Manipuladores do Futuro escrita por Amanda Maia


Capítulo 15
A volta de quem não foi




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Sophie tirou o celular da bolsa. Não parava de vibrar e isso não podia acontecer na sala. Haviam inúmeras mensagens, ela tinha ligado a internet da operadora, algo que não funcionava direito, mas mensagens pelo aplicativo ainda chegavam e eram enviadas.

Narciso escreveu várias vezes querendo saber o que estava acontecendo, se ela estava bem e se a tinham machucado, chegou a pensar que fosse algo obsessivo, mas após ler todas as mensagens, percebeu que era preocupação, afinal, de depois de escrever que tinha feito besteira, simplesmente parou de responder, também ia querer saber o que tinha acontecido se estivesse no lugar dele.

— Bom dia! Estou bem. Não posso falar agora, estou indo para a aula. Bjs. – Digitou, na tentativa acalmá-lo, mas não resolveu.

Narciso: — Eles machucaram você? O que aconteceu exatamente?

— O que você sabe? Como pode dizer “Eles”, se não disse nada a você:

Narciso: — Posso saber de muitas coisas, mas só interessa que você esteja bem. Você está?

— Acho que sim. Quem é você? – Digitou, sinalizando para sua colega esperar na sala.

Narciso: — Preciso ir trabalhar, mais tarde nos falamos. Espero que esteja bem mesmo, na medida do possível, claro. Bjs!

Não perguntou mais nada, Narciso ficou off-line assim que enviou a última mensagem. Sophie já estava com medo de ser algum tipo de armadilha de alguém da agência, uma tentativa de atraí-la de novo.

Lucas a observava digitar no celular, não disse nada, mas percebeu a mudança na postura dela. Resistiu a vontade de perguntar, não queria parecer ciumento, só estava curioso.

Durante toda a semana Sophie teve prova por dia e depois estava liberada para ir, mas naquela manhã foi diferente. Fez a prova primeiro e depois se juntou com sua colega de sala para apresentarem o trabalho.

Nunca teve problemas com isso, porém, lhe faltava concentração e a sala em que estavam ficou extremamente abafada e ela não podia tirar seu cachecol. Terminou a apresentação com dificuldade e saiu da sala sem nem ao menos conversar com a professora, seu pescoço coçava demais. Se enfiou no banheiro da faculdade e lá ficou alguns minutos sem o adereço.

Carlos e Lucas a esperavam em uma das mesas, ela se jogou em uma das cadeiras e suspirou, doida para chegar em casa e dormir.

— O que deu em você para usar cachecol, você odeia isso? – Carlos estava certo, nunca gostou. Não tinha muita escolha naquele momento.

— Hoje está muito frio. – Deu de ombros, trocando um olhar com Lucas, que estava tenso.

Carlos interpretou a troca de olhares de maneira errada e sorrindo, malicioso, se aproximou da amiga, puxando o cachecol e se arrependeu.

— Carlos! – O repreendeu e arrumou o cachecol, olhando em volta para ter certeza de que ninguém viu nada.

— O que aconteceu com você? Quem fez isso? – Perguntou, horrorizado e se virou para Lucas, somente para analisar os aranhões que já tinha reparado no pescoço dele. Antes que pudesse soltar os cachorros, Sophie o cutucou, chamando sua atenção.

— Depois eu explico. Aqui não. – Avisou, com os dentes cerrados.

— Se ele tem alguma coisa a ver com isso… – Lucas riu, admirava a coragem dele e a forma como defendia sua amiga, mas não resistiu, alguém como Carlos não duraria em uma briga com ele.

— Tem sim, mas não da forma que você está pensando… – Percebeu que o que disse não tinha muito sentido e tentou corrigir. — Pode ser da forma que está pensando, só que com um contexto diferente, entendeu?

— Não. – Respondeu, desconfiado. Lucas era um cara perigoso, porém, não estaria ali se aquilo fosse culpa sua. — Não tenho mais provas e você?

— Não. – Revirou os olhos.

— Então vamos, quero saber dessa história agora!

