I Take My Crown escrita por Cat Lumpy


Capítulo 5
Um Estranho Acordo


Notas iniciais do capítulo

Capítulo longo esse, mas é importante para o desenvolvimento da estória.
Boa leitura :)



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— Isso é um absurdo. — Jujuba balbuciou para a figura coberta de panos, a voz pingando de descrença.

— Não é, — a garota disse calmamente — posso garantir.

— Bem, Mars... — a Princesa se interrompeu, duvidava que o nome da pálida figura sentada a sua frente fosse aquele.

— Marceline. — ela respondeu a pergunta implícita no olhar de Jujuba.

A Princesa ficou calada. Repassou a situação em sua cabeça. Estou mesmo sentada a minha mesa de estudos falando com uma desconhecida que invadiu meu quarto? Sim, e ela também se passou pelo Rei da Noitosfera? Sim.

— Então... Marceline, — os olhos azuis encaravam os negros, apertados de desconfiança, e seu tom não podia ser mais arrogante — está querendo mesmo que eu acredite nessa história de uma possível guerra? É ridícula, por que não me diz logo a verdade? Prometo que pedirei ao meu pai para não trancafia-la nas masmorras.

Uma mentira. Faria questão de ordenar pessoalmente aos guardas-bananas, Cortem-lhe a cabeça! Mas isso somente depois de desvendar tim tim por tim tim os planos da tal Marceline.

— Ok, quer a verdade, princesa? — a garota pálida perguntou, não escondendo seu aborrecimento pela forma como Jujuba a tratava.

Agora que estava com a cabeça descoberta e podia falar livremente, jogou para o alto seu comedimento, não precisava mais fingir ser o Marshall e fazer-se de cavalheiro, afinal, a princesa a sua frente já sabia que ela não era um maravilhoso Rei montado em um cavalo branco.

— Pensei que o que tinha me dito fosse a verdade? — Jujuba levantou as sobrancelhas, se passando por desentendida, como se ela mesma não tivesse negado a veracidade da história há pouco.

— E é, mas não a completa. — Marceline respondeu virando o rosto impaciente por ter de lidar com a princesa, seria melhor se não tivesse entrado naquele quarto — Disse-lhe que estou aqui em busca do apoio de seu pai para impedir uma possível guerra, somente, não expliquei-lhe detalhadamente os pontos importantes por trás de tudo isso.

— Vai persistir na história da guerra? — Jujuba revirou os olhos.

—Calada e me ouça.  — Marceline falou em tom autoritário, prendendo a atenção da princesa por completo.

Jujuba emudeceu com as palavras da outra, a boca um pouco aberta. Aquela garota tinha acabado de ordena-la? Em seu próprio quarto? Só pode ser brincadeira!, pensou.

— Escute aqui, eu...!

— Mandei se calar. Não me interrompa. — Marceline a cortou com um gesto displicente de mão, pousando os olhos escuros na princesa.

Dessa vez ela arfou pelo ultraje. Ergueu-se da cadeira bruscamente e fitou a garota coberta de capas de cima. Um esgar muito parecido com o que recebera de seu pai mais cedo tomou seu rosto.

— Se passando por outra pessoa e adentrando no castelo doce, invadindo meu quarto à noite e, ainda por cima (!), achando que pode me dar ordens! Quem você pensa que é? — perguntou irritada, o rosto avermelhando-se.

Tic, tac, o gato despertador de Jujuba soou pelo quarto, o som ampliado pelo silêncio que tomou o lugar. As duas encaravam-se. A princesa ofegante de raiva, Marceline com uma sobrancelha levantada. TIC, TAC. TIC TAC. TIC TAC. TIC TAC.

— Parece que a senhorita é bem ingrata, princesa. — Marceline dispersou suas palavras pelos amplos aposentos, encobrindo o barulho do gato irritante.

Jujuba encrespou os lábios, pronta para revidar, sem nem ao menos ter refletido sobre o que a garota pálida disse. Sempre ficava um pouco irracional quando via a perspectiva de discutir com alguém.

Contudo, Marceline foi mais rápida...

— Achei que depositaria um pouco mais de confiança na pessoa que salvou sua vida três vezes só está noite.

