Manipuladores do Futuro escrita por Amanda Maia


Capítulo 6
Mais ciúmes, beijo roubado e um visitante na madrugada.




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Pouco antes de amanhecer, Sophie já estava sozinha na cama. Mesmo sabendo dessa possibilidade, ficou chateada. Esperava pelo menos que ele se despedisse, mas era melhor assim, achava. Pelo menos não se arrependeria por ter feito o que queria, foi bom.

Tomou um banho e já tinha decidido não ir a faculdade. Levou seu computador para a sala e aproveitou para ler seus e-mails, esperava a resposta de uma venda importante, mas um velho conhecido havia dado sinal de vida.

“Estou com saudade! Tem um evento de música rolando em uma cidade vizinha, dizem que é muito bom e toca de tudo, gostaria de te levar. O que você acha? Vamos? Estou no trabalho e não posso usar o celular, pode ser que eu não consiga abrir o e-mail depois, então eu te ligo mais tarde para saber. Quero muito te ver!”. Ela precisou ler duas vezes, fazia muito tempo que Bruno não a procurava.

De qualquer forma, não estava a fim de sair. Foi para o seu quarto pegar o celular e aproveitou para ligar para sua mãe. Ficou aliviada por saber que estava tudo bem, na medida do possível, mas não voltariam naquele dia.

Quando voltou para a sala, seu coração acelerou com o que viu. Fernando estava arrumando as compras que tinha feito e sorriu ao vê-la.

— Bom dia! – Ele tirou um bolo de chocolate da sacola. — Qual é o problema? Parece que viu um fantasma.

— Bom dia! – Caminhou até ele devagar e começou a ajudar a guardar as coisas. — Não tem nenhum problema. É que pensei…

Fernando a segurou pelo braço, virou o corpo dela para si e a encarou.

— Eu não dormiria com você e depois iria embora sem dar uma satisfação. Não sou nenhum canalha. – Sophie assentiu, um pouco envergonhada. — Só fui comprar comida.

— Eu adoro bolo! – Sorriu, decidida a deixar o assunto morrer.

— Vou fazer o almoço hoje. Carne assada. Gosta? – Ele a beijou suavemente e se afastou, também não querendo prolongar o assunto.

— Muito. – Fernando soltou o braço dela e os dois terminam de guardar as compras.

Sophie fechou seu e-mail no computador e usou apenas pelo celular, assim pôde ajudá-lo com o almoço e aproveitou para dar um jeito na casa.

Antes do almoço, a resposta positiva de sua venda chegou. Fernando a observou digitar pelo celular, ligar para um tal “Diogo” combinando preços e em seguida se sentar no sofá, emburrada e batendo os pés no chão, como se estivesse tentando resolver um enigma.

— O que foi? Sua venda não deu certo? – Sentou ao lado dela, preocupado.

— Deu, mas tenho um problema e não sei como resolver.

— Qual?

— Diogo é o nosso mecânico. Ele quem faz a revisão e que leva o carro com o ajudante dele para mim. Mas hoje ele não volta para a cidade, só vai poder me levar, preciso ter como voltar e não tem ônibus para cá.

— Isso é fácil. Eu vou com você, Diogo leva o carro que você vai vender e o ajudante dele vai com o carro da mecânica. Ou podemos chamar um guincho e eu levo você.

— Não posso pagar um guincho, mas se você puder me levar é perfeito.

— Que horas?

— Por volta das 17:00. Tudo bem?

— Por mim, sim. Agora vamos comer! – Se levantou a puxando consigo, satisfeito com o sorriso dela.

A garota ficava cada vez mais encantada por Fernando, Bonito, carinhoso, prestativo e ainda sabia cozinhar muito bem, não tinha do que reclamar. Passaram o resto da tarde conversando sobre carros e ela explicou como seu pequeno negócio funcionava até a hora de saírem.

Não tiveram nenhum imprevisto. Todo mundo saiu satisfeito com o negócio e ela ficou grata por não ter perdido a venda. Na volta, o clima estava um pouco estranho, Fernando ficou em silêncio, mas lançava olhares furtivos para Sophie, como se estivesse tomando coragem para dizer alguma coisa e não conseguia.

— Vou te deixar em casa. Se precisar de alguma coisa me liga. – Avisou, de repente, quebrando o silêncio.

— Tá bom. – Ela tentou disfarçar a decepção e pensou em perguntar o que estava acontecendo, mas continuou em silêncio, até seu celular tocar.

