A Batalha dos Escolhidos escrita por Thah


Capítulo 7
Plagg como conselheiro


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores! Aqui estou com mais um capítulo :D



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Marinette sentiu o calor do sol recair em seu rosto, seus olhos clamavam para continuarem fechados, mas a razão lhe dizia outra.

“Acorde”

Não.

Queria permanecer deitada, voltar ao seu estado de inércia e profunda hibernação. Seu corpo estava como um pedaço de chumbo afundando na cama, esta a  engolia por inteiro protegendo-a de qualquer agente externo que pudesse incomodar. Uma bolha feita de cobertas e travesseiros. A cabeça latejava de tal maneira que parecia-lhe que o cérebro iria sair da caixa craniana para tomar um ar.

As ideias lhe eram confusas, flashs desconexos da noite anterior. Imagens de Adrien virando-lhe o rosto...Alya a segurando...Lila acusando-a de ladra.

Ladra.

Ainda não entendia o por que da garota ter feito tal atrocidade. Sabia que as duas tinham uma rixa como Ladybug e Volpina, mas nada havia acontecido entre Marinette e Lila. Um pontada na cabeça lhe tirou dos seus pensamentos, refletiria mais tarde.

Piiiiiiiii

Era o zumbido irritante que não saia dos seus ouvidos. Estalo insistente que reforçava a ideia que deveria acordar e encarar o dia que viria. Abriu os olhos com dificuldade, vários pontos desfocados em seu campo de visão, mexeu a mandíbula tentando ativar cada parte do rosto. Crack. Como um robô que não recebeu a devida manutenção diária de óleo. Sentou na cama, coçando os olhos.

— Estou feliz que tenha acordado.

Marinette seguiu a dona voz, uma figura pequena, rosa e embaçada. Sentada do lado de sua cama.

— Tikki... – bocejou – parece que fui atropelada por um caminhão.

A Kwami assentiu com pena.

— Você parecia estar morta, fui conferir algumas vezes.

A imagem de Tikki se tornou nítida, ela carregava uma expressão preocupada no rosto. Seus olhos fofinhos estavam cansados, provavelmente não dormiu direito cuidando da Escolhida.

— Quanto tempo dormi?

Tikki sorriu cansada.

— 15 horas.

De súbito a garota olhou para o despertador ao lado da cama. Bufou aborrecida.

— Droga, levei outra falta na Srta.Bustier.

Tikki voou até a coxa de Marinette e se sentou.  

— Fica tranquila Marinette, sua mãe ligou na escola e resolveu tudo. A Alya explicou pra eles hoje de manhã….Toda a história.

Marinette agradeceu mentalmente por ter uma amiga tão fiel quanto Alya. Se não fosse por ela, provavelmente estaria jogada na rua do parque até agora.

“Lembrete: dar um forte abraço na Alya”

A garota não queria ter que explicar o acontecimento do dia anterior para os pais. Sabia que iria chorar, gaguejaria e no fim, não iria falar nada. Criou coragem, levantou da cama e desceu as escadas chegando na sala.

Alya estava sentada numa poltrona, enquanto os pais de Marinette no sofá a frente. Assim que a viram levantaram.

— Filha – começou Sabine – está melhor?

— Não importa o que disseram, sabemos que não foi você – Tom afirmou.

Tom e Sabine olharam um para o outro, aflitos. Qualquer pai fica irado e emocionalmente abalado quando vê o filho passando por alguma situação difícil, mas como pais precisam estar firmes e apoia-lo.

— Você tem um coração muito bom minha filha – Tom continuou – só queremos que...

— Saiba que estaremos com você. Sempre. Nós te amamos muito Marinette. E faremos de tudo para te ver bem. – concluiu Sabine.

De repente as dores de minutos atrás sumiram. Os olhos de Marinette encheram de água e ela correu para abraçar os pais. Saber que os dois acreditavam nela a deixava mais leve, com uma base para se por de pé.

Ter uma família tão unida como a dela é o que a impulsionava em viver aquele dia, faria primeiramente por eles e depois por si.

— Trouxe a matéria de hoje amiga – Alya se pronunciou depois que o abraço de família havia acabado.

Marinette se aproximou de Alya e a abraçou também.

— Obrigada...- sussurrou ainda chorosa - ...por tudo.

— Sempre – sussurrou Alya de volta.


