ALMARA: Ameaça na Ilha de Xibalba escrita por Xarkz


Capítulo 17
CAPÍTULO 16 | Do Vazio


Notas iniciais do capítulo

Após o desaparecimento da cidade de Bantara, Algar e os demais seguem para a cidade vizinha, seguindo o rastro de destruição. Surge uma terrível criatura, talvez a besta mais poderosa que já existiu, e desperta interesse de um misterioso homem.



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O terreno era arenoso, deserto, pouca vegetação sobrevivia naquele lugar. Uma estrada de chão batido divide ao meio o cenário, por onde uma carruagem, puxada por quatro cavalos, avança rapidamente.

Em seu interior, um homem humano alto de ar altivo e vestes imponentes. Seus cabelos são compridos e levemente cacheados penteados para trás mas com uma única mecha caindo sobre seu rosto. Seus olhos castanho-claros, cujas pálpebras nunca se abrem completamente, como se estivesse levemente sonolento, passam uma sensação de paz e tranquilidade, enquanto carrega um quase imperceptível sorriso na face.

Ao seu lado, um bárbaro humano com quase dois metros de altura e enorme musculatura, cabelos negros espetados, utilizando uma pele de tigre por cima de um dos ombros.

Um camponês razoavelmente bem vestido guia a carruagem por um leve aclive, até que, ao chegar no ponto mais alto, tem uma surpresa.

— Pelos deuses! — exclama, boquiaberto.

Ao longe, avista uma cidade sendo atacada por um gigantesco monstro quadrúpede. Centenas de soldados o atacam mas não são páreos para ele.

— Senhor Saja, precisamos voltar. — explica o cocheiro, apavorado.

Espiando pela janela da carruagem, o altivo homem faz pouco do acontecido.

— Prossiga, por favor. Não estamos indo para Bantara.

— Mas senhor, estamos indo para a cidade vizinha. Para sermos atacados por aquele monstro será questão de minutos.

Observando atentamente, o bárbaro fica apreensivo.

— Mestre Saja, aquele não é um monstro qualquer. — com uma expressão de pavor. — Não há dúvidas, aquele é o…

Ao que Saja o interrompe, erguendo sua mão, sinalizando para que não continue.

— Você só precisa nos levar até a entrada. Se tiver sorte, conseguirá enxergar a criatura, ao longe.

— Me desculpe! — responde o cocheiro. — Não vou arriscar minha vida indo até lá. Devolverei seu dinheiro quando retornarmos para a cidade.

Saja se posiciona tentando ficar o mais de frente possível para o cocheiro, sua expressão, apesar da calma, parece tentar imitar a expressão do homem à sua frente, mas sem perder o leve sorriso despreocupado. Ele analisa o homem à sua frente da cabeça aos pés e nota uma abotoadura em forma do rosto de um coelho sorridente, nas mangas de sua camisa. Aquele homem provavelmente teria um filho e a abotoadura deveria ter sido presente dele.

— Em “O Paladino das Terras Perdidas”, conta as aventuras de um cavaleiro errante, que se vê em um mundo diferente do seu, encontrando criaturas maravilhosas e lugares incríveis, até conseguir retornar à sua terra natal e se tornar um grande paladino.

Estático, o cocheiro aguarda por um instante a conclusão, que nunca chega.

— Eu conheço essa história, mas o que quer dizer com isso?

— Você está diante de uma  criatura raríssima que pouquíssimas pessoas presenciarão. O próprio Ákyros. — fazendo uma breve pausa, antes de prosseguir. — Sem pequenos riscos levamos somente uma vida mediana e não desfrutamos nada do que este mundo tem à nos oferecer. Você pode continuar contando histórias de cavaleiros que presenciaram criaturas e lugares maravilhosos para o seu filho dormir... ou, esta noite, pode contar a sua própria história a ele.

Por um instante o cocheiro olha para a abotoadura da camisa e então volta-se para frente.

— Só lhes levarei até a entrada da cidade. — diz, ainda com medo. — Depois disso estarão por conta própria.

— Eu lhe agradeço. — responde Saja, recostando-se novamente no banco.

Confuso, o enorme e desajeitado bárbaro aproxima-se do nobre.

— Mestre. — sussurrando, de forma que o cocheiro não possa ouvir. —  O que faremos agora que o encontramos?

