Manipuladores do Futuro escrita por Amanda Maia


Capítulo 8
Confissões, posse, e a carona dos segredos.




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Seu grau de embriaguez estava pior do que imaginava, a ponto de não perceber a aproximação de Fernando, muito menos seu carro parado à frente do táxi.

Assustou-se com a mão de Fernando a amparando para sair do veículo e em seguida sentiu culpa, lembrando-se do beijo de Lucas e sua demora em interrompê-lo. Foi até a porta de casa ao lado dele e precisou de ajuda para acertar o buraco da fechadura.

Subiu direto ao quarto, arrancou a roupa no meio do caminho e se enfiou embaixo do chuveiro, curando parte de sua bebedeira, enquanto Fernando a olhava da porta, pensativo.

Ele precisava tomar algumas providências com relação a Sophie, sua relação com ela estava chamando a atenção de quem não devia e sua viagem a trabalho não poderia ter vindo em pior hora, além de ser muito suspeita. Precisaria de alguém para cuidar de seu “achado”, e que de preferência, não tivesse os mesmo interesses e planos que ele, mas quem?

Mais tarde, quando Sophie já estava melhor, apesar um pouco dispersa, Fernando tomou coragem para começar.

— Precisamos conversar. – Suspirou, contrariado.

— Eu sei… Preciso te contar uma coisa.

Ele assumiu uma postura cautelosa, se inclinou na direção dela, estreitando os olhos e esperou, se perguntando o que teria acontecido. Já teriam ido atrás dela, tão rápido assim?

— Hoje, no bar… – Não fazia ideia do motivo de estar contando isso, mas decidiram ser honestos um com o outro, então ela seria. — Lucas apareceu por lá. Ele disse que se sentia culpado por ter causado problemas para mim na faculdade e se desculpou… – A risada de Fernando a interrompeu, pensou estar bêbada demais para perceber qual era a graça.

— Meu irmão se desculpou? Sério? – A descrença dele a deixou confusa, e a forma descontrolada como ele riu lhe causou estranheza.

— Sim… – Esperou que ele parasse de rir e já mau humorada, continuou. — Mas o que eu queria contar é… Que ele me beijou de novo. – Mordeu o lábio inferior em seguida e esperou uma reação negativa dele, mas a pergunta dele a pegou desprevenida.

— E você gostou?

— Acho que sim, não sei… – Quando pretendia ser honesta, sabia que não precisava exagerar, mas quando percebeu já tinha soltado. — Enfiei a mão na cara dele, o que deixou minha mão dolorida. O que quero que você entenda, é que eu não quis aquele beijo.

— O que me irrita é que é sempre assim, ele aparece e conquista o que é meu. – Fernando cerrou os punhos e ela percebeu até mesmo uma veia saltando em sua têmpora. — Você ter gostado não é um bom sinal, mas ter me falado é. Acredito em você.

— Bom, Fernando… Quis ser honesta e explicar para que você entendesse. O que não significa que eu queira que você acredite. Desde que você desfaça essa teoria de que eu sou sua, pode acreditar ou não em mim. – A questão de propriedade era um grande problema para Sophie. Ela não aceitava e achava um absurdo que alguém aceitasse, apesar de acreditar que cada um deve viver do jeito que lhe convém. Ela não aceitava ser propriedade de ninguém.

— Desculpa, não quis dizer isso.

— Ótimo! Agora pode começar o que você queria falar. – Decidiu desculpar e não prolongar o assunto.

— Certo… Terei que me afastar alguns dias, tenho problemas de trabalho para resolver, não que você se importe, mas achei que gostaria saber.

— Claro que me importo! – Revirou os olhos, impaciente, não gostava quando as pessoas se faziam de coitadas. — Quando você vai?

— Provavelmente na semana que vem, sei que disso não passa. Estou esperando uma autorização. – Na verdade estava tentando adiar, mas isso ela não precisava saber.

Sem conseguir evitar, Sophie soltou um bocejo, daqueles de fazer lacrimejarem os olhos e se ajeitou na cama, dando espaço a ele ao seu lado.