 

Já era a quarta vez que Adrien baixava a guarda e seu professor de esgrima finalizava o golpe. Sabia que quando tirasse a roupa encontraria vários hematomas espalhados pelo seu corpo. Tinha ciência do motivo pela qual estava desatento, mas ainda sim, se esforçava em esquecer, pelo menos durante a aula.

Acordou várias vezes durante a noite depois de reviver em seus sonhos o desfile do pai. Lembrou-se de ver Marinette chorando, pedindo por sua ajuda e ele recuando. Uma cena que passava em looping em sua cabeça. Na hora, recuara mais por temer a reação de seu pai, caso o contrariasse, do que pela dúvida da honestidade da amiga. Sentia-se um lixo com a sua atitude, um covarde. Um menino bobo que se deixou intimidar pelo pai.

— Novamente Adrien, não perca o equilíbrio.

Adrien retomou a posição inicial de luta.

— Desculpe, professor.

O professor retirou a máscara e a pousou embaixo do braço. O homem olhou seu aluno com dó.

— Acho melhor pararmos por hoje.

Adrien não discutiu, apenas agradeceu e seguiu para o vestiário. Para piorar a sua angústia, assim que chegara na escola pela manhã, notou a ausência de Marinette e resolveu perguntar para Alya. A resposta que obteve foi como uma apunhalada no meio do peito.

“Ela nunca duvidaria de você Adrien”

Desde então, a frase não parava de martelar em sua cabeça. De fato era um péssimo amigo. No intervalo conversou com Nino sobre o evento da noite anterior e assim como Alya, o amigo acreditava na inocência da garota mestiça, atenuando ainda mais a culpa que sentia.

Adrien retirou a máscara e a colocou na prateleira do armário.

— Aposto um pedaço de queijo, que você ainda está pensando sobre ontem. - Plagg saiu de sua roupa e alojou-se no armário.

Adrien virou-se para o Kwami com um olhar resignado.

— Acho que cometi um erro Plagg. E se a Marinette não roubou o meu broche? E se eu fui um completo escroto por não ter acreditado nela e não ter enfrentado o meu pai? – bateu as mãos com força no armário causando um estrondo – Merda! Parece que quanto mais penso, mais perdido fico!

Plagg olhava para o seu Escolhido com preocupação, apesar de Adrien ser bem maior em tamanho, sabia que ele era o ser de maior experiência ali presente e portanto, deveria aconselhá-lo. Infelizmente, o repertório de “conselhos” do Kwami não era um dos melhores. Uma vez aconselhou um de seus Escolhidos a fazer um ataque noturno em um feudo inimigo. O resultado foi catastrófico, o rapaz foi apanhado pelos guardas do castelo e jogado nas masmorras e sem água e comida durante três dias. Felizmente foi salvo no quarto dia por um grupo de Escolhidos amigos.

Plagg ajeitou-se em seu lugar e deu uma longa inspirada.

— Adrien...

O garoto retirou a cabeça do armário e fitou o gatinho preto sentado.

— Perder-se também é um caminho.

Adrien arqueou as sobrancelhas. Definitivamente o queijo da manhã estava estragado. O Kwami que conhecia nunca soltaria frases filosóficas, tudo que dizia se limitava a camembert ou zoações das melosidades dele em relação a Ladybug.

— Olha, não quero te magoar nem nada, mas o que você disse não faz sentido algum.

Plagg revirou os olhos. Pela primeira vez pensara muito bem antes de aconselhar seu Escolhido e agora era acusado de suas palavras não apresentarem qualquer sentido? Fracamente, os humanos são uma raça muito complicada. O Kwami preferia aconselhar uma topeira do que a Adrien. Ainda sim, insistiu em esclarecer o seu pensamento.

— Quero dizer que se você está com dúvidas, deve correr atrás das respostas e não criar mais perguntas – Adrien o olhava vidrado, absorvendo cada palavra – Tire essa história a limpo, fale com a Marinette.

Adrien endireitou o corpo. Não sabia o que mais o tinha surpreendido. O queijo não estar estragado ou Plagg estar certo. Poria fim a esses questionamentos que o atormentavam, descobriria a verdade, seja lá qual fosse.


 

Marinette passava um dia muito agradável ao lado de Alya, foram ao cinema, tomaram sorvete, fizeram uma sessão de fotos numa cabine que tinha disponível no shopping… Por um momento parecia que tudo havia voltado ao normal. Exatamente, um BREVE momento. Enquanto as garotas perambulavam as lojas da ala leste, avistaram uma multidão alojada em frente a praça de alimentação.

