I Take My Crown escrita por Cat Lumpy


Capítulo 2
Bela Adormecida na Floresta


Notas iniciais do capítulo

A princesa doce é meio confusa, sério, então não levem alguns pensamentos estranhos, decisões, escolhas, etc. a sério, ela é assim mesmo rsrsrsrsrsrsrs



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/706595/chapter/2

“Quando Bonnibel acordou, percebeu que seu quarto estava em chamas. Ela tentou escapar pela porta, mas um pedaço do teto doce desabou e impediu à única saída do lugar, Jujuba engoliu um grito, mantendo-se racional e pensando rapidamente em uma forma de escapar.”

“Entretanto, após remoer alguns segundos, nos quais a fumaça se intensificou, assim como as línguas de fogo, Jujuba não conseguiu achar outra solução a não ser correr para a janela e gritar por ajuda. Mas o reino parecia vazio, ninguém surgia para socorrê-la. O calor começava a lhe causar tonturas, sua voz foi extinguindo-se em sua garganta conforme sentia seus sentidos fugirem.”

Princesa! Alguém chamou logo ao seu lado, Não se preocupe, irei tira-la daqui sã e salva! Daí, braços fortes e musculosos a pegaram no colo e, sem que Jujuba soubesse como, o seu salvador a tirou do quarto em chamas. Ela olhou seu rosto anguloso de nariz adunco, sobrancelhas grossas e bigode volumoso, era o Príncipe Másculo. Os olhos verdes brilhantes a encaravam preocupados, você está bem princesa?, ele a perguntou a voz grave a causou um arrepio. Ah sim, Jujuba estava mais do que bem, sussurrou um meu herói, e no mesmo instante lábios macios estavam sobre os seus, seu corpo inteiro estremeceu com o choque causado pelo toque. “

“Ela correspondeu com movimentos hesitantes, cada vez mais extasiada com o beijo. Sentia seu corpo firme nos braços musculosos e isso a passava uma maravilhosa sensação de segurança. Então, algo afiado roçou de leve seu lábio inferior e ela abriu os olhos, nem mesmo percebera que os tinha fechado.”

Deparou-se com um rosto encoberto em sombras, uma ventania fria soprou e Jujuba percebeu que não existiam braços ao seu redor, muito menos quarto em chamas. Arregalou os olhos para a figura a sua frente, lembrando-se do que acontecera naquela noite. Tinha fugido do castelo assim que trocara o caro vestido por uma camisa folgada, calças e botas e apanhara uma arma da coleção do pai, se embrenhado na floresta ao lado do reino em busca de um Javali Bufante para provar a Rômulo que era muito mais do que uma princesa indefesa. Deu-se conta de seu deslize: no meio da vigia que fazia na casa do animal, uma caverna, ela acabou pegando no sono.

Jujuba levantou-se de um salto, segurando a besta que descansava ao lado de sua mão e afastando-se da pessoa encapuzada. Puxou uma flecha da aljava que trazia nas costas e a encaixou na arma, mirando o estranho.

— Quem é você? — perguntou tentando esconder seu medo, mas sua voz trêmula lhe traindo.

Embora nervosa, a princesa segurava a besta com mãos firmes, pronta para disparar caso o estranho fizesse qualquer movimento brusco. A figura ergueu as mãos em sinal de rendição. Os olhos de Jujuba se acostumaram à escuridão da noite e ela pôde perceber que a pessoa cobria o corpo com várias capas, o capuz da maior delas tapando completamente o rosto, era impossível saber se era um homem ou uma mulher.

— Responda! — ela alteou a voz, agora mais segura ao saber que o estranho estava desarmado.

Mas tudo o que a figura fez foi um gesto um pouco agitado com uma das mãos. Jujuba o entendeu e ficou irritada.

— Não me mande calar a boca! — sibilou apontando a arma para o peito do estranho — Diga logo quem é ou eu juro que...!

