Manipuladores do Futuro escrita por Amanda Maia


Capítulo 7
Confusão em dose dupla, outro beijo e um quase acidente.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/706231/chapter/7

Com as mãos trêmulas, Sophie fechou a torneira e se aproximou, devagar, para atender a porta. Por mais que quisesse acreditar ter tido apenas um pesadelo, nesse momento sentia-se dentro dele, não se lembrava mais o que estava fazendo ali, apenas o que a esperava atrás daquela porta. Seguiu como se tivesse sendo guiada em uma cena da qual era a protagonista, mas sem qualquer controle dos movimentos.

— Não. – A mão de Fernando em seu ombro fez a cena finalmente parecer real, como se tivesse acabado de acordar. E ela congelou onde estava. — Vou abrir. – Ele sussurrou e Sophie assentiu, com arrepios correndo por seu corpo e lutando para não bater os dentes com frio repentino que estava sentindo.

Fernando abriu a porta. Ela o viu cruzar os braços sobre o peito e fechar a cara. De onde estava, podia ouvir tudo e tinha uma visão completa dele, se desse alguns passos poderia ficar ao seu lado em segundos.

— Não vai me convidar para entrar? – O tom de Lucas era debochado, mas Fernando não se abalou. A única que parecia fora de contexto ali era ela, como se todos tivessem seus papeis, menos Sophie.

— Não. A casa não é minha. – Ele se mexeu, bloqueando toda a passagem.

— Cadê a dona da casa então?

— Não é da sua conta. O que você quer aqui?

— Venho te dar um recado, mas gostaria de perguntar à Sophie quando vamos repetir aquele beijo.

— No dia de sua morte. Fala logo o que é! – Fernando estava ficando cada vez mais impaciente.

— Isso não é jeito de falar…

— Só tem um jeito de falar com você. – Ele o interrompeu e ameaçou fechar a porta, mas algo o impediu, provavelmente o pé de Lucas.

— O velho quer que o trabalho termine logo, esse é o recado. Ele está muito irritado.

— Entendido… – Mais uma vez ele tentou fechar a porta e não conseguiu.

— O que você está fazendo com ela, Fernando? A garota é bem interessante, mas você não costuma adiar trabalho assim, então ela deve ser especial, certo? – Ouvindo a conversa, sentia que as palavras dele tinham mais do que parecia.

— Ainda não sei. Estamos nos conhecendo. Sugiro que fique longe dela ou eu mato você, entendeu?

— Sim, mas irmãos devem aprender a dividir. No fim, quem limpa suas cagadas sou eu, nada mais justo.

A expressão furiosa de Fernando disse mais do que deveria e se não fosse por isso, Sophie não teria entendido as palavras de Lucas. Finalmente entendendo onde estava se metendo, ela se colocou ao lado dele.

— Boa noite! Pensei que estivesse dormindo. – O sorriso de Lucas seria o mais lindo, os dentes brancos e perfeitos em contraste com sua cor morena, se não fosse por seu olhar ameaçador, seria tão bom quanto Fernando.

— Só se for para você. Sai da minha casa ou eu chamo a polícia.

— Tudo bem. – Lucas levantou as mãos em rendição e riu. — Mas preciso avisar… Você não sabe no que está se metendo.

— Ah, acho que sei sim. Em família. – Fernando que estava calado, de repente fechou a porta com força e a trancou, fazendo Sophie se assustar e Lucas resmungar do outro lado.

Ela se afastou dele e sentou no sofá, pensando no que tinha acabado de acontecer. Devia ter imaginado que eram irmãos, a semelhança era óbvia. Mas decidiu acreditar em Fernando. Será que ele realmente achou que não era uma informação importante? Ou achou que ela nunca fosse descobrir?

— Sophie… Eu não…

— Você devia ter me contado. – O interrompeu, irritada.

— Todo mundo esconde coisas e minha família é um assunto complicado.

— Posso compreender, mas quando o assunto vai me prejudicar, prefiro ser avisada. Seu irmão veio na porta da minha casa sabe Deus para quê!

— Desculpa… – Buscando uma forma de reverter a situação, Fernando resolveu arriscar. — Você também esconde coisas.

— Nada que seja da sua conta ou vá te prejudicar. – Rebateu, indignada pela tentativa dele.

— Então acho que podemos ser honestos um com o outro, não acha?

Sophie recostou no sofá e apontou para o outro, sem precisar falar nada, Fernando sentou.

— Pode começar. – Ela cruzou os braços e aguardou.