— Podemos aproveitar até lá, mas antes, preciso dormir. Esse dia foi agitado e estressante, minha noite também não foi fácil, preciso descansar.

Não precisou falar duas vezes, Fernando já a estava abraçando e encaixando seus corpos para se esquentarem naquela noite fria.

No dia seguinte, mesmo contrariada, Sophie foi a faculdade, como previsto, a cada passo que ela dava, ouvia um cochicho. Ignorou o melhor que pôde, pois em sua sala a fofoca também rolava solta. Tentou se concentrar ao máximo, mas algumas coisas a perturbavam.

O beijo de Lucas e o gosto de hortelã não saiam de sua mente, sentia-se incoerente, não queria ficar pensando naquilo e mesmo assim não conseguia se controlar. O homem que evitou seu atropelamento também dava sinal de vida em seus devaneios, apesar de não se lembrar muito bem dos detalhes e de não ter conseguido ver o rosto dele, não parava de repassar o pouco que conseguia em sua cabeça.

Precisava escolher uma das coisas e se concentrar nela, então, decidiu por se concentrar em seu sonho da noite passada, tinha que se apegar a algo que não acontecia há muito tempo, um sonho normal.

Provavelmente o sonho que mais da metade da população tinha. Ficar rico. Sim, Sophie sonhou que ficava rica, nada fora do comum. Ela conseguiu alternar entre o sonho e a ressaca, e assim levou seu dia.

No horário do intervalo, Carlos a chamou de canto e quis saber como tinha sido sua noite e não adiantou contar só o que interessava, ele queria os detalhes e ela cedeu, contando tudo, desde o beijo de Lucas até o quase acidente que sofreu.

— Nossa, amiga… Não é que eu queira falar não, mas você já percebeu como sua vida está agitada? Cada dia um evento novo. – Carlos estava mais pensativo que o normal naquele dia e fez uma observação pertinente.

Fernando se aproximou em seguida e eles não tiveram mais tempo para conversar, a última coisa que Sophie disse ao amigo, foi em tom zombeteiro.

— Não é que eu queira falar não, mas já falando… – Apesar da risada dos dois, a observação de Carlos não passou batida e seria mais uma coisa para refletir. Podia jurar que sua mente ia entrar em parafuso se tentasse entender qualquer outra coisa.

Sophie e Fernando aproveitaram o quanto puderam durante a semana e as fofocas na faculdade aos poucos deixaram de ter importância, mesmo com a presença de Sabrina pelos corredores.

A impressão que ela teve, era que sua semana estava uma calmaria só para contrariar a observação de seu amigo. Lucas passava por ela no corredor e evitava contado visual. Preferia assim, não queria que ele realmente achasse que podia simplesmente chegar e beijá-la a hora que quisesse.

Para sua alegria, na sexta-feira, Letícia estava de volta de sua viagem, com a mulher ali, a casa parecia quase normal. Fernando se ofereceu para levar Letícia ao mercado e Sophie ficou em casa jogada no sofá. Depois fizeram almoço e, satisfeitos, se jogaram no sofá junto com a garota.

— Preciso abastecer o carro, quer ir comigo? – Fernando perguntou, se levantando e se espreguiçando.

— Não, estou com sono. – Encostou a cabeça no ombro de Letícia, que lhe fez um cafuné. O ronronado fingido de Sophie fez todo mundo rir.

Quando Fernando saiu, Letícia a encheu de perguntas. Havia gostado do rapaz e estava satisfeita em ver a felicidade de sua menina, mas ficou um pouco decepcionada por saber que não estavam namorando.

Não achava que fosse algo obrigatório, porém, gostaria de ter a oportunidade de ver sua menina se casando, tendo filhos e outras coisas que em sua visão, as mulheres faziam. Claro, tinha certeza de que Sophie não levaria uma vida como a dela. Seu maior erro foi priorizar o casamento, quando seu primeiro marido a deixou, com um filho para criar sozinha, Letícia teve que se virar e sustentar a si e a criança.

