Manipuladores do Futuro escrita por Amanda Maia


Capítulo 14
A emboscada




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O tempo começava a fechar, enfim, viriam alguns dias mais frios, o calor em sua cidade era quase insuportável. Estava na rua indicada por Natália, só precisava encontrar o número, o estranho, era que aquele bairro não era residencial, esperava não estar no endereço errado, “Rua da forca, número 15”. Não demorou a encontrar o sobrado azul com o número 15 no portão.

Foi no momento em que tocou o interfone e a voz de Natália a avisou que já estava saindo, que Sophie teve um pressentimento ruim, como sempre, ignorou seus instintos, havia marcado um compromisso, iria cumprir.

A garota veio abrir o portão, enquanto prendia o cabelo. Sophie teve vontade de alertá-la sobre o capacete, mas desistiu, pois nem mesmo parecia arrumada para sair, imaginou que Natália já estaria pronta e se irritou um pouco com isso.

— Entra! – Deu espaço para que Sophie passasse pelo portão eletrônico, mas ela hesitou.

— Não posso demorar, como disse… Preciso ajudar uma pessoa, e… – Entrou, mesmo contrariada e com a impressão de estar entrando na toca do lobo. Ignorou isso também, andava arisca e precisava parar com isso.

— Relaxa! Não vou demorar. – Sorriu ao fechar o portão.

Sophie a seguiu pela casa, passaram por uma cozinha bem equipada, uma sala enorme, bem mobiliada e uma sala de jantar com uma saída para o que parecia ser o quintal nos fundos da casa. Mas havia outra casa, no começo, pensou que fosse uma edícula, porém, errou feio.

O primeiro cômodo era uma cozinha, menor, mas tão bem equipada quanto a outra e em seguida, entraram em uma sala, não tinha televisão, apenas três sofás e uma poltrona. De seu lado esquerdo, via-se um corredor e do lado direito, uma escada para o segundo andar da casa.

Concluiu que outras pessoas moravam ali, como se fosse uma república ou algo do tipo. Natália indicou o sofá e Sophie sentou-se, ficando de costas para a escada, de lado para a entrada pela cozinha e de frente para a poltrona e o corredor.

— Vou terminar de me arrumar e já volto. – Avisou e antes que Sophie pudesse protestar, subiu correndo a escada.

O celular dela tocou, era uma mensagem, distraída, sorriu ao ver que era de Narciso e dizia: “Espero que tenha tido um bom dia. Está ocupada?”, ela olhou a sua volta, tentando decidir se estava ou não, com um nó se formando em seu estômago e digitou de volta: “Não sei dizer… Acho que fiz besteira.”.

Não tinha certeza do motivo de ter respondido daquela forma, era quase como dizer o que sentia a um estranho. Outra mensagem chegou, mas ela não teve tempo de olhar, alguém vinha pelo corredor e Sophie se levantou, assustada.

Hiago congelou ao vê-la na sala, parecia estar vendo um fantasma. Ainda irritada com ele, a garota o cumprimentou com uma aceno de cabeça e se manteve no mesmo lugar, quem veio em sua direção foi o garoto, trêmulo.

Como se fosse lhe contar um segredo, Hiago aproximou-se do ouvido dela, dando uma olhada para o lado, na entrada da cozinha, Sophie ficou tensa com o jeito dele e esperou.

— Sophie, você precisa…

— Ah, que maravilha! Quase não recebemos visitas. – Uma voz rouca o interrompeu, fazendo-o pular para trás, como se tivesse sido pego aprontando alguma.

O dono daquela voz parecia ter saído da década de 20 ou 30, pelo menos estava caracterizado como um personagem daquela época. Ela observou Hiago, em seguida conferiu para onde ele tinha olhado antes e se virou para o homem de aproximadamente 40 anos.

Ele estendeu a mão, e educada, como tinha o hábito de ser com estranhos, Sophie se adiantou e retribuiu o cumprimento. A iluminação naquela sala não era das melhores, consequência de lustres, algo que ela achava antiquado.