— Bom… – Pensando que sua sugestão tinha sido uma má ideia, ele elaborou uma forma de contar sem revelar muita coisa. — O que falei antes sobre minha família é verdade, a única diferença é Lucas. Temos o mesmo pai, aparentemente Lucas foi abandonado pouco depois de nascer, os dois era casados e nossas mães se conheciam. Quando a mãe dele morreu, a minha ficou com ele e tudo que aconteceu comigo por causa do vício dela, aconteceu a Lucas também e hoje nós trabalhamos juntos.

— Não tem mais nada que eu precise saber? – Ergueu uma sobrancelha e reparou em cada movimento dele, não conseguia se livrar da sensação de que Fernando não estava contando tudo.

— Não. Agora é sua vez. Sei o necessário sobre sua família e trabalho, mas quero saber de você. Mais especificamente, como você sabia da vinda de Lucas?

O que ele não entendia, era que Sophie não sabia, havia apenas sonhado, o que costumava revelar algumas coisas, no entanto, não sabia explicar como e nem porquê acontecia.

— Certo… – Ela mordeu a bochecha por dentro antes de continuar e sentiu o gosto de sangue. — Eu sempre sonhei com coisas que estavam para acontecer e isso era um problema, ainda mais para uma criança comunicativa. Meu pai me levou a um psicólogo. Passei a tomar remédios fortes e um deles era para dormir. Assim eu não teria sonhos e se tivesse a recomendação era manter a boca fechada. Cheguei a interromper a medicação algumas vezes e os sonhos sempre voltavam. Há um ano, decidi não tomar mais e não ir ao psicólogo. Os sonhos voltaram e dessa vez piores, mais reais.

A falta de reação de Fernando a preocupou, sempre teve medo de contar o que acontecia às pessoas, nem mesmo Carlos sabia, apesar de desconfiar que havia algo errado.

— Isso é incrível e assustador. – Concluiu, impressionado com o resumo dela.

— Bom, você pode se cagar de medo longe de mim. – Não era bem essa resposta que queria dar, mais valia também.

— Por que eu faria isso? Gosto de você. E há relatos de pessoas assim pelo mundo, você não é a única.

— Eu sei disso. Tive muitas noites em claro para pesquisar, acredite. – Sophie leu tudo o que encontrou sobre sonhos e de tempos em tempos voltava a fazer novas pesquisas, mas continuava encontrando as mesmas explicações sobre espiritualidade, se desligar do corpo e se transportar para outro mundo enquanto dormia, ou até mesmo alguns poucos testes de cientistas tentando descobrir como isso acontecia. Deixou de procurar com frequência a última vez que leu sobre alienígenas. — É que… Você mesmo disse que é assustador. – Repassou, confusa pela atitude dele.

— Imagino que deva ser assustador para você. Eu acho incrível!

Por essa reação Sophie não esperava. Tentou não se animar por não ter sido rejeitada, muito menos por ele ter dito que gostava dela, tudo parecia surreal demais. Depois do silêncio que sucedeu a conversa, Fernando pediu mais uma vez desculpas.

Mesmo ainda matutando os acontecimentos, ela compreendeu a situação. Então comeu seu bolo e foi dormir, ao lado dele. Quem era ela para julgar?

Ainda com sono pela manhã, Sophie se arrumou para ir à faculdade, estava com a prova remarcada e não teria chance de fazer novamente, sem contar que já tinha outras provas marcadas por causa do fim do semestre.

Fernando também se arrumou e eles foram juntos. Ela foi direto para a sala, a prova era na primeira aula e não teve dificuldades para fazer, terminou o mais rápido que pôde e foi para a cantina esperar seus amigos e Fernando. Não sabia bem em que categoria ele se encaixava, então resolveu não tentar encaixá-lo.

Carlos foi o primeiro a chegar e se jogou na cadeira ao dela, empolgado para ouvir os detalhes que ela não conseguiu contar por mensagem. Com paciência, Sophie contou tudo ao amigo, incluindo o beijo roubado, omitiu apenas o que contou a Fernando sobre si.

Alguns alunos começaram a circular pelo pátio e o barulho começou a incomodar, só estavam esperando por Fernando para irem embora. Logo Sabrina e Hiago se juntaram à eles e na mesa. Ao lado da mesa deles, Lucas e a garota que tinha visto com o grupo na primeira vez que os encontrou na faculdade, estavam sentados com outros alunos. Eles falavam alto e não tinham reparado em Sophie e seus amigos. Até Sabrina começar a rir alto para chamar a atenção dele e tudo descambar.

