ALMARA: Ameaça na Ilha de Xibalba escrita por Xarkz


Capítulo 16
CAPÍTULO 15 | Algar (Capítulo Especial)


Notas iniciais do capítulo

Capítulo especial sobre o passado de Algar e como a terrível doença Veldellis entrou em sua vida, o assombrando até os dias de hoje. Conheceremos Drelner Dhondal, pai de Algar, um dos alquimistas mais influentes do mundo e pioneiro na alquimia moderna.



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Cidade de Bantara, quarenta anos atrás.

A raça dos anões, pela primeira vez, experimenta a magia, mesmo que de forma relutante e, em Bantara, não poderia ser diferente.

Grande parte dos cidadãos ainda repudia as artes místicas, pois os anões não estão acostumados a lidar com aquilo que não entendem.

Por outro lado, a alquimia é muito bem vista, já que é possível realizar testes em laboratório, compreendendo de onde vem e como reagem seus componentes.

Ainda sim, aos poucos, a magia começa a ser aceita e Drelner Dhondal é um dos primeiros à experimentá-la.

Apesar de ser um alquimista, Drelner mergulha em estudos sobre magia por cerca de três anos, até que…

— Finalmente! — diz o anão, batendo com a palma das mãos na mesa.

Ele saca um frasco triangular com um líquido azul de cima de sua mesa e corre porta à fora, abrindo caminho por entre as pessoas até chegar em uma casa.

Entusiasmado, o anão abre a porta já aos gritos.

— CONSEGUI! FINALMENTE CONSEGUI!

Uma criança anã com cabelos ruivos se aproxima. Apesar de aparentar ter seis anos humanos, o garoto tem doze. Anões envelhecem duas vezes mais devagar que humanos, podendo viver por volta de duzentos anos.

— O que você conseguiu, papai?

— Consegui sintetizar Tarta de Belmuto com sulco de Olmicinus.

— Isso é sério? — indaga o garoto, incrédulo. — Mas isso não deveria ser impossível?

— Por métodos normais, sim. Mas eu consegui… Utilizando magia.

— Incrível! Quando o senhor decidiu estudar magia eu tive medo que deixasse de ser um alquimista para ser um mago.

— Ao invés disso, fiz o que acho que ninguém jamais fez. Utilizar a magia em prol da alquimia. Este é um grande passo, a alquimia evoluirá para um novo nível e… — Drelner olha para sua esposa, que está sentada em uma poltrona, olhando-o com um sorriso no rosto. — Poderemos curar todo tipo de doenças.

A anã tem feições pesadas, rosto levemente quadrado, cabelos negros e olhos castanhos, passando um olhar bondoso. Ela aproxima-se de seu filho e seu marido e todos se abraçam.

 

Mais sete anos se passam, a pequena família se locomove em uma carroça de lona, puxada por um cavalo. O filho, que a pouco estava deitado na parte de trás da carroça, agora se aconchega ao lado de seu pai, que continua a guiar segurando as rédeas.

— Não está conseguindo dormir, Algar?

— O balanço da carroça me acordou.

— Este trecho da estrada é realmente acidentado, mas já estamos chegando.

— Pai, eu…

— “Não queria se mudar de Bantara”. Eu sei, meu filho. Mas do jeito que as coisas estão, eu não iria conseguir à tempo.

Algar olha para dentro da carroça, observando sua mãe dormindo. Ela agora possui uma enorme marca escura, semelhante à uma cicatriz, que cobre todo seu braço esquerdo, subindo pelo pescoço e cobrindo quase um terço de seu rosto.

Sua respiração parece ofegante e o suor escorre pela face da anã, claramente fraca por causa de sua doença.

— A mamãe vai ficar bem?

— É para isso que estamos indo para Tengkorak.

— O laboratório de lá é mais avançado que o de Bantara, não é?

— Não apenas isso. Conseguimos formar uma aliança com os gnomos. Eles constroem máquinas incríveis. Elas podem ajudar a sintetizar elementos muito mais rapidamente e em maior escala.

O pequeno Algar olha com desesperança para seu pai, que faz questão de confortá-lo passando a mão em seus cabelos de forma um tanto bruta enquanto sorri.

— Vamos conseguir, meu filho. Vamos achar a cura para Veldellis.

A carroça finalmente chega em Tengkorak e logo eles se instalam em uma casa de dois andares.

Para entrarem, Drelner carrega sua esposa no colo, pois a mesma já não tem forças para caminhar.

Gentilmente ele a coloca na cama, acaricia seu rosto e então seus cabelos.

— Eu estou bem. — diz a fraca voz da pequena. — Não precisa se preocupar comigo. Só estou cansada da viagem.

— É claro! Descanse, Moira, meu amor. — responde, beijando-a testa na testa.

Algar assiste tudo deixando escapar uma lágrima que ele limpa em seguida com as costas da mão.

Drelner levanta-se e faz menção de ir em direção à porta de saída mas é detido pela mão de Moira, que o segura pelo pulso.

— Drelner! Obrigada por tudo que tem feito por mim. Nunca esqueça que eu te amo e sempre irei te amar.

