I Take My Crown escrita por Cat Lumpy


Capítulo 15
O Diário Põe a Prova (Parte 01)


Notas iniciais do capítulo

Demorei (demorei demais!) , mas estou de volta! Acreditem, passei quatro meses arranjando o desfecho de toda a fic, e, finalmente, agora sei exatamente como as coisas iram terminar! Não que esteja perto do fim XD!
Esse capítulo (e a parte 02, que será postada em breve, prometo), foi difícil de escrever, HARD!
Porém, agora ele está a disposição de vcs, aproveitem!



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Eu poderia dizer que esta foi uma noite de sorte, não só minha escapada foi um sucesso como também encontrei um novo objeto de estudos. Após ser proibida de abandonar o Reino Doce – encontrei ladrões bem violentos da última vez, e isso preocupou meus pais – eu estava particularmente sedenta por uma pequena fuga. Graças a Betty, estávamos nesse barzinho na Noitosfera. Na Noitosfera! O que meu noivo pensaria de mim se descobrisse? Enfim, é a minha amiga que dou o crédito por me apresentar ao meu objeto de estudos recém-adquirido: Marceline Abadeer, a Rainha dos Vampiros. Como Betty conhecia uma vampira? Não tenho a mínima ideia, só sei que já estou fascinada!

A raça vampírica é um tema muito explorado no campo científico e literário. Contudo, Marceline não combinava com os estereótipos dos meus livros... Eu teria ficado decepcionada se não estivesse animada para descobrir por mim mesma os mistérios da minha nova amiga. Betty me ajudou a conseguir convencer Marceline a participar de alguns testes em meu laboratório na próxima semana. Mal posso esperar para apresentá-la aos meus pais... Eles vão pirar!

Diário de Pesquisas, pág. 20

***

Guy se ajustou pela décima vez na moita, os olhos grudados no Guarda Banana. Ele soltou um suspiro irritado quando a fruta tropeçou nos próprios pés e foi ao chão. O cavalheiro fechou as mãos em punhos, só faltava alguém pôr uma risada no fundo da cena para completar o papel de palhaço do guarda. Ou melhor dizendo, dos guardas. Guy estava começando a duvidar que o Reino Doce fosse mesmo o mais forte e bem estruturado.

— Com esse nível de segurança qualquer um...

— Não se precipite em seus pensamentos Guy.

O cavalheiro virou-se rapidamente em direção da voz; tão rápido que acabou perdendo o equilíbrio e metendo a cara contra a grama verde, sua testa se encontrando com o bico de uma bota bem lustrada. Ele ergueu-se apressado e se ajoelhou diante da figura, as bochechas coradas.

Uma plateia imaginária deu gargalhadas

Marceline estava usando sua capa para se proteger contra o sol. Era impossível ver seu rosto, contudo, Guy podia sentir que a vampira não estava de bom humor. Ele abriu a boca para cumprimentá-la, mas ela ergueu uma mão enluvada e pousou o dedo indicador contra os lábios do cavalheiro, mantendo-o calado. Foi como se esse simples toque resumisse toda a impaciência de Marceline, e mesmo que isso não bastasse para deixar Guy tenso, a autoridade com que a vampira lhe falou o fez segurar a respiração:

— Acha que esses Bananas são os únicos protegendo o Reino Doce? — Ela segurou o queixo do cavalheiro e virou seu rosto para a direita — Diga-me o que vê.

— Um prédio — ele respondeu, a atenção presa em uma gigante máquina de chiclete na extremidade do muro doce.

O suposto prédio mexeu um pouco e Guy viu um rosto no globo de vidro da máquina.

— O que é aquilo? — o cavalheiro sussurrou, intrigado.

— Um dos Guardiões de Chiclete. — Marceline soltou-o, a tensão evaporando a cada palavra dita — Ele sozinho poderia destruir um exército inteiro.

Houve alguns instantes nos quais os dois admiraram a máquina colossal. Cada um absorto em pensamentos distintos: Guy imaginando como seria proveitoso possuir um desses na entrada da Noitosfera, lembrando-se de como o Cérbero que guardava o reino conseguia ser terrivelmente desagradável para qualquer um que se aproximasse; já Marceline não fazia nada além de recordar delas. Na verdade, praticamente tudo no Reino Doce parecia ter a assinatura das duas.

— Guy — a vampira disse em um tom afável, quebrando o silêncio — Você já provou várias vezes sua lealdade à Coroa da Noitosfera...