O sorriso, antes sutil, agora se alarga no rosto de Saja.

— O Vazio gerou o Criador e o Criador gerou os Deuses, que são poderosos demais para interagir com os mortais. Para isso eles enviam seus avatares, que possuem uma pequena parcela de seus poderes, mas mesmo esta pequena parcela representa um poder imensurável. Sendo assim, sequer podemos imaginar o poder real desta criatura… o avatar do próprio Vazio.




Alguns minutos depois, por outra estrada, indo em direção à cidade sob ataque, a carruagem à vapor dos nossos heróis avança à toda velocidade.

Kore está com metade do corpo para fora da janela, tentando enxergar à frente, enquanto Voughan sobe no teto e fica em pé, se equilibrando com certa facilidade.

Apreensivo Algar conduz a máquina, enquanto Eril se aproxima.

— Eu não consigo imaginar o que você está sentindo agora, Algar, mas peço que vá com calma. — diz a elfa.

 

Nenhuma resposta.

 

— O que quer que tenha destruído Bantara daquela forma, é poderoso demais para nós.

 

Silêncio.

 

— Confio no seu discernimento, Algar. — prossegue, acomodando-se no banco novamente. — Sei que não vai colocar nossa vida em perigo.

— Pode deixar, alteza. — responde, após um longo suspiro preocupado.

Um tremor balança a carruagem e Voughan avista algo.

— Hei! Estou vendo a cidade. — com um enorme sorriso no rosto. — Tem um bicho enorme lá.

O shamarg aperta os olhos, tentando enxergar melhor e, quando compreende do que se trata, fica espantado.

— Ákyros? — sem acreditar no que via.

— O que foi que ele disse? — pergunta Eril, à Kore.

— Ele disse “Ákyros”. O que é isso?

A carruagem freia bruscamente. Algar sua frio ao conseguir enxergar a criatura.

— Isto… é real?

O gigantesco monstro quadrúpede, com cerca de cinquenta metros de altura, caminha pelo centro da cidade à frente, destruindo tudo por onde passa.

Chamas roxas saem por sua cabeça, formando algo parecido com uma crina de fogo, que percorre suas costas até a ponta do rabo. As chamas também saem por sua boca e, levemente, por seus olhos, que consistem em dois buracos apenas.

Ao abrir sua boca, pode-se ver uma energia escura se concentrando e então ele lança uma esfera negra de energia, que atinge uma mansão à frente.

Primeiramente o impacto parece causar uma explosão de cor roxa, porém, nada do que foi atingido é destruído nem arremessado longe. A explosão se parece mais com uma bolha escura, que engloba a mansão e uma grande área ao redor da mesma.

A bolha começa a desaparecer e, consigo, tudo que havia em seu interior simplesmente desaparece sem deixar rastros, ficando apenas uma cratera no local.

— Afinal, o que é aquela coisa? — questiona Kore. — O que é Ákyros?

— Kore, você sabe o que é um avatar, certo? — pergunta Eril.

— Você diz, um avatar dos deuses? Mais ou menos.

— Os deuses não podem interagir diretamente no nosso mundo, então quando querem fazê-lo, imbuem uma criatura, que receberá parte dos poderes desse deus. O avatar terá apenas uma pequena parcela de poder, mas ainda sim, são capazes de rivalizar com os Titans.

— Está me dizendo que esse monstro, Ákyros, é um avatar de um deus?

— Não! É muito pior.

— O que seria pior do que o avatar de um deus?

— Kore, acima dos deuses está a entidade conhecida como Criador e acima do Criador, há mais uma entidade. Aquele existe desde sempre e sempre existirá.

— O Vazio! — completa o monge, temendo o desfecho da conversa.

— Exatamente! E Ákyros é, nada mais nada menos… que o avatar do próprio Vazio.

Finalmente Kore entende a gravidade da situação e engole à seco.

— Isso significa que não há nada nem ninguém em toda Almara que se equipare ao poder de Ákyros. Avatares dos deuses, dragões, Titans, nada disso é capaz de deter essa coisa.

 

Na cidade, a destruição parece não ter fim. Todos os esforços dos soldados é em vão, sequer conseguindo arranhar a criatura.

— Senhor! Estamos morrendo lá. — diz um soldado, se reportando ao seu superior. — Precisamos recuar.