Os dois se abraçam. Algar, ao ver a cena, corre em prantos e junta-se à eles.

 

Dia após dia Drelner se empenha em encontrar a cura para a doença de sua amada e acaba por conseguir um emprego no recém fundado Laboratório das Ciências Místicas.

Suas façanhas e habilidades na alquimia impressionam todos os demais, fazendo com que em poucas semanas acabe sendo promovido.

Ao mesmo tempo em que trabalha para o laboratório, utiliza de seus recursos na sua busca para salvar Moira.

Apesar de jovem Algar já demonstra algumas habilidades, como seu pai, e torna-se aprendiz, auxiliando os demais alquimistas.

Saindo de uma sala estão Drelner, alguns anões alquimistas renomados, gnomos construtores mecânicos de todos os tipos, um halfling também mecânico e um mago humano alto de cabelos loiros, quase brancos de tão claros. Trata-se de Baruc, o imortal.

— É um trabalho realmente impressionante que estão fazendo aqui. — diz o mago calmamente, com um sorriso no rosto.

— Graças à parceria entre a nossa alquimia e a mecânica dos nossos amigos gnomos, estamos evoluindo em velocidade espantosa. — responde o mais velho dos anões. — Obviamente não posso deixar de dar os créditos ao alquimista Drelner, que nos ensinou a utilizar magia em prol da alquimia.

— Seu nome certamente irá entrar para a história. — diz outro alquimista.

Caminhando pelo salão principal se deparam com Algar e o mago decide aproximar-se dele.

— Então este é o filho do grande Drelner Dhondar. — enquanto se ajoelha em frente ao garoto.

— Me chamo Algar, senhor.

— Eu sou Baruc. Ouvi dizer que você é uma criança promissora.

— Não sou mais criança, já tenho até barba.

O garoto possui uma pelugem no rosto que nem de longe lembra uma barba.

— Ah, me desculpe. — responde o mago, bem humorado. — Você ainda é jovem, mas um dia será um grande alquimista, como seu pai. Ou talvez queira se tornar um mago?

— Jamais. Magia só é boa para usar como fogos de artifício. A alquimia tem diversas finalidades, como suporte de um time de aventureiros, fornecendo aumento de poder, proteção, mas principalmente ajudando na cura para doenças. Esta última a magia não pode fazer.

— Você está certo. — diz meio sem jeito, mas ainda sorrindo. — Siga seu sonho e torne-o realidade. Prevejo grandes feitos em seu futuro.

O mago despede-se e retorna para o grupo. Drelner ri baixinho, orgulhoso de seu filho.

 

Naquele dia, algo valioso seria transportado. A fruta Synsepalum Mirabilis, também conhecida como “Fruto do Paraíso”.

A essência desta fruta, naturalmente, pode ser utilizada na confecção de diversas poções e curas para doenças, mas a que será transportada hoje foi alterada pelos alquimistas desde a muda da árvore que gerou a fruta, tornando-a ainda mais especial e muito mais eficaz.

Para seu transporte é utilizado um cofre, cuja chave apenas os alquimistas possuem, e é escoltada por doze cavaleiros, seis mecânicos, sendo cinco deles gnomos e um halfling, seis dos principais alquimistas do Laboratório das Ciências Místicas, dois deles sendo os diretores do Laboratório das Ciências Místicas e, para esta ocasião, o próprio mago imortal Baruc irá acompanhar.

Os envolvidos partem até a cidade de Bantara, onde a fruta encontra-se atualmente, todos em carruagens motorizadas rústicas.

Drelner divide a mesma carruagem do mago imortal, que se aproxima para conversar.

— Ouvi dizer que sua esposa contraiu a doença da degeneração pétrea. Como ela está?

— Nada bem. Está muito fraca, acho que não irá aguentar mais do que alguns meses.

— É realmente uma pena. Foi essa a sua motivação, que fez com que você juntasse a magia com a alquimia? Para curá-la?

— Não apenas isso. Tudo o que fiz nos últimos dez anos foi tentando curar essa maldita doença.

— Não tem medo de você ou seu filho serem contagiados?

— A doença de Veldellis é contagiosa, mas é necessário um longo período de contato com a pessoa doente, por isso mantenho Algar longe de casa na maior parte do dia. Quanto a mim, tomo meus cuidados mas eu sei que a eficácia não é cem por cento garantida. Ainda sim preciso arriscar, não sei por quanto tempo ainda terei ela comigo.

— Entendo. De qualquer forma, ouvi dizer que fez avanços em direção à cura.

— Consigo controlar um pouco dos sintomas mais graves, mas apenas isso. — diz o anão, raramente encarando Baruc, fitando quase que o tempo todo o horizonte pela janela da carruagem. — Sempre que acho que estou chegando perto, descubro algo novo que me leva de volta à estaca zero. É frustrante.

— Imagino que sim. Mas e o Fruto do Paraíso? — cutuca Baruc, tentando ler a expressão que Drelner faria. — Conseguiria avançar nas suas pesquisas com ele?

— Não! — responde o anão, sem alterar em nada sua expressão e tom de voz. — Conheço as propriedades da Synsepalum Mirabilis, não iria ser útil. O que é uma sorte, pois eu jamais teria dinheiro suficiente para conseguir uma amostra.

