I Take My Crown escrita por Cat Lumpy


Capítulo 14
Pedaços


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, sorry pela demora! A vdd é que esse cap me deu muito trabalho!
Segundo, quero agradecer pelos comentários lindus *-*
Só um aviso, o negócio pode ser confuso, pois as partes estão em sua maioria, fora da ordem cronológica.
Qualquer erro por favor avisem (meu teclado está nas últimas)



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“Nerd Attack”

Aquela tinha sido uma forma inusitada de começar sua manhã. Jujuba nunca imaginaria que seria capaz de se atirar daquele jeito em Marceline, mas não deveria ficar surpresa, afinal, já estava quase se acostumando com aquela loucura inexplicável que a tomava toda vez que estava perto da vampira. Não fazia nem uma semana que se conheciam, porém, perdera o controle ao ponto de quase se entregar completamente a ela.

Então, digamos que Jujuba estava tendo dificuldades em encarar a vampira que continuava em seu quarto, sentada na mesma poltrona. Bem, Jujuba não podia vê-la, pois Marceline se manteve invisível desde que quase foram pegas por Menta, mas ela sentia o olhar da vampira sobre si enquanto tentava vestir-se sem a ajuda de suas servas (o próprio mordomo as despachara ao fugir).

Claro que Jujuba não conseguiria se arrumar sozinha, porque isso era praticamente impossível quando seu objetivo era pôr um daqueles vestidos detestáveis. Ela lutou com o tecido por alguns instantes, não sabendo se ficava irritada com quem tinha projetado a peça ou se ficava envergonhada de estar passando aquele sufoco na frente de Marceline.

— Quer ajuda?

Antes dela responder, as mãos da vampira já passeavam por suas costas nuas, parando na abertura do vestido e, por fim, começando a fechar a peça sem dificuldade alguma. Ela prendeu a respiração tanto para facilitar o trabalho de Marceline quanto pelo toque inesperado. Tentou se distrair olhando seu reflexo no espelho de corpo inteiro a sua frente, mas tudo o que conseguiu foi esbarrar com a imagem da vampira, que finalmente tinha ficado visível. Já pressentia que iria fazer alguma idiotice, como das outras vezes, contudo, se pegou perguntando:

— Por que posso ver seu reflexo?

Marceline deu um sorrisinho ao fazer um laço na fita do vestido, fantasiando que embrulhava um belo presente para si mesma.

— E por que não poderia vê-lo? — Fitou a Jujuba do espelho.

— Você sabe, todos os livros sobre vampiros alegam que nenhum ser contaminado pela maldição tem um reflexo ou pode andar sob o sol e...

— Que somos mortos-vivos que temem alho e um crucifixo — completou alargando o sorriso.

Jujuba girou, ficando de frente para a vampira, o cenho franzido.

— É tudo mentira?

— Não tudo. Veja, não suporto o sol, mas continuo viva, com sangue correndo em minhas veias. A única diferença entre mim e um mortal é a substância escura que um vampiro infiltrou em meu corpo ao me morder.

Jujuba, sendo tomada pela curiosidade, segurou o rosto de Marceline, levantando o lábio superior dela com os polegares e olhando as presas bem de perto, como se estivesse examinando os dentes de um cachorrinho.

— E como funciona? A substância é expelida pelas presas como o veneno de uma cobra?

Jujuba só percebeu o que estava fazendo quando a vampira segurou seus pulsos e a forçou a largar suas bochechas; claramente irritada, Marceline a soltou de forma brusca.

— Sinto desapontá-la, mas não posso responder sua pergunta, não sei como o mecanismo de contaminação funciona, pois nunca cheguei a transformar outro ser vivo nisso — apontou para si mesma ao enfatizar a palavra.

— D-desculpe-me! — Jujuba recuou um passo, horrorizada consigo mesma — Eu realmente sinto muito por ter... Eu fiquei um pouco animada demais com todas essas informações novas.