Pelo distintivo no braço, pode-se ver que trata-se de um tenente do Império Mundial.

— Ainda há muitos cidadãos em Phaedra, não vamos sair daqui até que a evacuação esteja completa. Aguentem mais um pouco, o capitão está chegando.

Ao lado do tenente, duas pessoas caminham em direção à destruição, são Saja e seu auxiliar.

— Hei! — exclama o tenente, chamando a atenção dos dois intrusos. — Não podem avançar. É perigoso. Evacuem a cidade agora mesmo.

— Desculpe-me. — responde Saja, sempre calmo e com seu sorriso enigmático. — Mas não podemos obedecer essa ordem.

— Eu disse: SAIAM! — se exalta, aproximando-se e preparando para agarrar Saja pelo braço.

Ao que sua mão se aproxima do nobre, é detida pelo enorme bárbaro, que segura o tenente pelo pulso.

— Não toque nele!

O tenente tenta se desvencilhar, mas a força do bárbaro parece muito maior que a sua e então é empurrado para trás com um leve movimento do auxiliar.

— Isso é um desacato! — ficando irritado.

— Perdoe meu amigo Gregory, ele não quis ser rude. E não se preocupe conosco, estaremos bem. — seguindo em frente, em direção ao local onde a criatura se encontra.

No caminho, diferente do que se imaginaria, quase não há corpos ou sangue. Há poucos destroços. Ao invés disso, à crateras de diferentes tamanhos, mas não há indícios de explosões.

 

Em outro ponto, passando por outra entrada da cidade, nossos heróis estacionam a carruagem e descem em disparada, chegando em um ponto alto da cidade, onde conseguem visualizar a criatura.

— Isso é terrível! — diz Eril, apavorada com a destruição.

— Todas estas pessoas estão perdendo seus pais, filhos e lares. — continua Algar. — Quantas vidas mais ele pretende destruir?

Observando atentamente a multidão, que corre próximo ao monstro, alguns em fuga, outros tentando atacá-lo, Kore identifica um rosto conhecido.

— Farkas!?

Os demais se voltam para o monge.

— Lá no meio da confusão… É o Farkas. O que aquele idiota está fazendo lá?

— Isso é mau! — exclama a maga. — Ele não deve saber o perigo que está correndo.

— Tenho que ajudá-lo!

Kore faz menção de correr na direção do amigo, mas Eril o segura pelo braço.

— Aonde está indo? Quer morrer também?

— Não vou deixar ele sozinho nessa. Tenho que tirar ele de lá.

— Você quer morrer também?

— É claro que não! Mas não vou ficar aqui de braços cruzados vendo ele se matar. Vou entrar lá e arrastar ele, se necessário. — fazendo uma breve pausa. — Seria mais fácil se eu tivesse ajuda.

A elfa fica pensativa por alguns instantes, quando é interrompida por Algar.

— Perder um ente querido é uma das maiores dores que se pode sentir. Vou ajudar como eu puder, garoto.

Ainda hesitante, Eril acena positivamente com a cabeça.

— Então vamos logo. — pede o monge, já se preparando para correr, quando avista Voughan, parado alguns metros atrás.

— O que foi, Voug? Achei que seria o primeiro a correr em direção à briga.

— A raça dos shamargs é uma raça guerreira e não fugimos de briga. — começa Voughan. — Também não temos muitas regras, mas uma das mais importantes diz : “Jamais provoque a fúria do Ákyros”.

— Isso é sério? Na única vez que preciso da sua ajuda, você se nega?

— Morrer lutando é uma coisa. Contra o Ákyros não tem luta. Você simplesmente chega lá e morre. Então não me interessa.

Indignado, Kore lança um olhar furioso para o shamarg, que parece nem ligar, e então partem para ajudar Farkas.

— Perdi ele de vista. — afirma Kore, para os demais. — Acho melhor nos separarmos para procurar.

Sinalizando positivamente com a cabeça, Eril e Algar tomam rumos diferentes, mas todos se dirigindo às proximidades do avatar do Vazio.

Após correr algumas quadras, Kore é detido por um homem vestindo uma cota de malha, vestimenta que geralmente é usada pelos cavaleiros por debaixo da armadura. Ele é alto, cabelo curto loiro, olhos pretos e possui uma espada presa às costas.

