ALMARA: Ameaça na Ilha de Xibalba escrita por Xarkz


Capítulo 32
CAPÍTULO 31 | Reunião


Notas iniciais do capítulo

Após a intrigante decisão de Kore, o time decide qual rumo cada um irá tomar.
Enquanto isso, uma terrível fera surge. Seria Ákyros novamente?
As decisões de Eril parecem cada vez mais difíceis.



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— Como assim? — indaga Algar, aparentemente irritado. — Pretende se alistar no Império Mundial? O mesmo Império Mundial que prendeu a princesa e queria escravizá-la? O Império Mundial que atacou a sangue frio o reino dos bárbaros, tentando tomar a força o que eles haviam conseguido com tanto esforço?

— Se esqueceu de: “O mesmo Império Mundial que quebrou todos os seus ossos e despedaçou seus órgãos?”. — ironiza Kore. — Sim! Esse Império Mundial.

— Como pode cogitar isso?

— O imperador parece ser uma pessoa mesquinha e egocêntrica, mas não existem só pessoas ruins lá. Eril e eu sabemos bem disso, conhecemos um sargento que salvou nossas vidas, logo que começamos essa missão. Acho que o nome dele era Darin.

— Um sargento salvou sua vida e acha que pode confiar nele? Esse mesmo sargento provavelmente lhe mataria, se fossem as ordens do imperador.

— Talvez! Mas eu não vou mudar de ideia. O treinamento do império é rigoroso e sei que vou me fortalecer lá dentro. Além do mais, se ver algo que eu julgue errado, estarei lá para evitar que cometam alguma injustiça. Sem falar que isso pode nos ajudar a conseguir o apoio deles na nossa missão. Se eu conseguir uma boa patente nesses dois anos, posso conseguir levar um pelotão comigo.

— Hum! Não sei dizer se sua ideia é inteligente ou totalmente estúpida. De qualquer forma, não é uma boa ideia levar um pelotão com soldados fracos. Não queremos mortes desnecessárias. Mas se conseguir aliados de alta patente que queiram ajudar, serão bem vindos.

— Combinado!

Ainda durante a reunião, um soldado de Galvas entra na sala, anunciando uma chegada.

— Vossa alteza! — dirigindo-se à Eril. — O convidado chegou.

— Ótimo! — responde a princesa. — Mande-o entrar. — voltando-se para Kore em seguida. — Consegui encontrar uma pessoa e o convidei para o jantar, mas parece que ele não chegou à tempo.

Escoltado por guardas reais, surge outro rosto conhecido de Kore.

— Farkas?! — não esperando a visita.

Os dois monges se abraçam e, quando Farkas tenta golpear Kore com um soco, Eril toca seu braço com seu cetro, fazendo-o parar o movimento.

— Ele está muito ferido. Sem cumprimentos violentos hoje, Farkas.

— Ah! Ok! Mas que diabos aconteceu com você? — referindo ao estado de Kore, que está com braços e tórax enfaixados, além de um esparadrapo na testa, cobrindo um ferimento.

— Resolvi brigar com Radagart e deu nisso.

— Ah, sim claro! Eu briguei com o avatar do deus da força, esses dias.

— É sério! Ele me acertou um soco em cheio no abdômen. Eu quase morri.

— Pra você ter sobrevivido, ele devia estar doente ou sei lá.

— Farkas, quero lhe apresentar uma amiga de infância. Esta é Aldrah. — Fazendo-os se aproximarem. — E, Aldrah, este é Farkas, meu amigo do monastério.

A garota aperta a mão do monge, em um cumprimento formal.

— Amigo? Achei que éramos irmãos. — rindo um pouco com o próprio comentário.

Kore abre um sorriso, lembrando-se do dia em que se conheceram.

— Esse cara aqui estava à uma semana batendo na porta do monastério. Aí eu cheguei e eles me deixaram entrar na hora. Ele ficou com cara de: “que sacanagem é essa?”. — caindo na gargalhada.

— Também, com indicação da Lisica qualquer um entraria. E não foi uma semana, foram quatro dias. Passei fome lá, sabia? — explica Farkas. — Mas, e aí? A que horas começa a comilança?

— Você chegou tarde, já jantamos.

— Não se preocupe. — interrompe Eril. — Você pode comer a qualquer momento.

— Ah, então é o que eu vou fazer. Não comi nada o dia todo.

— Se importam se eu comer de novo? — pergunta Aldrah, erguendo a parte interna da sobrancelha. — Estava tudo tão bom.