— Oi, Bruno! – Tentou falar baixo e soar entusiasmada. — Então… – Observou Fernando com a visão periférica e deu de ombros, como se não ligasse, mas tomou uma decisão infantil. — Não sei se vai dar, tenho saído com uma pessoa…

Fernando subiu os vidros do carro e conseguiu ouvir parte da conversa. Bruno falava muito alto e quando o ouviu perguntando se Sophie estava dando exclusividade ao cara com quem estava saindo, ficou puto da vida. Ficou ainda mais irritado quando ela não recusou o convite, apenas adiou a resposta.

O modo como os dois conversavam sugeria uma intimidade que ele ainda não tinha com ela. Chegou a perguntar sobre os relacionamentos dela e sabia que não havia nenhum sentimento mais sério com o cara, porém, isso era da parte dela… Percebeu, pela insistência, que Bruno não a via apenas como uma pessoa com quem saía de vez em quando, ele gostava de Sophie.

O clima só piorou quando ela desligou o celular e Fernando ficou remoendo o ciúme em silêncio, enquanto Sophie esperava que a possibilidade de sair com outra pessoa o fizesse mudar de ideia e ficar com ela.

Nada saiu como o esperado dessa vez.

— Chegamos! – A parada brusca do carro faz Sophie precisar se apoiar no painel, pois já tinha tirado o cinto quando entraram na rua e foi projetada para a frente.

— Obrigada! – Ela abriu a porta do carro e se virou para uma última tentativa. — Não quer entrar?

— Não. Bom passeio! – Ele respondeu sem nem olhar para o lado.

— Que passeio? – Franziu a testa, confusa.

Nem se lembrava mais do convite de Bruno, mas não gostou do tom ríspido dele, afinal quem decidiu ir embora foi ele.

— Espero que se divirta com o Bruno.

— Qual é o seu problema? Não quer ficar, então não reclama. – Desceu do carro e fechou a porta com mais força que o necessário.

— Claro, não te pedi exclusividade. Não posso reclamar.

— Não mesmo e a exclusividade tem que ser merecida. – Ficou irritada ao perceber que ele tinha ouvido parte ou toda a conversa e decepcionada pelo tiro ter saído pela culatra.

— Imagino. – Ele ligou o carro novamente e se inclinou para a janela do passageiro. — Boa noite!

Sophie tirou sua chave do bolso e antes de se virar mostrou o dedo do meio.

— Vai à merda! – Ela não se contentou só em mostrar o dedo do meio, precisou xingar também e em seguida, caminhou para sua casa, pisando duro.

Não deu cinco minutos que entrou em casa e seu celular tocou novamente. Bufando, atendeu a ligação. Bruno queria que ela fosse de qualquer jeito, mas Sophie recusou. Mesmo chateado, ele foi compreensivo e não insistiu mais.

Ela se jogou no sofá e ligou a televisão, permaneceu um tempo sem ao menos se mover, não se importava com o que estava passando, queria apenas um pouco de barulho, a casa ficava muito vazia demais sem seus pais.

Uma batida na porta a assustou, ela desligou a televisão e foi atender. Fernando sorriu quando a viu.

— Você é muito mal educada! – Disse, cruzando os braços.

— Conta uma novidade, essa é velha. – Retrucou, confusa, mas contente em vê-lo.

Ele a segurou pela nuca e a beijou, sem qualquer resistência ela correspondeu. Fernando fechou a porta com o pé. Os dois, ainda se beijando, Foram para o sofá. Ele faz uma pausa e a encarou.

— Quando o Bruno ligar, avisa que você já tem compromisso.

— Tarde demais! Ele já ligou.

— E você vai? – Ele se afastou mais um pouco e esperou, escondendo a irritação.

— Eu recusei. – Ela deu um sorriso e se ajeitou no sofá. — Não entendi o porquê de você ficar tão irritado. Quem quis ir embora foi você. Pensei que fosse ficar comigo aqui.

— Eu sei, desculpa por ser idiota. – Assentiu, envergonhado, mas não contou que tinha bisbilhotado o e-mail dela escondido. — Não posso ficar aqui, também tenho casa e preciso pagar a Mara.

— Entendo… – Julgou ser uma boa justificativa.

— Mas isso não te impede de ir comigo. O que acha? – Não pretendia fazer o convite, mas só de imaginar deixá-la sozinha, com a possibilidade de outro aparecer, não conseguiu se conter.

— Não tem problema?

— Nenhum. – Ele se inclinou e deu um beijo rápido no rosto dela.

— Então vou pegar minhas coisas.

