I Take My Crown escrita por Cat Lumpy


Capítulo 7
A Pré-Seleção (Parte 02)


Notas iniciais do capítulo

Aproveitem



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/706595/chapter/7

Jujuba balançou um pouco a cabeça, não podia demonstrar concordar com o concurso e tampouco preferência por algum Candy que não fosse Marshall. Se bem que não esperava que Marceline fosse capaz de impressionar mais seu pai quanto Braco foi. Aquele poema...

Pelo menos a parte de recolher informações estava indo bem, apesar de tudo o que acontecera mais cedo. Naquela manhã:

Jujuba sentou-se à longa mesa como se nada tivesse acontecido no dia anterior. Fazendo o tipo: meu pai não vai promover um concurso para me arrumar um marido, e eu não tive meu quarto invadido e fiz um acordo com uma vampira. Passou os olhos pela variedade de comidas. Aquilo era demais para um simples café-da-manhã, mas já estava acostumada com a vida farta de princesa, não estranhou.

— O que vai ser hoje, princesa? — Menta perguntou, um prato na mão.

O mordomo sempre fazia seu prato. Ele gostava de mima-la. Jujuba reparou no nervosismo dele. Muito bem, você deve mesmo ficar preocupado.

— Ovos e bacon. — falou educadamente.

O mordomo encheu o prato com ovos mexidos e alguns pedaços de bacon. Um pouco mais rápido do que o normal. Jujuba viu a cadeira defronte a sua e também não estranhou ela estar vazia. Seu pai raramente a acompanhava nas refeições, sempre estava ocupado com assuntos do Reino.

Menta pôs o prato em sua frente e Jujuba começou a tirar as delicadas luvas brancas que trazia nas mãos. Usava um dos seus vestidos caros, este era azul claro e um de seus preferidos, pois era leve e fazia seu busto parecer maior.

Não desgrudava os olhos do mordomo. Pegou um pedaço de bacon com a mão. Apertando-o, a gordura escorrendo por seus dedos. Sorriu internamente ao ver o espanto no rosto de Menta.

— Pri-princesa? O que está fazendo? — perguntou esganiçado, mas Jujuba não respondeu.

Ela largou o bacon no prato e encarou sua mão suja como se fosse a coisa mais interessante do mundo. Mordomo Menta prezava as boas maneiras e não suportava sujeira. E ele gostava muito de ver Jujuba bem vestida e quando ela obedecia às regras de etiqueta. A princesa sabia o que precisava fazer para conseguir informações dele.

— Pergunto-me quais serão as provas que meus pretendentes terão de enfrentar por mim. — ela sugeriu.

Menta engoliu em seco, o olhar alternando entre a mão suja de Jujuba e sua expressão indiferente.

— N-não sei, princesa. Não sei quais serão. — disse apressado.

Mas ela o conhecia bem demais, reparou na mentira. Resolveu ser um pouco mais radical:

— Pena, eu adoro esse vestido.

E levou os dedos engordurados ao decote da peça. Manchou o tecido ao toca-lo. Menta soltou um gritinho, horrorizado.

— P-pare! Pri-princesa, eu não sei! Por favor, não...! — pediu estendendo os braços doces, mas soltou outro grito, Jujuba agora levava a mão ao coque perfeito em sua cabeça.

— Diga-me! — ela ordenou, pairando os dedos a poucos centímetros do cabelo, o azul de seus olhos delirantemente determinados presos no rosto assustado do mordomo.

Ele resfolegou, arregalando os olhos e mirando para os portais da sala de refeições, esperando que alguém entrasse de repente para socorrê-lo. Ela não teria coragem, ela não faria aquilo, ela... Jujuba abaixou um pouco mais a mão e Menta guinchou antes de dizer apressadamente, tropeçando nas palavras:

Eu só sei a primeira! Só sei a primeira prova, princesa! Seu pai ainda irá decidir as próximas com ajuda do Conselho e dos jurados!

Jurados? Como assim jurados?

— Desembucha Menta! — sibilou quando o mordomo hesitou em prosseguir.

— Os Candys terão de provar sua coragem, vão poder escolher três formas: enfrentando um Leão Branco Destemido do Alasca ou um Urso Desgarrado ou algum outro que eu não sei!

Jujuba viu que dessa vez ele falava a verdade, realmente não conhecia a terceira fera. Teria ficado com pena do mordomo e parado, mas tinha outra pergunta para fazer, então: pegou um punhado de ovos mexidos com a outra mão e aproximou da bochecha.

