco tempo, o campo de batalha estava repleto de espectadores, o que parecia não incomodar a dupla de monges.

Ambos se aquecem, alongando os músculos e estalando alguns ossos, até que se colocam em posição de luta. Os dois lutadores se observam por um longo tempo, fazendo movimentos lentos e calculados.

— Comecem logo, por favor! — implora a maga, já sem paciência.

Atendendo à solicitação de Eril, Kore avança na direção de Farkas com alguns golpes curtos e rápidos. O oponente desvia de alguns e bloqueia outros com maestria e então ataca com um chute na horizontal. Kore se abaixa e então golpeia com um soco, atingindo em cheio o rosto de Farkas, que se afasta para trás, com uma expressão de dor.

Kore se prepara para avançar, mas percebe algo. A expressão de dor, de Farkas, logo se torna um grande sorriso.

— Brincadeirinha. — diz Farkas, deixando o adversário sem entender.

Ainda com um sorriso no rosto, ele se põe em posição ereta, pés próximos um do outro, uma mão para trás e um braço esticado para frente.

Mesmo sem entender, Kore avança novamente com socos e chutes rápidos e curtos, porém, Farkas começa a defender facilmente com apenas uma mão, deixando seu rival perplexo.

Acelerando seus ataques, Kore tenta furar o bloqueio, mas ele parece impenetrável.

Enquanto defende com uma mão, Farkas estica o braço que está livre e concentra-se. Imediatamente o ataque de Kore cessa e ele salta para trás, pressentindo perigo, abrindo espaço entre ele e seu adversário.

Ao redor do braço de Farkas, algo semelhante à poeira começa à aparecer. A poeira vai se solidificando até se tornar pequenos grãos de terra que flutuam ao redor do braço. Estes grãos, aos poucos, vão se unindo uns aos outros, tornando-se pedras maiores até que estas se prendem ao braço de Farkas, moldando-o como um grande braço de pedra.

— Isso é… elemento terra! — exclama Kore, surpreso.

Sem dizer nada, Farkas avança e golpeia Kore com seu punho de pedra. Kore defende com os braços em forma de cruz, na frente do corpo mas, mesmo assim, é lançado longe.

Apesar de cair em pé, Kore ainda é arrastado por mais alguns metros, antes de conseguir parar. Seus braços ficam feridos.

Novamente Farkas avança, desta vez ele aponta o braço para frente e as pedras se desprendem, sendo lançadas com muita velocidade contra o oponente.

Com ataques rápidos, Kore destrói boa parte das pedras, desvia de outras, porém, algumas o atingem com violência em várias partes do corpo, até que Farkas surge a poucos centímetros, em sua frente e o golpeia com um soco fortíssimo no estômago.

Kore cai lentamente de joelhos e então pende para o lado, encontrando o chão, derrotado.

As pessoas, aos poucos, vão se dispersando, quando percebem que a luta acabou.

— E então, o que achou? — pergunta à Kore, enquanto o ajuda à levantar.

— Você não só dominou um elemento, como ficou muito mais forte. Então é isso que acontece quando se libera o segundo selo.

— Me sinto incrível. Depois que consegui, dominar o elemento terra até que foi fácil, já que é o meu elemento dominante, o difícil foi desenvolver uma técnica. Mas, como sou um gênio, consegui rapidamente. Já outras pessoas…

— Eu estive ocupado. Logo logo vou estar usando elementos também. Aí lutamos novamente.

— Quando isso acontecer, já vou estar no terceiro selo, aí você vai apanhar de novo, he, he.

Nisso, Voughan se coloca em frente à Farkas, impedindo que ele continue caminhando e chamando sua atenção

— E você, o que quer?

— Você é bem fraco, mas achei você irritante. Vamos lutar.

— Fraco? Acho que vou ter que te dar uma lição também. É uma pena que as pessoas tenham ido embora.