Tinha certeza de que com Sophie seria bem diferente e gostaria de poder ver isso acontecer, pois os pais da garota achavam essa possibilidade pequena, conheciam a filha que tinham.

Sophie já estava pensando em dispensar Fernando para passar o dia com Letícia, mas seu celular tocou e seus planos foram por água abaixo.

Quando Fernando voltou, a mochila dela já estava arrumada em cima do sofá. Confuso, ele guardou as chaves do carro no bolso e foi ao quarto dela. A encontrou se arrumando.

— Para onde vamos? – Sua brincadeira não surtiu o efeito desejado, não esperava que fosse algo sério, mas a expressão dela o preocupou.

— Preciso encontrar meus pais em São Paulo. – Antes que ele perguntasse alguma coisa, ela prosseguiu. — O advogado vai ler o testamento na segunda-feira, parece que minha avó deixou mais coisas, sei lá. – Deu de ombros. — Vou esse fim de semana para matar a saudade dos meus avós.

Ela aguardou alguns minutos, Fernando parecia prestes a dizer algo, mas hesitou, Sophie podia ver que ele estava planejando alguma coisa, só não imaginava o quê.

— Você vai de ônibus, ou quer uma carona? – Estranhou a demora dele para pensar em uma pergunta tão simples.

— Não vai te atrapalhar? – Parou por um momento de arrumar sua bolsa menor e se virou para ver a reação dele.

— Não, pode ficar tranquila. Ainda não recebi a autorização de que preciso, então ainda estou livre.

Mesmo com o jeito descontraído dele soando forçado, ela ficou feliz, gostava de estar ao lado de Fernando e da forma como as coisas estavam caminhando, havia a possibilidade de rolar algo um pouco mais sério. Sophie colocou sua bolsa pendurada transversalmente no corpo e se aproximou dele.

— Ou… – Ela o abraçou pela cintura e ficou quase na ponta dos pés. — Você pode passar o fim de semana comigo e minha família, ao invés de me dar apenas uma carona. O que acha? – Se repreendeu pela expectativa que investiu na pergunta, mas queria que seus pais conhecessem o cara de quem esteva gostando.

— Não tem problemas? – Ele passou sua mão direita pela cabeça dela, alisando os cabelos e lhe deu um beijo rápido, mas carinhoso.

— Nenhum. – Negou também com a cabeça, empolgada demais.

— Então acho uma ótima ideia. – Concordou dando um abraço nela. — Só preciso passar em casa e arrumar minhas coisas, pode ser?

Sophie assentiu. Os dois se despediram de Letícia e foram para a casa dele. Foram conversando sobre a família dela. A garota queria alertá-lo sobre suas primas, sobre os comentários que poderiam rolar e a reação de seu pai, que poderia não ser amigável, algo que ele achou compreensível.

Para a irritação dela, Lucas os esperava no portão da casa de Fernando quando chegaram, agora que não tinha mais chave. Ela viu a tensão no maxilar dele ao desligar o carro e como sua respiração ficou acelerada.

— Me espera aqui. Vou ver o que ele quer. – Pediu, antes de fechar a porta com mais força que o necessário.

Ciumento como já tinha mostrado que era, Sophie imaginou o quanto devia ser difícil para Fernando ter de conviver com Lucas, o irmão que sempre tentava conquistar suas namoradas e já havia beijado a sua atual, Riu ao se colocar como namorada.

Entediada, Sophie saiu do carro e esperou na calçada. Andou por um tempo de um lado a outro, indo e voltando até uma árvore, até se cansar de esperar e entrar no quintal da casa.

Abriu o portão com cuidado e caminhou na direção da porta, e então ouviu a voz de Lucas. Parou imediatamente, o tom sugeria um clima tenso e perceber que era o assunto da conversa a deixou ainda mais curiosa.

— Sei o que ela é, Fernando… Não posso dizer o que você quer com ela, mas sei que vai colocá-la em risco.