O mago elfo continua o encarando por alguns instantes e então dá um sorriso um tanto sem graça. — Nem mesmo eu teria. Estou construindo um pequeno castelo para morar à oitenta anos e ainda não consegui dinheiro para terminar, há, há, há.

— Talvez não tenha dinheiro, mas a magia que utilizou para se tornar imortal poderia ser útil. Uma variação dela poderia me ajudar na cura, talvez.

Baruc balança a cabeça negativamente.

— Nem mesmo eu sou imune à doenças. Não existem muitas doenças fatais no mundo e nenhuma que atinja os elfos, mas se houvesse, eu poderia muito bem morrer disso, mesmo sendo imortal.

— Nesse caso você não é imortal, apenas imune à velhice, creio eu.

— Basicamente. Além do mais, acho que não seria possível refazer a magia que me deu essa “imunidade”.

O silêncio toma conta da carruagem por alguns instantes, até que Baruc quebra o gelo novamente.

— Quero lhe pedir algo.

Drelner, que parecia um tanto perdido em suas memórias, agora volta toda sua atenção ao mago.

— Antes de eu lhe pedir, me responda: acredita em destino?

A testa franzida do alquimista revela sua perplexidade com a pergunta, mas responde em seguida.

— Acho que essa resposta irá lhe desagradar, mas “não”. Eu não acredito em destino. Não acho que os deuses têm um plano específico para cada um de nós. Somos apenas formigas trabalhadoras com nossas civilizações arcaicas tentando sobreviver da melhor forma possível. As forças divinas não irão mover um dedo sequer por nós, estamos sozinhos nessa.

— Entendo. Uma resposta esperada de um alquimista. Mas diga-me, e se você pudesse ajudar centenas de pessoas, mas não pudesse ajudar a sua esposa?

— Onde está querendo chegar com isso?

— Só estou dizendo que talvez a sua busca pela cura não seja para salvar sua esposa, mas sim toda uma geração futura.

Os olhos de Drelner demonstram ira, mas lentamente sua expressão vai mudando para a de tristeza e ele respira fundo.

— Eu sei bem o que quer dizer. Está me dizendo para não desistir de encontrar a cura mesmo depois que… — ele tenta completar a frase mas não consegue.

— É exatamente o que estou dizendo, meu amigo. Eu realmente desejo do fundo do coração que consiga curar sua esposa, mas se isso não acontecer, por favor, não desista. Não existem muitos gênios como você por aí, o mundo precisa de você, de suas ideias revolucionárias, o mundo precisa do grande alquimista Drelner Dhondal.

Com os olhos marejados, o anão abaixa a cabeça.

— Não posso lhe prometer isso, meu amigo.

Como poucas vezes foi visto, Baruc perde seu sorriso, solidário à dor do alquimista gênio.

Não houve mais conversa até o final da viagem.

 

Chegando em Bantara, a carruagem motorizada estaciona diante de um grande edifício onde apenas os dois alquimistas mais velhos e mais graduados, que são os diretores, adentram. Os demais aguardam do lado de fora.

Os gnomos, criaturas muito pequenas, com chapéus extravagantes, barba quase sempre branca, braços e pernas finas e geralmente com uma barriga protuberante, conversam entre si, deixando o halfling, seu companheiro na mecânica, de fora.

Percebendo que ele está deslocado, Drelner  se aproxima do pequenino.

— Hei Rilldric! — chamando o pequeno halfling. — Parece que não gostam muito de gente “alta” como você.

— É uma pena, era uma das poucas situações onde eu precisava olhar pra baixo para conversar com alguém. — responde, em gozação. — Mas você não pode falar muito também.  Até onde eu sei, anões não estão entre as dez raças mais altas.

De fato, anões atingem, em média, a altura de um metro e quarenta e halfilings cerca de um metro e quinze, enquanto os gnomos raramente chegam à um metro.

Com exceção da altura, halflings se assemelham a humanos de aparência jovial, suas orelhas são pontudas mas muito menores do que as dos elfos e, geralmente, a parte superior de seus pés é coberta por pelo. Andam sempre descalços.

Rilldric não fugia à excessão. Estatura baixa, feições infantis, orelhas pequenas mas pontudas, olhos amendoados castanho escuros, cabelos desgrenhados pretos, utilizando calças curtas e um casaco apertado por cima da camisa. Utiliza luvas muito largas, que cobrem um pedaço das mangas.

— Pelo menos não sou considerado metade de um humano. — diz Drelner.

— Ah! Humanos! Odeio esses caras. Acham que são parâmetro para tudo. “Você é mais alto que um humano”, “você é mais baixo que um humano”, “você vive o dobro que um humano”. Pra tudo eles são sempre a medida de comparação. Como se fossem a raça mais importante.

— Não vejo desse jeito. Acho que são geralmente usados para comparações porque eles estão na metade em praticamente todos os atributos. Não estão entre os mais fortes nem entre os mais fracos, não estão entre os mais habilidosos nem os menos habilidosos. Não são os melhores em nada mas também não são os piores. Acho que a única coisa em que são melhores é em versatilidade. Podem se adaptar à qualquer classe e estilo de vida perfeitamente.