Contudo, ela não terminou sua ameaça, um ronco alto e bestial invadiu a floresta. Jujuba quase largou a besta com o susto que teve. Ela girou a cabeça, procurando a criatura que produzira o som por entre as árvores.

— O Javali Bufante! — ela murmurou ao notar a entrada da caverna quando olhou sobre os ombros do estranho.

Suas entranhas se contorceram em uma mistura de excitação e nervosismo. Só precisaria que aquele animal colocasse os cascos para fora... O abateria e levaria sua cabeça para exibir ao seu pai.

Ela deu um passo à frente, entretanto, parou ao lembrar-se da figura encapuzada bem diante de seus olhos.

— Ahn... Preciso desse Javali. — falou, fitando o lugar onde imaginava existir olhos e apontando a arma novamente para o peito coberto por panos — Então, vai andando! Sai daqui!

O estranho fez um movimento leve com a cabeça, baixando as mãos e se embrenhando na mata. Jujuba esperou que o encapuzado desaparecesse nas sombras. Daí, recomeçou a andar, escondeu-se em um arbusto de frente a caverna e esperou o animal com a besta preparada.

Não demorou muito e outro ronco grotesco saiu da caverna. Este mais baixo do que o último. Jujuba arrepiou-se quando o animal enorme surgiu. Ela engoliu em seco ao ver o grande Javali de pelos negros e presas pontudas e peroladas que refletiam o brilho do luar.

— É agora. — ela sussurrou para si mesma, fazendo pontaria no tórax avantajado do bicho.

Respirou fundo e puxou o gatilho, a flecha disparou, cortando o ar e Jujuba fechou os olhos inconscientemente, incapaz de ver o animal ser atravessado pelo projétil. Encolheu os ombros ao ouvir o guincho do Javali Bufante e abriu um largo sorriso com animação. Estava feito, seu pai iria mudar de ideia quando visse a cabeçorra do animal, teria de admitir que ela não precisava da proteção de homem algum.

Mas então, Jujuba abandonou seu repentino arroubo de felicidade ao abrir os olhos e ver que o Javali sacudia a cabeça, ensandecido, a flecha em seu corpo não penetrara fundo o suficiente para mata-lo. Ele bufava enquanto batia os cascos no chão, arrancando grandes pedaços de terra com grama, e soltou um longo ronco irritado, mirando diretamente o arbusto em que Jujuba se escondia.

Ela paralisou de medo, por alguns longos segundos, o Javali e a princesa simplesmente se encararam, depois, com um guincho agudo, ele disparou em direção a Jujuba. Ela gritou, pondo-se de pé de uma vez, o corpo recuperando a capacidade de se mover, e começando a correr.

Os galhos inoportunos de algumas árvores a arranhavam, ora ou outra vacilava em um desnível de terra e o barulho dos cascos do bicho ecoava cada vez mais alto. Ela sabia que estava perdida, a qualquer momento aquelas presas estariam atravessando seu corpo muito mais fatalmente do que a droga da flecha que lançara no Javali.

Então, por desventura do destino, seu pé se enganchou em uma raiz de árvore e Jujuba foi ao chão, caiu de frente e uma dor terrível espalhou-se por seu tornozelo esquerdo. Ela não conseguiu gritar, estava ocupada demais se amaldiçoando por sua estupidez. Agarrou a besta, preparando outra flecha, virou-se de barriga para cima e não precisou esperar muito para o Javali surgir na escuridão, correndo desvairado em sua direção.

Ela fez pontaria, encarando os olhos raivosos do animal, e, sem hesitar, apertou o gatilho:

— Ahhhhhhhh!...

Seu grito determinado morreu em sua garganta, errara o Javali. A flecha voou graciosamente, perfurando as folhas das árvores e se cravando em um tronco ao longe.

Jujuba pensou em preparar a besta novamente, mas sabia que não daria tempo. O pânico a tomou por completo quando o animal estava a apenas alguns passos de distância. Largou a arma e levantou os braços em frente ao rosto, fechando os olhos e esperando pelo pior.