Imaginou como alguém de fora reagiria àquela cena: a princesa se sujando feito uma louca e o mordomo ao seu lado agonizando sem motivo aparente. Espantou esse pensamento diante das mãozinhas trêmulas de Menta.

— Por favor, princesa! Por favor, não continue, eu já disse tudo o que sabia das provas! — implorou com a voz falha.

Aquilo era pior do que ter de consola-la. Menta não suportava vê-la fazer aquele tipo de coisa. Jujuba + sujeira era a mesma coisa de mordomo descontrolado.

— Quem são esses jurados? — ela perguntou em um sussurro, sentindo-se com um enorme enjoo, tinha um bom palpite, contudo, precisava confirmar.

— S-são as pessoas que d-decidiram quem é o melhor C-candy! — ele falou, gemendo logo em seguida, o desagradava ser ele a dar àquela notícia a princesa — S-serão tr-três! E-les decidiram com quem irá se ca-casar! Mas não me pergunte quem são, seu pai não me informou!

Jujuba levantou-se tão bruscamente da cadeira que a mesma foi ao chão com estrépito. Largou a comida e tentou controlar-se, mas estava impossível. Sua respiração saía com dificuldade por causa de um estranho vazio em seu peito.

O mordomo a lançou um olhar de sinceras desculpas. Jujuba balbuciou um “perdão” e logo depois um “licença” e deixou a sala. Quando passou pelas portas pesadas e se viu no corredor, começou a correr, pretendia chegar até o escritório de seu pai e despejar um pouco mais de indignação e frustração sobre ele.

Entretanto, ela esbarrou em alguém. Cambaleou para trás e... Uma dor aguda subiu por sua espinha, caíra de bunda. Não fez som algum e nenhum esforço para se levantar. Nem mesmo ergueu a cabeça. Não queria que quem quer que fosse visse seu rosto abatido.

Mas não podia ficar simplesmente jogada no chão, calada. Mesmo que quisesse. Então, com um admirável controle, conseguiu que sua voz não saísse trêmula ao dizer, ainda de cabeça baixa:

— Eu estou bem, pode me deixar sozinha.

Silêncio.

E Jujuba soube, surpresa, em quem tinha esbarrado. Por isso trocou o tom formal seco por um ríspido.

— Já disse que estou bem, seu monte de panos de uma figa! Pode me deixar sozinha!

Não devia descontar sua raiva em Marceline, existia quatro bons motivos para isso: primeiro, ela possuía um título mais elevado que o dela, segundo, ela salvara sua vida, terceiro, não era culpa da vampira o que estava acontecendo e, quarto, ela a estava tentando ajudar a dar um jeito em toda aquela loucura.

Contudo, não pôde se desculpar por seus modos e não refreou suas palavras ao notar que Marceline não tinha ido embora:

— Por acaso não me ouviu?! Vá! Deixe-me sozinha!

E Marceline reagiu a isso, ajoelhou lentamente e, pondo um dedo sob o queixo da princesa, forçou-a a levantar a cabeça. Jujuba espantou-se com o toque. Mas não tardou a fazer uma careta, desgostosa. O rosto de Marceline estava encoberto por aquele grande capuz.

— O que houve? — ela perguntou tão baixinho que Jujuba quase não a ouviu.

— Nada! — disse rapidamente, não queria que a outra soubesse da extensão do poder que Rômulo tinha sobre sua vida. Seria humilhante demais.

Marceline não disse mais nada, ergueu-se e estendeu uma mão para ajudar a princesa a se levantar. Jujuba passou alguns segundos, decidindo se aceitava ou não a ajuda e, por fim, aqueles quatro motivos sobrepujaram a amargura que sentia por seu pai. Pegou a mão da vampira.

Saiu do chão e seu olhar acabou relanceando para um vulto no canto de sua visão. Menta estava no corredor, ofegante, parecia tê-la seguido correndo.

— Prince... Princesa. — começou, dando uma boa olhada nas diversas capas para depois mirar Jujuba e então fitar as mãos juntas— Precisa estar na sala do trono as três e quarenta e cinco.

E ele fez uma expressão que demonstrava o tanto que sentia por ela ser forçada aquilo e o quanto também achava penoso ser ele a informa-la.