Em uma passada rápida de olhos, Kore percebe a insígnia no peito do homem à sua frente e, mesmo sem conhecer a hierarquia do Império Mundial, parecia ser de alta patente.

— Preciso chegar até o meu amigo. — informa Kore. — Ele não sabe o perigo que está correndo.

— Ninguém tem permissão para passar daqui.

— Só quero tirar ele de lá.

— Faremos o possível para salvar seu amigo, mas não posso arriscar a vida de mais pessoas.

— Eu assumo o risco. Me deixe passar.

— Já disse que não. Saia logo daqui, por favor.

Kore fecha o semblante e se colocar em posição de luta.

— Aonde está minha armadura? — diz o homem à um soldado, sem dar importância para Kore. — Já pedi por ela à cinco minutos.

Em um salto rápido para frente, Kore se lança em disparada, tentando lhe golpear no rosto com um soco, porém, sem sequer olhar, o oponente detêm o soco segurando seu punho com a mão, sem fazer qualquer esforço.

Impressionado, Kore congela por alguns instantes e então é empurrado para trás com um leve movimento de mão do inimigo.

— Não tenho tempo para brincar com você. Se insistir com isso, terei de imobilizá-lo. E não será nada agradável para você.

— Droga! Eu vou passar de qualquer jeito.

Novamente se lança contra o oponente que, desta vez, se vira de frente para Kore, mas com os braços para baixo, sem fazer menção de que irá atacar ou defender.

O monge avança rápido e então, ao chegar bem próximo, faz uma parada brusca e muda de direção, fazendo uma finta para atacar pelo lado.

Desta vez ele está certo de que seu golpe irá acertar e desfere seu punho com força, atingindo em cheio o rosto do inimigo.

— Consegui!

A alegria de Kore não dura muito tempo quando percebe que, apesar de atingido, o homem à sua frente não esboça nenhuma reação, como se sequer tivesse sido atingido por algo, saindo ileso.

— Não… não é possível! — exclama Kore, atônito. —  Eu não sou mais tão fraco como era. Meu golpe era pra ter pelo menos feito ele dar um passo para trás, mas nem isso?

— Eu lhe avisei, garoto. — diz enquanto cria uma aura ao redor de seu próprio corpo.

Surpreso, Kore da alguns passos para trás, espantado com a energia que flui de seu oponente.

Uma energia totalmente branca mas diferente do que o mahou deveria ser. A energia parece mais com uma chama que se desprende de seu corpo com pressão, sendo jogada para todos os lados e tremulando violentamente, fazendo com que levante um pouco de poeira do chão.

A energia some de seu corpo, com exceção de seu braço direito, aonde ela ainda se mantém. Então, fazendo um movimento com a mão espalmada para cima, aquela energia que havia sumido reaparece, mas aos pés de Kore, ela emerge violentamente e sobe, lacerando seu corpo.

Com o impacto do ataque, seu corpo é erguido alguns centímetros do solo e então cai no chão, com diversos cortes pelo corpo, sangrando.

— Agora fique quieto aí.

Dois soldados chegam, trazendo um baú.

— Senhor capitão. — diz um dos soldados. — Aqui está o que pediu.

— Até que enfim.

Abrindo o baú, revela-se uma bela armadura prateada. O capitão, rapidamente, a veste com a ajuda dos soldados.

Ao terminar, ele percebe que Kore havia se levantado e o encarava com raiva.

— Porque não ficou no chão, garoto? É mais seguro pra você.

— Eu disse que… vou passar. — diz, enquanto dá alguns passos, cambaleando por causa do ataque que recebera.

— Mas que teimoso. — se irrita o capitão, que se acalma e respira fundo. — Tudo bem, você pode passar. Já vi que se eu não deixar, eu mesmo vou ter que te matar.

— Aí perderia o sentido de você me impedir de passar. — zombando do capitão, já com um sorriso no rosto.

— É… Perderia o sentido. Mas não diga que eu não te avisei. — enquanto se afasta e monta em um cavalo, também de armadura brilhante, trazido por outros soldados. — E tente não morrer.

— Vou tentar.

 

No centro da cidade, diversos soldados e guerreiros atacam a criatura, sem conseguirem causar sequer um arranhão à ela.