Kore, desta vez, fica de espectador, ao lado de Eril, que fica ainda mais irritada, por ter que esperar uma segunda luta.

— Hei, que mau humor é esse? — pergunta o monge.

— Enquanto vocês estão aí brincando, poderíamos estar procurando o alquimista Dhondal. Ele é a prioridade.

— Sabe, você me chamou a atenção, antes de subirmos a montanha onde Baruc mora, me mostrou que tenho que ser mais maduro e, mesmo que não pareça, eu amadureci um pouco. Mas você não pode viver levando tudo tão à sério, acho que tem de haver um meio termo. Tente relaxar um pouco de vez em quando. Além do mais, estas lutas amistosas nos ajudam a ficar mais fortes.

Eril fica pensativa por um instante, mas entende a mensagem, ficando mais calma.

Kore percebe que, desta vez, foi ele quem deu o conselho e sorri. Porém, sua felicidade vira espanto quando volta sua atenção para a luta e percebe que ela já acabou.

Farkas está no chão, completamente retorcido, com o rosto inchado e um galo na cabeça.

— Mas que fracote. — Se vangloria Voughan, vitorioso.

Kore corre para socorrer o amigo que, com sua ajuda, consegue se levantar.

— De onde saiu esse monstro? — pragueja, irritado pela derrota. — Era uma luta amistosa, mas ele tentou me matar.

— Matar? Eu nem bati com força. Se você morresse só com isso não devia estar em um campo de batalha. É por isso que chamamos vocês de vermes, são muito frágeis.

Após Eril prestar os primeiros socorros, Farkas acompanha o trio pela cidade. Seu braço esquerdo e cabeça estão enfaixados.

Enquanto o grupo prossegue, Farkas fica pensativo mas logo parece lembrar de algo.

— Mas é claro! Dhondal! Sabia que conhecia este nome. — exclama Farkas, já interado no assunto. — Ele é um alquimista famoso. Aqui nesta cidade tem um distrito que é núcleo da alquimia. Se ele está nesta cidade, só pode estar lá.

— Quer dizer que tem uma área desta cidade toda dedicada à alquimia? — questiona Kore.

— Exato. Esta cidade é dividida em quatro partes. Distrito da alquimia, distrito da mecânica, distrito da magia e distrito residencial. No centro, na intersecção dos quatro distritos, fica o Laboratório das Ciências Místicas, onde os distritos se unem e desenvolvem … enfim … coisas das ciências místicas.

— Hum, parece interessante. Esse laboratório também é um bom lugar para procurar.

Enquanto caminham, Eril decide a melhor forma de procurar o alquimista. — Faremos o seguinte, eu irei até o laboratório enquanto vocês três procuram na cidade.

— Porque não nos dividimos em dois grupos de duas pessoas? — pergunta Kore.

— A cidade é grande, é melhor que vocês se espalhem para conseguir informação, já o laboratório não pode ser tão grande assim, então uma pessoa apenas basta. Além do mais, um laboratório não é lugar para brutos estabanados como vocês.

Confirmando o veredicto da maga, Voughan puxa briga com um construto robótico, enquanto seu dono tenta impedir o conflito.

O esquentado shamarg acaba por golpear o golem, danificando algumas de suas engrenagens. Kore prontamente acalma Voughan e pede desculpas ao dono do construto.

Eril acaba pagando pelos estragos com um punhado de moedas.

O time decide por dividir-se, mas Kore acaba por acompanhar Voughan, para impedir que ele acabe criando confusão. Seu ponto de encontro será em frente ao laboratório, dentro de três horas.

Farkas se despede e prossegue sua viagem em busca de aprimoramento, ainda ferido da luta contra Voughan.

Procurando pelos lugares mais movimentados, Kore busca informações sobre o grande alquimista e, em pouco tempo, consegue a indicação de onde seria sua moradia, Dhondal parece ser famoso, pois quase todos o conhecem, apesar de apenas uma pessoa saber onde era sua casa.