— Também são os melhores em serem intrometidos. Não tem um lugar no mundo onde não exista uma dessas pragas. Estão nas cavernas do subterrâneo, nas montanhas geladas, florestas proibidas. Aonde você for vai achar um humano.

Os dois riem um pouco, até que Rilldric passa a mão pelo queixo, como se arquitetasse algo.

— Se a essência dessa fruta vale tanto, quanto deve valer a fruta inteira? — menciona o pequenino, em uma pergunta retórica. — Deve custar o valor de um reino inteiro.

— Cuidado com o que fala, Rilldric. — previne Drelner. — Não vão gostar de te ouvir cogitar isso.

— Foi só um comentário. Relaxa.

O anão olha para o halfling como se estivesse desconfiado.

Em alguns minutos, os dois alquimistas diretores trazem consigo uma espécie de bandeja metálica circular com uma cúpula metálica redonda em cima. Não se pode ver o que há dentro, mas ao que tudo indica é o raríssimo Fruto do Paraíso.

Com a escolta dos cavaleiros, os dois diretores colocam a cúpula metálica em um compartimento especial da carruagem principal, onde apenas os diretores e quatro cavaleiros adentram.

Os demais entram em suas respectivas carruagens e partem de volta para Tengkorak.

Das três carruagens, a dos alquimistas e de Baruc segue na frente, seguida pela carruagem dos diretores com o fruto do paraíso e por fim, a dos gnomos e do halfling.

O retorno é tenso, os cavaleiros, divididos entre as carruagens, ficam atentos à qualquer movimentação externa.

O retorno segue sem problemas, até que a excursão se depara com uma espécie de construção metálica no caminho.

Engrenagens girando podem ser vistas por algumas frestas mas não é possível saber do que se trata, até que o constructo, que estava agachado de costas, levanta-se e começa a andar na direção do primeiro veículo.

A carruagem freia, a guarda da escolta desce e colocam-se em guarda.

— FORMAÇÃO DE CONTENÇÃO! — grita o cavaleiro mais graduado, capitão do pelotão.

Imediatamente quatro, dos doze cavaleiros, se posicionam ao redor da carruagem principal, onde o fruto é transportado.

Os olhos destes cavaleiros emanam uma luz roxa, enquanto eles se colocam em posição de defesa.

Utilizando a magia de visão do oculto, os quatro cavaleiros vasculham as redondezas, podendo detectar quaisquer inimigos, mesmo que invisíveis ou utilizando algum tipo de ilusão.

Os alquimistas, mecânicos e Baruc posicionam-se junto à carruagem principal, atrás dos cavaleiros.

Enquanto isso, outro time de quatro cavaleiros se coloca ao redor da carruagem também, de forma a intercalar sua posição com os cavaleiros que estão utilizando a visão do oculto.

Estes, porém, tem escudos maiores e os erguem em frente do corpo enquanto concentram seu mahou. Seu escudos, então, brilham e uma barreira transparente surge, protegendo toda a carruagem e seus integrantes.

Dos quatro que sobraram, dois deles avançam lentamente na direção do construto, com suas espadas desembainhadas e prontos para o combate, enquanto os outros dois ficam logo atrás, servindo de apoio, caso necessário.

— Alto lá! — Diz um dos cavaleiros mais próximos da criatura. — Quem quer que seja, no comando deste construto, ordeno que pare aí mesmo.

Nenhuma voz se ouve e o construto continua à avançar.

— Em nome do reino de Tengkorak. Esta é a última ordem. Se não se detiver, seremos obrigados à destruí-lo.

O gigante finalmente cessa seu caminhar.

Um segundo de calmaria trás a impressão de que tudo se resolveria facilmente, porém, o construto ergue seu punho na direção dos soldados e seu braço é disparado contra eles, como um foguete.

O soldado mais à frente, defende o impacto do golpe com o escudo, sendo empurrado para trás.

O braço que fora lançado está ligado ao monstro por uma corrente, que se retrai, puxando de volta ao braço para seu dono, porém, antes mesmo de recuperá-lo, o segundo soldado salta na direção do inimigo, atacando-o com um golpe de espada e atingindo sua cabeça.

A criatura cambaleia alguns passos para trás então o soldado lança um segundo ataque, cortando o ar com sua espada e lançando dela um feixe de energia que atinge o corpo do monstro de metal, derrubando-o no chão.

— Mostre-se logo, ou não teremos piedade quando o acharmos. — diz o líder dos cavaleiros, sabendo que um construto sempre é comandado por alguém.

Todos olham de um lado para o outro, mesmo os soldados que estão utilizando a visão oculta não detectam nada, porém, uma movimentação estranha passa despercebida, vinda de trás da barreira.

A porta da carruagem principal está aberta e Drelner cai no chão, como se segurasse algo invisível. Os olhos dos cavaleiros se voltam para ele e percebem um intruso, lutando contra Drelner.

Com um forte chute, o anão consegue se desvencilhar do inimigo, que imediatamente salta para o galho de uma árvore, quase sendo atingido pelo balançar da espada de um dos soldados.