Droga! Eu poderia ter parado na primeira pergunta, mas não, eu tinha que ativar esse instinto nerd dentro de mim e estragar tudo!

Marceline inspirou fundo. Depois, soltou o ar devagar, como se estivesse se tranquilizando.

— Não precisa se desculpar. — Pegou uma das mãos enluvadas de Jujuba — É que esse é um assunto que eu não gosto de discutir.

Jujuba segurou um suspiro de alívio. Ótimo, ela não está com raiva. Sabia o que não queria de presente de aniversário: uma tapa da vampira. Entretanto, parte de sua mente se prendeu as informações recebidas. Como Marceline podia ser a Rainha dos vampiros se nunca tinha ajudado a espalhar a maldição?

Depois de pentear os cabelos e deixar que Marceline os arrumasse em um coque elaborado (quem diria que uma Rainha saberia fazer o trabalho de uma serva), Jujuba se viu "sozinha" descendo as escadas para tomar o café-da-manhã. Ela não deveria estar se dirigindo ao salão de refeições naquela manhã de domingo, dia em que costumava comer no quarto, mas, como o mordomo Menta bem sabia, aquela não era uma típica manhã de domingo.

Jujuba engoliu em seco ao lembrar do doce completamente encabulado, ele tinha dado meia volta em um piscar de olhos e desaparecido, levando consigo a bandeja com o café-da-manhã dela. Como iria encarar Menta depois daquele incidente? Jujuba sentia o rosto esquentar ao recordar do acontecido. Será que vou conseguir pensar em outra coisa hoje além de...?

— Bonnibel?

Jujuba virou o rosto, as sobrancelhas erguidas. A cabeça de Flame surgiu em uma brecha de uma das portas do salão de refeições.

— Sim? — perguntou sem se preocupar em disfarçar seu desgosto ao vê-lo.

— Nós a estamos esperando há uns dez minutos para o café-da-manhã.

Jujuba franziu as sobrancelhas.

— E quem são "nós"? — Apertou os olhos.

Flame deu uma risadinha, deixando um sorriso torto alargando os lábios ao falar:

— Como sempre bem humorada!

Vou socá-lo bem no meio desse focinho empinado!

— Então, vai ou não responder minha pergunta? — Se Flame não fosse uma chama viva, congelaria com o tom da Princesa.

Contudo, com aquela disposição que só pessoas convencidas tem, o Príncipe manteve o sorriso, ignorando o azul gélido dos olhos de Jujuba, que o diziam com letras garrafais: desapareça!

— Nós Candys fomos informados pelo mordomo que a senhorita nos daria o prazer de sua companhia esta manhã — disse, dando um ar debochado ao pronome de tratamento.

...

“My Wish”

Ah, Princesa..., alguém murmurou em seu ouvido, Jujuba sentiu o corpo inteiro se arrepiar com o timbre da voz.

Algo macio pressionava seus seios e mãos atrevidas brincavam de esconde-esconde entre cada curva de seu corpo. Príncipe Másculo! Pensei que tivesse se esquecido de mim!

Nunca! A palavra saiu abafada, pois agora os lábios quentes pressionavam o seu pescoço. Jujuba suspirou, jogando a cabeça para trás.

Eu senti sua falta, senti tanto... Ela confessou, aspirando o perfume doce de seus cabelos e enfiando os dedos nos mesmos. Oh, eu estava tão...

Espera...

Seu perfume doce? Da última vez que nos encontramos, tenho certeza de que você usava uma colônia mais, como eu posso dizer, máscula?

Princesa, a boca deixou seu pescoço, Princesa, abra os olhos, quero que olhe para mim.

Jujuba obedeceu; demorou um pouco para se acostumar com a escuridão costumeira de todos os seus sonhos, achando tudo muito normal. Até que se deparou com um par de pupilas negras.

Ai Meu Glob! Gritou, percorrendo os olhos por cada canto do rosto familiar. Marcy! O que está fazendo aqui?! Onde está meu príncipe?!