Lucas saiu de sua mesa e foi cumprimenta-los. Recebeu o cumprimento de Sabrina e Hiago, Carlos acenou com a cabeça, em silêncio e Sophie o encarou, furiosa, sem cumprimentar de volta.

— Aproveitando a boa recepção… – Sorriu e pegou uma cadeira para sentar. Sabrina não perdeu tempo e tentou puxar assunto, mas foi ignorada e interrompida. — Esqueci de te perguntar ontem quando fui a sua casa, Sophie… – Ela fechou a cara e todos ficara em silêncio, esperando para ouvir a pergunta. Nem que tivesse mil sonhos, teria como prever o que viria a seguir, mas aconteceu e sua reação foi nada mais que arregalar os olhos e ficar com a garganta seca. — Gostaria de saber, quando nosso beijo vai se repetir?

Até mesmo as pessoas da mesa ao lado se calaram esperando por sua resposta, ela não sabia, mas tinha ficado conhecida pelo ocorrido com o rapaz drogado. Estavam ansiosos pelo próximo capítulo da vida, aparentemente interessante, da garota antissocial da faculdade.

— Isso só pode ser brincadeira! – Sabrina foi a primeira a falar.

— Na verdade não. Você disse que não sabia o que os caras viam em sua amiga… Agora eu sei. Não esquenta, Sabrina, você não é tão ruim. É bonita e não deixa a desejar na… você sabe! – Riu como se aquilo fosse a coisa mais engraçada do mundo. — Mas quando abre a boca… – Ele balançou a cabeça, desgostoso. — Sinceramente, sua amiga é muito mais interessante que você, e isso eu sei apenas com um beijo. Imagina o resto?

Carlos segurou a mão da amiga por baixo da mesa, só assim ela acordou e passou a ter noção do que estava acontecendo, mas preferia não ter tido. Imaginou que seria uma boa hora para desmaiar, ou pelo menos fingir, já que não poderia cavar um buraco na terra e enfiar a cabeça.

— Não acredito! Todo esse tempo você fingindo ser minha amiga e quando eu viro as costas, pega o cara que eu gosto? – Sabrina se levantou da cadeira e começou a gritar. — Eu sabia que você era uma vadia, mas não imaginei que chegaria a esse ponto. Nem com a morte de alguém da sua família você sossega.

— Fala baixo, Sabrina! Você não sabe o que aconteceu, eu explico. – Pediu engolindo sua indignação, ainda tentando compreender o lado da amiga, que se calou. Sophie aproveitou a oportunidade. — Eu fui com Fernando para a casa dele e entrei na frente, mas Lucas estava lá. Ele me beijou.

— E você quer que eu acredite nisso? – Falou ainda mais alto. — Não quer que todos saibam que você pega os caras que sua amiga gosta?

— Como se você tivesse moral para falar de alguém. A única vadia que conheço aqui é você. – Carlos saiu em defesa da amiga e a discussão ficou mais tumultuada que nunca. — Gustavo deve ter sido só o primeiro. – Sophie se virou para Carlos e ele engoliu seco. — Você não quis acreditar e brigou comigo, mas essa aí… – Apontou o dedo para Sabrina, fazendo ainda mais escândalo. — Ficou com Gustavo enquanto vocês ainda namoravam e tenho provas.

— Já que todo mundo tem alguma coisa para falar, também vou me pronunciar. – Hiago, que até então só observava a discussão, ficou em pé, parecendo se divertir com a situação. — Naquela festa, você quis que eu te ajudasse a ficar com Fernando, mas também levou um fora dele e isso foi depois de ter visto ele sair com Sophie.

Lucas ria, como se nunca tivesse se divertido tanto na vida, imaginou que causaria algum transtorno, só não pensou que fosse virar um circo. Entretanto, sentiu uma pontada de culpa por fazer Sophie passar por aquilo, a garota tinha até agradecido pela ajuda que ele tinha dado, devia ter pensado melhor antes de dar início a situação.

— Você só está dizendo isso porque eu te dei um fora na festa. – Tentou se defender antes de voltar a atacar Sophie. — Não satisfeita em ficar com Fernando, você tinha que ficar com Lucas também. Você não presta!

— Não, eu disse isso para provar que quem não presta é você! – O garoto rebateu, irritado pelas risadas que ouviu. Não sairia por baixo.