Enquanto isso, Eril fica maravilhada com o grandioso Laboratório das Ciências Místicas.

Por ser uma princesa e maga, teve sua entrada facilitada e ainda foi convidada a presenciar boa parte dos experimentos. Pode acompanhar de perto como magia e alquimia trabalham juntas em um amálgama perfeito, resultando em poderosas poções de todos os tipos. Viu a mecânica dos anões, à frente do seu tempo, criando máquinas incríveis, utilizando como fonte de energia misturas simples, como carvão, como combustível e utilizando magia combinada com alquimia para ampliar seu poder, alimentando as máquina por horas.

Sua animação e êxtase foi tanta que praticamente esqueceu o motivo principal de estar ali.

Em outra parte, na cidade, Kore e Voughan procuram o local da casa do grande alquimista, mas acabam se perdendo no labirinto que a cidade parece ser. O monge pergunta novamente às pessoas pelo alquimista, até que um anão ruivo, de vestes vermelho e cinza, um pouco mais magro que a maioria dos anões mas de porte físico forte, chama sua atenção.

— Hei garoto! O que quer do alquimista Dhondal? — pergunta a figura séria, para Kore.

— Tenho um assunto importante à tratar com ele.

— Talvez eu possa ajudar. Mas preciso que me diga o que você quer.

— Estamos formando um time para uma missão extremamente importante e precisamos dos melhores membros que pudermos encontrar. Baruc nos indicou o alquimista Dhondal, como sendo um cara bem poderoso.

— Certo, só quis confirmar. Imaginei que fosse esse o caso. Venha comigo, vou te levar até a pessoa que Baruc indicou.

— Você conhece Baruc?

— Baruc o imortal! Todos conhecem, à não ser que você tenha vivido sua vida inteira em uma caverna. — explica o pequeno mas entroncado homem barbudo, enquanto leva a dupla até seu destino. — Pessoalmente o vi apenas quando ainda era criança. Creio que a aparência dele não tenha mudado em nada.

Os cabelos do anão eram compridos e emaranhados, tornando difícil distinguir onde o cabelo terminava e a barba começava. Sua expressão era sempre séria mas, mesmo assim, era uma figura carismática.

— Sabe, até à algumas décadas, os anões tinham aversão à magia. Talvez por ser algo que ainda não conseguimos compreender por completo. As pessoas tendem à ter medo do desconhecido. Sempre utilizamos tecnologia e força bruta e foi tentando reproduzir os efeitos das magias em laboratório, de forma artificial, que a alquimia nasceu.

— Mas vocês usam magia na alquimia, não?

— Isso começou recentemente. Até então, só se utilizavam recursos naturais, plantas, raízes e alterávamos suas composições em laboratório, retirando essências de uma para misturar com essências de outras. À cerca de quarenta anos os anões iniciaram na magia e, trinta e sete anos atrás, foi utilizada pela primeira vez na alquimia. A pessoa que realizou esta façanha foi o Dhondal que vocês procuram. Assim nasciam as ciências místicas.

O espanto no rosto de Kore fica evidente. — Quer dizer que esse Dhondal é o criador das ciências místicas?

— Exatamente. Antes, a alquimia podia simular o efeito de diversas magias, mas agora, a alquimia evoluiu para um novo nível. Um tempo depois, com a chegada dos gnomos e sua tecnologia, mais avançada que a nossa, acabamos em uma aliança que resultou neste grande laboratório no centro da cidade. Este é o futuro, garoto.

Kore se vira, vislumbrando o enorme laboratório, desta vez, o enxerga com outros olhos, como algo realmente grandioso.

O prédio das Ciências Místicas vai ficando mais e mais longe, à medida que se aproximam de seu destino, até que a caminhada termina em frente à uma casa de tamanho médio, semelhante à maioria das demais casas da cidade.

— É aqui. — informa o anão, já abrindo a porta da residência.