Jujuba tremeu com a risada que a vampira soltou.

Por que está tão surpresa? É a mim que você deseja, Bonnie...

...

“Who?!”

Jujuba acordou, dando de cara com o rosto de Finn. Ela recuou tão depressa que quase caiu da cadeira. Demoraram exatos cinco segundos para que Jujuba se desse conta de que estava na mesa do café-da-manhã e que, sem dúvida alguma, cochilara enquanto ouvia os Candys conversarem sobre bobagens.

— Está tudo bem? —Finn perguntou.

— Ah, eu estou um pouco cansada, me desculpem — se dirigiu ao cavaleiro, que só fez um gesto de cabeça e desviou a atenção para seu prato.

E estava mesmo, há uma hora apenas o mordomo que a conhecia desde criança pensava a ter flagrado se tocando. E, como se sentir envergonhada cansa meus nervos!

— Não precisa se desculpar, nós estávamos... Hã... Comentando o q-quanto à senhorita fica fofa dormindo — Braco disse, atraindo a atenção da princesa.

Ele corou violentamente quando seu olhar se encontrou com o de Jujuba e, por isso, resolveu tomar uns bons goles de seu chá. Marshall, que estava sentado ao lado do Príncipe Café-da-manhã, revirou os olhos enquanto balançava a cabeça e abria um grande sorriso. Então, ela percebeu que tinha algo errado. Todos pareciam evitar seus olhos, até mesmo Flame, defronte a ela, aparentava desconforto.

— Ninguém vai perguntar? — o Príncipe Caroço questionou de seu lugar, ao lado do Rei de Ooo.

Perguntar o que? Jujuba ergueu as sobrancelhas, curiosa.

Daí, Finn resolveu devorar sua torrada, Braco começou a se empanturrar com os pãezinhos doces, William se escondeu atrás de sua xícara de café, Guy se dedicou a enfiar o máximo de ovos mexidos na boca, Flame se ocupou com o bacon e Marshall decidiu que aquele era um bom momento para dar uma demorada olhada nas unhas.

— Ok, eu faço. — Lumpy suspirou, tomou um gole de seu chá e: — Quem é Príncipe Másculo?

Jujuba congelou. Error 404. Por favor, recarregue a página. Carregando...

...

— Por que estão me perguntando isso?

Jujuba já tinha uma ideia da resposta. Uma bem horrível e dilacerante ideia.

— Bem... Você não parava de chamá-lo... — Marshall falou, segurando-se ao máximo para não soltar uma gargalhada.

Jujuba se levantou de uma vez, a respiração ofegante, o rosto tão vermelho quanto o vestido que usava. Já tinha tomado uma decisão, que era: já basta pra mim!

— Se me dão licença!

Assim, sem dar nem ao menos uma pista aos Candys sobre quem era o tal príncipe, Jujuba retirou-se do salão.

...

"The Gift"

— Princesa Bubblegum?

Jujuba se virou irritada, será que não teria paz aquele dia? Ao ver quem a tinha chamado, seu mal humor duplicou.

— O que foi?!

O Rei de Ooo se aproximou, as mãos escondidas atrás das costas. Estavam em um corredor que levava ao sul do castelo, que não era muito usado. Jujuba só lembrou-se desse fato quando William ficou de frente a ela. Para sua surpresa, assim que o Rei disse:

— Eu tenho uma coisinha para a senhorita!

O braço de Marceline rodeou sua cintura por trás, de forma protetiva (ao menos foi o que Jujuba pensou enquanto engasgava).

— Tudo bem? — William perguntou, um pouco preocupado.

— S-sim. — Eu só estou sendo agarrada por uma vampira invisível, nada demais.

— Bem, como eu ia dizendo, eu tenho algo para a senhorita.

Ele retirou as mãos das costas, mostrando um embrulho retangular com um lacinho azul.

— O que é isso? — Jujuba pegou o presente, lançando um olhar desconfiado ao Rei.