— Meu nome é Rubens, prazer! – Ele sorriu, sem mostrar os dentes.

— Sophie. Prazer! – Disse, segurando o riso. Aquelas roupas a transportavam a outro tempo.

O olhar que ele lançou a ela, causou arrepios dos pés aos fios de cabelos. Rubens estreitou os olhos, sem entender a reação da garota. Sentiu um instinto de se afastar e a analisou, dando um sorriso assustador em seguida.

Sophie se afastou e voltou ao lugar em que estava antes, os movimentos daquele homem ao tirar o chapéu, o sorriso e seus cabelos grisalhos ativaram um gatilho na cabeça dela. Mas por quê?

Hiago continuava em pé próximo ao lado dela, parecia assustado, acuado e Sophie passou a sentir o mesmo, quase uma transmissão de energia. O garoto se afastou sem dizer uma palavra e desapareceu pelo corredor.

O homem ainda a encarava, uma sensação de reconhecimento a tomou e seu coração simplesmente disparou, finalmente compreendendo o que estava acontecendo. Desesperada, lançou outro olhar a entrada da cozinha, onde Hiago parecia ter indicado, ali estava o controle do portão eletrônico.

— Não precisa ficar em pé. Sente-se! Fique à vontade. – Indicou o sofá atrás dela antes de se sentar na poltrona.

— Obrigada… – Sussurrou, sentindo seu estômago revirar e obedeceu.

Àquela altura, não esperava que Natália fosse voltar e se acontecesse, tinha certeza de que não iria gostar. Seu celular tocava, várias mensagens chegavam, ela o tirou do bolso, sorrindo forçado e abaixou o volume, deixando apenas para vibrar antes de colocar de volta no bolso da calça.

— Então é você que Fernando está namorando? – Ele não fez questão alguma de disfarçar seu interesse, só pela expressão no rosto dela, não adiantaria. — Ele tem muita sorte.

— Não tenho namorado. – Respondeu, ríspida, tomada pela raiva.

Que aquele homem era o tal Velho, isso não a surpreendeu, apenas a assustou. Reconhecer aquele rosto foi o bastante para sentir ódio, mesmo na penumbra, não teria como esquecer ou confundir aquela silhueta e os poucos traços que viu.

Julgou que estava ali a mais tempo do que deveria e com sorte, conseguiria ir embora com uma boa desculpa. Sabia que isso não passava de esperanças suas, mas quis acreditar naquilo, precisava, ou entraria em pânico.

— O que é de Lucas? – O homem insistia, tentando puxar assunto.

— Não acho que eu seja alguma coisa DELE. – Fez questão de dar ênfase a última palavra. — Além de amiga, claro! – Completou, entre a linha Tênue que separava a grosseria da educação.

— Compreendo… – Assentiu e sorriu, como se estivesse se divertindo e realmente estava.

Um barulho chamou a atenção dos dois, alguém havia batido o portão, mas Rubens não parecia preocupado.

— Conheci uma moça há alguns anos que se parecia muito como você. Seus olhos, a cor do cabelo… A semelhança é incrível.

A vontade de levantar daquele sofá e sair correndo não era o bastante para fazer suas pernas obedecerem, suas mão suavam, seu coração não desacelerava, seu corpo estava se preparando para lutar.

— Tenho certeza de que existem muitas moças com tais semelhanças. – Sorriu mais uma vez forçado, não queria entregar o jogo ali mesmo, apesar de saber que já estava entregue.

Antes mesmo de se virar, Sophie sabia quem tinha entrado na sala. Rubens se levantou, contente.

— Que bom que veio, Lucas! – Riu e analisou a garota. — Essa parece resistente e o novato não vai dar conta.

— Ela é resistente, acredite! – Lucas não conseguia acreditar no que estava vendo, naquele momento teve certeza, Sophie tinha imã para o perigo, só podia ser isso.

Ela se virou e quase sentiu alívio. Até ver a expressão vazia dele e ouvir os passos de Natália descendo a escada. Por simples curiosidade, se virou para ver a roupa dela e concluiu que realmente, nunca iriam sair juntas, não de jeans e camiseta.