— Não se mete! Você não está preocupado com ela, está preocupado de não fazer parte dos meus planos. – Retrucou, provocando a risada de Lucas.

— Cara, você sempre me chama, nunca dá conta de fazer as coisas sozinho. Acabo participando de uma forma ou de outra… – A pausa na discussão fez o coração dela acelerar ainda mais.

Ela se preocupou se eles tinham percebido algo diferente, ou desconfiaram de sua presença, porém, a curiosidade e o medo a prendem ali, perto da porta.

— Quem sempre acoberta você? – Lucas continuou e sua voz estava cada vez mais próxima, o que a fez engolir o medo e expulsar a curiosidade. Seria pega no flagra. — O que me chateia é você sempre levar o crédito. Está sempre tentando fazer alguma coisa, quando dá errado, quem arruma sou eu e quem leva o credito? Você. Nem mesmo responsável por limpar a própria merda você é e um dia ele vai perceber isso.

A decisão de chamar por Fernando a livrou de ser flagrada, uma vez que Lucas parou a meio caminho da porta e quase deu uma trombada nela.

Aliviado por ter sido apenas uma impressão de que alguém estava ali, Lucas se afastou, mas não deixou de reparar na falta de barulho no portão ao abrir, o que indicava a intenção de Sophie de não querer ser percebida enquanto entrava.

Os dois a encararam quando ela entrou na casa, somente Lucas percebeu o medo estampado no rosto dela.

— Estou com fome! – Reclamou, respirando fundo e tentando parecer irritada. — Precisa demorar uma eternidade? – Olhou de relance para a bolsa em cima da mesa da cozinha e cruzou os braços. — Vamos?

Os irmãos se entreolharam, Fernando hesitou, mas sabia que era o melhor para ela, o que significava que também poderia tirar proveito da situação. Lucas precisava estar envolvido, só assim ajudaria se tivesse a necessidade e cuidaria de seu “achado”.

— Vamos… Mas temos um problema. – Ele atravessou a cozinha para se aproximar dela. — Preciso dar uma carona à Lucas até Sampa, tudo bem?

— É óbvio que não! – Tinha vontade, na verdade, de ir até a rodoviária, pegar um ônibus e seguir viagem sozinha, a conversa a deixou assustada de um jeito que nunca imaginou ficar. De qualquer forma, agora precisava descobrir qual era o risco que Lucas havia falado.

— Meu carro está na oficina…

— O carro é seu. Você decide. – Interrompeu a tentativa de se justificar de Lucas, respondendo à Fernando e deu às costas indo para a rua.

Não podia simplesmente concordar com a ida dele, também não teria como impedir. Sua alternativa foi mostrar descontentamento e esperar. Bebeu parte de seu isotônico e abriu o carro.

Lucas entrou pelo lado do motorista, enquanto Fernando foi à frente como passageiro e Sophie, ainda com sua encenação, bateu a porta traseira e se sentou, emburrada, com a cabeça encostada no vidro da janela, sem olhar para a frente.

Por causa da demora na casa de Fernando, acabaram pegando a estrada à noite e Lucas bocejava o tempo todo. Sophie sugeriu que parassem para comer e ninguém contestou, estavam cansados, ela principalmente, por não ter tirado o cochilo que queria a tarde. Sua cabeça fervilhava de perguntas: O que Lucas quis dizer quando afirmou que sabia o que ela era? Será que Hiago tinha contado sobre os sonhos?

Enquanto comia, resmungava, se repreendendo por ter sido descuidada e contado seu segredo ao garoto, uma vez que Hiago não guardava nem os seus segredos, o que a fez pensar que guardaria os dela? Idiota! Pensou alto, chamando a atenção dos dois à mesa. Então fechou a cara e continuou a comer, como se não tivesse falado nada.

No carro, voltou a resmungar e tentar entender o que tinha ouvido. Com o que, Lucas estava preocupado? Que tipo de risco estava correndo? E que planos Fernando tinha para ela, ou com ela?