— Abra e saberá — ele retrucou com aquele seu sorriso que sempre parecia falso.

Jujuba desfez o embrulho, não sabendo como reagir ao descobrir um diário tão velho ao ponto da capa de couro estar carcomida.

— Ah, veja só, um diário usado. — Ela tentou sorrir mostrando gratidão, mas tudo o que conseguiu foi um esgar de desagrado.

O Rei de Ooo riu. Muito. Jujuba ficou com vontade de estapeá-lo.

— Sei o que está pensando: mas que coisa inútil esse Rei idiota está me dando!

Acertou em cheio!

— Acontece Princesa, que tenho certeza que mudará de ideia tão logo descobrir de quem era este diário.

Uma pontada de curiosidade ferroou Jujuba. Não, espera, foi só Marceline a dando um apertão. Interpretou isso como um "vamos embora, agora". Jujuba esticou o braço para trás, batendo no que lhe pareceu ser a barriga de Marceline. Entenda isto como um "NÃO".

— AI!

— O que foi isso? — O Rei de Ooo olhou ao redor, uma sobrancelha erguida.

— Deve ter sido algum criado limpando uma sala aqui por perto. — Sorriu com doçura enquanto abanava uma mão.

William abriu a boca, prestes a duvidar, mas:

— Como sabia que hoje era meu aniversário? — Corte rápido.

— Eu me lembrei da data, seria difícil esquecer um dia tão importante. — Deu uma gargalhada da expressão incrédula de Jujuba — Perguntei ao seu pai esta manhã se iria organizar uma festa grandiosa, como faz de costume, fiquei tão desapontado ao saber que não, por isso resolvi te entregar o diário, para deixar seu dia mais feliz.

Ele alisou uma das pontas do bigode e deu uma piscadinha. Jujuba estremeceu e soltou uma risada nervosa.

— Que galante! Obrigada!

Por incrível que parecesse, ela realmente sentiu sua irritação diminuir ao olhar para o velho diário.

...

"Touché"

— Braco, essa é uma péssima ideia — Finn disse ao Príncipe enquanto o observava colocar o colete de esgrima.

— Não vou voltar atrás. — Ele pegou a máscara de metal e lançou um olhar determinado ao Cavaleiro — Flame desrespeitou a Princesa, vou fazê-lo se arrepender por isso.

Na sala de esgrima, onde as paredes eram decoradas por uma pequena parte da coleção de armas de Rômulo, a maioria dos Candys e alguns convidados do castelo esperavam ansiosos pelo confronto. Flame já estava posicionado na pista de esgrima, a máscara embaixo do braço.

A porta dupla se abriu, chamando a atenção da plateia e do Príncipe do Fogo. Braco entrou acompanhado por Finn. Os dois Príncipes se encararam enquanto faziam uma reverência.

— Eu serei o juiz — Finn avisou — Esse será um duelo justo. Como Braco foi o desafiante, Flame pode escolher as armas.

— Sabres — o Príncipe disse sem pestanejar.

Finn pegou dois sabres da coleção do Rei Doce. Jogou um para Braco e outro para Flame.

— Muito bem. — O Cavaleiro passou os olhos pela plateia — Peço que mantenham silêncio durante este enfrentamento.

Finn encontrou Jujuba bem de frente ao pequeno grupo, ao lado de Marshall Abadeer.

— As regras são as seguintes: para formar o ponto, deve-se atingir o oponente da cintura para cima com o sabre. Nada de usar pernas ou mãos para machucar o adversário, caso faça isso, ponto para o oponente, o mesmo ocorrerá se sair da pista — Finn explicou — Teremos três assaltos, no fim, quem marcar mais pontos ganha.

Então o duelo começou. Flame partiu para cima de Braco. Os sabres se encontraram com violência quando Braco defendeu o golpe. Flame recuou com rapidez e em um movimento brusco atingiu o colete do Príncipe Café-da-Manhã. Os dois se afastaram.