— Espero que estejam distribuindo batata frita de graça! Ou pode ser a Ladybug ou o Cat Noir – Alya falou animada puxando a amiga pelo braço.

As duas se esgueiraram entre as pessoas. Alya amava multidões. Marinette pensou por um minuto se a amiga acreditava que em todo lugar onde houve uma aglomeração, estariam seus heróis no centro. Não pode deixar de sorrir, o que estaria a Ladybug fazendo em uma praça de alimentação se não fosse para capturar algum akuma? Imaginou-se anotando os pedidos em uma daquelas pranchetas  vermelhas e divulgando os novos brinquedinhos do Mc Donalds: um boneco de ação do Cat Noir e outro da Ladybug.

Finalmente alcançaram a primeira filha e viram o motivo da aglomeração. Marinette olhou para Alya desgostosa.

“Adrien”

O herdeiro Agreste participava de uma sessão de fotos perto da fonte com luzes coloridas. Nathalie encontrava-se com seu tablet em mãos, provavelmente organizando o resto da agenda do modelo mirim.

— Vamos fazer uma pausa – anunciou o fotógrafo.

Após esse pronunciamento, a multidão começou a dispersar, exceto por um grupo de meninas, que aguardavam atrás de uma faixa autógrafos do modelo. Marinette tentou sair despercebida no meio da muvuca, mas foi muito lenta. Adrien a viu e correu em sua direção, mesmo com Nathalie ordenando que ele voltasse.

— Marinette, espera!

A garota fingiu não ouvir e continuou sua saída à francesa, sentiu o pulso ser envolvido por uma mão.

— Por favor, espera. – suplicou.

As pessoas continuaram carregando-os para frente, não podiam parar o fluxo. Marinette, Alya e Adrien seguiram para um canto vazio onde não atrapalhavam a passagem. A portadora de Tikki cruzou os braços aguardando as palavras do colega de classe, em silêncio.

— Eu vou ali pegar as minhas batatas e já volto – informou Alya.

Os dois acompanharam com o olhar a morena andar em direção a lanchonete, depois voltaram a se encarar. A tensão entre eles estava tão física quanto as pessoas que continuavam a passar ao lado. Adrien sentiu o coração apertar, quando avistou Marinette agiu por impulso, correu atrás dela, mas agora não sabia como proceder. Não havia pensado em nada para falar, entretanto, sabia também que se não dissesse nada a colega iria embora e provavelmente ficaria com mais raiva ainda por tê-la feito esperar a troco de nada. Inspirou fundo.

— Sei que você está chateada comigo...

Adrien sentiu a garganta seca como se estivesse jogado no deserto a dias sem água. Pigarreou.

— ...mas não gostaria que fosse para sempre. Você é uma das poucas amigas que tenho. Não quero te perder

Marinette surpreendeu-se. Sempre soube da sua apreciação por Adrien, sabia que era recíproco, mas não tinha ideia da dimensão. Agora enfrentava um dilema interno. Parte sua queria perdoá-lo ali e agora, porém, a outra parte negava-se a tomar qualquer decisão. Suas feridas ainda eram recentes e se curavam um pouco a cada dia. Não queria interferir nesse processo de cicatrização. Na verdade, a garota tinha um novo receio, criar uma nova ferida perdoando o colega e se decepcionar novamente.

— Adrien...eu preciso de um tempo, para pensar em tudo que aconteceu. Minha vida virou de cabeça para baixo – soltou um riso fraco.

Nathalie chamou por Adrien irritada.

— Já vou! – gritou ele de volta.

Marinette aproveitou que para concluir sua frase antes que perdesse a coragem. Sabia que se isso ocorresse não conseguiria segurar as lágrimas.

— E nesse tempo, acho que devemos ficar sem se falar. Cada um no seu canto sabe?

Adrien sentiu um choque percorrer seu corpo. Uma pedra de concreto desceu em seu estômago.

— ADRIEN! – Nathalie perdia a paciência.

— JÁ DISSE QUE ESTOU INDO!

Adrien voltou a fitar Marinette, ele podia jurar que ela piscava mais do que o normal.

— Melhor você ir, tenha uma boa sessão de fotos.

E sem escutar a resposta do garoto, Marinette seguiu em frente, misturando-se no mar de pessoas apressadas. Encontrou Alya perto de uma pilastra com seu pacote de batatas oferecendo-lhe um pouco.

— Você é a melhor – Marinette pegou uma e mordeu.

— Eu sei – Alya mostrou a língua brincalhona.