Seus ouvidos captavam a aproximação do Javali. O barulho de cascos, sua respiração bufante... E então, ao sentir o bafo quente do bicho, uma lembrança aflorou do fundo de sua memória.

“Estava no saguão do castelo, que parecia muito maior. Ela tinha somente nove anos, seu pai andava de um lado para o outro, fitando o chão, irritado. Como sempre, Rômulo estava impecavelmente arrumado, a coroa posta sobre seus cabelos rosa avermelhados refletindo as luzes do majestoso lustre.”

O que deu em você?!, ele gritava com ela, já disse que está proibida de ultrapassar os muros do reino! Está de castigo, não saíra do castelo por uma semana!

Mas Papai, Jujuba exclamou, eu só estava caçando borboletas!

Também quero que copie cem vezes a frase ‘nunca mais serei irresponsável’ em seu caderno.”

Irresponsável. Se tivesse aprendido daquela vez, não estaria prestes a morrer mastigada por um Javali Bufante. Mas então, ela ouviu um farfalhar aos seus pés e o animal soltou um urro alto e estrangulado.

Jujuba abriu os olhos, curiosa, embora ainda atemorizada. E o que viu foi chocante: o Javali não conseguia avançar sobre ela porque aquele estranho encapuzado o segurava por suas presas gigantes. A força que usava para impedir que o animal se movesse era tremenda, seu corpo tremia com o esforço despendido, fazendo as várias capas que usava balançarem; o bicho fazia de tudo para chegar até a princesa, porém, por mais que tentasse sacudir a cabeçorra e batesse os cascos na terra, seu corpanzil suíno simplesmente não saía do lugar.

Jujuba pareceu despertar do choque inicial após alguns segundos, quando ouviu um silvo baixinho escapar pela invisível boca do encapuzado. Ela agarrou a besta e se arrastou até a árvore mais próxima, ignorando a dor aguda em seu tornozelo e, apoiando-se no tronco, ergueu-se precariamente.

— Segure-o só mais um pouco! — gritou, puxando mais uma flecha e a encaixando na besta.

Tão próxima como estava do alvo, que nem ao menos se movia, ela não errou o tiro, a flecha se cravou ao lado da primeira que a princesa atirara. O Javali deu outro guincho, agitando-se mais ainda. O bicho tentou recuar, pensando talvez, que assim se livraria das mãos do estranho, mas não deu certo.

— Mas que raios...! — ela resmungou por o animal continuar vivo.

Então, antes que lhe ocorresse reabastecer a besta, o encapuzado deixou outro silvo baixo escapar e com um movimento brusco que pareceu impossível a Jujuba, fez o Javali tombar. O animal estrebuchou, soltando um guincho que lembrava muito com um choramingo. Uma poça de sangue começou a se formar sob o corpo do suíno que aos poucos foi se acalmando. Até que o Javali parou. Morto. Ao cair, as flechas acabaram perfurando-o fundo o bastante para mata-lo.

Jujuba deslizou pela árvore, sentando-se no chão e soltando um suspiro trêmulo de alívio. Quase partira dessa para a melhor. O coração batia forte contra seu peito e ela arfava loucamente. Entretanto, só foi preciso um minuto para um aperto inconfundível de triunfo tomar seu peito. Tinha o Javali Bufante, o levaria para o seu pai e provaria que...

— Ah, droga! Como vou carregar uma coisa desse tamanho para o castelo? — se indagou baixinho, lançando um olhar à cabeçorra do corpo inerte do animal.

Arrumaria um jeito, então, diria ao seu pai... Seu pensamento foi interrompido. Como poderia dizer ao seu pai que era capaz de se defender sozinha se só tinha o Javali ali, imóvel no chão, graças aquele estranho?! Teve uma vontade irracional de xingar o encapuzado, mas logo essa desapareceu ao lembrar-se que se não fosse ele estaria morta naquele minuto e seu pai só confirmaria sua teoria. Se bem que se o Rei soubesse do que acontecera de fato na floresta, também se firmaria muito mais na imagem indefesa que tinha da filha.