— Porque você tem a chave da casa dele? — estranha.

— Venha por aqui. — Prossegue, ignorando a pergunta.

Os três atravessam a sala e o anão coloca sua mão espalmada em uma quina. Uma imagem luminosa de um círculo com diversos símbolos surge na parede, ao redor da mão do anão e, ao lado dela, uma passagem secreta se abre, revelando uma escadaria para o sub-solo.

O anão desce a escadaria, seguido por Kore, já bem espantado e Voughan, que parece estar achando tudo isso um tédio.

Após uma imensa quantidade de degraus, eles se deparam com um enorme salão. Seu teto fica à mais de dez metros e o salão tem pelo menos cinquenta de largura, todo iluminado por estranhos globos de cristal nas paredes, que parecem produzir uma luz própria, azulada.

— Por favor, não toquem em nada. — solicita o anão.

— É um lugar realmente impressionante. — exclama Kore. — Esse deve ser o laboratório pessoal do alquimista Dhondal.

— Téééédio! — reclama Voughan, sem ligar para as coisas ao seu redor. — Quando vamos poder bater em alguém?

O anão, seguido dos demais, se dirige para o final do salão, passando por diversas estantes com frascos e maquinários de experimentos, chegando até um grande quadro, de bela moldura, pendurado na parede.

— Este, meus amigos, é o alquimista que vocês procuram.

Sem entender exatamente o que estava acontecendo, Kore observa a figura de um anão, de cabelos negros, vestindo uma roupa branca enquanto segura alguns frascos com experimentos, no quadro enorme.

— Bom e … onde ele está, neste momento? — questiona, já sem paciência para tanto mistério.

— O alquimista que vocês procuram é o meu pai e ele está morto.

— O QUE? Isso não pode ser. Várias pessoas pareciam conhecer esse cara, afinal, ele é famoso. Se tivesse morrido alguém teria dito.

— Dhondal é o sobrenome que herdei, então, quando você procura por este nome, as pessoas acham que estão me procurando. O seu primeiro nome era Drelner.

— Mas porque fez todo este mistério? Podia apenas ter dito isso.

— Enquanto conversávamos, eu estava estudando você. Precisava saber com quem estava lidando. Ao mesmo tempo, imergi você na atmosfera da alquimia. Antes de você chegar aqui, mal sabia o que era isso, certo? Agora que entende a importância da alquimia e sabe que sou filho de um dos maiores alquimistas conhecidos, posso fazer o meu pedido.

— Que pedido?

— Que me aceitem em seu grupo. Posso não ser tão bom quanto meu pai foi, mas estou melhorando.

Kore faz uma expressão de pesar. O grupo atual já não é o que Eril idealizou e colocar mais um membro fraco no time só iria piorar a situação.

— Não sei se podemos fazer isso. O lugar para onde vamos não é para qualquer um.

— Você e seu amigo shamarg estão indo para lá, quer dizer que eu também poderia.

— Está querendo dizer o que com isso? — questiona indignado. — Que é mais forte do que nós?

— Estou estudando vocês antes mesmo de me encontrarem. Assisti suas lutas perto da entrada da cidade e, efetivamente, sou mais forte do que vocês. Não sou um guerreiro, mas você sequer conseguiu a segunda liberação de selo de Mahou.

— Ainda sim, garanto que em uma luta punho à punho, eu venceria.

— Normalmente sim, sua força física e velocidade são maiores do que as minhas. Mas seu oponente sou eu. Analisei seu padrão de luta e ele é tão simples que eu poderia vencê-lo mesmo sem ser um lutador.

— Ah é? Quer tirar a prova?

O anão sorri. — Façamos o seguinte. Se eu vencer, terão de me colocar no grupo.

— Mas afinal, porque quer tanto entrar no nosso grupo?

— Terá sua resposta, no final da luta.

Voughan abre um grande sorriso. — Finalmente um pouco de ação. Verme, lute direito desta vez.