Finn não ficou surpreso. Conhecia bem o Príncipe de Fogo, ele era ótimo quando se tratava de brigas. Braco não tinha a menor chance. Quando o primeiro assalto terminou, o Cavaleiro já tinha contado quatro pontos para Flame e um para Braco. Finn entendia o porquê: o Príncipe de Fogo sempre começava atacando, forçando seu oponente a defender-se, reduzindo sua chance de marcar pontos pela metade.

Era preciso ser muito bom com a espada para reverter às posições, e pelo que Finn tinha visto no primeiro assalto, Braco não passava de um esgrimista de habilidades medianas. Flame acabaria com ele. Na verdade, era o que o Príncipe de Fogo estava fazendo no segundo assalto. O seu sabre chocava-se com o de Braco com brutalidade. E embora o Príncipe Café-da-Manhã tentasse, permanecia na posição de defesa. E isso resultou em mais três pontos para Flame e nenhum para ele quando o segundo assalto terminou.

A plateia permanecia em silêncio, ocasionalmente arregalando os olhos quando Flame fazia um movimento ousado. Finn compreendia o desejo de Braco de defender Jujuba, mas também aceitara há pouco tempo que Flame não agia daquela forma descarada por mal. Assim, não tinha tomado lado no duelo.

— Fora da pista, ponto para Braco — anunciou ao ver Flame cometer um pequeno erro de calculo e ultrapassar o limite da pista.

Já estavam na metade do terceiro assalto.

— Que seja. — Flame deu de ombros, voltando para o duelo.

Então, Braco viu a oportunidade, passou o sabre sob o braço do Príncipe de Fogo, uma rara abertura que ele tinha deixado aparecer. Ponto para Braco. Mas este foi seu último no assalto. Por fim, Flame marcou mais duas vezes e assim o duelo acabou.

— Com uma diferença de seis pontos, Flamel Flame é o vencedor do duelo — Finn anunciou desnecessariamente.

Braco retirou a máscara, uma expressão chateada no rosto. De mal grado, estendeu uma mão ao Príncipe de Fogo. Flame, também se livrando da máscara, revelou um sorriso convencido, mas, quando apertou a mão de Braco, não disse algo como "engole essa seu otário!".

— Cara, você é péssimo! — Chacoalhou o braço do outro príncipe — Só por isso vou tratar Jujuba com mais respeito a partir de agora, não quero te obrigar a me enfrentar de novo, sou muito piedoso, não sou?

A plateia já estava se retirando. Braco, resignado com a derrota e satisfeito com a garantia de que Flame entendera seu ponto de vista, saiu da sala junto do mesmo, iniciando uma conversa ao perguntar:

— Como fez aquele movimento no segundo assalto?

Jujuba se aproximou de Finn. Ele estava com os sabres, observando as armas com um olhar crítico.

— Sabe, estou surpreso por seu pai ter permitido usar peças de sua coleção em um duelo — falou para a princesa.

— Meh. — Ela deu de ombros.

Finn a encarou, como sempre captando cada traço de seu rosto delicado. Ele chegou à conclusão de que Jujuba estava irritada com alguma coisa ou alguém. E, para se certificar...

— Fiz algo errado?

— O que? — o fitou, aparentando confusão.

— Bem, percebo que está irritada, e quero ter certeza de que não sou o alvo dessa ira.

— Eu não estou irritada!

Ela lhe tomou um dos sabres e cortou o ar diversas vezes enquanto dizia entre dentes:

— Por que ninguém nunca me conta nada?!

— Er... — Finn pôs o sabre que lhe restava em seu lugar na parede — Fico feliz que essa raiva não é destinada a mim.

Jujuba se recompôs, o peito arfando pelo mini ataque. Ela fez aquela típica cara de "não sei do que está falando" e foi até Finn com o queixo erguido.

— Meu pai não se importaria de doar toda a sua coleção se isso fizesse os convidados felizes. — Guardou o sabre.