Sophie começou a recolher suas coisas, em silêncio e soltando fogo pelas ventas, nunca tinha passado tanta vergonha na vida e não esperava que sua amizade com Sabrina acabaria assim, mas Carlos estava certo, não devia ter brigado com ele por causa dela, nunca.

— Agora vai embora, como se nada tivesse acontecido? – Sabrina voltou a provocar, no momento em que Fernando abriu caminho entre a roda de pessoas que tinha se formado em volta da mesa.

Carlos e Hiago já estavam com suas bolsas, esperando por Sophie, que empurrou uma das mesas para cima de Sabrina, fazendo com que os outros abrissem caminho e a garota se assustasse com a proximidade, pois sempre soube que Sophie era pavio curto.

As duas ficaram frente a frente e Fernando segurou a mão dela, com medo do que podia acontecer, mesmo sem saber qual era a situação.

— Agradeça por eu estar indo embora. Se eu fosse realmente fazer o que tenho vontade, acredite, você não iria gostar.

 — O que está acontecendo? – Fernando finalmente perguntou.

— A maior lavagem de roupa suja da história! – Sophie respondeu, desgostosa e se virou na direção de Lucas, ainda sentado, porém, sem nenhum vestígio do divertimento que apresentava segundos antes. — Você ainda é um babaca, mas obrigada!

Ela deu uma trombada em Sabrina enquanto saía do aglomerado de pessoas, seguida por Carlos e Hiago. No corredor, todos os alunos cochichavam enquanto ela passava, estava acostumada aos comentários maldosos, mesmo assim, sua vontade era de chutar a bunda de todos eles, um por um.

No carro, a caminho para a casa dela, Carlos e Hiago se alternaram para contar o que tinha acontecido à Fernando, Sophie permaneceu em silêncio, contendo sua vontade de chorar e remoendo a raiva.

Quando entrou em casa, ela chamou Carlos para conversar em seu quarto e deixou Fernando e Hiago sozinhos na sala. A conversa demorou um bom tempo, mas era honesta e necessária. A garota não imaginava que Sabrina tinha boicotado alguns de seus relacionamentos e nem mesmo um emprego que tinham conseguido juntas, entretanto, seu amigo sabia de tudo e tentou várias vezes avisá-la, chegando a arriscar a amizade que tinham.

Mais tarde, Hiago sugeriu que eles saíssem, estava rolando uma balada na beira da pista, era a fantasia, mas ninguém, além de Sophie se animou para ir. Carlos tinha um encontro com um carinha que estava a fim e Fernando disse que tinha um compromisso de trabalho.

Ela não estava a fim de ficar em casa, queria sair um pouco, se divertir, ou apenas se desligar um pouco do mundo e em casa não conseguiria fazer isso. Propôs a Hiago que saíssem juntos e o garoto aceitou.

Fernando disse que se ela precisasse de carona podia ligar para ele na volta, mas Sophie o sentiu um pouco distante… Diferente, algo o estava preocupando, decidiu não perguntar, não precisaria se ele realmente quisesse contar.

Combinou de se encontrar com Hiago num Botequim no centro da cidade, não estava com paciência para ir atrás de fantasia. Fazia muito frio naquela noite, então usou botas, além de uma calça jeans e uma jaqueta forrada, por cima de uma bata preta.

Ligou para o ponto de táxi e deixou avisado ao motorista que ligaria mais tarde para ele, era um cara confiável e que todos conheciam.

O bar estava cheio e Hiago já a esperava em uma mesa. Eles ouviram música e dançaram algumas vezes. Ela comprou uma garrafa de Fada verde, não pretendia beber a garrafa toda, mas não queria arriscar, alguns lugares costumavam oferecer bebida falsa aos clientes depois que já estavam bêbados.

Dividiu a garrafa de absinto com o garoto e alterados, começaram a falar de suas vidas. Foi aí que Sophie percebeu como todos sabiam sobre os sonhos dele, Hiago não se preocupava com quem estava falando.

— E você acha que sou maluco, né? – Ele se debruçou na mesa, chateado e bêbado.

— Não… – Estava ficando difícil formular pensamentos coerentes, percebeu, já pensando em ir para casa. — Só acho que devia segurar sua língua dentro da boca.

— Mas é verdade… – Choramingou. — Não sou mentiroso.

— Eu sei, mas as outras pessoas não.

— Espera… – Ele enrijeceu o corpo e a encarou. — Como você sabe?

— Você está bêbado. Não disse que sabia. – Tentou desconversar.