Ela sentiu a mão de Marceline apertar a sua e graças a isso conseguiu responder um simples “pode deixar”. Somente quando Menta desapareceu de vista, foi que ela se tocou.

— Minha nossa! Minhas mãos! — exclamou, corando e soltando-se de Marceline.

— Estão bastante sujas, de fato. — a vampira comentou, deixando Jujuba mais sem graça ainda — Será que a senhorita pode me contar ao menos como conseguiu isso — ela apontou para a mancha de gordura no decote.

— Eu... — Jujuba focou-se no porquê de ter feito aquele estrago em seu vestido e disse séria — Eu preciso falar com você, é sobre o concurso.

E Marceline assentiu. Assim, Jujuba a guiou para uma sala pequena, em uma parte afastada do castelo. Ziguezagueou por passagens estreitas e secretas que conhecia desde criança, para que ninguém a visse andando por aí sozinha com Marshall.

— Então, o que tem a me dizer? — ela perguntou, distraída ao observar a sala.

Passou a mão no braço de uma das poltronas vermelhas do local, tinha cinco — a noção de pequeno de Jujuba era um pouco deturbada, afinal, ela vivia em um gigantesco castelo. Depois caminhou pelo tapete que ficava no centro do piso de madeira. Testando a maciez. E, deteve-se no meio da sala, contemplando as tapeçarias que cobriam três das quatro paredes, onde cavalheiros destemidos enfrentavam dragões. Na parede defronte a porta, uma grande janela iluminava precariamente a sala, pois os vidros estavam cobertos de poeira.

— Descobri qual será a primeira prova. — Jujuba disse, os olhos grudados nas capas.

A frente do capuz virou-se para ela. A princesa imaginou uma expressão interessada no rosto pálido invisível. Pegou-se engolindo em seco, estava mesmo fazendo aquilo, estava prestes a contribuir para algo muito maior do que ela. Ao ajudar Marceline, não somente se ajudava, mas também todo o Reino Doce, toda Ooo. E se arrepiou ao lembrar-se das imagens que vira na noite passada.

Disse a Marceline as informações que Menta a tinha contado e esperou que a vampira dissesse algo.

— Isso será fácil. — ela comentou — A parte mais complicada será impressionar esses jurados mais do que os outros Candys.

Jujuba engoliu sua surpresa, não devia duvidar dos poderes de um vampiro. Mas tinha um “porém”:

— Err... Marceline. — chamou, mas antes de prosseguir, seu coração bateu mais rápido e seu rosto esquentou: — Quer dizer, Vossa Majestade...

— Eu te disse para me chamar de Marceline quando estivermos a sós.

— Disse?

— Bem, estou dizendo agora, e a senhorita já me chamou dessa forma ontem, lembra?

Jujuba demorou um pouco para reagir depois disso. Só a chamara pelo primeiro nome por causa da situação, estava irritada com o fato da vampira ter invadido seus aposentos e também achava que estivera mentindo.

— Marceline, como exatamente planeja impressionar o meu pai esta tarde?

— Isso é segredo. — ela falou baixinho, inclinando-se um pouco para frente — Mudando de assunto, essa sala, ela não é muito usada, é? Parece-me abandonada.

A mudança de assunto foi tão rápida que Jujuba meio que se viu obrigada a respondê-la.

— Ninguém vem aqui, nem mesmo os empregados. Estamos na parte sudoeste do castelo, meu pai proibiu o acesso a ela há alguns anos.

Marceline tirou o capuz e a princesa prendeu o ar. Tinha o rosto da vampira gravado em sua mente desde a noite passada, porém, ficou tão surpresa ao vê-la sem o capuz quanto na primeira vez.

A Rainha dos Vampiros tinha um tipo de beleza que fazia isso, tirava o fôlego de qualquer um. Ou seria só coisa da cabeça de Jujuba?

— Bom, vamos usar essa sala para trocarmos informações a partir de agora. — ela anunciou, e a princesa se permitiu respirar novamente, mas então: — Ah, esqueci-me de dizer na noite passada, não pode mais andar sozinha no castelo, precisa estar sempre acompanhada de pessoas de confiança.

— Perdão, acho que não a compreendi. — Jujuba falou, apertando os olhos — Poderia repetir?

— Esta sala será o nosso ponto de encontro e só poderá andar acompanhada por pessoas de confiança.