A criatura parece procurar por algo ao seu redor, praticamente ignorando os ataques.

Um ladino, correndo e saltando por entre os prédios, consegue pular em cima do monstro colossal, porém, ao tocar a pele da criatura, mesmo não estando em um ponto onde há a chama roxa, seu corpo começa a queimar. Diferente da uma chama normal, a chama roxa simplesmente vai desintegrando o corpo do ladino e, em poucos segundos, ele desaparece por completo.

Um pequeno exército de magos lançam suas magias ao mesmo tempo. Os ataques atingem o alvo mas não parece haver impacto, é como se fossem absorvidos pelo corpo de Ákyros.

Próximo a cauda, Saja e seu auxiliar, Gregory, preparam um objeto, semelhante à um globo de vidro com uma parte de metal na base, onde há uma abertura com uma tampa.

— Você sabe o que fazer. — diz o altivo e bem vestido homem.

— Não lhe desapontarei, mestre. — diz o bárbaro enorme, curvando-se com respeito. — Vou conseguir mesmo que custe minha vida. É o mínimo que posso fazer.

E volta-se para Ákyros.

Não muito longe dali, Farkas se esconde próximo à parede de uma casa, de onde espia o monstro.

— Preciso achar uma abertura para atacar. Mas esse bicho não parece ter pontos fracos.

— E não tem. — responde uma voz feminina.

— Eu percebi você aí à dois minutos. — responde, sem nem olhar para trás. — Achei que ia ficar só me olhando.

— Queria ver qual a besteira você estava armando. Mas já vi que é ignorante o suficiente para tentar atacar Ákyros.

— Ákyros? Onde é que eu ouvi esse nome…? — pensa Farkas.

— É o avatar do Vazio.

— O QUÊÊÊÊÊ!!! — se apavora. — Quer dizer que eu estava prestes à ter minha existência apagada para sempre?

— É o que dizem. Não só seu corpo morre, como sua alma desaparece, como se nunca tivesse existido.

— Mas que coisa! Parece que você me salvou de fazer uma besteira das grandes.

— Não conte vitória ainda. Ele pode atacar nesta direção à qualquer momento. Precisamos sair daqui.

— Não precisa dizer duas vezes.

Eril de Farkas se afastam rapidamente do monstro. Enquanto correm, Eril segura com as mãos o pequeno construto, Acólito, e o aproxima do rosto para dar-lhe instruções.

— Gravar mensagem: “Estou com Farkas, encontrem-me na saída leste da cidade”.

O pequeno insetóide mecânico faz alguns ruídos ao gravar a mensagem.

— Encontre Kore e Algar. Passe a mensagem à eles.

Ao comando, Acólito expõe suas asas e  voa pelos céus.

Neste momento, Ákyros lança novamente uma esfera negra em uma direção próxima à Eril e Farkas. Ambos percebem que a esfera irá atingir uma área com algumas casas maiores e um aldeão está próximo.

Sem pensar duas vezes, Farkas corre na direção do homem e consegue puxa-lo à tempo, porém, a esfera transpassa seu braço, desintegrando-o completamente.

Em estado de choque, o homem demora algum tempo para sentir a dor, mas quando ela chega, o sangue começa a jorrar também.

Ele se contorce no chão, aos prantos.

— Segure ele. — diz Eril.

Farkas o agarra, colocando o que sobrou do membro amputado na direção da elfa, que faz algumas chamas saírem por entre seus dedos e toca o ferimento, cauterizando-o.

— Por hora é tudo que posso fazer. Precisamos levá-lo até um médico.

O homem, mesmo com muita dor, agradece aos dois que lhe salvaram a vida.

Farkas o ajuda a correr para longe.

Por outro lado da cidade, Kore e Algar acabam se encontrando.

Poucos instantes depois, o pequeno Acólito chega voando e reproduz a mensagem gravada com a voz de Eril, informando que encontrou Farkas e pedindo que os encontrem na saída leste da cidade.

— Ótimo! — exclama Kore. — Temos que sair daqui  agora.

Mesmo após ouvir a mensagem, Algar continua encarando o enorme monstro.

— Algar, você ouviu? Precisamos ir.

 

Silêncio.