Aceitou a garrafa de isotônico que Fernando lhe deu e só depois de beber tudo, se lembrou que tinha deixado uma pela metade em sua bolsa. Decidiu terminar com ela mais tarde.

Colocou seus fones de ouvido e se ajeitou no banco o mais confortável que pôde, o sono já estava insuportável e o silêncio no carro só fazia piorar a situação. O aviso de Lucas na noite em que foi a sua casa procurando pelo irmão a fez prender a respiração.

“Você não sabe no que está se metendo…” Foi o que ele disse e agora começava a fazer sentido, algo estava errado… O sono a pegou de jeito depois desse último pensamento.

Por volta de uma e meia da madrugada Sophie acordou, agitada. Olhou em volta e demorou a perceber que não estava mais no carro, estava em um quarto. Receosa, sentou-se na cama e sentiu Fernando ao seu lado, estranhamente aliviada por isso, ela deu uma última olhada no quarto, ainda estava sonolenta.

Localizou o banheiro e se arrastou até a ponta da cama, sua bexiga estava cheia e, apressada, desceu da cama, mas acabou pisando em algo no chão e acabou caindo.

 Quase gritou ao perceber que era um corpo e em seguida se controlou, o corpo tinha vida e amparou sua cabeça para não bater no ferro da cama.

Sophie se sentou no colchão, tentando fazer seus olhos se adaptarem a pouca luz do quarto. Lucas também se sentou, esfregando os olhos.

— Você está bem? – Ele perguntou, segurando o braço dela.

— Sim. Não esperava um corpo no chão, só isso. Desculpa! – Tentou se levantar e seu tornozelo doeu. — Merda! – Xingou alto demais, se desequilibrando um pouco e Lucas a colocou sentada na cama, mexendo em seu tornozelo.

 — Não foi nada grave, vai passar. – Ele esfregou e depois flexionou o tornozelo dela, causando arrepios nela.

— Valeu! – Puxou sua perna e se levantou, tomando cuidado ao pisar no chão e finalmente entrando no banheiro, a tempo de ouvir Fernando perguntar o que tinha acontecido.

O clima no quarto não poderia ser dos piores quando Sophie voltou do banheiro, com uma dor de cabeça insuportável. Algo que estava acontecendo com frequência. Nada que a incomodasse a ponto de precisar de um remédio, mas não era o caso naquele momento. Precisava urgentemente de um remédio.

Vasculhou sua bolsa e encontrou uma cartela perdida. Fernando se ofereceu para buscar água, deixando seu irmão sozinho com ela.

O ciúme que Fernando sentia era incompatível com aquela viagem e com a atitude de deixá-la sozinha com um cara que já a beijou duas vezes. As atitudes estranhas de Fernando começavam a ser registradas uma a uma. Receosa, ela pegou discretamente, o spray de pimenta de sua bolsa enquanto Lucas estava sentado na cama com a cabeção entre as mãos.

Ela verificou seu celular, sentada à pequena mesa do quarto, não tinha ligação de seus pais. Enviou uma mensagem para a mãe, explicando a situação, não queria surpreender ninguém ao aparecer acompanhada, e recebeu a resposta quase que imediatamente. Bárbara se adiantaria em avisar da chegada deles.

— O tornozelo está melhor? – A voz dele a assustou a ponto de quase derrubar o celular. — Calma! – Pediu ao se levantar e se aproximar dela.

O medo que Sophie sentiu era o mesmo que sentia de seu psicólogo, Lucas lhe parecia imprevisível e achou melhor não arriscar, puxou seu spray e por pouco não o atingiu. Porém, ele não só desviou do jato, como também conseguiu cobrir o rosto com sua própria camisa.

Ela se levantou e encostou-se na porta, pronta para correr, se necessário, mas ele se manteve no mesmo lugar até que o gás de pimenta suavizasse e tirou a camisa do rosto. O coração dela batia tão acelerado quanto o de um passarinho.

— O que foi isso? – Ele reclamou, confuso, mas sabendo que não devia se aproximar, conhecia o olhar que ela dirigia a ele. Era de medo.