No meio do salão, há um espaço grande, demarcado por um círculo, onde os lutadores se posicionam, utilizando o espaço como campo de batalha. Kore se prepara enquanto o anão se coloca em posição de luta.

O monge analisa o anão e percebe que, para alguém que não é lutador, quase não há aberturas em sua postura.

Aos poucos, Kore se aproxima do oponente, que permanece imóvel.

Primeiro vou testar os reflexos dele com alguns golpes rápidos. — pensa, já bem próximo do adversário.

Kore desfere três socos rápidos seguidos, que atingem os braços do anão, que defendia, quase sem sair do lugar.

Desta vez, Kore desfere mais dois socos em sua guarda, desta vez mais fortes, pressionando o anão e, por último, um soco muito forte, que acaba transpassando sua guarda e atingindo o oponente no rosto. O anão da alguns passos para trás, cambaleando.

O monge parece contente com seu feito, afinal, seu adversário não parecia grande coisa.

Kore aproxima-se novamente, enquanto o adversário recupera o fôlego, mas desta vez sua postura muda completamente, desta vez está cheia de aberturas. Teria o filho de Dhondal ficado atordoado com aquele golpe? Sua expressão era séria e passava até tranquilidade, não parecia alguém desesperado.

— Pode vir, garoto. — diz o anão, como se respondesse o questionamento do monge. — Já aprendi o suficiente dos seus movimentos, sincronizei sua velocidade e força. Não vai mais conseguir me acertar.

Seria um blefe? De qualquer forma, Kore não tinha muitas alternativas e então se joga de cabeça na luta, atacando com socos e chutes rápidos. Desta vez, incrivelmente como previu, os ataques não atingem o alvo, que desvia de todos os golpes.

Kore continua com mais alguns socos, até que o anão contra-ataca, golpeando ao mesmo tempo que o monge, porém, apenas o ataque do anão atinge o alvo.

A situação se repete de novo e de novo, os ataques de Kore atingem o ar, enquanto os do seu adversário o acertam em cheio.

Isso é possível? — questiona em pensamento o monge, incrédulo. — Seus golpes não são fortes, mas ele está desviando de todos os meus ataques. Não tem como ele ser tão ágil.

A velocidade de Kore vai aumentando e ele percebe, nos olhos do adversário, que quanto mais sua velocidade aumenta, mais difícil fica para ele desviar.

É isso. — diz para si. — Se eu continuar aumentando minha velocidade, chegará um ponto que ele não vai conseguir sincronizar. Também tenho minha resistência, ele não terá fôlego para continuar por muito tempo.

A velocidade dos ataques aumenta cada vez mais, mas o resultado continua o mesmo, os ataques de Kore atingem o ar enquanto os do anão o atingem em cheio, mesmo sem causar muito dano. Aos poucos, a expressão do anão já demonstra cansaço e desespero, mesmo estando atingindo sem ser atingido.

Em um dado momento, o anão parece fraquejar, é o sinal para Kore, que percebe imediatamente e faz um balanço maior, golpeando com mais força, porém, no último instante, o anão novamente desvia e o atinge com um soco na têmpora.

Kore tenta mais um soco mas seus joelhos tocam o chão, sem que ele perceba. O choque de estar nocauteado, mesmo estando lúcido, parece maior do que o dano físico em si.

— Mas … o que aconteceu aqui?

— Você é bem ágil pra alguém sem o segundo selo. Mas é inexperiente demais.

O anão se afasta, a luta estava encerrada.

Kore, com algum esforço, se levanta, ainda sem entender.

— Não entendo como isso aconteceu. Seus golpes não eram tão fortes para me derrubar. Mesmo sendo contragolpes, eu deveria ter aguentado.