Não tinha mais ninguém na sala exceto eles. Finn a observou por longos segundos.

— Bonnibel, não se preocupe, eu estou aqui para te proteger de qualquer coisa. Eu me importo com você. — Ele falou, sério.

— Pare com isso, vai fazer meu açúcar derreter. — brincou, socando o ombro do cavaleiro.

Finn riu. Fazia algum tempo que não podia ter um momento como aquele com sua amiga de infância.

— E aí? Está melhor em relação ao Concurso?

— Digamos que sim. — Ela segurou um de seus braços, o ergueu e o passou sobre os ombros estreitos.

Finn deixou outra risada escapar quando Jujuba suspirou e pousou a cabeça em seu peito.

— Está me roubando um abraço?

— Shhh...

Ele sorriu com afeição e não disse mais nada.

...

“No Way!”

Enquanto Braco era dilacerado por Flame no duelo, Jujuba pensava no diário que deixara em uma sala ao lado. Estava mais interessada em folheá-lo do que ver os dois belos príncipes brigando por sua causa.

— Ei — alguém sussurrou ao seu lado.

Era Marshall. Ele apontou para os esgrimistas e depois segurou uma risada.

— Não zombe deles — Jujuba disse em um tom tão baixo que Marshall se aproximou para poder entender suas palavras.

— Ok.

Passou apenas alguns segundos até Jujuba ouvir um novo “Ei”.

— O que foi agora?

— Olha só isso princesa.

Ela segurou a respiração ao ver Marshall banhado pela luz do sol que entrava pela janela.

— Legal, não é?

— Como você...? Eu pensei que os vampiros...

Ele aproximou a boca de sua orelha.

— Eu não sou um simples vampiro. — Marshall esticou o braço em sua direção — Sua mãe se amarrava em mim, sabia? Ela adorava tirar amostras de meu sangue. Pensei que você também se impressionaria com minha raridade.

— Você a conheceu?!

— Claro, Marceline me apresentou ela.

— Como assim “Marceline me apresentou ela”? Está me dizendo que vocês eram amigos da minha mãe? Por que não me contou isso antes?

— Marcy...

Jujuba estendeu uma mão, fazendo sinal para Marshall se calar. Ele podia ser um Rei, mas ela não estava nem aí para seu título, não quando tinha uma vontade assassina tomando-a silenciosamente.

— Não precisa terminar a frase.

...

“Bananas”

Guy suspirou. Ter de ficar vigiando o Guarda Banana suspeito era o pior castigo que podia receber de Marceline. Mas ele não estava arrependido de sua decisão, não quando ficou sabendo que a Rainha iria se aliar ao irmão para executar aquela missão de tamanha importância.

Ele se remexeu, buscando maior conforto da moita de onde observava o suspeito e um colega que guardavam a entrada do castelo. Já fazia um dia que seguia o guarda em questão, tinha informado a Marceline, logo após fazer uma breve investigação pela criadagem, que o sujeito estava escapando do Reino à noite e só retornando pela manhã. Guy se lamentava por ter dito isto a Rainha, ele sabia que a vampira não acreditava realmente que um daqueles bananas estavam aliados com o Caos, ela só queria uma forma conveniente para puni-lo.

Apesar de ser um lobisomem, ele era um dos Cavaleiros mais fiéis à Coroa da Noitosfera, faria qualquer coisa por sua Rainha, inclusive defendê-la do próprio irmão. Marshall não era um nome que despertava bons sentimentos nos cidadãos da Noitosfera, ele fora banido pelo pai, expulso do trono, acusado de ter traído o Reino. Ninguém possuía detalhes do que exatamente Marshall tinha feito, mas a palavra de Hunson era incontestável.

E Guy acreditava no antigo Rei, ele fora o mais notável demônio da Casa Abadeer, e por isso tinha desobedecido Marceline e ido até o Reino Doce. Se Marshall aprontasse alguma coisa, Guy estaria por perto para proteger sua Rainha.