Fernando achou graça no jeito afobado dela de subir a escada correndo e a esperou no sofá. Sabia que precisava se controlar, mas estava difícil. Sophie não era apenas uma garota de quem gosta, era provavelmente sua mina de ouro.

Sophie levou apenas alguns minutos para voltar e chegou até a passar uma maquiagem leve e batom. Fernando a ajudou com a bolsa e os dois seguiram para a casa dele. O celular dela não parou de tocar durante o caminho e ela o avisou que estava conversando com Carlos por mensagem. Ele lhe deu a chave da casa e pediu para ela entrar na frente enquanto guardava o carro.

Sophie pegou sua bolsa e se atrapalhou um pouco com as chaves, não entendia como uma pessoa poderia ter tudo aquilo de chave e conseguir entrar no lugar que queria sem dificuldades, mas encontrou a chave do portão e entrou. Passou alguns segundos testando as chaves na porta da casa, até perceber que estava destrancada.

Sophie ascendeu a luz da cozinha e foi deixar sua bolsa no quarto e quase teve um ataque quando encontrou o cara que trabalhava com Fernando e que deu um fora em Sabrina, sentado no sofá. Tentou expulsar as coisas que Carlos tinha dito nas conversas por mensagens, não queria deixar suas emoções falarem mais alto, só não conseguiu evitar de sentir raiva.

Ele se levantou, sorrindo, algo em seu olhar gelou a espinha da garota, mas ela estendeu a mão e o cumprimentou.

— Meu nome é Lucas. Você é a Sophie, certo?

— Sim. – Esboçou um sorriso fraco. — O que você está fazendo aqui?

— Preciso falar com…

— Isso eu imagino, só não sei como você entrou. – Jogou a bolsa em cima da cama, tentando agir naturalmente.

— Tenho a chave. – Ele chacoalhou um chaveiro com várias chaves e guardou em seu bolso em seguida.

— Fernando só foi guardar o carro. – Explicou e Lucas começou a andar em volta dela como um animal cercando sua presa, analisando o lugar mais vulnerável para atacar. Sophie controlou o medo que sentiu e se afastou. — Naquele dia não pude falar com você… Obrigada por me ajudar com o cara na faculdade.

— Não precisa agradecer… – Ele estreitou os olhos e parou de frente para ela. — Sabe, eu e Fernando costumávamos compartilhar coisas… Garotas. – Concluiu, um pouco surpreso com a reação, ou falta de reação dela.

— Que bom para vocês! – Sophie revirou os olhos e cruzou os braços em cima do peito, queria sair do quarto, mas Lucas estava bloqueando a passagem. Sentia-se como naquele ditado, “Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”.

— Naquela festa eu não tinha reparado direito em você. O grude da sua amiga não me deixou respirar a noite toda, acho que dessa vez Fernando fez uma boa escolha.

— Isso não lhe dá o direito de ofender minha amiga. – Em uma das mensagens, Carlos disse que Lucas havia humilhado Sabrina na frente de todo mundo na faculdade a chamando de vadia e ela não deixaria de defendê-la.

— Foi o único jeito de tirá-la do meu pé, pelo menos eu espero que tenha resolvido, ela é persistente. – Deu de ombros, como se tivesse feito a coisa mais insignificante de sua vida.

— E você é um babaca! – Ela esperava afastá-lo ao xingar, mas Lucas sorriu e deu alguns passos em sua direção.

— Acho que seu jeito agressivo é atraente, mas Fernando não está com você só por causa dos seus belos olhos. O que você faz? – A pergunta fez o coração dela acelerar. Como aquele cara sabia que ela fazia alguma coisa? Ou ele estava se referindo à outras coisas e ela estava ficando paranoica.

— Não interessa o que eu faço, não para você. – Sabia que deveria dar um jeito de sair correndo, os problemas eram a passagem bloqueada e sua mania de não levar desaforo para casa, pois podia muito bem se esconder no banheiro e esperar Fernando chegar, mas em sua mente essa possibilidade foi descartada antes mesmo de ser pensada.

— Espero que seja algo muito especial, ou não… De qualquer jeito as intenções dele nunca são muito boas e você sendo especial ou não, o que importa é ter serventia para ele. Sugiro que tome cuidado!

— E eu sugiro que você tome conta da sua vida. Seu maluco! – Ela raramente pensava duas vezes antes de responder e não deixaria que um idiota lhe desse conselhos. O cara encurtou a pouca distância entre eles e o corpo dela reagiu com um leve tremor ao calor dele.