— Três vezes?! — se exaltou — Foi só uma vez! E eu poderia muito bem ter...!

— Não tente se passar, sabe que não teria se livrado do Javali. — mais um corte — E foram sim, três vezes. — e ao ver Jujuba abrir a boca para contrariá-la novamente, acrescentou: — E mesmo se tivesse sido apenas uma vez, ainda me deve sua vida.

E finalmente conseguiu o que queria, a contragosto, a princesa calou-se, uma expressão de enorme ira lhe contraindo o rosto.

— Sou Marceline Abadeer, princesa da Noitosfera, irmã do Rei Marshall. E, como meu irmão, possuo o mais alto título da raça vampírica.

— Você... Princesa...? Rainha...? — Jujuba balbuciou, a sua raiva sendo sobreposta pela perplexidade. A cor sumindo de seu rosto.

A vampira (tinha uma vampira em seu quarto!) continuou, sem dar o mínimo sinal de ter ouvido algum som saindo da boca da outra.

— Embora meu irmão seja o líder soberano oficial do Reino, sou eu quem cuida de todas as suas obrigações. — Marceline lançou um olhar curioso à princesa, atenta as reações dela — Ou seja, tenho os plenos poderes de um Rei.

Jujuba soltou uma risada aguda, não descia de seu pedestal, mantendo a altivez, ironizou:

— Mas é claro, muito normal um Rei entregar o poder de sua coroa de mão beijada.

— Pensei ter dito para não me interromper? — a voz da vampira saiu gélida.

Jujuba engoliu uma resposta mal criada, a garota salvara sua vida e era uma princesa e a Rainha dos vampiros. Não era uma mal educada. Assim pensava.

— Os motivos de meu irmão para jogar suas responsabilidades sobre minhas costas não vêm ao caso. A única coisa que interessa é que saiba que estou dirigindo a Noitosfera e de que tenho o dever de zelar pelo bem do meu Reino e do meu povo. Há dois anos tudo tem saído bem, mas isso até ele voltar.

E prevendo a pergunta da princesa, alteou um pouco mais a voz ao prosseguir:

“Refiro-me ao Caos, um demônio que se rebelou contra meu pai, o antigo Rei, e tentou tomar-lhe o trono. Ele foi expulso da Noitosfera dois séculos atrás, e ao vir ao mundo superior, tratou de conseguir um exército de mercenários para apoia-lo em seu objetivo mais ambicioso: não somente tomar a coroa da Noitosfera, como também às dos outros Reinos.”

“Uma guerra se seguiu, todos os Reis se uniram contra a ameaça potencial que Caos era. Obviamente, ganharam, derrotaram o exército mercenário e o seu líder desapareceu. Fugiu. Mas agora, ele voltou, e começou a reunir seus aliados novamente, todos os outros reinos já perceberam seu retorno. Caos costuma deixar rastros propositais de seus feitos, sabe? Para que ninguém roube o crédito por suas ‘obras de arte’.”

“Ele é um perigo a estabilidade de Ooo e as coroas devem se reunir novamente para impedir que Caos possa causar outro estrago, a última guerra que provocou foi catastrófica demais. Entende agora princesa? Acredita em mim?”

— Não. — foi a resposta de Jujuba ao final da explicação — Se esse tal Caos fez tudo isso, como eu nunca li sobre ele em um livro de história?

— Porque ninguém de reino algum quis escrever sobre ele, negaram-se a manter a memória de alguém tão tenebroso e dá-lo fama. — Marceline não desviou os olhos da princesa, nem ao menos piscou, não passava a impressão de estar mentindo.

— Contudo, sem documento algum sobre este Caos, você sabe de toda a história. — Jujuba argumentou, começando a andar lentamente de um lado para o outro.

Do seu lugar, sentada à mesa de estudos da princesa, a vampira não falhou em sua prontidão:

— Sim, pois tenho quase mil anos e presenciei tudo com meus próprios olhos.

Jujuba parou, analisando atentamente o rosto da outra. Viu as presas afiadas quando Marceline entreabriu a boca para umedecer os lábios. Já tinha lido em vários livros sobre a imortalidade dos vampiros, mas ver aquela garota pálida, que não aparentava mais de dezenove anos na sua frente e saber que na realidade a mesma já tinha vivido por quase um milênio a sacudiu de surpresa.