O intruso, que se assemelhava à uma criança humana, salta de árvore em árvore em uma velocidade espantosa, deixando para trás a caravana.

Todos olham atentos ao seu redor por um tempo. Tudo parece calmo agora.

Nas mãos de Drelner está uma cúpula semelhante à metálica que transportava o fruto, mas esta parece ser de vidro transparente e pode-se ver em seu interior.

A fruta se assemelha à um melão, mas de cor rosada, com uma casca coberta por escamas. O anão olha fixamente para ela, como se estivesse na presença de algo sagrado.

No instante seguinte, um dos anões diretores toma o objeto de suas mãos e, girando um mecanismo no topo da cúpula de vidro, faz com que uma segunda cúpula, esta metálica, cubra a primeira.

— Mas que diabos aconteceu aqui? — pragueja o diretor, zangado. — Como alguém passou pela guarda? Bando de cavaleiros inúteis.

Ele recoloca o precioso objeto dentro da carruagem e volta-se novamente para os cavaleiros.

— Vocês deveriam ser cavaleiros de alto nível. Todos são capitães da divisão da escolta real. Como deixaram isso acontecer?

Olhando ao redor, Drelner percebe algo e aproxima-se do diretor.

— Eles não viram o intruso passar porque ele não passou pela guarda. — diz, enquanto olha para os gnomos, todos ainda em pânico.

— O que está tentando… — no meio de sua frase, o diretor percebe que o halfling não está mais lá. — Mas… AONDE ESTÁ AQUELE MALDITO DO RILLDRIC? — berra, furioso.

— Parece que ele era o intruso. Ele é mecânico, então aquele construto devia ser dele.

— Maldito! Armou tudo isso para roubar o fruto do paraíso. Passou todos esses anos sob nossa tutela, aprendendo e lapidando suas habilidades. E como ele nos paga? Com traição.

— Eu sempre disse que não podíamos confiar em halflings para fazer o trabalho de um gnomo. — diz um dos gnomos construtores mecânicos.

— É uma pena, ele era promissor. Um verdadeiro gênio da mecânica. — lamenta outro.

— Mas agora é um bandido foragido e quando for pego será enviado para uma cela, de onde nunca mais sairá. — conclui o diretor.

— Pelo menos o fruto ainda está conosco. — responde Drelner. — Isso é o mais importante.

Recuperados do choque o grupo se reorganiza, retornam para suas carruagens e seguem viagem rumo à Tengkorak.

 

Em outro lugar, em meio à floresta, um vulto salta de árvore em árvore, quase imperceptível em meio às sombras.

O pequeno Rilldric acelera em fuga, quando algo surge em sua frente, fazendo-o parar sobre um galho, agachado de forma semelhante à um cão sentado.

Em sua frente, sobre o galho de outra árvore, um elfo imponente o encara.

— Conseguiu se teletransportar para tão longe. — diz Rilldric. — Faz jus à sua fama… Baruc.

— Eu é que sou a pessoa impressionada aqui. Tão jovem e tão talentoso na mecânica. Ainda por cima foi capaz de passar pela guarda treinada tão facilmente.

— Veio até aqui apenas para me elogiar?

— Apenas quis me certificar de que o ataque havia sido organizado por você. Odiaria que alguém fosse acusado injustamente.

— Bom, já tirou sua conclusão. Agora me dê passagem.

— Isso foi apenas por dinheiro ou algo mais? Há alguém importante que precisa de uma cura?

— Saia da minha frente, Baruc. Está me obrigando a ser civilizado por tempo demais. Da próxima vez que eu precisar pedir, passarei através de você.

Com um certo pesar, o poderoso mago dá alguns passos para o lado, liberando a passagem e evitando o confronto.

— Sabe bem que eu poderia pará-lo facilmente, se quisesse.

Rilldric salta para o galho onde Baruc se encontra e, em seguida, salta para o próximo, parando mais uma vez, escorando a mão esquerda sobre o tronco da árvore.

— Um acerto e dois erros, elfo. — diz o halfling, deixando Baruc curioso. — Não é por dinheiro. Esse foi o primeiro erro da sua dedução, mas acertou quando imaginou que “há algo mais”.

— E o meu terceiro erro seria sobre haver alguém precisando de uma cura, certo?

— Erraaaaado! — caçoa, apontando o dedão em riste da mão direita para baixo, negativamente. — Há alguém para ser curado. Seu erro foi achar que poderia me parar, se quisesse.

O mago franze o cenho diante da petulância do jovem à sua frente.

— Na verdade até o seu acerto é dúbio, pois certamente você deve estar pensando que eu queria roubar o fruto para curar alguém, quando na verdade é totalmente o oposto.

Baruc arregala os olhos, percebendo a intensão maligna de Rilldric.

— O que eu preciso é justamente impedir que uma cura seja criada. Este é o desejo do meu mestre.

— Quão vil poderia ser alguém que quer impedir uma doença de ser curada?

— Avanços só podem ser atingidos com alguns sacrifícios.

— Sacrificar inocentes não pode ser justificável.