Dessa vez foi Lucas quem contou enquanto Sophie dormia, a garota não conseguia se aguentar em pé e adormeceu enquanto eles conversavam na sala da casa dela. Carlos terminou de ouvir o relato, horrorizado, tinha decidido ignorar partes do que sua amiga havia contado dias antes, pareciam fictícias demais, contudo, não podia ignorar aquilo.

— E agora? – Temia pela amiga.

— Ganhamos algum tempo. Não sei. – Deu de ombros, observando o peito da garota subir e descer, no que parecia um sono tranquilo, um dos poucos que ela costumava ter.

— Você vai ajudar a protegê-la, não vai? – Não era possível que um cara daquele tamanho não pudesse fazer nada, pensou.

— É por isso que estou aqui. – Ele se levantou de repente, incomodado com as marcas no pescoço dela. — Vou a farmácia, quero encontrar alguma coisa que amenize esses hematomas.

— Aproveita e compra uma pomada para você também. Esses aranhões estão ficando inflamados. – Tirou de sua bolsa papel e caneta, escreveu o nome de duas pomadas que conhecia para hematomas e entregou a ele.

— Valeu! – Guardou o papel no bolso. — Sabe dirigir moto?

— Não, por que?

— Rogério mandou uma mensagem pedindo para ajudar Sophie com a bateria da moto que ela comprou. Acho que o guincho vai trazer hoje. Fica aqui para acordá-la se o guincho chegar. Depois eu levo você para casa. – Não estava acostumado a pedir e nem se preocupou em fazer isso com Carlos.

— Certo. – Concordou, mesmo com vontade de retrucar a ordem dele, ficaria por sua amiga e pela carona que teria depois também.

Foi ao quarto dela pegar um cobertor, estava frio demais e a sala da casa era gelada.

Para a sorte de Carlos, Lucas chegou minutos antes do guincho e ele ajudou o homem, um senhor, na verdade. Acordaram Sophie penas para avisá-la.

— Que bom que chegou. – Respondeu sonolenta. — E a moto do meu pai, Lucas? Você pode trazer para mim? – Bocejou esfregando os olhos, tinha esquecido completamente da moto do pai.

— Já está aqui, trouxe de madrugada. – Ele se alegrou ao ver o primeiro sorriso do dia que ela deu, mas as marcas no pescoço o incomodavam demais. — Comprei pomadas para o seu pescoço, Carlos que indicou.

Seu amigo já estava com o tudo na mão, só esperando a oportunidade de passar. Sophie estava atordoada pelo sono, conseguiu se sentar no sofá para Carlos aplicar o remédio, mas tombava para os lado e não conseguia manter os olhos abertos, fazia apenas caras feias quando ele aplicava com um pouco mais de força.

— Tem que passar todos os dias até sumir, entendeu? – Perguntou, amarrando o cabelo dela.

— Sim. – Sussurrou tentando se levantar. — Obrigada. – Caminhou, se escorando no sofá, as dores em seu corpo estavam piores.

— Aonde você vai? – Lucas já estava ao lado dela, tentando evitar que batesse em alguma coisa.

— Meu quarto. Preciso da minha cama.

Antes que pudesse protestar, ele a pegou no colo e começou a subir a escada, decidiu não discutir. Lucas a colocou na cama com cuidado e a cobriu. Andou até a porta, pensando que ela já estava dormindo, mas se enganou.

— E você, aonde vai? – Se virou na cama, tentando manter os olhos abertos.

— Levar seu amigo em casa.

— E depois? – Piscou várias vezes na tentativa de tirar a areia dos olhos.

— Não sei, por que? – Pretendia ir para casa, mas não quis dizer.

— Não quero ficar sozinha. – Não acreditava no que estava prestes a pedir, mas pouco se lixou, estava com medo e não queria mesmo ficar sozinha. — Volta para dormir aqui, por favor!

— Não sei se é uma boa ideia…

— Lucas. – Sentou na cama, um pouco irritada e de uma forma que não achou que fosse capaz. Era como se estivesse usando o pouco de energia que tinha conseguido com o cochilo que tirou no sofá. — Estou pedindo para me fazer companhia, não para transar comigo, ou coisa do tipo. Não vou pedir de novo, se não quiser, tudo bem.

— E eu achando que você estava lerda de sono! – Ironizou, achando graça no jeito dela. — Se você pedisse para transar eu não recusaria também.