E a princesa se preparou para reclamar. Para onde foi minha privacidade?!

Mas...

— Alguns aliados terão acesso ao castelo esta tarde, cuidarei para que nunca te deixem sozinha.

— O quê?! Quem?!

Marceline se aproximou mais, ficou a um passo de distância da princesa. Jujuba viu que ela mantinha uma postura impecável e seu queixo alinhava-se com o seu. Eram da mesma altura? Não tinha reparado nesse detalhe.

— Não se esqueça, existe um mercenário querendo mata-la para desestabilizar seu pai emocionalmente. Dois aliados de confiança estão vindo esta tarde, não será difícil se infiltrarem no castelo graças a toda essa distração do concurso.

E Jujuba se esqueceu de sua reclamação. Perdeu-se naqueles olhos incrivelmente negros, acompanhou a trajetória deles. Primeiro focaram-se no azul dos da princesa, depois, vagaram pelo contorno de seu rosto e...

Jujuba umedeceu os lábios, sentindo o rosto esquentar. Marceline estava encarando sua boca? Não, estou delirando, deve ser culpa desse calor infernal!

— Está bem. — a princesa murmurou, recuando dois passos e abrindo um sorrisinho nervoso e prosseguiu, como se estivesse decorando — Entendi. Pessoas de confiança. Proteger-me.

— Isso mesmo. — a vampira confirmou.

— E quem são? — perguntou, desejosa por distrair sua cabeça daquela estranha sensação que Marceline estava despertando nela.

— Depois te conto. — e, vendo Jujuba abrir a boca, acrescentou — Mais tarde.

Então ficaram em silêncio. A princesa brincou com os próprios dedos por algum tempo até finalmente dizer:

— Acho, bem, acho melhor voltarmos.

— Ah, gostaria de ficar mais um pouco aqui. Acho que sei como voltar sozinha. — Marceline comentou, dando-lhe as costas e voltando a olhar a paisagem embaçada da janela — Se importa?

— Não. — Jujuba respondeu rapidamente e sem mais delongas retirou-se.

No corredor, sobressaltou-se ao ouvir a voz de Marceline, alta:

— Ah, princesa, espero que me conte mais tarde o que houve com o vestido!

Não sabendo se devia ou não falar a vampira o que acontecera com Menta, Jujuba titubeou um pouco, e resolveu por...

— Nunca saberá. — disse com voz elevada, aumentando o passo e dobrando para entrar em uma porta estreita que dava em uma escadaria de pedra.

***

— Bonnibel. — seu pai a chamou.

Jujuba despertou de sua lembrança e olhou para o Rei, pelo visto ele passara um bom tempo tentando chamar sua atenção, pois não estava nada feliz.

Contudo, ao soltar um “desculpe”, ela viu quem se encontrava no centro da sala. Seu pai com certeza estava irritado pelo homem ter tido a ousadia de se inscrever. Jujuba esperava que fosse por isso, não suportaria a ideia de Rômulo considerar que ele concorresse a sua mão.

— Digníssima princesa Bubblegum! — o homem a cumprimentou com uma reverência.

Ela o olhou de cima a baixo, a roupa pomposa e a pesada coroa dourada na cabeça. O cheio bigode se mexeu quando ele sorriu animadamente. Logo em seguida, piscou para Jujuba com um dos pequenos olhinhos castanhos.

— Venho aqui em busca da chance de concorrer a sua estimada mão. — prosseguiu, ajeitando a coroa sobre seus cabelos cor de palha.

— Rei de Ooo. — Rômulo falou, impaciente — Vamos logo com isso, impressione-me.

— Vossa Majestade, eu, William U. Manteiga, Rei de Ooo, ofereço ao Reino Doce um quinto de toda a minha terra nas montanhas carameladas, o que engloba também um maravilhoso chalé ao lado de um belo lago, ótimo para pescar. — ele anunciou, a voz mantendo um timbre grave que passava seriedade.

Jujuba torceu a boca. Como ele ousa?! Pretende comprar a permissão para disputar minha mão?! Papai não irá...

E nessa parte a princesa deu um olhar de esguelha a Rômulo e viu, para seu horror, que ele parecia considerar o que o Rei de Ooo tinha dito. Ela ergueu-se do trono movida por uma forte onda de fúria.

— Papai, — falou, os dentes cerrados, fixando seu pai — olhe para ele, olhe para ele! Tem o dobro da minha idade!