Adrien ficou ali, parado. Suas fãs continuavam gritando pedindo autógrafos, chamando por ele, mas isso não o afetava.

“Burro! Burro!”

Queria fugir dali, voltar para o seu quarto e permanecer trancado. Nathalie o puxou pelo braço com força.

— Devo esperar que você crie musgos aí?

Nathalie o reposicionou na frente das câmeras, o fotógrafo dava os últimos ajustes no refletores e suas fãs continuavam alvoroçadas. Com certeza seriam as piores fotos de sua carreira.


 

A sexta-feira havia chegado mais agradável do que qualquer outro dia daquela semana. A maior parte das pessoas nem falavam mais do caos no desfile. O que era muito bom, Marinette até voltou para a escola, recebeu conforto de alguns de seus amigos como Rose, Nathaniel, Juleka, Nino.  Entretanto, ela e Adrien não conversaram, trocando no máximo um“Oi” com um aceno de cabeça. O rapaz pensou na possibilidade de puxar assunto, porém rememorou o dia no shopping.

“Cada um no seu canto”

Querendo ou não, teria que acostumar com a distância entre os dois, a ver a amiga somente durante as aulas e na saída da escola, passando por ele como se estivesse invisível ao seus olhos.


 

A mansão Agreste sempre fora silenciosa e um pouco sombria. Um espaço muito grande para tão poucas pessoas habitarem e, desde o sumiço da Sra.Agreste...bem, não havia mais risos ou qualquer forma de alegria. Exceto por um cômodo: o quarto de Adrien.

Desde o aparecimento de Plagg e a entrada no colégio, Adrien voltou a rir em seu quarto, seja com a palhaçadas de seu Kwami, quando Nino vinha visitá-lo para jogarem vídeo-game ou simplesmente jogar conversa fora. Entretanto, desde o Desfile de Primavera nenhum riso foi soltado no local, a única coisa que se ouvia era o vento batendo nas janelas. Um assobio longo e congelante procurando por alguma alma vivente.

— Adrien melhore esta cara, está me fazendo perder o apetite. – reclamou Plagg encarando seu queijo com desgosto.

Adrien resmungou com a cara dentro do travesseiro, deitado de bruços.

— Infelizmente, é a única que eu tenho Plagg.

Plagg olhou mais uma vez para seu queijo, teria que deixá-lo para mais tarde. Não suportava mais presenciar as melancolias do garoto Agreste em seu dia a dia, na escola, em casa ou nas sessões de foto. “Adolescentes” tão dramáticos, pensou ele. A ideia da topeira tornava-se cada vez mais tentadora, se as coisas continuassem assim não demoraria muito para fazer a troca.

— Eu realmente não te entendo filhote. Sua fama de boy magia vem justamente dessa sua cara de mauricinho.

Adrien retirou o rosto do travesseiro e encarou o gato preto ao seu lado.

— Boy magia? Você sabe ao menos o que significa isso?

O gato preto deu os ombros.

— Não, mas ouvi a Chloé te chamando disso enquanto fofocava com a Sabrina.

Adrien resmungou mais uma vez e se pôs de barriga pra cima, encarando o teto. Plagg pôs-se em seu campo de visão impedindo-o de continuar a contemplação da laje.

— Arrgh! Queria não ter essa cara por dia, não, uma noite bastaria! Assim poderia falar com a Marinette sem que ela me evitasse.

Plagg gargalhou, deixando o menino aborrecido. Adrien sentou-se na cama, em seguida o Kwami pousou na coxa do garoto, ainda rindo.

— Qual é a graça nanico?

Plagg fingiu limpar as lágrimas nos olhos enquanto via os olhos semicerrados do Escolhido que o encarava.

— Ah Adrien, as vezes eu me impressiono com essa sua burrice.

Adrien fez uma careta, torcendo o nariz

— Obrigado pela parte que me toca.

Plagg fez reverência.

— De nada.

O Kwami levantou a mão pedindo a atenção como um professor faz com um aluno. Bem didático.

— Perceba filhote, você tem outro rosto.

Adrien levantou o antebraço e abriu a palma da mão deixando o Kwami sentar-se nela.

— Esse queijo realmente está te afetando. Há coisas que um garoto não consegue fazer e ter dois rostos é uma delas.

Plagg mostrou suas presinhas na forma de um sorriso.

— Um garoto não, mas talvez, um gato possa.


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Notas finais do capítulo

Beijos kwamizados para vocês!