— É claro que pode. — responde Eril.

Com um sinal da princesa, um dos guardas os leva até a sala de jantar, onde servem novamente as guloseimas.

— Odeio quando ela faz aquele olhar de cão abandonado. — cochicha Kore, para Eril. — Não tem como negar algo pra ela, quando faz isso.

Algar novamente chama a atenção para si, já despedindo-se.

— Acho que estamos entendidos. Desculpem-me se não fico para ver sua reabilitação, Kore, mas quero partir o quanto antes. Enviem o Acólito, se precisarem de mim para algo, mas apenas em caso de emergência, por favor. Nos encontraremos novamente aqui em Galvas dentro de dois anos. Até lá, preparem-se. — deixando o castelo em seguida, dirigindo-se para Danathrya com sua carruagem motorizada.

Sentada em um dos sofás, a expressão de Eril vai mudando aos poucos, de séria passando para preocupada e Kore percebe isso.

— Vai dar tudo certo, Eril. — tentando confortá-la.

— O imperador tentou me escravizar e até matou uma de suas escravas, certo de que eu iria substituí-la. Já não bastava o perigo que Xibalba nos representa e agora sinto que nos coloquei em uma situação ainda pior. Ainda mais pressão. Por isso Algar se foi tão rápido, para melhorar suas habilidades e se tornar melhor e mais forte o mais rápido possível.

— Do jeito que você fala parece que a culpa é sua, o que claramente não é verdade. Se tem alguém culpado disso tudo é aquele maldito imperador. Esse é mais um motivo para eu entrar no Império Mundial. Se tiver qualquer informação ou fraqueza que eu consiga perceber, vai ser uma vantagem se precisarmos enfrentar esses caras.

— Não diga bobagens. O reino de Galvas é, provavelmente, o maior de Almara, mas o Império nasceu da fusão de três grandes reinos e, além disso, ele vêm criando alianças com outros reinos, seja por meio de tratados ou por imposição. Não temos a menor chance contra eles. Somando isso ao fato de que eles possuem os dois únicos Titans dessa era, são a maior potência que este mundo já viu.

— E ainda sim eles têm medo de entrar em Xibalba.

— O imperador é supersticioso e isso é a única coisa que os impede de entrar lá. Se um exército de bárbaros conseguiu, eles certamente teriam sucesso também.

— Isso me faz até ficar aliviado. Xibalba já não parece tão inalcançável.

— Kore, estou falando que o Império, que possui um homem capaz de partir uma montanha ao meio com um soco, teria sucesso nessa missão. Isto está muito além de nós.

— Ok, eu entendi. Então você quer desistir? Não precisamos ir até lá, se a morte certa nos espera.

— Não posso. Se desistir terei de ser escrava do imperador, caso contrário, ele reduziria Galvas à cinzas. Entende agora meu dilema?

Finalmente Kore compreende a real extensão do problema, que se resumia à escolha entre três opções para Eril:

1 - Invadir Xibalba, com chances quase nulas de sucesso.

2 - Ver Galvas ruir perante ao ataque esmagador do Império Mundial.

3 - Tornar-se escrava pelo resto de seus dias para o imperador.

Não foi necessário pensar muito para que o monge percebesse qual era a opção mais acertada à se tomar.

— Pois eu digo o que vamos fazer. Vamos entrar em Xibalba, espancar um daqueles bichos feios até ele parar de responder, vamos trazer ele para o continente e então entregar para aquele maldito imperador. Aí você estará livre.

Nem mesmo a empolgação de Kore é capaz de tirar o pesar da expressão de Eril, que parece inconsolável.

— Acha mesmo que temos alguma chance? — fitando Kore nos olhos, de uma forma tão penetrante que ele não consegue mentir.

— Eu… É claro que… — ficando cabisbaixo, como se a tristeza de Eril o contagiasse. — Honestamente? Já não sei o que pensar. Quero muito achar que somos capazes, mas as histórias que contam são todas tão terríveis.

— É o que eu penso também.

— Desculpe, Eril! Mas ao mesmo tempo quero que ouça bem o que vou dizer. Não sei o que vai acontecer quando pusermos os pés naquela ilha, mas até encontrarmos e capturarmos um daqueles bichos, eu não darei um único passo para trás.

— Não faça promessas que não pode cumprir, Kore. Além do mais, se a situação se mostrar perigosa demais, recuaremos e vamos abortar a missão. Ter a morte de vocês na minha consciência seria pior do que passar o resto de meus dias como escrava.