— Engraçadinho! – Sorriu e mostrou a língua, se jogando na cama de novo. — Você volta ou não?

— Volto. – Balançou a cabeça, rindo. — Vou levar a chave então.

— Ok. – concordou, já quase dormindo.

Observou a garota novamente por um tempo e fechou a porta do quarto. Seria bom dormir ali, desde a viagem de Fernando que não dormia em uma cama, passava em sua casa apenas para tomar banho e trocar de roupa. Não aguentava mais dormir no carro.

Mais tarde, por volta de meia noite, Sophie acordou com a garganta seca e desceu para beber água. Quase teve um ataque ao encontrar Lucas na sala, assistindo televisão.

— O que foi? Parece até que viu um fantasma. – Lucas se levantou e foi para a cozinha ao encontro da garota que parecia ter congelado.

— Não… Esqueci que pedi para você voltar, só isso. – Riu, sem graça e abriu a geladeira para pegar água. — Levei um susto, acho que ainda estou meio dormindo, sei lá…. – Deu de ombros colocando o líquido no copo e bebendo tudo de uma vez.

Lucas ficou aliviado ao perceber que a pomada não deixou as manchas no pescoço dela piorarem. Gostaria de não ter feito aquilo, mas tinha opções naquele. Se Sophie não tivesse resistido tanto, talvez tivesse conseguido dar algum sinal do que iria fazer, mas não teve chance.

— Porque está me olhando desse jeito? – Perguntou ao colocar o copo dentro da pia.

— Só estou pensando na noite anterior.

— Eu também penso nisso, principalmente quando viro o pescoço. – Riu, mas Lucas não achou graça. — Qual é? Não faz essa cara! Eu também machuquei você. Acho bom passar pomada nisso, está inflamando já. – Era possível ver parte do ferimento pela gola da camiseta dele, estava inchado e vermelho.

— Nem se compara! – Irritou-se e voltou a sentar no sofá.

Sophie pegou a pomada em cima da bancada e foi sentar ao lado dele. Sentia-se bem melhor, só um pouco dolorida.

— Eu sei que não, mas estou grata por ter evitado o pior. Talvez se eu tivesse percebido… Não teria agido daquela forma. – Reavaliando a situação, percebeu que não fazia sentido acusá-lo, se não fosse por ele, nem gostava de pensar no que poderia ter acontecido.

— Você estava se defendendo. Estava certa, como poderia saber? – Ele fez a pergunta, de cabeça baixa e virado para frente, era difícil encará-la, há tempos não tinha crises de consciência como aquela.

— Realmente, não tinha como. Fiquei assustada quando te vi. Parecia outra pessoa, mas…. – Ela estava extremamente incomodada com o machucado nele, porém, receava se aproximar, ele parecia querer distância dela.

— Era outra pessoa, Sophie. – Lucas se virou no sofá e a observou por um tempo antes de continuar. — Dentro da agência, não sou o que você está vendo. Minha função não permite. É isso que você precisa entender.

— E eu entendo. Só não sei como não quis fugir disso ainda. – Mordeu o lábio ao lembrar do que ele disse sobre o que acontecia com quem saía da agência, o melhor exemplo era sua mãe, mas não conseguia acreditar que não tivesse outra saída. — Não tem outra forma de abandonar tudo isso?

— Já ouvi falar de pessoas que conseguiram. Vivem com medo. Duas eu mesmo matei e peguei as provas que elas tinham contra a agência. – Sempre se arrependeu daquilo, devia ter guardado aquela provas. — Não era nada realmente prejudicial, continham alguns nomes importantes e por mais inacreditável que fosse, uma vez que caísse nas mãos da mídia, faria barulho e causaria transtornos.

— Então tem um modo? – Não conseguiu conter a esperança que se formava em seu peito e foi repreendida com um olhar dele.

— Claro, um modo de morrer, só se for. – Não gostou da animação dela, mesmo que um tanto quanto disfarçada. — Monitoramos essas pessoas e a ordem é clara: qualquer oportunidade que tivermos, é para matar todo mundo, a pessoa, seus familiares e amigos. Qualquer um que possa ter uma cópia dos documentos. Isso não é vida. Eles vivem com medo e têm razão disso.