Pego de surpresa pela abrupta mudança de assunto e humor de Marceline, ele encarou o local onde os intensos olhos negros escondiam-se. Guy não esperava ouvir um elogio, ainda mais enquanto cumpria seu castigo (ele tinha certeza de que a vampira não desconfiava daquele guarda!).

— Contudo...

O cavalheiro quase sorriu amargo. No final das contas a vampira não iria aplaudi-lo. Talvez ela estivesse a caminho de realizar o completo oposto. Guy já tinha servido os Abadeer tempo suficiente para saber como eles gostavam de fazer esse tipo de coisa.

— Quero ouvir em voz alta.

— Desculpe-me? — Ele franziu as sobrancelhas, não seguindo o pedido.

— Jure sua lealdade perante mim — ela explicou, simples.

Guy ficou mudo, a confusão se evidenciando em seu rosto. Ele inclinou um pouco a cabeça, como um cachorrinho ao não compreender a ordem do dono. Ele já tinha jurado sua lealdade como cavalheiro, então por que Marceline faria tal pedido? Guy ficou tão distraído tentando responder essa pergunta que só chegou a reparar que a vampira tinha se ajoelhado, ficando na mesma posição que ele, quando o belo rosto dela estava cara a cara com o seu.

O cavalheiro engoliu em seco, desviando o olhar para o gramado ao sentir suas bochechas esquentarem. Ele teve um forte impulso de beijar Marceline quando ela se aproximou mais, a respiração encontrando-se com a sua. E ao mesmo tempo considerou afastar-se. Guy ficou paralisado entre as duas possibilidades: a primeira era tentadora, contudo, um alerta brilhava no fundo de sua consciência, procurando livrá-lo do incomum desejo, o avisando de que devia manter distância da Rainha.

— Você é fiel a mim, somente a mim?

Os lábios cheios sopraram a frase a centímetros dos do cavalheiro; ele estremeceu, começando a entrar em um torpor ainda mais denso, seus pensamentos infiltrando-se em uma névoa, perdendo-se.

— Claro que sou — murmurou.

— Posso confiar cegamente em você, Guy?

— Eu andaria sobre fogo pela senhorita! — ele bradou, erguendo-se rapidamente.

Foi como se seu cérebro explodisse dentro de seu crânio, a consciência retornando como um raio. Com a respiração agitada, Guy não pôde conter o ultraje ao descobrir que a vampira duvidava de sua lealdade ao ponto de seduzi-lo para conferir suas intenções. Bem, certo que ele tinha desobedecido a uma ordem, mas isto tinha sido por ela!

— N-não é necessário me instigar com feitiço algum para que eu responda suas perguntas Majestade — adicionou, controlando seu tom, se falasse um pouco mais alto até mesmo aqueles palhaços bananas o descobririam.

Para seu espanto, Marceline não se irritou com sua reclamação, muito pelo contrário. Ela se levantou vagarosamente, uma pequena risada escapando debaixo do capuz.

— Desculpe-me por meus métodos de extrair informações.

Ele apenas deu um aceno quase imperceptível com a cabeça, não conseguindo encarar a vampira.

— Muito bem, já que você estaria disposto a ganhar umas queimaduras por mim, eu tenho novas ordens, meu cavalheiro, e dessa vez elas são sérias.

Guy deixou o queixo cair, então ela estava mesmo o castigando com a história de vigiar o guarda suspeito!

— Quero que reúna os Candys em um só lugar, todos, exceto meu irmão, ele está fazendo companhia a Bonnie.

— Isso inclui a mim também? — ele indagou, embora, em sua cabeça a real pergunta que queria fazer envolvesse o apelido da Princesa Doce.

— Sim, afinal, se estou disposta a confiar naqueles desmiolados, suponho que seria um insulto não confiar a você a verdade.

— Verdade...?

Marceline ignorou a pergunta implícita.

— Vamos entrar, não precisa mais se torturar vigiando esse guarda. — Ela viu Guy abrir a boca para questioná-la novamente, então: — Diga-me, como conseguiu resistir?

E Guy se desconectou completamente do fio da meada, o rosto pegando fogo com a dúvida da vampira.

— Se... — Ele pigarreou, criando coragem — Se me permite ser franco, eu só posso dizer que estava bom demais para ser verdade.

O cavalheiro esticou a boca em um sorriso embaraçado. Marceline o fitou, parecendo digerir a explicação. No fim, quando Guy a ofereceu o braço para caminharem o curto percurso até o castelo, a vampira o aceitou, inclinou-se e depositou um leve beijo na bochecha que antes sua mão tinha agraciado com uma tapa.