Lucas, de súbito, beijou os lábios de Sophie, que não conseguiu ter outra reação que não fosse arregalar os olhos. Tudo aconteceu muito rápido, ela estava tentando entender as coisas desconexas que ele dizia e de repente já sentia o gosto de hortelã e os lábios macios dele nos seus.

Ela chegou a corresponder ao beijo por alguns segundos, até cair em si dar uma joelhada entre as pernas dele. Lucas caiu em cima do sofá com as mãos segurando as partes íntimas, gemendo de dor. Sophie aproveitou para sair correndo do quarto, mas deu de cara com Fernando entrando na casa.

— O que foi? – Ele a amparou, a trombada a deixou desnorteada por um tempo e Fernando ouviu os gemidos, reconhecendo o dono deles. — O que aconteceu… – Não foi preciso Sophie responder, não com o batom borrado, era fácil deduzir.

Ele a colocou sentada na cadeira e Mara chegou no momento da confusão. Elas observaram Fernando entrar no quarto e sair arrastando Lucas para fora pelo colarinho, sabiam no que ia dar.

Os dois chegaram a trocar alguns socos, mas logo o barulho da briga cessou e elas escutam o portão abrir e bater.

Fernando entrou como um furacão na casa e se abaixou perto de Sophie.

— Você está bem? Ele te machucou?

— Não, estou bem. Ele só… – O rosto dela começou a esquentar, não por vergonha, mas de raiva e não conseguiu terminar a frase.

— Eu sei o que ele fez, dá para ver. – O tom de voz de Fernando a irritou e só ela tinha o direito de se sentir assim.

Mesmo em uma situação como essa, o ciúme dele falava mais alto. Sophie se levantou e foi pegar sua bolsa no quarto.

— Essa é Mara. – Fernando apresentou quando ela voltou com a bolsa nas costas.

— Prazer, Mara! – Ela estendeu a mão e cumprimentou a mulher. — Sophie!

— Prazer! – Respondeu, um tanto ansiosa e sem jeito por causa do clima entre os dois.

— Por que você pegou a bolsa? – Fernando por pouco não levou uma resposta mal educada que passou pela cabeça da garota, mas ela decidiu poupar a mulher de ouvir aquilo.

— Vou embora. – Ela acenou com a cabeça para Mara e passou por.

O portão estava destrancado, então ela saiu e pegou seu celular para chamar um táxi, mas Fernando veio atrás dela.

— Posso levar você. Pensei que…

— Pensou errado! – O interrompeu com a voz ficando embargada pelo choro que estava tentando controlar. — Não vou ficar na sua casa, não quando você fica irritado comigo pelo que aconteceu.

— Escuta! – Ele a segurou pelos ombros e a fez se virar para encará-lo. — Não estou bravo com você, não é legal saber que ele te beijou, mas sei que você não tem culpa.

— Só faltava não saber! – Revirou os olhos e respirou fundo para se acalmar. — Mesmo assim prefiro ir para minha casa.

— Então eu te levo. Só vou pagar a Mara e já volto. – Ele mexeu no bolso da calça, tirou a chave do carro e entregou na mão dela. — Você consegue tirar o carro da garagem?

— Claro que consigo. – Essa pergunta era quase uma ofensa para ela que passou dias praticando baliza com o pai.

— Então pega o carro e me espera aqui na porta. Você segue nessa calçada. O estacionamento fica na esquina e o vigia não vai barrar você. Pode ser?

— Pode.

Sophie deu às costas a Fernando e seguiu para o estacionamento. Como ele havia dito, o vigia nem se aproximou, apenas observou para saber qual carro ela ia pegar. Teve um pouco de dificuldade para manobrar o carro, estava nervosa ainda e acostumada a ter mais espaço, mas conseguiu sair sem problemas. Quando chegou na rua, Fernando já estava esperando na calçada e entrou pelo lado do passageiro.

Os dois ficaram em silêncio por um tempo, Fernando parecia tenso, mas aos poucos começou a relaxar.

— Você dirige bem. Porque não foi dirigindo o carro vendido hoje.

— Estou tirando carta, se eu for pega dirigindo sem habilitação, ela é suspensa antes mesmo de chegar. Na pista as chances disso acontecer são maiores, não quero arriscar.

— Verdade. É melhor não arriscar mesmo. – Concordou, deixando a conversa morrer.

Quando chegaram, Fernando fechou o carro e a acompanhou para dentro da casa, apesar da conversa, Sophie ainda estava chateada e o ignorava.

— Você vai ficar, ou vai embora? – A pergunta repentina dela soou estranha, ele não tinha certeza se ela queria mesmo sua companhia.