Kore aperta os punhos, sem conseguir dizer mais nada. Eril levanta-se e dirige-se para seu quarto, acenando de longe para o monge enquanto força um sorriso triste.

 

Em uma cidade, do outro lado de Almara, um terrível tormento estava por retornar.

As pessoas correm por todos os lados, levadas pelo pânico.

Todos se dirigem para a entrada principal, que acaba superlotada quando as pessoas se afunilam, vindas de todos os cantos.

Os gritos ecoam e não deixam dúvidas do que se trata.

— ÁKYROS!!! — berra um aldeão, à plenos pulmões.

— FUJAM TODOS! ÁKYROS APARECEU! — grita outro, apavorado.

O terrível monstro quadrúpede, conhecido como O Avatar do Vazio, parece ter surgido novamente, causando destruição e morte para todos os lados.

Os soldados mais corajosos decidem seguir na direção do monstro e o avistam, com certa estranheza.

Eles se escondem atrás de uma casa, próxima ao monstro.

— Isso é terrível. Como vamos deter essa coisa?

— Não sei. As histórias que contam sobre ele são todas impressionantes, mas talvez sejam um pouco exageradas. Olha só o tamanho dele, eu esperava que fosse muito maior. Deve ter só uns três metros. Pelas histórias imaginei que fosse dez ou quinze vezes maior.

Nisso, o monstro quadrúpede, com chamas roxas espalhadas pelo corpo, lança um globo de energia escura em direção à uma casa. Ao chocar-se com ela, uma explosão ocorre, porém, instantes após explodir, algo estranho acontece. É como se o tempo estivesse andando ao contrário e os destroços, que estavam sendo arremessados longe, agora eram puxados por uma força invisível, implodindo até que tudo se aglomera em um globo de energia escura, no centro de onde ocorreu a explosão, e então somem por completo dentro do globo de energia, que fica flutuando no ar.

O globo finalmente se desfaz, sobrando uma esfera de pouco mais de um metro, composta pelo material de toda a casa e destroços do solo, comprimidos, que cai pesadamente no chão.

— Droga! Se formos atingidos por aquilo, já era. Temos que derrotá-lo antes que dispare.

— Certo!

Os dois soldados, os mais fortes da cidade, circundam o monstro passando por trás das casas, sem serem percebidos.

Ao chegarem na posição certa, ambos correm na direção do monstro, cada um vindo por um lado do mini Ákyros, que parece não saber quem atacar primeiro.

Quando o da direita se aproxima, é recebido por um ataque de suas poderosas garras, que rasgam facilmente o peitoral de sua armadura, ao mesmo tempo em que o uma chama roxa começa a consumir o local do ferimento.

O segundo soldado consegue aproximar-se e tenta uma estocada com sua espada, mas a pele do monstro é tão resistente que a espada não consegue perfurar.

Ákyros se volta para ele e as chamas que saem de seus olhos se intensificam. Ao ser encarado, o soldado parece não conseguir se mover e uma energia o puxa para baixo.

Ele percebe que há um círculo negro no chão, ao seu redor, fazendo com que a gravidade seja aumentada apenas naquela região.

Mesmo esforçando-se ao máximo, seu joelho acaba tocando o solo e, cada vez mais, a gravidade ali parece aumentar.

Ele respira com dificuldade, apoiando-se agora com ambas as mãos no chão. Suas veias saltam, pelo esforço e o chão começa a trincar.

O soldado olha para o lado e avista seu amigo sendo queimado pelas chamas roxas, contorcendo-se no chão.

A gravidade aumenta a tal ponto que o osso de um de seus antebraços se parte e ele cai no chão, pronto para receber um ataque final da criatura.

Quando a morte parecia certa, ambos ouvem uma voz suave e calma.

— Vejo que estão enfrentando algumas dificuldades.

O homem aproxima-se do soldado, já quase completamente coberto pelas chamas roxas e lança um frasco de poção contra ele que, ao quebrar-se, libera uma névoa azul e apaga as chamas.

A criatura se volta para o recém chegado, que mantém seu ar imponente mesmo perante o terrível monstro.

Ele coloca a mão espalmada na direção de Ákyros, enquanto se aproxima.

— Eu sei que você está aí e pode me reconhecer. Também sei que não irá me ferir. Agora venha até aqui e demonstre um pouco de respeito.

O monstro parece enfurecido e avança contra o homem, preparando um golpe com suas afiadas garras, que emanam as chamas roxas. Ele desfere o golpe, porém, detêm-se pouco antes de atingir o alvo, que continua imóvel e calmo.