— Um presente por sua resistência — ela esclareceu, séria, quando o cavalheiro a indagou com o olhar.

***

Marceline tem cooperado maravilhosamente bem, embora ela receei em responder algumas perguntas de vez em quando, diz que eu estou “invadindo sua privacidade”, estou rindo até agora de sua expressão indignada quando tentei descobrir se ela já tinha mordido alguém. Betty está sendo mais bem sucedida quando o assunto é arrancar esse tipo de informação de Marceline, ela sempre teve essa habilidade de fazer as pessoas soltarem a língua sem querer.

Em um de seus interrogatórios, minha amiga descobriu que sim, Marceline já tinha mordido pessoas, mas que não tinha as infectado. Ela explicou que para transformar outra pessoa em vampiro, é preciso infiltrar o sangue contaminado em sua corrente sanguínea. E, Betty e eu já fizemos a vampira desaparecer de vergonha graças a essa (literalmente): os vampiros tem o costume de seduzir pessoas, transformando-as em seus amantes para terem o acesso a seu sangue.

Daí vem à necessidade do charme vampiro, uma capacidade da raça de produzir hormônios específicos de acordo com o alvo desejado e expeli-los abundantemente, assim, mesmo que o infectado não tenha muitos atributos físicos, ele é capaz de manipular facilmente uma vítima através de seu instinto mais primitivo. Perguntamos a Marceline se ela tinha um harém de estoque.

Através de uma simples experiência que será descrevida em detalhes na próxima página – envolvendo Marceline, um cara ridiculamente bonito e comprometido – comprovamos que o charme é tão eficiente quanto às mães casamenteiras em épocas de festas. Além disso, Marceline ainda revelou que é mortal para um vampiro se alimentar do sangue de outro. Não podemos testar se isso era verdade.

Obs.: uma vez sob o charme, a vítima se torna imune ao ataque hormonal de outro vampiro.

Diário de Pesquisas, pág. 25

***

Jujuba não conseguia evocar muitas memórias quando o assunto envolvia a mulher no quadro a sua frente, normalmente, só lembrava-se das coloridas flores do jardim e de uma risada agradável.

Aurora fitava Bonnibel placidamente de seu prestigiado local sobre a lareira, os olhos castanhos revelando uma inteligência que a filha tinha puxado. A pele cor de creme tinha um aspecto suave na pintura, combinando com os cabelos rosados presos em uma trança elaborada. Sua mãe segurava um livro diminuto, que descansava contra o peito modesto (Jujuba também tinha herdado isso, para seu desgosto).

Não importava quantos outros quadros de parentes habitavam a sala, qualquer um que entrasse ali seria imediatamente atraído para a imagem de Aurora, a Rainha Doce que morreu de forma súbita e misteriosa. Seu pai nunca chegou a explicar a Bonnibel o que tinha acontecido realmente, disse-lhe apenas que ocorrera um acidente durante um de seus experimentos. Jujuba tinha três anos quando perdeu a mãe.

E, depois de nunca ter conseguido extrair informações de Rômulo, ou dos criados mais velhos, Jujuba se encontrava com, talvez, o diário que continha todas as respostas. Ela nem chegou a dar atenção a Marshall quando o mesmo se formou ao seu lado e fez um comentário qualquer sobre o abraço que ela compartilhara com Finn minutos antes. Muito menos quando ele se banhou com o brilho do sol que entrava pela única e grande janela da sala.

Seus olhos azuis brilhavam febris enquanto ela relia várias vezes a assinatura de Aurora no diário. Em sua excitação, ela tinha folheado as páginas a esmo, vendo as folhas riscadas de tinta. Ela repetiu o gesto algumas vezes, segurando a respiração por alguns segundos, depois ofegava quando o pensamento se exibia no centro de sua mente:

Tudo pode estar aqui!

Depois de um tempo admirando a caligrafia de sua falecida mãe, ela segurou o diário aberto em uma página qualquer, engolindo em seco. A empolgação se transformando em ansiedade. Será que queria mesmo saber?

Uma discussão se iniciou na cabeça de Jujuba:

É óbvio que eu quero!

Mas se papai não me contou foi por um motivo...

Do mesmo jeito que ele arrumou uma desculpa para me transformar no prêmio de um Concurso idiota!

E se for algo traumatizante?!

Eu não sou nenhuma criancinha para me impressionar facilmente.