— Isso... Se houvesse uma ameaça do tipo meu pai já saberia e estaria fazendo o máximo possível para freá-la.

— Sério? Quando tentamos negociar um tratado para unir a Noitosfera ao Reino Doce ele não me pareceu ser dessa forma. Na verdade, lembro-me de ter refutado a ideia e rido da mesma. Aliás, acho extremamente pouco sensato preparar um concurso para selecionar um marido para a senhorita quando os outros Reis temem até mesmo permitir que qualquer pessoa suspeita transite perto dos muros de seus reinos.

— E por que eu não vi Rei algum, inclusive seu irmão, adentrar no castelo doce para uma reunião com o meu pai? — Jujuba se controlou ao máximo para não chamar Marceline de mentirosa quanto ao seu pai, afinal, ela acabou de concordar que o concurso era uma ideia idiota?

— Acha mesmo que algum Rei deixaria a segurança de seu castelo em tempos como esses? Claro que usaram mensageiros. Eu por outro lado, vim ter pessoalmente com seu pai, mas a senhorita não poderia ter me visto, pois estava invisível quando adentrei o castelo e também quando o deixei.

Invisível? Vampiros tinham mesmo vantagens.

Silêncio. Jujuba não tinha mais argumento algum para contrariar o que Marceline dizia, a não ser o fato da outra não ter prova alguma. Assim:

— Prove o que diz. Só acreditarei em você quando me der provas concretas de que o que diz é verdade.

A vampira suspirou, cansada pela teimosia da outra, mas tirando um envelope pardo do meio das várias capas que usava. Tinha de admitir ao menos, que a princesa não se deixaria enganar tão facilmente, o que era um ponto positivo.

— Aqui, são fotos de alguns outros reinos.

Jujuba pegou o envelope, o abrindo sem cerimônia e retirando as imagens. Todas mostravam a mesma coisa, casas queimadas e uma placa peculiar em frente às construções: Adeus à Ordem, bem-vindo Regresso.

— O que isso quer dizer? — perguntou com a voz abafada, ficou um pouco perturbada com o forte teor de destruição nas fotos.

— É o slogan do Caos. Leve-o ao pé da letra, princesa. Todas as fotografias são recentes, como pode ver nas datas, todos os reinos foram atacados, exceto o Doce.

Jujuba sentiu um gosto amargo na boca e um enjoo repentino a tomou só de imaginar as casas do Reino em chamas e ao lembrar-se de seu sonho na floresta.

— Está me dizendo que o Reino corre perigo? — a princesa falou depois de engolir em seco.

— Oh, então finalmente acredita em mim, hum? — Marceline disse abrindo um sorrisinho e os olhos negros brilhando.

— Não tenho como negar suas palavras ao ver estas fotos. — Jujuba concordou sombriamente.

— Ótimo. — a vampira levantou-se da cadeira e pegou o envelope de volta, no qual Jujuba já tinha guardado as provas, e falou enquanto enfiava-o novamente entre os panos das capas:— Ótimo, porque ainda tem mais coisas que precisa saber.

— Mais? — a princesa perguntou, franzindo as sobrancelhas, ainda tinha mais? Será que só aquela péssima notícia não era o suficiente?

— Sim, estou aqui não só para participar do concurso, mas também para proteger a senhorita e seu pai de qualquer possível atentado.

— Por que faria isso? — Jujuba perguntou incrédula — Disse-me há pouco que meu pai riu de sua proposta de tratado e ainda assim pretende nos proteger?

— Com toda certeza o Reino Doce é o mais bem estruturado e forte, é de vital importância que ele se mantenha de pé e que seu Rei permaneça são e salvo, assim como a senhorita. — Marceline respondeu de supetão.

A princesa fitou o rosto bonito e pálido que não demonstrava sinal algum de falsidade. Ou Marceline era uma incrível jogadora de pôquer ou falava a verdade.

Daí, suas bochechas coraram. No final das contas, a vampira só estava ali para proteger ela e Rômulo. Tratara mal alguém que só procurava ajuda-la. Remorso. Jujuba detestava sentir remorso.