— Vá se preparar! – O homem ordenou e Lucas deu as costas. Natália tomou seu lugar na entrada da cozinha, única saída que tinha da casa.

Decidida a resistir o quanto pudesse, Sophie tirou a chave da moto do bolso e a encaixou entre os dedos com o punho fechado, mantendo as mãos para trás. Daria trabalho a qualquer um que se aproximasse.

Lucas voltou um pouco depois, ela não conseguiu ver o que ele carregava na mão, mas não ficaria para conferir. A sala continuava silenciosa, a tensão era palpável. Sophie esperou que ele desse a volta pelo sofá, não teria como passar por Lucas na entrada da cozinha, seria como tentar atravessar um armário, pelo menos para ela.

A encarando pela primeira vez, ele controlou a respiração, não seria fácil, ainda mais quando sabia que ela iria reagir e acabaria machucada. Estava se preparando para reduzir os danos, se a garota não reagisse seria melhor, no entanto, tinha certeza de que isso não aconteceria. Dava para ler em sua expressão corporal. Merda, pensou

Quando ele ficou a alguns passos a sua direita, Sophie seguiu o único plano que tinha, precisava apertar o botão do portão eletrônico e correr o mais rápido possível e a primeira parte deu certo, conseguiu apertar o botão…

Natália foi rápida e impediu a saída da garota, do jeito que queria. Sua mão chegou a doer com o soco que deu na boca do estômago dela. Com a Sophie ainda curvada sobre si, preparou outro, tinha certeza que esse a derrubaria.

Sophie não conseguia se lembrar de ter comido, não naquele momento, mas estava a ponto de vomitar. Ficou abismada com a força de Natália e assustada ao perceber que sentiria aquela força novamente se não reagisse rápido.

Usou o punho para aparar o golpe, rasgando o braço de Natália de fora a fora, com a ponta da chave. Com um grito furioso, ela tentou reagir, mas Sophie não deixou, pulou em cima dela feito uma fera e cravou os dentes no ombro do braço machucado, fazendo a garota se curvar.

Aproveitou para empurrá-la para longe e correr. Pena que não foi longe, quase nem saiu do lugar.

 Lucas já estava em seu caminho e o esbarrão que deu nele a deixou atordoada, dar de cara com uma pedra seria tão ruim quanto.

Respirando de forma pesada, sentiu a mão de Lucas cobrir seu pescoço e uma dor terrível na mesma região. Suas veias pareciam conter ácido ao invés de sangue, nem conseguia gritar. Ainda conseguiu esticar os braços e alcançar o pescoço dele, cravando suas unhas numa tentativa frustrada de se libertar.

O mais assustador, era a raiva que transbordava dos olhos dele, em algum momento, Sophie realmente acreditou que Lucas gostasse dela, mas estava errada. Então lágrimas começaram a escorrer por seu rosto, não sabia qual era a causa, o aperto da mão dele se confundia com o nó em sua garganta e a falta de ar a deixava em desespero.

O pânico tomou conta de si quando começou a sentir sono. Ouviu a voz de Rubens gritando para Natália, não entendeu o que era… Encarou Lucas mais uma vez a tempo de ver o peito dele subir e descer em uma respiração demorada, tédio, talvez?

Seu corpo começou a amolecer, ela lutava para manter os olhos abertos, as últimas partes do corpo que ainda sentia, estavam molhadas de sangue, as pontas de seus dedos. Usou o último resquício de força que ainda tinha e cravou ainda mais as unhas na pele de Lucas.

Era impossível ficar indiferente ao que estava fazendo, mas era necessário, não queria machucá-la. Conteve o riso quando Natália foi pega de surpresa por Sophie, foi uma boa estratégia e se não fosse por ele, a garota teria escapado.

Sua mão cobriu praticamente todo o pescoço dela, só não se fechava por alguns centímetros. Quando enfiou a agulha no pescoço dela, viu a decepção naqueles olhos e a cor da tempestade, tentou se concentrar no cinza e mesmo sentindo as unhas dela se cravarem em seu pescoço, se manteve firme, merecia aquilo.