Os Guardas Bananas começaram a rir de alguma piada qualquer, interrompendo seus pensamentos. Guy se remexeu na moita mais uma vez.

—Malditas bananas! — resmungou irritado.

...

“Jealous”

Jujuba alisava a capa do diário. William tinha se oferecido para acompanhá-la a sala de esgrima, mas ela recusara com a desculpa de que... Na verdade ela só disse que não queria sua companhia por muito mais tempo. Um presente não vai mudar minha opinião sobre você! Tinha pensado ao deixá-lo para trás. E, além disso, ela precisava demonstrar preferência por Marshall, o que não conseguiria se fosse vista andando por aí com o Rei de Ooo.

Abriu o diário, se deparando com uma única palavra na primeira página amarelada. “Pesquisas”. A caligrafia era delicada e Jujuba soube de imediato que quem tinha escrito aquilo era uma mulher. Ou um homem que passava muito tempo escrevendo cartas. A fim de descobrir quem era o dono de tal letra, virou para a próxima página. Contudo, antes de poder ver o que estava escrito, o diário escapuliu de suas mãos.

— Mas o que...?! — resmungou ao vê-lo flutuar.

Ela tentou recuperá-lo, mas o diário estava fora de seu alcance; mesmo que pulasse o mais alto que aquele vestido pesado a permitia, não chegava nem perto dele.

— Marceline! — gritou quando seu estoque de pulinhos desengonçados acabou — Devolva-me!

— Não antes de inspecioná-lo.

Logo o diário começou a se sacudir, as páginas sendo folheadas descuidadamente... Jujuba arregalou os olhos diante da cena.

— Cuidado, assim vai acabar rasgando-o — disse exasperada.

— E? — A voz de Marceline perguntou, o tom mostrando desagrado.

— Não quero que estrague o único presente que ganhei!

— Não tem nada aqui — a vampira disse de súbito.

— Ótimo, será que agora você poderia me devol...?

As páginas velhas farfalharam quando o diário voou por cima da cabeça de Jujuba e atingiu um vaso a mais de dez passos de distância, derrubando-o de sua mesinha e o dividindo em vários pedaços ao tocar o chão.

Jujuba, ao ouvir o barulho do vidro quebrando, ativou sua contagem regressiva. Dez segundos para destruição em massa. Ela voltou-se para o estrago feito pelo diário, os criados não ficariam felizes com aquela bagunça, e seu pai espumaria ao descobrir que um de seus preciosos vasos tinha sido destruído.

Dez, nove...

Ela virou-se para a direção onde Marceline supostamente estava. Sentiu um choque caminhar da base de sua coluna até um ponto atrás da nuca. Oito, sete... Toda a raiva que se acumulara em seu corpo nos últimos dias fez seu sangue fervilhar. Seis, cinco, quatro... A imagem da vampira pintou-se a sua frente, a expressão mais calma do mundo. Três, dois, um, zero. Pii.

— SUA...!

Marceline a puxou para si. No mesmo instante em que os lábios macios da vampira pousaram em uma de suas bochechas, toda a ira de Jujuba entalou-se em sua garganta.

— Feliz aniversário Bonnie.

A vampira a guiou até a parede, os olhos negros ganhando a mesma voracidade daquela manhã.

— Eu tenho um presente muito mais interessante do que aquele diário.

Jujuba desviou o olhar do rosto provocador. Lembre-se, você está com raiva dela, pensou, buscando resistir à insanidade que Marceline lhe oferecia.

— Vamos para alguma sala — a vampira sussurrou no ouvido da princesa, mordiscando o lóbulo de sua orelha.

Mesmo zonza pelos beijinhos que Marceline começou a distribuir em seu pescoço, Jujuba procurou se libertar dos braços que rodeavam sua cintura.

— Não... Marcy... Você acabou de atirar... Meu presente em um vaso! — disse, tentando demonstrar aborrecimento, o que era pouco evidente graças aos suspiros.