Eu estou prestes a ler sobre o que pode ter causado a morte da mamãe! Essa simples ideia já é aterrorizante o bastante!

— Princesa? — Marshall pôs uma mão sobre seu ombro.

Ela se sobressaltou como um gatinho assustado ao ouvir a voz do vampiro e sentir seu toque, tinha esquecido que não estava sozinha. Nenhuma criancinha impressionável, huh?

— Sim? — Jujuba desenhou um sorriso superficial.

— Nada, só que você está a tanto tempo encarando esse diário que... — Ele baixou os olhos para o dito cujo.

Marshall arfou logo em seguida, um brilho gaiato e um sorriso malicioso tomando suas feições. Curiosa, Bonnibel seguiu seu olhar. O coração saltou em seu peito e seu rosto pegou fogo. Ela seguiu cada linha do desenho, afogando-se na imagem de tirar o fôlego. Seus olhos dardejaram a palavra acima da figura: anatomia.

Jujuba fechou o diário com toda a força e uma Marceline nua, deitada sobre um divã, se instalou em sua mente, a expressão indiferente, quase entediada, a encarando, bagunçando seus sentidos (é a mim que você deseja, Bonnie). Sentiu os olhos de seus vários parentes de tinta sobre si, dando-lhe arrepios por todo o corpo. Ela fixou-se na figura de sua mãe, a boca aberta em descrença.

— E pensar que a delicada Princesa Bubblegum estaria interessada nesse tipo de coisa!

— Eu não estava...! Eu não...! Por Glob! — ela procurou explicar, mas a vergonha escondia seu raciocínio.

O vampiro ao seu lado riu com vontade, dobrando-se enquanto segurava a barriga, lágrimas escorrendo por suas bochechas.

— Calado! — Bonnibel ordenou como uma garotinha nervosa, batendo o pé no chão.

Marshall demorou exatos três minutos para se acalmar, nesse meio tempo, Jujuba se ocupou em esconder seu rosto nas mãos, desabando em uma poltrona dourada em frente a lareira e deixando o diário descansar em seu colo.

— Ah, acho que eu preciso te agradecer Bonnibel, fazia um bom tempo que eu não me divertia tanto. — Ele sentou-se no apoio de braço da poltrona, secando o rosto e recuperando a respiração.

— E eu acho difícil acreditar em você! — Jujuba baixou as mãos e o fitou com uma fúria vingativa — Não andou dando uns amassos no meu primo durante sua estadia no castelo?!

Ela apreciou o desconcerto que tomou Marshall, se deleitando com a sensação de vê-lo sofrer com a falta de palavras. Sinta a dor que eu senti!

Entretanto, para a infelicidade de Jujuba, o vampiro se recuperou mais rápido do que o esperado e ainda teve forças para rebater a provocação:

— Sim, claro que sim, não consigo me segurar quando Gumball está por perto, sempre acabo me agarrando com ele em algum quarto empoeirado, tipo você e minha irmã.

Bonnibel arfou, pronta para contra argumentar, porém, Marshall conseguiu calá-la ao adicionar:

— Ao menos eu não fico o desenhando nu em meu diário.

A única coisa que Jujuba pôde fazer foi grunhir (ARGH!) e virar o rosto. Uma grossa camada de silêncio se derramou sobre os dois. Ela queria ter alguma coisa para dizer, para espantar o desconforto que a envolvia, contudo, a questão que aquele desenho de Marceline levantou em sua cabeça a deixava muda. E se sua mãe... Não, não, não, Bonnibel Bubblegum, simplesmente não pense nisso!

— Então, qual é mesmo a do diário? — Marshall pegou o objeto do colo de Jujuba e o avaliou.

— Era de minha mãe — ela disse baixinho, uma clara inveja tomando seus olhos quando os apontou para o vampiro — Você certamente lembra-se dela.

— Ah, sim, isso explica o desenho — Marshall a encarou, um sorriso se insinuando em seus lábios — Você é muito parecida com ela, sabia? Até mesmo sua voz, e seu interesse por Marcy, embora o de Aurora não passasse do campo científico.

Se Jujuba ainda estava com raiva de Marshall por suas provocações, o perdoou assim que o ouviu.

— Eu poderia beijá-lo agora!

— E eu poderia retribuir se não fosse gay e não estivesse apaixonado por seu primo.

Bonnibel gargalhou. Sua risada preenchendo toda a sala, seus ancestrais a desaprovariam por tal comportamento em frente a um Rei, mas mesmo estando rodeada pelos fantasmas de tinta, Jujuba riu como se tivesse ouvido a piada mais engraçada do mundo.