— Isso foi a junção de diversos fatores. Primeiro, analisei seu estilo de luta quando assisti você enfrentar aquele outro monge, memorizei seu padrão de ataques e manias. Segundo, testei sua velocidade e força nos seus primeiros ataques desta luta. Terceiro, sincronizei sua velocidade, prevendo o próximo ataque pela sua posição dos pés e movimento dos ombros, o que foi muito fácil, pois você faz movimentos realmente inúteis durante a luta. Quarto, utilizei contragolpes em pontos específicos, como têmpora e mandíbula, enfraquecendo a ligação do cérebro com o corpo. Por isso você perdeu o controle das pernas, mesmo estando lúcido.

A decepção é visível, ele aperta os punhos percebendo o quão fraco é. Mesmo alguém que sequer é um lutador, o enfrentando sem truques, o derrotou facilmente, lhe dando uma verdadeira lição em um assunto que ele deveria dominar por ser um monge.

No momento em que o anão está deixando o campo de batalha, Voughan pisa com força no chão.

— Hei, velhote! — rosna o shamarg.

— “Velhote”? Ainda sou jovem, meu amigo.

— Com uma barba dessas? Parece um velhote.

— Todos os anões tem barbas assim.

— Que seja. Derrotar o verme é fácil. A briga agora é comigo.

O anão o observa por um tempo.

— Não posso lhe enfrentar apenas com as mãos, como fiz contra Kore.

— Não precisa. — responde Voughan, enquanto estala os ossos dos punhos. — Pode vir com todos os seus truques.

O anão olha para Kore, que apenas acena com a cabeça, em sinal de positivo para Voughan, enquanto deixa o campo de batalha.

— Tudo bem. Mas contra você, precisarei de preparo.

No interior das luvas do anão, na parte entre o pulso e metade do antebraço, existem diversos frascos compridos, de laboratório. Ele seleciona, cuidadosamente, dois frascos com líquidos de cor verde, e então bebe seu conteúdo.

Em seguida, ele desamarra um pano, que estava preso à sua cintura e começa a desenrolar algo. Kore e Voughan ficam observando, o suspense aumenta até que finalmente desenrola o objeto. Trata-se de um pedaço de carne, preso por um osso.

— Mas que diabos vai fazer com isso, em uma hora dessas? — questiona, incrédulo, o monge.

— Ainda não comi nada. Estou com fome, oras.

O rosnado ameaçador de Voughan chama atenção. Ele parece irritado.

— VAI COMER AGORA? NA HORA DA NOSSA LUTA? diz o shamarg, deixando um pouco de saliva escorrer pelo canto da boca. — TAMBÉM ESTOU COM FOME.

Não é possível distinguir se a raiva de Voughan é pelo descaso com a luta ou se pela fome. Talvéz fossem ambos.

O anão da uma mordida na carne arrancando um belo pedaço e começa à mastigar.

A falta de resposta vai irritando Voughan cada vez mais.

Ao terminar de engolir, o anão responde.

— Se quer comer, porque não tenta tomar a carne de mim?

Ao que um sorriso amedrontador surge na face do gigante. — É pra já.

O Shamarg corre em disparada na direção do anão que, para escapar, acaba jogando a carne na cara de Voughan, enquanto desvia, saltando para o lado.

A carne é imediatamente devorada, não sobrando sequer o osso, que é triturado por seus poderosos dentes.

Sacando duas pequenas lâminas, o anão as arremessa contra o oponente, que apenas se protege com um dos braços. Elas o atingem, mas sequer conseguem arranhá-lo, ricocheteando e caindo no chão.

— Essas coisas não funcionam comigo. — se gaba, enquanto pisa em uma das lâminas.

— Não achei que funcionassem mesmo.

No instante seguinte, uma das lâminas explode, desequilibrando Voughan, que estava com o pé em cima de dela. A explosão da segunda trinca o chão próximo aos seus pés, e o gigante vai ao chão.

Aproveitando a situação, o anão saca quatro pequenos frascos esféricos, três deles possuem algo de cor marrom, em seu interior e o último de cor roxa e os lança contra o oponente.