A resposta da vampira foi prensar os lábios contra os seus. Jujuba sentiu os pensamentos virarem fumaça quando Marceline estreitou o abraço ao ponto das batidas de seus corações chocarem-se.

— Vamos... Para uma sala! — Jujuba cedeu.

(In)Felizmente, ela conseguiu resistir tempo suficiente ao charme da vampira, tanto que, no momento em que Marceline segurou a mão de Jujuba para levá-la a sala mais próxima, passos cortaram o corredor e uma voz conhecida as interrompeu:

— Não quero ser um estraga prazeres, mas acontece que esse não é o melhor lugar para... Enfim, vocês entenderam! — Gumball estava ao lado do vaso quebrado, o rosto vermelho.

— Primo! — Jujuba se afastou de Marceline, enrubescendo tanto quanto Chiclete — Nós não tínhamos te visto aí!

— E tampouco teriam notado qualquer outra pessoa. — Ele se abaixou para recolher o diário.

Ao erguer-se, seus olhos azuis se prenderam nos da vampira, ansiosos mas determinados.

— Peço perdão por esse deslize — Marceline desculpou-se as bochechas se colorindo — Como líder da missão eu não devo me distrair tão facilmente. Agradeço pelo aviso.

Jujuba encarou a cena, estarrecida. Pareceu, por um minuto, que Gumball era um Rei, não o contrário. Ele aproximou-se, ainda mais envergonhado pelas desculpas de Marceline.

— Para, sabe como eu fico quando você muda de uma hora para a outra — se dirigiu a Rainha.

— Só porque admito meus erros e tento repará-los não quer dizer que eu “mudo”. — Ela fez as aspas com os dedos.

— Na verdade, ás vezes você age diferente daquilo que se espera — Jujuba comentou, atraindo um olhar descrente de Marceline.

Chiclete fez a maior pose de “né?!” para a prima.

— Isso não faz sentido algum. — A vampira revirou os olhos.

Os primos trocaram um sorrisinho.

— De quem é isto? — Gumball mudou de assunto, mostrando o diário.

— Meu. — Jujuba pegou o pequeno caderno.

E ao alisar a capa de couro, ela viu Marceline cruzar os braços. Então uma lanterna se acendeu sobre sua cabeça.

— Você por acaso está com ciúmes? — questionou, cheia de uma curiosidade inocente.

A vampira alternou o olhar entre os primos, os lábios comprimidos e o rosto ficando mais corado.

— Eu vou checar como Guy está indo, vigie Bonnie enquanto isso — Marceline disse em um só fôlego.

Daí, desapareceu.

— Hãn... — Chiclete coçou a cabeça.

— É realmente estranho quando ela muda — Jujuba concluiu, um dedo sobre os lábios inchados pelo beijo.

Um silêncio cômodo perdurou por um minuto, onde os dois ficaram perdidos em pensamentos. Depois, Chiclete pareceu despertar de seus devaneios e perguntou:

— Está indo ver o duelo de Braco e Flame?

— Ah, sim, estou — Jujuba respondeu, também saindo de seu transe.

— Bem, eu deveria estar seguindo o Rei Gelado, Marshall vai assistir ao duelo também, então eu vou acompanhá-la até a sala de esgrima e te deixar sob os cuidados dele — Gumball explicou, oferecendo um braço a prima.

— Não fale assim, faz parecer que seu namorado é minha babá. — Jujuba aceitou o braço — Podemos parar em uma sala? Vou guardar esse diário primeiro.

— Claro. — Começaram a caminhar — Isso é muito conveniente, aliás, pois preciso que me conte exatamente o que estava se passando por aqui antes da minha interrupção. Não que eu já não tenha uma ideia, mas quero os detalhes. — Abriu um sorriso insinuante.

— Eu não devia te contar nada — Jujuba disse com um biquinho — Mas vou.


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Notas finais do capítulo

:*



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