— Compreendo… Qualquer vida e melhor que nenhuma, mas temos pontos de vistas diferentes, Lucas. – Prometeu a si mesma, ponderar o que ouviu mais tarde, ele não deixava de ter certa razão. Sophie colocou a mão no ombro dele, queria apaziguar o clima. — Esquece o que aconteceu. Sei que foi melhor assim e que você não é aquele Lucas agora.

— É aí que você se engana. – Riu, desgostoso e amargo. — Sou o que preciso ser.

— Tudo bem. Agora, deixa eu cuidar disso. – Indicou o ombro esquerdo dele. — Anda! Até parece que tem medo de uma pomada. – Zombou, arrancando um meio sorriso dele. Já era alguma coisa.

Ele se levantou e tirou a camisa. Precisou sentar de novo para ficar numa altura confortável para ela e Sophie ficou em pé na frente dele. Mesmo sentado, Lucas ainda era quase de sua altura. Com cuidado, colocou um pouco do produto nas pontas dos dedos e espalhou pelo machucado. Ficou impressionada com o que tinha feito, a ferida estava funda e esfolada, nem parecia ter sido feita por unhas.

Ele controlou a vontade de ficar olhando o quadril dela, prefeito naquele jeans e manteve a cabeça baixa. Enquanto Sophie não controlou nada, admirou tudo o que ficou exposto nele, cada contorno dos músculos quando ele se mexia chamava sua atenção. Era um cara alto e grande, já tinha reparado nisso, mas naquele momento, dava para ter noção do quanto as roupas escondiam.

Lucas era ainda maior e mais forte, seus músculos eram mais rígidos do que qualquer um que ela tenha visto, não era à toa que uma trombada com ele atordoava uma pessoa, era a mesma coisa que dar de cara num muro.

— Já terminou? – Perguntou, cansado de ficar naquela posição e sentia a ferida coberta pela pomada a alguns minutos, não que o toque dela o incomodasse, mas não tinha necessidade de tanto cuidado.

— Sim. Desculpa, me distrai. – Se afastou, corando e limpando os dedos na roupa.

Era impossível não perceber o que estava acontecendo. Lucas se levantou e se aproximou dela e dessa vez, não tinha desculpa. Mordeu o lábio pensando na cara de boba que devia ter feito quando ele se aproximou, claro, o cara parecia um armário à sua frente, mas era lindo.

Ele a envolveu pela cintura com um braço, devagar, e com a outra mão, ergueu o queixo dela, que desviou os olhos. Estava sem jeito, mesmo gostando daquela proximidade, não sabia porque estava agindo daquele assim, nunca teve problemas com isso, na verdade, sempre foi a primeira a tomar a iniciativa. Precisava parar com aquilo, estava parecendo ingênua e tímida, ao contrário do que realmente era.

Ele sorriu, malicioso, ao perceber a reação dela, como sua pele se arrepiou e sua face corou ainda mais, estava quase desistindo de esperar quando foi surpreendido pelo beijo dela, sim, dessa vez quis esperar.

Não pensou duas vezes antes de erguê-la nos braços e seguir para o quarto, teve um pouco de dificuldade para enxergar na escada, mas Sophie prendeu sua cintura com as pernas, então só precisou usar uma das mãos para segurá-la, com a outra, se orientou pelo corrimão. Estava queimando de desejo. O calor chegava a ser insuportável. Isso acontecia por dois motivos, um deles, só conhecia a causa, não sabia como acontecia exatamente, porém, naquele momento o calor era desejo.

A manteve em seu colo por um tempo, desfrutando da exploração que fazia com a língua e com as mãos, antes de colocá-la em cima da cama. Mais tarde, desejou não ter feito aquilo, pois Sophie pareceu ter acordado do transe e o momento passou.

— Desculpa, mas não quero fazer isso. – Disse, sentando na cama e se afastando um pouco.

— Certo… – Ele fechou os olhos, impaciente. Ela demoraria o mesmo tempo para transar com ele quanto demorou para tomar a iniciativa de beijá-lo, pensou, desgosto. — Vou voltar para o sofá então.