— O-obrigada por ter me salvado. — agradeceu, envergonhada e nem um pouco confortável diante do corpo coberto de capas que acabara de salva-la — E, me desculpe por mais cedo... Mas, você sabe, eu não podia simplesmente confiar em alguém desconhecido que encontrei na floresta à noite.

Silêncio.

— Eu só estava tentando caçar esse bicho, sabe? — falou desnecessariamente, apontando para o Javali, sem jeito.

Novamente nenhuma resposta.

— Será que ao menos posso saber o nome do meu salvador? — Jujuba tentou parecer cortês, dando um sorrisinho nervoso.

O encapuzado continuou calado. Contudo, apontou energeticamente para Jujuba e depois para o Javali. Ela compreendeu os gestos e seu rosto esquentou de raiva e vergonha. O estranho a dava uma silenciosa bronca.

Jujuba pensou em dizer algo, quem ele pensava que era para dar-lhe broncas? Engoliu a sua impertinência, era a pessoa que salvara sua vida. Então, o encapuzado fez um novo gesto, a mão levantada, apontando para os distantes muros do Reino Doce.

— Ah, bem, eu sou de lá. — disse fitando com ar curioso o estranho, por que não falava? Será que tinha algum problema com a voz?

Mais gestos com os braços, firmes e decididos. Primeiro, apontou para Jujuba, depois, para si mesmo e por último, fez a imitação de duas pernas andando com os dedos. A princesa franziu a testa, tentando entendê-lo, e quando conseguiu, se apressou em recusar:

— Não, não precisa, já fez muito por mim! Irei sozinha!

E, ao lembrar-se de seu pai, desviou os olhos para o Javali caído ao chão, seria muito menos penoso carregar somente uma das presas ao invés da cabeça completa. Claro, o mérito de derrotar o bicho não tinha sido inteiramente seu, porém, ponderou, o Rei doce não precisava saber disso... Estaria mentindo, mas era por um bem maior, pensou antes que sua consciência a atacasse.

Daí, nos míseros segundos em que ela retirou os olhos do encapuzado, ele se aproximou. Ela tremeu ao perceber, engolindo em seco e apertando firmemente a arma, entretanto, em menos de um piscar de olhos, a besta tinha sido tomada e atirada atrás de algum arbusto. Antes que Jujuba dissesse algo, o estranho envolveu-a em um abraço incrivelmente apertado e nada carinhoso.

— Espera! Me larga! — gritou tentando se desvencilhar do encapuzado, mas isso foi antes de sentir-se ser içada do chão... — Me põe no chão! — reformulou.

Porém, o encapuzado fingia não ouvi-la.

— Já disse que não precisa! — ela falou entredentes, qual era a daquele estranho? A levando à força pra casa como se fosse um irmão mais velho que acabara de capturar a irmã rebelde que fugira para alguma festa.

Foi ignorada novamente e vendo que não tinha jeito, pediu desesperada:

— Ao menos me deixe pegar uma presa do Javali Bufante! Eu preciso daquela presa!

Mas o corpo do animal já desaparecia de sua visão, tomado pela escuridão da noite aos poucos, conforme se afastavam em direção ao Reino. Tentou se soltar, mesmo sabendo que caso seu corpo escapasse dos braços (espantosamente finos por baixo de vários panos) do encapuzado cairia de uma enorme altura.

Ela não podia desistir, não podia, ou então, tudo aquilo que passara naquela floresta teria sido em vão. Os arranhões, as roupas arruinadas, o tornozelo torcido, sua quase morte... Tudo para voltar de mãos vazias!

Contudo, o estranho não a deixara recolher uma presa do Javali e não a largava de jeito nenhum. Se esforçou para aceitar o fracasso, mas era difícil engoli-lo. Sentiu raiva do encapuzado, que se intensificou ao lembrar-se que o mesmo salvara-a do animal feroz na floresta. Jujuba detestou o fato de não ter o direito de detesta-lo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí? Algum comentário?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "I Take My Crown" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.