Rômulo nem sequer a dirigiu um olhar, mas sua expressão endureceu. Ele ergueu uma das mãos e simplesmente disse:

— Sente-se.

Jujuba não o obedeceu. Menta ofegou e os Conselheiros não ousavam piscar e perder um momento da cena. O Rei de Ooo foi quem quebrou o repentino silêncio, parecendo não reparar na tensão que tinha se formado:

— Err... Na verdade, eu tenho trinta e um, não possuo o dobro...

— Não precisa se explicar, — Rômulo o cortou, brandamente — no aviso estava bastante claro o limite de idade e sei que o senhor não a ultrapassa.

Daí:

— Sente-se. — e a ordem foi acompanhada de um olhar gélido.

Jujuba estremeceu e sentiu a raiva se espalhar por sua pele, fazendo-a se arrepiar. Contudo, obedientemente, sentou-se no trono. Não daria um motivo maior para os Conselheiros fofocarem sobre ela, e, também, encontrou o olhar de Menta. Não queria decepciona-lo. Mas a ordem de seu pai não a impediu de encarar o Rei de Ooo, cheia de desprezo.

— Muito bem, pode retirar-se. — falou Rômulo e Jujuba viu o detestável homem sumir da sala.

Sabia que o Rei de Ooo não era boa pessoa, na realidade, existiam tantos rumores sobre ele envolvendo práticas ilegais que a princesa achava difícil acreditar mesmo em seu sangue real.

E a pré-seleção prosseguiu com mais um rebanho de palhaços, cada um causando uma imensa vergonha alheia. Jujuba não conseguiu manter o foco por muito tempo...

Princesa, a voz tão conhecida a chamou, não se preocupe, não importa o que seu pai faça, tenho certeza de que sempre ficaremos juntos, o destino está ao nosso favor!

Oh, isso é impossível, Príncipe Másculo!, Jujuba deixou-se ser abraçada por aqueles fortes braços, Meu pai está determinado a me casar com qualquer idiota que ofereça mais ouro!

Não, não irei deixar que isso ocorra, vamos fugir!, ele disse, e Jujuba espantou-se ao sentir o cheiro salgado do mar e o chão sob seus pés balançar.”

Para onde estamos indo?, perguntou, ainda com o rosto em seu largo peitoral, sentindo o seu maravilhoso perfume selvagem.”

Para...”

— Vossa Alteza Príncipe Flamel Flame, filho mais velho do Rei Dragon Flame e, portanto, herdeiro direto ao trono do Reino de Fogo.

O nome retirou Jujuba de seus pensamentos. O Reino de Fogo não tem péssimas relações com o nosso Reino?, ela se perguntou. Então, tudo aconteceu muito rápido.

Em um segundo, as portas se abriram com estardalhaço e dois rapazes entraram de uma vez, ambos com espadas em mãos. Um deles era feito de fogo, usava uma armadura feita de um metal especial e trazia uma coroa de chamas na cabeça. Sua espada ardia em línguas de fogo. Ele era alto e possuía o corpo de um lutador ágil. Já o outro, era menor, trajava uma armadura prateada e empunhava uma brilhante espada vermelha. Não possuía coroa sobre sua espessa cabeleira loira. Cabeleira essa que Jujuba reconheceria em qualquer lugar.

— Finn?!

O humano fez um simples aceno de cabeça para a princesa. Daí, os dois aproximaram-se dos tronos, encarando-se ferozmente. E ao mesmo tempo fizeram uma reverência.

Menta, confuso, voltou os olhos para a lista e apressou-se em acrescentar:

— E Sir Finn Mertens, Cavalheiro da Ordem do Alcaçuz, fiel à Coroa doce.

Rômulo alternou o olhar entre um e outro, para então, sorrir. Um sorriso de verdade, que Jujuba raramente via. Mas ela não estava olhando para seu pai no momento, mantinha a vista sobre o rosto juvenil de Finn. Sua expressão era de pura perplexidade, não podia ser. Não pode ser.

— Vossa Majestade, eu e Sir Finn Mertens, provaremos que somos dignos da princesa demonstrando nossas habilidades de combate.

E, antes que Jujuba pudesse processar a informação, os dois começaram a duelar. As duas espadas se chocaram com força, produzindo um barulho metálico. E de novo. E mais uma vez.