Ao atingirem o alvo, os frascos explodem violentamente e um deles libera uma fumaça roxa, que se concentra ao redor do alvo cobrindo uma área de cerca de cinco metros, encobrindo também o anão.

Kore consegue se distanciar o suficiente para não ser atingido.

Em meio a fumaça, Voughan se levanta, um pouco atordoado pela explosão. Ele tenta localizar o anão, mas a fumaça acaba o disfarçando.

À sua direita, algo parece se mexer e é violentamente golpeado pelo punho do shamarg.

A fumaça vai se dissipando e Voughan enxerga o anão, que foi atingido em cheio pelo seu golpe.

— Te peguei, velhote. — se vangloria. — Achou que podia comigo usando esses brinquedos?

Neste momento, algo realmente estranho acontece. O anão, que estava em sua frente, esmagado contra o chão por seu punho, desaparece completamente.

— Mas o que?

O anão torna à aparecer mas, desta vez, está sentado sobre o ombro de Voughan, que não entende como ele chegou ali sem que fosse percebido.

Mesmo sem entender, o shamarg tenta golpeá-lo com um soco e o atinge em cheio, mas novamente o anão desaparece. Desta vez algo ainda mais estranho acontece. seu punho fica preso ao seu ombro. Voughan olha mas não enxerga nada que possa estar prendendo sua mão ali mas, ainda sim, não consegue soltá-la.

— Que porcaria ta acontecendo aqui? — resmunga, desorientado.

Agora, as pernas do shamarg não obedecem, ele tenta movê-las porém não consegue andar.

Nisso o anão aparece em pé, em cima da cabeça de Voughan.

— SEU VELHOTE DE MERDA! — berra, enquanto golpeia com seu braço livre.

O anão salta e a mão de Voughan passa acima da própria cabeça, atingindo apenas o ar.

Em seguida, Voughan sente um choque em sua cabeça, como um impacto, mas não vê nada que possa tê-lo causado.

O anão pousa novamente em sua cabeça e Voughan tenta atingí-lo. A situação se repete, o anão salta, a mão de Voughan atinge o ar, acima de sua cabeça e, novamente sente um impacto forte em seu crânio.

De fora da luta, Kore está boquiaberto com o que está acontecendo.

Da sua visão, Voughan está preso por uma espécie de fio, que fora enrolado várias vezes, unindo ambas as pernas do gigante. Também à uma gosma azul que prende a mão direita do shamarg em seu ombro esquerdo. Além disso, Voughan está golpeando sua própria cabeça diversas vezes com a mão que está livre, enquanto esbraveja com o anão, que está parado em sua frente, apenas observando.

— Mas… o que está acontecendo? — questiona Kore.

Calmamente o anão se aproxima de Voughan e o empurra, fazendo com que ele caia no chão e, mesmo caído, continua a golpear a própria cabeça repetidas vezes.

O anão deixa o campo de batalha e se aproxima de Kore.

— Parece que eu venci.

Enquanto raciocina, o monge permanece em silêncio por alguns instantes.

— O gás! — exclama, com perspicácia. — Aquele gás que você usou no início da luta deve ter afetado os sentidos do Voughan, causando algum tipo de alucinação. Por isso ele não percebeu quando você prendeu suas pernas e por isso ele está golpeando a própria cabeça.

— Sua observação passou perto. Mas há muito mais coisas que ocorreram nesta luta. Em primeiro lugar, o que causou a alucinação não foi o gás, foi o veneno que coloquei na carne que ele roubou e comeu. Em segundo lugar, a fumaça foi um composto que serviu para diminuir a velocidade dele. Se usado em pessoas como nós, o efeito é menos visível, mas parece que aquela carapaça que cobre a pele dos shamargs absorve muito bem aquele composto. Acabo de achar um ponto fraco deles que eu não conhecia.

— Entendi. Então aquelas duas poções verdes, que você bebeu antes da luta foram o antídoto do veneno que havia na carne, certo?