— Não precisa dormir lá. Só não quero sexo, não estou no clima. – Isso não era verdade, estava excitada, mas sentia-se insegura e seu corpo ainda doía, não seria tão bom, gostava de estar bem disposta pata desfrutar de cada momento durante o ato. — A não ser que você tenha vindo esperando isso. Aí você deve ir embora.

— Não foi por isso que vim. – Retrucou, irritado. — Estou aqui porque você pediu. Não esperava nada, na verdade. – E estava sendo sincero, nem imaginou que Sophie fosse acordar até a hora de ir para a aula.

— Então fica, mas sem sexo. – Sorriu, sabendo que não era algo muito atrativo para ele.

— Bom, eu fico. Mas vou precisar de um banho depois dessa, e gelado. – Riu, para disfarçar o incomodo que sentia com aquele calor insuportável, ao qual já deveria ter se acostumado.

Sophie lhe entregou a toalha e não o recriminou por dormir apenas de cueca, apesar do frio que fazia, era possível sentir o calor de Lucas a uma boa distância, pelo menos não sentiria frio aquela noite, pensou. Tomou banho também e Lucas a ajudou a passar uma nova camada do remédio que Carlos tinha indicado. Ela já não sentia tanta dor no pescoço e os hematomas não escureceram mais.

Tiveram uma noite tranquila, ela precisou apenas se livrar de um dos cobertores durante a madrugada, o calor dele a estava fazendo transpirar e ele nem se incomodou quando Sophie fez isso. Lucas não dormiu, simplesmente apagou e acordou bem disposto quando o celular dela despertou. Preparado para um dia de aula.

Narciso chegou a enviar novas mensagens durante a manhã, na sala, Sophie disse que não podiam conversar. Estava irritada por ele não responder a suas perguntas, mas o ignorou por outros motivos.

Ainda usava cachecol, sentia dores no corpo e se preocupava com tudo o que estava acontecendo, entretanto, depois da noite que teve, ficou fácil deixar tudo de lado um pouco. Tudo estava bem, até voltarem para casa, aí as coisas começaram a sair dos trilhos.

Lucas se acomodou no sofá e Sophie foi trocar de roupa, não aguentava mais aquele pano em seu pescoço. De seu quarto, ouviu as batidas à porta, mas não se preocupou, Lucas atenderia. Letícia já o conhecia e tinha a chave da casa, no mínimo, seria algo sem importância. Estranhou não ouvir vozes e foi conferir, mas congelou na metade da escada.

Fernando a encarou, de braços cruzados e com a passagem impedida por Lucas, teve a impressão de que ele por pouco não espumaria pela boca, tamanha raiva que expressava.

— O que você está fazendo aqui? – Ela perguntou antes de alcançar a porta.

— Precisamos conversar. – Fernando tentou passar pela porta, mas Lucas não lhe deu espaço. — Quero esclarecer as coisas, você precisa saber a verdade.

Os irmãos se encaravam, Sophie temeu que brigassem ali mesmo, a última coisa de que precisava para alimentar a imaginação alheia. A cidade inteira já comentava sobre os últimos acontecimentos de sua vida, os barracos na faculdade e o entra e sai em sua casa, esse seria mais um.

— Lucas, deixa ele entrar e fecha a porta. – Pediu, colocando a mão no ombro tenso dele, que hesitante, obedeceu.

Fernando entrou, não sem antes olhar feio para o irmão. Lucas fechou a porta, e protetor, levou Sophie para o meio da sala, a uma distância segura do irmão imprevisível, conhecia bem a peça.

— Acho que você chegou tarde, Fernando, já descobri a verdade e, acredite, não foi de uma maneira boa. – Pões a mão sobre seu pescoço e riu, sem achar graça, ao perceber a cara de espanto dele. Sentiu as mãos de Lucas em sua cintura, uma atitude não muito sensata, mas poder se apoiar nele estava sendo ótimo, não sabia se conseguiria se manter em pé, não com seu corpo trêmulo, ele talvez tenha percebido, por isso estava ali. — Quase fui testada, acredita?

— Pensei que você fosse protegê-la. Como isso aconteceu? – Ele tentou se aproximar novamente, mas seu irmão se afastou levando a garota consigo e ele parou.