Então sua atenção se voltou para o diário nas mãos de Marshall e toda a graça desapareceu.

— Vo-você por acaso sabe... ?

O vampiro precisou de um tempo para entender que o momento descontraído tinha se tornado pesado. E quando compreendeu ao que Jujuba se referia, ele soltou com genuína surpresa:

Você não sabe o que aconteceu?!

— Bem, meu pai só me disse que foi um terrível acidente durante um de seus experimentos — ela murmurou.

— Isso é mais do que eu tinha conhecimento. — Marshall arqueou as sobrancelhas, depois acrescentou sério: — Sinto muito.

Bonnibel ficou dividida entre aliviada e desapontada ao ouvir o comentário do vampiro. Seria muito mais fácil se ele pudesse a esclarecer o que acontecera com Aurora, mas ao mesmo tempo explodiria se descobrisse que Marshall sabia disso e ela não.

Ah, eu nunca mais falaria com papai.

— Era por isso que estava tão focada nesse diário?

Jujuba fez um pequeno aceno, tomando o objeto de Marshall e o segurando contra o peito.

— Por que não tenta perguntar a Marcy?

Ah sim, Marceline Abadeer, a mulher que gostava de guardar segredos. Bonnibel estava com raiva dela, na verdade, ela estava mais frustrada por seu pai nunca a ter contado o que realmente aconteceu, assim como todos os outros de quem procurou arrancar a resposta.

 A vampira só teve o azar de ser a pessoa a pisar sem querer nessa mina de ressentimentos ao não informá-la sobre sua relação com Aurora. E, claro, Bonnibel tendia a ser ilógica quando o nome Marceline estava envolvido.

— Eu vou fazer isso... —Jujuba retorquiu, espremendo os olhos.

Sem pressa, ela abriu o diário no capítulo onde havia encontrado o desenho de Marceline, pronta para lê-lo. O título em si a fez ter um prazer sádico:

Dissecando a Rainha dos Vampiros

— Há alguma chance de me deparar com um nu artístico seu também? — Jujuba indagou, a fim de estar preparada caso tivesse que encarar um desenho do vampiro.

— Não, não, Aurora só me exigia sangue mesmo — Marshall a garantiu, sacudindo os ombros e dando uma leve risada.

***

Marshall Abadeer, esse é o nome do Rei dos Vampiros, Marcy teve a gentileza de me apresentá-lo hoje. Marceline em si já é fascinante, uma vez que ela é a criatura mais mestiça que já encontrei em toda a minha vida (humana, demônia e vampira), contudo, seu meio-irmão tem uma peculiaridade que o deixa acima de qualquer habilidade que Marceline possa ter.

Enquanto a Rainha possui uma vasta lista de poderes invejáveis que diferem dos seus súditos – e cuja origem ainda me é desconhecida –, Marshall é imune aos efeitos do sol. Isso mesmo! Ele é um vampiro que não vira cinzas ao sair à luz do dia! Infelizmente, Betty estava ocupada com a organização do casamento hoje e não teve a oportunidade de conhecer essa raridade.

Diferente de Marceline, Marshall não se importou em responder todas as minhas perguntas, além de me oferecer uma amostra de seu sangue para estudo. Ele é um cavalheiro simpático, sem dúvida. Graças a sua contribuição, descobri que para conseguir um título vampírico, é necessário derrotar o atual dono do mesmo, um método arcaico, em minha opinião.

Mas quem sou eu para questionar tradições; estou de casamento marcado com alguém que eu conheço há somente um mês! Não que Rômulo não seja uma boa pessoa, é só que... Eu deveria estudá-lo, nunca vi alguém tão rígido! Marcy e Betty o chamam de quadradão. Que vergonha!

Diário de Pesquisas, pág. 28

***

— A primeira prova é amanhã — Marceline lembrou.

Gumball inspirou fundo, aumentando o passo para acompanhar a vampira pelos corredores sujos do lado sudoeste do castelo.

— Eu sei que está preocupado com meu irmão. — Ela parou, e Chiclete quase barroou nela. — O que é irônico, uma vez que você foi o único a ajudá-lo a entrar nessa confusão.

Ele suspirou, embolando as mãos e olhando para cada canto escuro e imundo, evitando o rosto radiante da Rainha. Tinha sido um dia cansativo, fora obrigado a passar horas ao lado de Simon, ouvindo suas histórias nojentas envolvendo dinheiro e injustiças; ou seja, Gumball não estava nos melhores dos humores, e, de fato, o perigo que seu namorado corria era 90% culpado de seu estresse. Marceline esfregar em sua cara que ele tinha sujeitado Marshall ao Concurso, era a gota d’água.