 

— Eu sei que ele destruiu sua cidade natal. Não consigo imaginar o quanto isso é horrível para você. Mas o que você quer fazer? Ir lá e morrer também? Não vai fazer diferença alguma. Sempre que pudermos ajudar, é o que nós fazemos, mas nesse caso não tem nada que possa ser feito.

O anão respira fundo, acalmando-se.

— Eu sei. Você tem toda a razão.

— Então vamos.

Um momento antes de partirem, percebem um exército de soldados de armadura, fazendo uma investida final contra Ákyros.

Alguns atiram flechas, outros lanças, outros lançam ataques de energia, lançados por um movimento rápido com a espada, mas nada tem qualquer efeito.

Por entre os soldados, um homem se destaca. É o capitão que tentou impedir Kore de entrar na cidade. Está com sua armadura brilhante e com uma espada na mão.

Ele avança contra o monstro, concentrando uma energia branca em volta de sua arma e então golpeia a pata do animal com toda a força.

Quase não há impacto no golpe, a lâmina da espada desaparece quase que por completo e, o que sobra, começa a queimar com uma chama roxa.

O capitão solta a espada, que queima até desaparecer por completo.

Ákyros não parece ter sido afetado pelo golpe, porém, isso chama sua atenção. Ele observa o capitão, que começa a suar frio perante seu algoz.

Todos os soldados fogem, menos o capitão. Não por ter coragem, mas porque o olhar do monstro diretamente sobre ele o fez congelar de medo. Seu corpo não reage e ele sente como se sua alma fosse arrancada aos poucos.

Seu coração dispara, ele fica ofegante, sua pele começa a ficar pálida, até que a respiração cessa. Seu coração para de bater e ele cai no chão, sem vida. Morto apenas pelo olhar de Ákyros sobre ele.

Amedrontados, Kore e Algar correm para longe.

 

Algumas horas se passam. Boa parte da população evacuou da cidade, porém, em seu lugar agora há somente outra enorme cratera, da mesma forma que o ocorrido na cidade natal de Algar.

— Tanta destruição. — lamenta o anão alquimista. — Porque o Vazio está fazendo isso?

— Ninguém sabe ao certo o porquê. — responde Eril. — Ele simplesmente aparece do nada, destrói o que quer e, da mesma forma que surgiu, ele desaparece.

— Isso não é certo. Tem ideia de quantas pessoas deixam de existir cada vez que ele ataca? Quantas pessoas perdem seus lares, família e amigos? O trauma que isso pode deixar fica pro resto da vida.

Sem saberem o que dizer para confortá-lo, Eril e Kore apenas aproximam-se de Algar e cada um coloca uma mão em um de seus ombros.

— Como eu disse: “Jamais provoque a fúria de Ákyros”. — diz Voughan.

— Isso não foi apropriado, seu insensível. — repreende Eril.

— Deixa ele. — interfere Kore. — Esse cara fala tanto mas no fim das contas é um covarde. Não merece estar no time.

— Achei que o time era pra caras fortes. Você é o mais fraco aqui, então se tem alguém que não merece é você.

— Cala a boca, seu covarde.

— Ou então o que? Vai me bater? Quebro você no meio, seu frangote.

— Quer tentar?

— Parem vocês dois! — ordena Eril. — Não é hora para brigas. Tenham um pouco mais de respeito pelos que se foram.

A briga para, mas Kore continua de cara fechada, com raiva de Voughan.

 

Longe dali, em uma carruagem branca com uma cruz vermelha pintada de cada lado, Saja está sentado logo atrás do cocheiro e, ao seu lado, está Gregory.

O bárbaro está com um lençol cobrindo-lhe o corpo. Ele parece estar com dor e sua um pouco.

— Foi um ótimo trabalho, Gregory.

— Eu jamais falharia com o senhor, mestre Saja.

— É uma pena o preço que teve de pagar.

Gregory puxa um pouco o lençol, revelando que teve sua perna direita amputada. Ela está envolta em ataduras, contendo o sangramento.

— Se eu não tivesse cortado ela fora, aquelas chamas roxas teriam me consumido por inteiro.

— Foi uma sábia decisão. Enfim, o objetivo foi alcançado. A essência do próprio Vazio.

Saja revela o globo de vidro e, em seu interior, queima sem parar uma chama roxa.

— A chama de Ákyros agora é nossa.


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Notas finais do capítulo

Opiniões e críticas construtivas são bem vindas.