— Se você tivesse que escolher entre a vida de centenas de desconhecidos e a vida de uma única pessoa importante pra você? Qual escolheria?

Um instante de silêncio se mantém, até que Baruc responde.

— Mesmo eu não teria como responder à essa pergunta.

— Há, há, há! Essa pergunta fez parecer que  quero salvar alguém, o que não é verdade. Há sim uma pessoa que quero proteger e é o meu mestre. Não porque é alguém especial pra mim, mas porque, graças à ele… — um enorme sorriso surge no rosto de Rilldric. — Eu terei um lugar seguro, onde poderei realizar minhas experiências com criaturas vivas. A mecânica nasceu para ser o próximo passo da nossa evolução e está fadada a ser integrada ao nosso corpo. No futuro seremos parte orgânicos, parte maquinas e eu serei o pioneiro.

— Quando diz “criaturas vivas” duvido que esteja se referindo à voluntários.

— Pouca gente iria querer e eu preciso de muitas cobaias. A experiência nunca dá certo na primeira tentativa.

Enquanto falava, Rilldric percebe que um leve vapor de frio saiu de sua boca, ele olha para o lado e percebe que sua mão, escorada na árvore, está presa à ela por uma camada de gelo.

Olhando com mais atenção ele percebe um caminho de gelo que sai de sua mão congelada, descendo pelo tronco da árvore até o solo, passando pelo chão e então subindo pela árvore onde Baruc está.

Baruc estava tocando a parte de trás do tronco da árvore, longe do campo de visão de Rilldric, e de lá criou um caminho de gelo até o halfling, congelando sua mão de forma a deixá-lo preso à árvore.

— Não posso deixá-lo fugir. — diz Baruc. — Não depois do que me contou.

— Muito esperto, mago. Me pegou. — desdenha, com um sorriso no rosto.

— Mas ainda preciso que me diga o motivo de não querer que criem uma cura. Como seu mestre seria beneficiado com isso?

— Acho que eu já contei até demais. Além do mais, já estou de saída. Dê lembranças minhas aos velhotes gnomos.

Para a surpresa do mago, Rilldric desprende seu braço do corpo, revelando ser um braço mecânico.

— Ah! E acho melhor voltar logo. — orienta Rilldric, enquanto saca uma agulha escondida que se projeta de seu pulso na mão direita, por onde escorre um líquido roxo. — Um dos soldados vai começar a morrer em alguns minutos.

Rilldric salta para longe, em fuga, enquanto Baruc, ainda surpreso, concentra seu mahou para ativar seu teletransporte quando algo lhe chama a atenção. Uma pequena luz vermelha pisca intermitentemente no braço mecânico deixado preso à árvore.

Ao perceber o perigo já é tarde demais. O braço mecânico explode, causando um enorme estrago e derrubando diversas árvores ao redor.

 

Alguns instantes depois, dentro de uma das carruagens, um dos soldados está caído, suando muito. Em sua testa foi colocado uma toalha molhada para diminuir sua febre.

— Espero que Baruc esteja bem. — diz um dos anões. — Aquela explosão de agora pouco deve ter sido ele.

— Porque ele ainda não voltou? — resmunga outro.

— Vamos confiar nele. É um mago de alto nível e imortal.

Um brilho rápido ofusca o interior da carruagem por meio segundo e, em seguida, dá lugar à presença do mago imortal.

— Perdoem a minha demora, amigos. — desculpa-se Baruc, voltando-se em seguida para o soldado visivelmente abatido no chão. — Este soldado foi envenenado pelo Rilldric, ele possuía uma agulha escondida no pulso. Deve ter injetado o veneno enquanto desviava dos ataques. Ele é realmente muito ágil.

— Já percebemos isso. — responde Drelner. — Trata-se de um veneno poderoso mas, felizmente, conseguimos controlar. Em alguns dias ele estará recuperado.

— Ótimo! Pelo menos uma boa notícia. — enquanto senta-se próximo à Drelner.

— O que aconteceu? Aquela explosão foi causada pelo Rilldric? — pergunta ao ver o braço do mago chamuscado.

— Aquele pequenino era muito mais do que aparentava ser. Infelizmente não consegui pará-lo. Ele tinha um braço mecânico, que deixou para trás e aquela coisa explodiu na minha cara. — conta, quase rindo, como se fosse uma piada.

— Temos que ficar atentos, ele pode tentar atacar novamente.

 

Apesar do contratempo, o restante da viagem segue tranquilo até a cidade de Tengkorak.

As carruagens estacionam em frente ao Laboratório das Ciências Místicas e a carga é entregue.

Na presença de todos os componentes da viagem, o recipiente metálico de teto esférico é colocado em um altar pelo diretor do laboratório, porém, ao desativar a proteção de metal, todos ficam boquiabertos, sem entender o que acontecera.

O fruto do paraíso já não está mais lá.

— Mas… O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI? — berra ensandecido, o diretor.

Drelner corre até o objeto e ergue a proteção de vidro apenas um pouco, olhando por baixo dela.

— Não é possível. Ela estava aqui.

No que o diretor dá um tapa na mão de Drelner.