O duelo durou exatamente três minutos. Finn golpeava e se desviava com precisão e agilidade, Flame, igualmente. E eles estavam tão focados e determinados que poderiam duelar a tarde toda, entretanto, Rômulo os interrompeu:

— Já basta! — e seu tom era animado e foi acompanhado por uma risada estrondosa.

O Rei adorava batalhas. Assim, Finn e Flame saíram da sala de peitos estufados. Rômulo parecia muito satisfeito com eles. Jujuba não conseguia acreditar.

Finn, o garoto que costumava lhe oferecer insetos para brincar quando menor, que a ajudava a escapar de Menta para ir pregar peças nos cidadãos doces...

Ele era dois anos mais novo do que ela. Ele era seu amigo de infância. Agora, ele poderia vir a concorrer a sua mão. Poderia ser seu marido.

Chocada. Esta palavra definiu Jujuba cinco segundos depois de Finn sair da sala. Chocada. Um segundo mais tarde: irada. Não perdoaria Finn por aquilo. Nunca. Ele a conhecia o suficiente para deduzir que ela não concordava com aquele concurso, e ainda assim...

Ele nem mesmo a olhara duas vezes enquanto estivera na sala. Sem dúvida alguma se sentia culpado pelo que fazia. Mas Jujuba não o perdoaria. Não ligava se Finn estava carregando culpa dentro dele. Não o perdoarei.

— Sir Guy Wolf, Cavalheiro da Ordem de Morcegos, fiel à Coroa da Noitosfera.

Jujuba não prestou atenção no sujeito, ainda ocupada demais sentindo raiva de Finn. Mais três rapazes foram anunciados e deixaram a sala até Jujuba voltar novamente à pré-seleção.

— Vossa Majestade Príncipe Marshall Abadeer, Rei da Noitosfera e da Raça Vampírica.

E a figura cheia de capas entrou na sala. A princesa se arrepiou, esquecendo-se da cabeleira loira do humano e imaginando qual seria a expressão de Marceline por baixo do capuz.

Ela aproximou-se dos tronos, lenta e calmamente, e Jujuba notou a postura impecável e a forma suave como andava, graças às capas, parecia deslizar pelo chão polido de mármore.

— Marshall Abadeer, estava ansioso por esse momento. — Rômulo confessou, erguendo uma das grossas sobrancelhas.

Jujuba apertou as mãos no colo, inclinando um pouco a cabeça. Também estivera aguardando aquilo. Se Marshall não fizesse algo realmente admirável (ou pagasse bem), o Reino doce e toda Ooo estariam mais desprotegidos.

E ela pensou:

Uma vampira, ela é uma vampira, pode voar ou quebrar alguma coisa dura e fazer uma infinidade de truques para que papai fique de queixo caído. Talvez ela use a invisibilidade.

Contudo, Marceline não fez nada do que Jujuba pensava. De todas as formas que existiam para impressionar Rômulo, ela escolheu a mais simples, e ainda sim a mais surpreendente.

Menta inspirou fundo, os Conselheiros arregalaram os olhos, a princesa deixou a boca abrir-se em um perfeito “o” e o Rei... bem, ele levantou-se do trono, desceu os quatro degraus e deu os dois passos que faltavam para alcançar a figura encapuzada. Jujuba enganara-se ao pensar que Marceline não poderia fazer melhor do que Braco.

— Erga-se. — Rômulo pediu.

Marceline, que tinha se ajoelhado perante o Rei doce, se levantou.

— Ao se ajoelhar diante de mim, suponho que estaria disposto a se submeter as minhas vontades por minha filha. — uma pausa, o Rei alisava a barba, analisando o tecido do capuz de Marshall — Por favor, espere no saguão de entrada junto dos outros.

Jujuba admirou-se tanto que não foi capaz de se segurar:

— Acabou de pedir “por favor”?

Rômulo virou-se para ela, a sombra de um sorriso nos lábios. E a princesa aceitou esse quase sorriso como resposta.

Marceline saiu da sala. As portas fecharam-se atrás dela e todos que ali ficaram tinham uma certeza: nenhum outro candidato poderia fazer melhor.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentários me dão vida, então...
Agora assunto sério, talvez eu demore para postar em ITMC, pois penso que será melhor terminar logo minha outra fic para depois me concentrar nesta daqui. É que fazer as duas ao mesmo tempo acaba dando um nó em minha cabeça, às vezes.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "I Take My Crown" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.