— Marcy, o que deu em você hoje à tarde? — Ele finalmente a fitou, os ombros para trás e o queixo erguido.

Teve um breve silêncio, no qual os olhos negros viajaram dos azuis desafiantes até as mãos trêmulas de Gumball.

— Meu adorado cunhado, poderia ser um pouco mais especifico? — ela indagou, e seu tom não deixava duvidas:

Para seu próprio bem, não seja...

E, mesmo assim, Chiclete abandonou seu receio e esclareceu:

— O-o diário de minha tia, o mesmo que pretendíamos entregar a Bonnibel pelo bem do plano — Ele umedeceu os lábios — Por que quase a impediu de ficar com o diário que pode salvar toda Ooo?

— Essa é uma ótima pergunta, Gumball. Olha, que tal fazermos uma troca, eu satisfaço essa sua duvida e você essa: — Pausa. — O que seu tio diria se soubesse que anda dormindo com meu irmão?

Chiclete congelou, a boca aberta. Demorou alguns instantes para ele se recompor e retorquir com audácia:

— E o que o seu pai diria se soubesse que prefere brincar com garotas?!

— Acho que ele aprovaria, sempre fui a filha favorita — Marceline respondeu, cruel.

Gumball fez uma careta, desgostoso com a intragável realidade.

— Isso não é justo! — reclamou, a voz trêmula.

— O quê? O fato de Marshall ter sido expulso do trono por sua causa? Eu também não acho. — Ela voltou a andar, suas palavras dançando maldosas pelo corredor vazio — Sabe o que também não é justo? Eu estar tentando salvar a droga do mundo e ainda ter de lidar com desaforos vindos de você, logo de todas as pessoas.

Gumball sentiu vontade de gritar, de insultar Marceline, mas engoliu seu resto de orgulho e baixou a cabeça, recomeçando a segui-la. No final das contas, ela estava certa. Quem era ele para questionar sua autoridade fazendo perguntas impertinentes? Logo ele, aquele que a tinha forçado a tomar conta de todo um reino, aquele que a tinha afastado de seu irmão. Não estava em seu direito julgar qualquer que fosse o comportamento de Marceline, não quando ela já tinha sacrificado tanto por sua felicidade.

Não demorou até entrarem na Sala de Reuniões e se depararem com as tapeçarias mal cuidadas. Gumball se dirigiu a janela suja e escura, evitando se aproximar da cunhada o máximo possível. Ele fora um tolo ao confrontá-la, estava bastante claro que a Rainha não estava com muita paciência. Pelo canto do olho, Chiclete a observou retirar a capa negra e descartá-la em uma das poltronas empoeiradas, revelando uma blusa branca de linho e uma calça de malha preta. A roupa não deixava espaço para imaginação.

Ele prendeu a respiração, mordeu a língua, fincou as unhas nas palmas das mãos, mas, no final das contas, não conseguiu se segurar:

— Marcy, o que está vestindo?!

Ela o lançou um olhar...

— Estou cansada de usar vestidos, algum problema com isso?

— N-não, é só que...

— Gummy, poderia me dar um tempo? — A vampira suspirou, sentando na poltrona com a capa.

Ela pousou os cotovelos nos joelhos e baixou a cabeça, a tensão em seus ombros estreitos se evidenciando no ato. A blusa quase se confundia com a palidez de sua pele. Era impressão de Chiclete ou Marceline estava mais pálida do que nunca?

Gumball corou. Um, dois. E ele estava se jogando em direção a Marceline, os braços a envolvendo. Não conseguia ficar de mal por muito tempo, e nem queria.

— Sinto muito — sussurrou — Só que essa ansiedade está me matando, e eu estava descontando meu estresse e...

— Eu sei, eu sei. — Ela deu palmadinhas em suas costas — Me desculpe por te fazer o mesmo. Eu estou contente por você ser meu cunhado e... Meu pai com certeza me expulsaria também se soubesse.

Hem, hem — alguém pigarreou da porta — Estou atrapalhando algo?

Gumball saltou, afastando-se de Marceline. Marshall cruzou os braços, procurando parecer zangado, mas falhando. Logo atrás dele, Jujuba fitava Marceline como se quisesse enforcá-la.


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Notas finais do capítulo

Até a parte 02 o/



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