— Uma era o antídoto para o veneno da carne e o segundo para o efeito do gás. Se você fosse um bom observador, iria perceber que os tons das cores das duas poções eram diferentes. Um bom alquimista consegue diferenciar essas pequenas tonalidades para identificar diferentes tipos de poções. Isso pode significar a diferença entre a vida e a morte, pois uma poção de restauração pode ser bem parecida com um frasco de veneno.

Com uma respiração ofegante, Voughan desiste de golpear, já com uma rachadura em sua carapaça, na altura da testa. Nota-se que ele está desorientado procurando algo ao seu redor.

— Não sou um exímio ilusionista. — continua o anão. — Por isso preciso utilizar de compostos que atrapalhem os sentidos do inimigo. Não apenas visão, mas audição, olfato, tato e paladar. Com os sentidos em estado de confusão, posso utilizar minha magia para fazê-lo imaginar qualquer coisa, de acordo com a minha vontade.

O anão faz um estalo com os dedos e Voughan parece acordar do transe.

— Elemento trevas. — balbucia Kore.

— Claro. Trevas é o elemento utilizado para criar ilusões. Isso é bem óbvio, não?

Voughan finalmente percebe o que prendia seu punho ao seu ombro e que suas pernas estavam amarradas.

Ao que parece, até então, ele sequer sabia que estava no chão. Em sua cabeça ele achava que ainda estava em pé.

Rapidamente ele desamarra o fio que prendia suas pernas e consegue se levantar. Puxando com as duas mãos, após fazer força, também consegue soltar o punho, preso ao ombro.

Ele caminha na direção de Kore e do anão, com a mão sobre a cabeça, sem entender o que aconteceu.

— Voughan! Parece que temos um novo membro no time.

O shamarg nada responde, ainda sem saber o que aconteceu, atônito.




O céu começa à escurecer, enquanto o Sol se põe no horizonte.

Atravessando a grande porta dupla do Laboratório das Ciências Místicas, surge Eril, sorrindo maravilhada com tudo que vira. No que seus pés tocam o lado de fora, ela acaba lembrando o que fazia na cidade. Deveria estar procurando o alquimista Dhondal e sente-se envergonhada por sua falta de foco.

Em seu ombro surge uma estranha criaturinha feita de metal, semelhante à um inseto robótico. Por dentre as frestas, entre suas patas e seu corpo se podem ver algumas engrenagens girando e um certo brilho azulado lá dentro. Uma espécie de brinde que havia ganhado dos cientistas do laboratório.

— Hei amiguinho! Preciso dar um nome pra você.

O pequeno construto apenas inclina a cabeça um pouco, como se tentasse entender o que foi dito.

— Mas primeiro vamos achar meus companheiros.

Mal a maga começa à caminhar e é encontrada por Kore e Voughan, que estão acompanhados agora pelo anão.

— Eril. — acena o monge, enquanto se aproxima. — Você esteve todo esse tempo no laboratório?

— Er… O laboratório é muito grande. — Enquanto tenta forjar uma desculpa, ela percebe a nova companhia. — Este é o alquimista Dhondal? Se parece um pouco com o da foto, mas está diferente.

— Permita que eu me apresente. — responde enquanto faz uma reverência. — Meu nome é Algar Dhondal, filho do alquimista Drelner Dhondal, que é quem vocês procuram. Infelizmente meu pai está morto. Kore me explicou que pretendem invadir Xibalba e acredito que posso lhes ajudar nesta empreitada. Minhas habilidades podem não ser tão extraordinárias quanto as de meu pai, mas sei que posso ser útil.

— Ah! Meus pêsames! — responde a elfa, com um grande pesar. Novamente não conseguiu a adição que desejava ao time e ela se perguntava o quanto isso iria prejudicar a missão.


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Notas finais do capítulo

Opiniões e críticas construtivas são bem vindas.