O homem é Saja, que esboça um leve sorriso, com seu ar imponente de sempre.

A criatura se acalma, diminuindo até mesmo a intensidade das chamas que saem por seus olhos e boca, e então abaixa-se próximo ao nobre.

— Suas chamas não deveriam poder ser apagadas com uma poção destas e sua habilidade não é igual à do original, mas você está longe de ser uma falha. Isso já era esperado. Agora siga-me. Temos muito o que fazer.

Saja segue para o portão lateral da cidade, acompanhado pela versão reduzida de Ákyros, enquanto os soldados, feridos, apenas conseguem assistir, sem dizer nada.

Do alto das casas, afastados do centro da cidade, diversas pessoas assistem o ocorrido e espalham a notícia.

— Um homem acaba de domar Ákyros, o avatar da destruição.

Era a notícia que corria e se espalhava por toda a cidade.

A descrição do homem variava entre um homem magro à uma montanha de músculos de quase dois metros de altura, mas todos entravam em consenso sobre ele ser um nobre, visto que suas vestimentas o denunciavam.

O quão poderoso poderia ser aquele homem, capaz de domar a mais temível das criaturas? Um avatar que, teoricamente, teria uma parcela do poder do próprio Vazio. Aquele que gerou a tudo e a todos. Acima até mesmo do Criador, que gerou os deuses.

Como um mortal poderia subjugá-lo?

Ninguém ousou seguir o homem e seu novo mascote, mas não tardaria até que essa história chegasse aos ouvidos dos reinos vizinhos.

 

De volta à Galvas, Eril está apática, sentada em frente à um grande espelho redondo, em seu quarto, enquanto escova lentamente seus longos cabelos dourados.

O globo de luz, que iluminava o quarto, já está apagado, sendo iluminado apenas por algumas luminárias.

Seu olhar perdido, de quem já desistiu de achar uma resposta, apenas aguarda o que está por vir, sem grandes expectativas.

Um relance da imagem de Galvas sendo dizimada passa por sua cabeça e ela parece se assustar com sua própria imaginação. Sua respiração fica ofegante e, em seguida, se imagina com vestes de escrava, sendo molestada pelo imperador do Império Mundial.

Suas mãos tremem e então, a última cena se passa por sua cabeça: seus amigos, todos mortos em Xibalba.

Sem conseguir conter as lágrimas, a maga chora em silêncio.

Não muito tempo se passa e ela ouve um som, que entra pela janela de seu quarto.

É estridente e lembra vagamente uma música conhecida por ela.

Com as costas das mãos ela limpa as lágrimas enquanto aproxima-se da janela.

Aos poucos ela reconhece o som, que vem de uma lira, mas nota-se a total falta de habilidade do músico, que erra notas e tons.

Ao chegar na varanda, ela olha para baixo e avista Kore, que tenta arrancar uma melodia de uma lira, como se brigasse com ela.

Mesmo o som sendo horrível, a maga debruça seu rosto sobre a mão, ouvindo até o final, com um sorriso no rosto.

Ao concluir a serenata, Kore coloca a mão sobre a cabeça, envergonhado.

— Eu sei que não ficou grande coisa, mas foi o melhor que pude fazer. Além do mais a lira está desafinada… Eu acho.

— Você lembrou! — responde Eril, encantada. — Você lembrou da canção.

— Eu lembro que você disse que sua mãe cantava para você, quando era um bebê. Achei que talvez isso pudesse te alegrar um pouco.

— E conseguiu! Muito obrigada, Kore! Quando foi que você aprendeu a tocar?

— Comprei a lira ainda em Pea Nui e também um livro que ensina a tocar. Como não entendi muita coisa tentei improvisar, mas pelo visto não deu muito certo.

— Não foi perfeito, mas a música estava linda.

Os dois se olham por alguns segundos sem dizerem nada, até que Kore decide que seu trabalho ali estava feito.

— Bem, então acho que eu já vou indo. — enquanto afasta-se, acenando. — Durma bem!

Naquele momento “realeza” e “nobreza” não parecia mais algo importante, perante os problemas que estava enfrentando e Eril toma uma decisão.

— Kore! — chamando a atenção do monge, que já estava à uma certa distância.

Ele olha para trás e avista novamente Eril, com um sorriso, quando recebe o convite.

— Gostaria de entrar?


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Notas finais do capítulo

Opiniões e críticas construtivas são bem vindas.



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