Teve de controlar novamente a respiração ao ver os olhos dela revirando e admirou a força da garota, sabia que ela não teria chances contra Natália, ou contra ele, mas só porque não tinha treinamento. Quando finalmente Sophie cedeu, ele amparou seu corpo pela nuca e pela lombar, a carregando no colo pelo corredor até o quarto de testes.

Não esperou por ninguém, queria ter tempo de fazer um pedido a Sophie antes que perdesse a consciência de vez, então aproximou o rosto dela ao seu e sussurrou: Não sonhe, por favor, não sonhe.

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Abrir os olhos foi a pior decisão que ela podia ter tomado naquele momento, Sophie se virou de lado na cama, seu estômago estava revirado e dolorido, o pescoço também doía. Tateou pela cama a procura de seu celular, aos poucos as imagens dos últimos acontecimentos invadiam sua mente causando uma tremenda dor de cabeça.

Escorregou da cama, sentindo o chão gelado bater em suas pernas, sentou ali mesmo e não conseguiu controlar os soluços que vieram, rugiu de frustração e cobriu o rosto com as duas mãos. Sentia tanta raiva que era capaz de rasgar a própria pele nas unhas e abriu novamente os olhos, dessa vez protegidos.

— Merda de luz! – Resmungou, irritada.

— Quer que apaga? – A voz de Lucas fez seu coração disparar.

Queria correr, mas sabia que não tinha condições, sua cabeça rodava. Voltou a tatear, dessa vez pelo chão, precisava encontrar algo para se defender, seus dedos encontraram a madeira do estrado da cama e ela começou a puxar.

— Para com isso! – Sentiu a mão dele puxar seu braço e em seguida a claridade que passava pelos vãos dos dedos da mão ainda em seu rosto sumiu.

Assustada, descobriu os olhos e os apertou na tentativa de enxergar melhor, tinha uma visão desfocada, mas era melhor que nada. Tentou se levantar, apoiando o corpo na cama e caiu.

As mãos de Lucas a seguraram novamente, Sophie se afastou e o empurrou, furiosa.

— Não encosta em mim! – Puxou o cobertor sobre si, estava com muito frio e ficou sentada por um tempo, esperando melhorar.

Teve uma melhora, mas precisou sair correndo para vomitar, caiu de joelhos em frente ao vaso, tentando segurar seu cabelo e quando terminou, já se sentia bem para se levantar e lavar o rosto e escorar os dentes.

Seu quarto estava mal iluminado, agradeceu. Mas Lucas sentado em sua cadeira a irritou.

— O que ainda está fazendo aqui? Não conseguiu o que queria? – Perguntou subindo em sua cama, se cobrindo e encostando a parede.

— Quero ver se você vai melhorar e não, não consegui o que eu queria, longe disso! – Ele estava furioso, por pouco as coisas não pioraram. — Machuquei você, a vi se machucar e me arrisquei para te ajudar. – Em outra situação, teria se calado e partido, mas não conseguiu e pior, despejou toda sua raiva em cima dela. — Se Hiago não tivesse enviado uma mensagem, você estaria ferrada. Qual é o seu problema? Está a fim de testar o sistema?

— Não quero testar nada… Só quero que você desapareça da minha frente. – Sophie achou um absurdo a indignação dele. Ele não tinha esse direito. — Cheguei a pensar que você realmente fosse o que aparentava, mas não é. Você é um deles, não sei o que Fernando quer comigo e também não sei o que você quer. Não importa, coisa boa não é. – Agora já conseguia enxergar melhor e as dores estavam suportáveis. — Você estava certo, reconheço. Meu problema está em acreditar nas pessoas, algo que eu havia pensado ter superado. Agradeço por se arriscar por mim, mas pode parar, meu pescoço não aguentaria outro aperto desses como prova de sua ajuda.