— Não chega perto de mim! Se tentar me beijar de novo, vai ficar com gás de pimenta em lugares inimagináveis. – Ordenou, sem recuar, ou abaixar o braço, pronta para atacar novamente.

— Não vou… – Lucas hesitou ao perceber a origem do medo dela e sentiu nojo de si por ter provocado aquilo. Então puxou a cadeira e se sentou, convidando-a para sentar na cadeira da frente em que estava antes. — Pode vir com seu spray, não vou fazer nada. Só quero conversar, por favor!

Ela pensou por um tempo, indecisa, ele não só parecia sincero, parecia também envergonhado. Mesmo assim, Sophie caminhou até a mesa, puxou sua bolsa, sem se descuidar e pegou sua arma de choque. Com a arma de choque em uma mão e o spray de pimenta na outra, sentou onde ele indicou.

A cisma dela o fez sorrir, sabia que ela estava correta ao ser cuidadosa daquele jeito e o fato de ter aceitado a viagem, apesar do medo, o fazia ter certeza de que sua conversa com Fernando tinha sido ouvida por ela.

— Olha… – Ele deixou os pensamentos de lado antes de continuar. — Não quero te fazer mal, nunca quis. Peço desculpa por ter feito você pensar o contrário, não devia ter beijado você da primeira vez e nem uma segunda. – Ela manteve sua mão com a arma de choque embaixo da mesa e apoiou o spray em cima da mesa, não que estivesse se descuidando, mas a adrenalina estava indo embora e suas mãos começaram a tremer, não queria que ele percebesse. Continuou a ouvir. — Naquele bar, você retribuiu meu beijo roubado, pensei que tivesse gostado, não que…

— Escuta, Lucas! – O interrompeu, cerrando os dentes. — Esquece essa idiotice de beijo roubado, essa merda não existe. Você fez algo que eu não queria, duas vezes.

— Desculpa, eu achei que você tivesse gostado do beijo. – O tom magoado e sincero dele a fez baixar a guarda, contudo, sem abaixar o spray, nem largar a arma de choque.

— Quero que você entenda uma coisa. Pode ser que eu tenha gostado e por isso retribui. Mas eu estava bêbada, agora nem lembro como foi ou se gostei… Não quis beijar você. O problema foi a sua atitude. Eu fiquei com medo de você e não se conquista alguém por medo.

— Então quer dizer que ainda tenho chance de conquistar você? – Sorriu, malicioso.

— Não disse isso! – Ela revirou os olhos e fez uma careta. — Você não tem o direito de me beijar. Ainda mais se eu estiver bêbada. E não quero que me conquiste. Posso muito bem tomar a iniciativa quando quero.

— Saiba que vou ficar esperando então. – Riu e logo em seguida parou. A brincadeira não teve graça para ela. — Foi mal! É sério, não farei mais isso, prometo! Não queria que tivesse medo de mim, você não.

O barulho da porta encerrou a conversa deles. Fernando prendeu a respiração assim que entrou no quarto e encarou os dois, furioso.

— O que aconteceu aqui? – Colocou a garrafa de água em cima da mesa e encarou o irmão.

— Um acidente com o spray. – Lucas explicou, se levantando e indo para a cama.

— Ouve algum acidente envolvendo choque também? – Fernando se virou para Sophie, que deu de ombros, sem a mínima vontade de dar satisfações a alguém que podia colocá-la em risco, mas precisava dizer alguma coisa.

— Queria ver se estava carregada. – Sorriu e estendeu a arma a Fernando. — Quer testar?

— Não… – Ela apertou o botão, fazendo Fernando se sobressaltar com o barulho. Tanto Sophie quanto Lucas caíram na gargalhada, deixando-o irritado.

— Obrigada pela água! – Sorriu e guardou as coisas de volta na bolsa.

Não teria tempo de pensar nas palavras de Lucas naquele momento. Mas estava menos tensa, só restava esperar o momento certo para descobrir o que precisava e torcer para dar tudo certo durante a viagem.

 


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