— M-me desculpe por minha desconfiança. E, obrigada por ter me salvado. — disse desviando o olhar para o chão carpetado rosa de seu quarto.

Marceline ergueu as sobrancelhas, achando a cena divertidíssima.

— Ah, princesa, não acabou ainda. — avisou e ante o olhar indagador de Jujuba finalizou — Tem um mercenário infiltrado no castelo.

— O QUÊ?!

O quê?!

— Isso mesmo. — a vampira aquiesceu para a princesa, e falou, como se dissesse, hoje o céu não está lindo? — Deduzi ao impedi-lo de mata-la na floresta enquanto cochilava e agora há pouco. Somente alguém que soube de sua fuga mais cedo e que conhece a localização de seus aposentos poderia cometer essas tentativas.

— V-você... Então, hoje, na floresta e aqui... — Jujuba murmurou exalando confusão.

Foram mesmo três vezes, afinal. Ela precisava se sentar. E, para seu alívio, Marceline rodeou sua cintura com um dos braços e flutuou com ela até a cama espaçosa, onde a depositou suavemente, sentando-se na beirada ao seu lado.

— Calma, não se preocupe, eu estou aqui para isso, para impedir que qualquer coisa te aconteça.

A voz agradavelmente rouca da vampira acalmou um pouco seus nervos. Jujuba suspirou trêmula. Poderia ter morrido não uma, mas três vezes. Esse fato a assustou tremendamente. Dedos longos e finos pousaram em sua bochecha esquerda e alisaram de leve a pele macia.

— Pode relaxar, ok? — Marceline disse e o seu timbre era reconfortante.

A princesa sentia-se segura ao ouvi-la. Estranho. TIC, TAC. TIC, TAC. TIC, TAC. Jujuba deixou sua respiração se acalmar aos poucos, sua concentração voltada para as pontas daqueles dedos, que descreviam círculos despreocupados em sua bochecha.

— Princesa, eu preciso que me ajude.

Jujuba nada disse, tinha fechado os olhos. Os dedos desceram pelo seu pescoço e ela suspirou novamente, mas dessa vez sentia o oposto de nervosismo e medo. Sentiu-se aquecer-se e não parou para se perguntar o porquê, apenas deixou a sensação morna invadi-la.

— Tenho de ganhar o concurso para convencer seu pai a assinar o tratado de união.

Agora estavam no ombro direito, valsando sobre sua pele.

— Eu não quero me casar. — a princesa sussurrou, abrindo os olhos e apontando-os aos de Marceline.

— Sei que não, eu estava lá quando brigou com o Rei Rômulo.

Os dedos a abandonaram. Foi como se um encanto se quebrasse, Jujuba se sentou na cama, o rosto próximo do da vampira.

— Não vou me casar com uma mulher! — falou titubeante, analisando novamente os traços da vampira.

— Claro que não vai. — Marceline riu e um arrepio percorreu a espinha da princesa — Você me ajuda a ganhar o concurso e assim eu poderei ameaçar seu pai com sua mão, mas não passará disso. Ele pensa que sou meu irmão e concluirá que irei te levar para a Noitosfera, Rômulo faria qualquer coisa para mantê-la no reino Doce, assinará o tratado sem problema algum. E você poderá ser livre, não casará com ninguém.

Jujuba ficou pensativa por alguns segundos. Não tinha aliados, todos pareciam querê-la casada, não conseguiria acabar com aquele concurso sozinha e nem convencer seu pai a cancela-lo. Marceline era uma vampira, possuía poderes sobrenaturais. Talvez fosse fácil para ela ganhar de qualquer homem nojento que se inscrevera para disputar sua mão.

— Então, temos um acordo? — Marceline perguntou, pousando a mão que fizera carinho na pele de Jujuba em um dos joelhos da princesa.

Estremecimento. Calor. Segurança. Jujuba curvou um pouco os lábios em um pequeno sorriso, ao menos alguém pretende me ajudar, deitou-se mais uma vez, os olhos azuis grudados nos negros.

— Sim.


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Notas finais do capítulo

Segundo capítulo que a Jujuba termina dizendo "sim" para a Marcy, será que é o inconsciente dela??



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