— Não toque nisso, seu idiota. FECHEM TODOS OS PORTÕES. NINGUÉM SAI DAQUI. — ordena o diretor.

— Mas senhor, e se o fruto foi roubado antes de entramos aqui? — questiona um dos anões.

— Isso não faz o menor sentido. Eu estive com o fruto durante toda a viagem. Eu mesmo me certifiquei de que ainda estava lá quando aquele ladrãozinho tentou roubá-la. Então PORQUE DIABOS ELA NÃO ESTÁ MAIS AQUI? — se exalta, enquanto aponta para o objeto.

Em meio à sua raiva, o diretor percebe que todos estão olhando espantados novamente para o recipiente.

Ao se virar, ele recebe um segundo choque. O fruto do paraíso estava de volta em seu lugar.

O diretor se aproxima, levanta o vidro calmamente, certificando-se de que o fruto realmente está lá e o abaixa novamente.

Com as mãos sobre o pedestal ele bufa como um touro.

— Eu não sei o que aconteceu aqui. Mas cada pessoa nesse recinto será revistada, nem que tenhamos que trazer seus estômagos para fora e ver o que há lá dentro. Se encontrarmos uma única gota da essência do fruto, eu mesmo vou me encarregar para que essa pessoa tenha os piores dias do resto de sua vida insignificante.

Toda a guarda, bem como os inspetores reais são mobilizados, porém, após horas de revista, nada é encontrado com nenhum dos integrantes, que acabam por serem liberados, visto que o fruto está em segurança.

 

Já em sua casa, Drelner está sentado em frente à sua bancada realizando alguns experimentos ao lado de seu filho, quando recebe uma visita. O mago Baruc.

— Com licença, meu amigo. — diz o mago. — Espero não estar incomodando.

Apesar de um pouco sem jeito, Drelner saúda o companheiro.

— Sua presença é sempre bem vinda.

— Achei que estaria descansando após uma viagem daquelas. Ainda mais após o incidente com Rilldric.

Ao ouvir este nome, o pequeno Algar parece estranhar algo apesar de não dizer nada, porém, Baruc percebe o espanto do garoto.

— Alguns de nós não podemos nos dar o luxo de descansar.

— Entendo! Você precisa continuar  na busca da cura para a doença de sua esposa, certo?

— É o objetivo da minha vida. Desculpe se não lhe recebo como deveria, mas realmente preciso continuar minhas pesquisas. — diz enquanto continua trabalhando em sua bancada.

Baruc olha em volta, como se procurasse algo e então prossegue.

— Na verdade o motivo de minha visita é que preciso contar algo que está me perturbando à algum tempo. Você lembra da explosão que você ouviu na floresta?

Drelner se afasta um pouco da bancada, mas continua trabalhando. — Sim! Eu lembro.

— Pois bem. Naquele momento eu… acabei matando o garoto Rilldric.

Drelner fica assustado e se vira rapidamente, ao que Baruc o segura com força pelo pulso.  Neste momento, da parte da frente do pulso de Drelner se projeta para fora uma agulha, escondida em sua luva. A expressão de espanto pode ser vista tanto em Algar quanto em seu pai.

Um instante de silêncio acontece, até que o alquimista quebra o gelo.

— Parece que você me pegou.

— Rilldric possuía o mesmo dispositivo no pulso.

— Como sabia que eu também tinha?

— Já que vamos ser honestos, vou contar a verdade. Eu não sabia, só segurei seu pulso para olhar sua expressão, achei que ela me diria a verdade. Também não falei a verdade quando disse que matei Rilldric. Ele fugiu.

— Ótimo! Pelo menos ele está vivo.

— Acho que você não conhece ele como acha que conhece.

— Eu mal o conheço, Baruc. Mas ele se prontificou em ajudar quando contei minha história.

— Você mentiu para mim sobre precisar do fruto para a cura, mas contou para alguém que mal conhecia?

— Ele tinha a intenção de roubar o fruto desde o início. Era disso que eu precisava.

O mago respira fundo.

— Tudo bem. Mas ainda não entendi como fez para roubar a essência do fruto.

O anão sorri e volta-se novamente para sua bancada.

— Se eu lhe contasse, o tornaria meu cúmplice. Se não tem mais nada à dizer, acho que esta visita acabou.

Baruc fica sério por alguns instantes e então segue para a porta, parando próximo à ela. Ele volta-se para Drelner novamente, desta vez com um sorriso.

— Salve sua esposa, amigo. Cure esta doença.

E segue porta à fora.

Drelner respira aliviado.

— Papai! — clama Algar, esperando Baruc se afastar o suficiente. — Rilldric era aquele halfling que jantou aqui em casa no dia anterior à viagem, não foi?

— Sim, Algar. Mas não queira saber demais sobre esse assunto.

— Acho que eu já sei como você fez.

Novamente o anão alquimista cessa seu trabalho com as poções e volta-se para seu filho.

— E como exatamente eu fiz? — pergunta, curioso.

O garoto senta-se em um banco, próximo ao seu pai, e inicia. — Primeiro você fez um acordo com o Rilldric. Ele tentaria roubar o fruto durante a viagem de volta. Nesse momento você tocou no recipiente onde o fruto estava?