— Foi exatamente o que fiz e ainda estou fazendo, Fernando. O que aconteceu foi culpa sua, não minha. – Sophie relaxou um pouco com a voz de Lucas, estava nervosa demais.

— Como pode ter sido culpa minha? Ninguém mais sabia. – Vê-la amparada por seu irmão não estava ajudando, tinha vontade de bater nos dois. Talvez se aproveitar do que Lucas sentia por ela não tenha sido a melhor estratégia. Ficaram sabendo dos sonhos dela e ainda perdeu sua chance com a garota.

— A Natália soube. – Sophie respondeu, esperando para ver qual seria a reação dele ao ouvir o nome da namorada. Não se conformava em como tinha sido idiota por ter ido encontrá-la, devia ter imaginado. — O Velho estava lá e parecia muito bem informado.

— Eu cuido da Natália depois. Quero saber o que aconteceu. – Precisava saber como as coisas estavam, teria que fazer novos planos, mas quase não conseguia ordenar as ideias.

— Não interessa o que aconteceu, Fernando. – Sophie se afastou de Lucas e foi até a porta da casa. — Eu disse para me deixar em paz. Não estava brincando. – Sua mão suava enquanto segurava a maçaneta com força.

— Não parece! Aquela história de relacionamento não ser prioridade era conversa. – Caminhou na direção dela, furioso, mas Lucas já estava em seu encalço. — Convidou meu irmão para sua cama assim que eu virei as costas.

Ela gargalhou, indignada pela cobrança dele, qualquer um que visse a cena pensaria que Fernando era um coitado traído pelo próprio irmão e a namorada.

— Você pode ter razão. Era apenas conversa, uma desculpa que arrumei na hora, não tive tempo de elaborar algo melhor no dia. – Queria muito que Fernando pagasse pelo risco em que a colocou, mas não tinha como fazer isso, então continuou. — Se eu soubesse, tinha mesmo dormido com ele assim que você virou as costas, mas essa você errou. Demorei ainda alguns dias para convidar seu irmão para minha cama.

— Até parece que isso é bonito. Você ri como se tivesse graça uma mulher se comportar como uma vadia. – Cerrou os punhos, quase perdendo a paciência.

— Claro que tem graça. Prefiro que você acredite que sou uma vadia, a me comportar feito a sua namorada, Natália. – As palavras dele não a ofenderam, respondeu por achar que ele não tinha direito nenhum de se sentir traído e muito menos de criticar o comportamento dela. — Quero que se foda o que lhe parece bonito. Nunca tive um compromisso com você e vou me comportar do que jeito que eu quiser, não devo nada a ninguém. Agora sai da minha casa! – Abriu a porta com força e o vento frio não a abalou.

— Você acha mesmo que vai conseguir alguma coisa sem minha ajuda? Eu posso…

— Cala a merda da boca e sai da minha casa! – Rosnou, cerrando os dentes, o que surpreendeu aos dois. — Posso não conseguir provar que a agência existe e provavelmente iriam rir de mim, mas tenho certeza de que você teria problemas se eu chamasse a polícia.

Ela tinha razão, se meter em confusão não era o mais aconselhável, não que ficaria preso, entretanto, seria um problema a mais para resolver. Sophie esperou que Fernando entrasse no carro para fechar a porta. Estava exausta e nem conseguia respirar direito.

Lucas a abraçou, não sabia se a garota tremia de frio ou de raiva e não perguntou, ficaram ali por alguns minutos até ela se afastar e encará-lo.

— Você acha que posso precisar da ajuda dele? – Depois do que viu naquele sobrado, não achava que poderia se virar sozinha.

— Toda a ajuda é bem-vinda, mas por enquanto, o Velho não sabe o que você faz. Ganhamos tempo, com sorte, ele pode até te deixar em paz. – Duvidava disso, só não queria deixá-la apavorada. — Vou ajudar você, entendeu?

— Obrigada, não gosto de contar com a sorte. – Riu, nervosa. Aquela conversa tinha acabado com suas energias e temia que Lucas tivesse problemas por causa dela. Precisava respirar um pouco de ar puro e sabia onde encontrar. — Você não tem obrigação nenhuma comigo, tem certeza que vai se arriscar?