— Não senhora! Você disse! – Falou alto demais. — Você também sabe, não é? Tem esses sonhos também. – Deduziu, e a tensão no maxilar dela a entregou. — Pode falar, não vou contar pra ninguém. Só não aguento mais me sentir sozinho…

— Ok! – Bufou, pensando em como tinha sido descuidada acreditando que o garoto estava bêbado demais para perceber as coisas. — Você não é o único, pronto! Mantenha essa boca fechada, entendeu?

Ele sorriu e assentiu, animado. Tinha um monte de perguntas para fazer, mas um cara sentou ao lado de Sophie e o fez se calar. Durante os últimos dias, a sensação de estar sendo observada a acompanhava, agora sabia o motivo. Lucas só podia estar seguindo Sophie, ou como saberia onde ela estava?

— O que você quer? – Ela bebeu o que restava de seu copo. Sem se virar para ele.

Infelizmente, bêbado como Hiago estava, quando Lucas o mandou sair da mesa, ele obedeceu sem pestanejar e se enfiou na bagunça do espaço de dança.

— Fiquei preocupado com você, queria saber se estava bem. – Respondeu, sem nenhum vestígio de sua acidez comum.

— Estou ótima! Satisfeito? – O mesmo não poderia ser dito dela, transbordava acidez mais que um limão.

— Na verdade não… – Ele virou o rosto dela, com cuidado para encará-la. — Estou me sentindo um pouco culpado, não imaginei que…

— Sério? – Sophie virou o corpo e ficou de frente para ele. — Não sabia que babacas sentiam culpa!

— Tudo bem, eu mereci essa! – Riu, de um jeito que pareceu a ela, envergonhado.

— Certo… – Respirou fundo, já não estava se sentindo tão bem e decidiu ir para casa. — Eu vou superar, agradeço a preocupação.

— Sério, não estou brincando, vim te pedir desculpas.

— Eu também não. – Ela pegou sua bolsa que estava pendurada na cadeira, tirou o celular e ligou para o taxista. Lucas continuou ali. — Aceito sua desculpa. Só isso? – Perguntou, depois de desligar o celular e perceber que ele ainda esperava.

— Não… – Com dificuldade para acompanhar os movimentos dele, Sophie sentiu as mãos segurarem seu rosto e os lábios de Lucas se encostando nos dela. Ela não o impediu, correspondeu ao beijo, e pior, gostou.

Ele se afastou, esperando pela reação dela, que demorou a vir, mas foi forte. Ela deu um tapa no rosto dele, chegou a estralar e sua mão doeu na mesma hora. Sophie ignorou a dor e se levantou, o empurrando para passar.

— Qual é o seu problema? – Precisou afastar uma das cadeiras para conseguir espaço.

— Nenhum, só queria beijar você, nada demais. Você não tem namorado.

— Não, mas isso não quer dizer que você pode me beijar. Estou saindo com seu irmão! E mesmo que não estivesse.

— Meio irmão. – Corrigiu, aborrecido.

— Não importa! Se afasta de mim! – Ele obedeceu. — Minha carona já deve ter chegado. – Passou por ele como um furacão. — E para de me seguir. — Ordenou antes de sair, atordoada, do bar.

Sentindo os efeitos de se levantar rápido depois de ter bebido por um bom tempo sentada, Sophie atravessou a rua para entrar no táxi e a única coisa que sentiu foi uma mão em suas costas, a puxando, e uma pancada no braço. Tudo estava acontecendo rápido demais, podia jurar que quando bebia as coisas aconteciam em câmera lenta, mas não dessa vez.

Assustada, ela se virou e viu o dono da mão, não viu exatamente, pois a pessoa, um homem alto, estava de capuz, por causa do frio e sua visão não estava das melhores por causa do álcool. Ele a levou até o táxi e abriu a porta, o motorista fez menção de que ia sair do carro, mas o homem fechou a porta e bateu na lateral, indicando que podia sair.

Sophie ainda viu um motoqueiro no chão, provavelmente a pessoa que quase a atropelou, o homem que a ajudou foi em direção ao motoqueiro. Ela abaixou o vidro da janela, tentando ver melhor quem a ajudou. Não conseguiu, a única lembrança que teria daquele homem, seria o cheiro de erva doce que ele deixou em sua jaqueta, isso se a fada verde permitisse que ela guardasse essa informação.

Sophie se acomodou no banco do carro e fechou os olhos. Pouco tempo depois ela acordou com o táxi parado na porta de sua casa e com o motorista chamando seu nome.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Manipuladores do Futuro" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.