— É um convite? – Sua insinuação não foi bem recebida e ele suspirou. — Não acho uma boa ideia você ficar sozinha depois do que aconteceu hoje.

— Você quer dizer que aquele idiota pode vir atrás de mim? – O pânico tomou conta dela antes mesmo de ouvir a resposta, não o motivo de ter pensado nisso, mas foi a primeira coisa que pensou.

— Acho que não, mas prefiro ficar para garantir, se não tiver problema para você, claro. – Conhecia Lucas o suficiente para saber que ele não deixaria barato ter sido pego de surpresa.

— Não gostaria que ficasse só por isso, mas não tem problema em ficar. – Sophie fechou os olhos, respirou fundo e seguiu para a escada. — Não esquece de apagar a luz. Preciso de um banho. Te espero lá em cima.

Fernando a esperou tomar banho e depois tomou o seu. Prontos para dormir, ele tirou da mochila que trouxe, uma garrafa de isotônico e ofereceu a ela. Sem jeito, Sophie aceitou, bebeu até a metade e devolveu.

Não tinha o hábito de beber isotônico, sua mãe sempre comprava, mas só ela bebia. Aquele era gostoso, diferente, tinha um sabor melhor, não tinha um gosto forte de soro.

Fernando deitou ao lado dela na cama e acariciou sua cabeça.

— Desculpa por ter dado a ideia de ter ficado com raiva de você.

— Tudo bem. – Bocejou e começou a fechar os olhos, não queria mais falar sobre aquilo. — Boa noite!

Sentiu Fernando se levantar para apagar a luz e deitar novamente, recebeu um abraço aconchegante e só teve tempo de ouvir ele lhe desejar boa noite antes de apagar de vez.

Sophie, assustada. Levou as mãos ao pescoço e, sufocando, sentou na cama. Olhou em volta e se acalmou ao perceber que não tinha nada errado, que não corria perigo e que Fernando ainda estava ali. Acordado e com ar preocupado, mas ali.

— O que foi isso? – Ele se levantou e pegou a garrafa de isotônico para ela.

— Tive um pesadelo, só isso. – Ela abriu a garrafa e bebeu tudo, estava com a garganta seca.

— O que você viu… – Ao vê-la franzir a testa, ele se corrigiu. — No pesadelo?

— Eu não… – Teve receio de contar e soar patético, não costumava sentir medo assim. — Não foi agradável.

— Se não quiser contar, tudo bem. Só fiquei preocupado.

— Eu conto, mas não quero que fique irritado.

— Certo… – A postura dele ficou tensa, mas assentiu para ela começar.

— Eu estava na cozinha e você aqui no meu quarto. Não sei o que eu fui fazer lá, mas alguém bateu à porta e eu atendi. Quando abri, Lucas estava parado na minha frente, o modo como ele me olhou gelou meu sangue e eu estaquei na porta. Comecei a chamar seu nome. Você não aparecia. Lucas riu, e me pegou pelo pescoço e começou a apertar me pressionando contra a porta. Eu comecei a sufocar…. E acordei.

— Ele tentou matar você? – Perguntou, cauteloso.

— Acredito que teria matado se quisesse, acho que queria me assustar, ou algo parecido. A força dele era sobre-humana, se me quisesse morta teria conseguido sem esforço. – Ela concluiu, repassando o sonho em sua cabeça e acreditando não ter motivos para ficar tão assustada.

— Foi só um sonho ruim. – Fernando a abraçou, carinhoso.

— Provavelmente… – O estômago dela roncou e os dois deram risada. — Ainda tem bolo? – Perguntou, com a cabeça encostada no peito dele, envolta em seus braços fortes e mesmo assim não tinha a mínima sensação de segurança.

— Tem sim. Está na geladeira.

— Vou pegar um pedaço, Você quer?

— Quero. – Fernando soltou e deu espaço para ela descer da cama.

— Já volto!

Sophie jogou o cobertor de lado e foi para a cozinha descalça mesmo. Estava tão cansada quando chegou em casa que depois do banho acabou dormindo sem comer. Abriu a geladeira e cortou dois pedaços de bolo. Acabou melecando a mão com cobertura de chocolate e deixou o prato em cima da mesa para lavar a mão na pia.

Foi nesse momento que uma batida à porta a vez congelar e seu coração disparar.  Não conseguiu se mexer nem para fechar a torneira, sentiu-se como se estivesse em seu próprio pesadelo, porém, não sabia o que fazer e nem se conseguiria fazer algo.


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