— Hã… sim! — responde, espantado com a perspicácia do pequeno.

— Ahá! Eu sabia. Eu vi você treinar uma magia específica por vários meses. Essa magia era de ilusão. Com ela você fez todos ao redor enxergarem como se o fruto não estivesse mais ali, quando na verdade ele estava. Nessa hora você aproveitou a confusão para extrair a essência com essa seringa no seu pulso, já que você era o único que podia enxergar que o fruto estava ali. Estou certo?

— Impressionante! Mas está meio certo.

— O que eu errei?

— Não pude extrair a essência durante a tentativa de roubo, além do mais, corria o risco da cidade inteira ir atrás do Rilldric e não era isso que eu queria. Então, naquele momento, apenas coloquei a magia de ilusão no recipiente, mas não o ativei. A ativação ocorreu apenas quando chegamos na cidade.

— Entendi, nessa hora você foi até o recipiente, como se estivesse assustado pelo fruto ter sumido, e extraiu a essência. Mas… aí tem um problema. Certamente iriam revistar todos na saída. Não há nenhum lugar que você poderia ter escondido.

— Nenhum mesmo. Eles revistaram… todos os lugares.

— Ugh! Deve ter sido desagradável.

— Nem me lembre disso.

— Nesse caso…

Algar pega o pulso de seu pai, o oposto ao que possui a agulha, afasta a manga e a luva, encontrando um pequeno ponto, que ele identifica como a picada de uma agulha.

— Então foi isso! Você injetou a essência em seu próprio corpo, para não encontrarem.

— Você é muito esperto, meu filho. Estou orgulhoso da forma como deduziu tudo isso.

— Mas, pai, você nem sabia o que tinha na essência. Injetou em sua corrente sanguínea algo desconhecido. E se isso te matasse?

— Não consegui pensar em outra forma, então tive de arriscar. Além do mais…

Drelner se aproxima de Algar.

— Preciso lhe contar algo. Não é apenas sua mãe que está doente.

Imediatamente, entendendo o que aquelas palavras significavam, as lágrimas escorrem pelo rosto de Algar.

— Aconteceu à poucos meses. Acabei desobedecendo a regra do tempo de restrição. Eu precisava de mais tempo com sua mãe... Eu ainda preciso.

Agora são os olhos do pai que ficam marejados e ele abraça Algar.

— Me perdoe. Eu sei que você também precisa de mim. Fui descuidado e egoísta.

Algar empurra seu pai para atrás e limpa as lágrimas com as costas da mão.

— Eu sei. Mas tudo o que precisamos fazer é encontrar a cura. Eu vou aprender tudo o que o senhor sabe e vamos curar vocês dois. Para isso precisamos começar o quanto antes. — diz enquanto puxa seu banco para próximo da bancada.

Em uma mistura de tristeza e orgulho, pai e filho trabalham juntos.




Dezessete anos se passam.

Uma forte chuva torrencial atinge a cidade de Tengkorak. Boa parte dos cidadãos se fecha dentro de casa, esperando a chuva passar.

Em meio a tempestade uma figura utilizando um capuz com capa caminha pelas ruas, solitário.

Ele passa por vários setores da cidade e então atravessa um grande portão de grades de ferro que leva à um campo aberto com grama e árvores abundantes.

Após andar mais um pouco,  a figura descobre a cabeça, revelando seus cabelos ruivos. É Algar, já mais velho.

Ao chegar em seu destino ele cessa seu caminhar. Retira algo de seu bolso e parece falar com alguém.

— Acho que cheguei ao fim da linha. — diz, enquanto olha para o objeto que retirara de seu bolso. — Não consigo mais achar a saída para o labirinto que você me deixou. — suspira. — A verdade é que não tenho mais motivação para continuar.

Em sua mão, um frasco com os dizeres “Veldellis” junto à um desenho de uma caveira, sinalizando perigo.

— Talvez não tenhamos tecnologia suficiente para lidar com isso. É complexo demais. Mesmo quando achamos que estávamos tão perto… Até hoje não faz sentido. Deveria ter funcionado.

Nenhuma resposta pode ser ouvida.

— O que deu errado?

Silencio.

Algar estica o braço e toca uma lápide em sua frente, no que um trovão ecoa pelo céu e a luz do relâmpago ilumina a pedra sobre a sepultura, onde pode-se ler: “Drelner Dhondal”.

— Eu sei que muitas pessoas são atingidas pela Veldellis, mas não consigo encontrar motivação suficiente para continuar. Não pude salvar minha mãe, não pude salvar você. Não me resta mais nada. O que eu devo… — antes de completar a frase, algo parece lhe passar pela cabeça.

Ele observa o frasco com a essência da doença por alguns instantes, respira fundo e então saca uma agulha, conectando-a ao frasco.

— Pai! Mãe! Irei achar a cura. — segurando o frasco já com a agulha conectada, em um movimento rápido, ele espeta a agulha em seu ombro, injetando a terrível doença em seu próprio corpo. — Eu lhes prometo!


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Notas finais do capítulo

Opiniões e críticas construtivas são bem vindas.