— Já fiz isso, acho que posso fazer de novo, desde que… Você não se aproxime daquela casa novamente e nem de Natália e até mesmo Hiago, entendeu? – Não acreditava que ela realmente fosse querer voltar lá, mas não custava reforçar. — Não tenho como te ajudar se você não colaborar.

— Entendi. – Assentiu, aliviada. — Não pretendo voltar lá, pode ter certeza. – Sorriu, sentia uma vontade imensa de beijá-lo, mas resistiu. Queria manter-se concentrada e não conseguiria pensar trancada dentro de casa e com fome. — Preciso comer alguma coisa gostosa e que não dá para comer todos os dias, o que acha?

— Também estou com fome.

Os dois passaram no McDonald’s e pediram lanches, o lugar estava cheio e Sophie não estava a fim de comer ali, tinha um lugar melhor em mente. Lucas seguiu o caminho indicado por ela e se impressionou ao chegarem, estacionou o carro e parou para admirar o lugar.

Não era muito apegado a natureza, mas precisava admitir que não era ruim, apesar do frio. As árvores contornavam a beira do lago que refletia a luz do sol fraco daquele dia. Foram para mais perto do lago, Sophie adorava se abrigar ali, tinha mais árvores e ficava ainda mais distante dos sobrados do condomínio fechado.

Adorava aquele lugar e o cheiro de hortelã, parecia renovar sua respiração. Escolheu um lugar entre duas árvores grandes e se sentou, Lucas a acompanhou e lhe entregou o lanche. Passaram a tarde ali, ela explicou que o lugar era público, mas o pessoal do condomínio não o frequentava porque achavam público demais e o restante da cidade achava que era privado, por isso podiam aproveitar o local tranquilos.

Decidiram ir embora no fim da tarde, a temperatura tinha despencado e o celular de Lucas só parou de tocar quando descarregou.

— Você não precisa ir embora, pode ficar aqui de novo. – Sugeriu, sentia-se mais segura com ele ali, não conseguia esquecer o olhar maldoso de Fernando e temia que ele voltasse.

— Preciso encontrar meu irmão e tenho algumas coisas para resolver.

— Você acha uma boa ideia?

— Não se preocupe, sei como lidar com ele. – Não seria fácil, mas precisava contar exatamente tudo que tinha acontecido na ausência dele. — Volto amanhã para te dar uma carona, tudo bem?

— Certo. – Ela se inclinou e deu um beijo rápido nos lábios dele, o pegando de surpresa de novo. — Até amanhã! – Sorriu e esperou enquanto ele se afastava com um sorriso sem vergonha no rosto.

Sophie fechou sua porta e conferiu todas as trancas da casa antes de ir para o quarto. Não tinha esse hábito, mas trancou a porta de seu quarto também. Precisava usar o computador, contudo, não conseguia fazer isso e ignorar as mensagens de Narciso. Levou o notebook para a cama e iniciou a conversa com ele, que estava mais uma vez preocupado, como se soubesse tudo o que acontecia com ela.

Não conseguia decidir se ele era mesmo um admirador secreto ou um perseguidor, até o momento, beirava entre um e outro. Mas estava gostando de conversar com ele, principalmente quando passaram a trocar mensagens triviais, o gosto musical dele era bom, apesar de um pouco diferente do dela, nada que não fosse fácil gostar, pois eram músicas boas.

Sabia que Narciso tinha conseguido ludibriá-la e não se importou tanto, afinal, porque faria isso se realmente quisesse prejudicá-la. A verdade, era que queria um amigo, mesmo que virtual. Alguém que não a conhecesse e que não a julgaria e que muito menos saberia o que ela realmente era. Uma aberração com dons proféticos ou qualquer coisa tão absurda quanto.

Só interrompeu a conversa quando começou a sentir muito sono. Foi dormir satisfeita, com exceção da visita de Fernando, seu dia não tinha sido tão ruim e simplesmente conversar com um estrando pela internet estava fazendo bem a ela, Narciso estava se mostrando muito divertido. Era como iniciar uma conversa com alguém na fila do banco ou no ponto de ônibus.


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