— Eu devia ter apertado mais, isso sim! – Estava para ver alguém mais teimosa e ingrata e realmente sentia vontade bater nela. E foi então que compreendeu. Estava errado, Sophie não entendia o que tinha acontecido. — Escuta… Desculpa pelo que eu fiz e por dizer isso. – Pediu, decidido a explicar o que houve. — Hiago pediu que eu fosse até lá e eu fui. Quando te vi na casa, fiquei furioso. Depois Natália contou como te atraiu lá. Consegui evitar o pior, o que injetei em você foi apenas água destilada e sonífero, você não foi testada.

Sophie avaliou o que ouviu e sentiu-se envergonhada. Se Lucas estivesse mentindo, não estaria ali e ela também não. Entendeu a situação, mas não ficou tranquila, sentiu ainda mais raiva.

— Obrigada… Pena que não vai resolver muita coisa… – Esfregou os olhos para disfarçar as lágrimas e prosseguiu, pois Lucas não tinha entendido. — Aquele velho assassino me reconheceu. Não tenha dúvidas de que a Lívia de quem você ouviu falar é minha mãe.

— Como você pode saber disso?

— Ele deixou claro que eu me parecia com ela e tenho certeza de que não foi engano. Duvido que ele tenha esquecido o desespero dela enquanto assistia o carro sendo empurrado da ponte. Também o reconheci, Lucas.

— Não vou dizer que você está mentindo ou enganada. Rubens é capaz de várias coisas e também não tenho mais dúvidas de que falamos da mesma Lívia. – Não depois de ver aquele colar, pensou.

— Então chegamos a questão. Depois de tudo que aconteceu até agora… O que você ainda quer comigo?

Essa era uma pergunta difícil. Ele se perguntou isso tantas vezes desde que a conheceu e ainda não sabia a resposta. Diante do silêncio dele, Sophie desviou o rosto, do lado de fora ainda estava escuro, tinha apagado a terça-feira toda?

— Quanto tempo eu dormi? – Desistiu de esperar uma resposta e se levantou para pegar seu celular em cima da mesa. Não era difícil imaginar o que ele diria, ainda mais com o olhar que lançava para ela.

— Ainda estamos na madrugada de terça para quarta-feira.

— Ótimo! – Assentiu indo ao seu guarda roupa, não faltava muito para amanhecer e precisava se vestir. — Tenho prova hoje e apresentação de um trabalho. – Disse quase dentro do guarda roupa. No banheiro tinha visto a marca da mão de Lucas em seu pescoço. Esperava que fizesse frio pelos próximos dias, assim poderia esconder sem nenhum problema.

Cansado daquilo, Lucas se levantou e foi até o guarda roupa. Distraída, ela nem percebeu. Ele a virou pelos ombros, não queria assustá-la, mas foi o que fez e riu. Fazendo-a relaxar aos poucos, porém, ainda o encarava, séria.

— Quero você é só o que quero. – Respondeu, desfazendo o sorriso. Ela demorou a entender e quando o fez, corou. Lucas a olhava como se estivesse nua.

— Você gosta do que faz. Já pensou em como iria acabar para mim?

— Se você não tiver outra saída, não seria melhor estar comigo?

— Vou encontrar uma, acredite. – Não tinha certeza se conseguiria, era bem provável que ele tivesse razão. Mas sabia que não ficaria perto de Rubens, isso de forma alguma.

— Proponho que aproveitemos até lá, o que acha? – Lucas nunca sentiu tanta atração por alguém assim. A ponto de perder a razão. Sophie era a primeira por quem sentia aquilo, o problema não era apenas a atração e sim gostar dela, se não fosse por isso, já teria ido embora. — Se você disser que não quer nada, prometo que desapareço, nunca mais insisto. – Já estava ficando agoniado com o silêncio dela e percebia pela cor dos olhos que ela sentia o mesmo. Não entendia o motivo de tanta resistência, ainda mais de uma garota como ela, que fazia o que tinha vontade.

Receosa e hesitante, ela o beijou, sem pensar, apenas se entregando. De início, seus lábios se tocaram com suavidade, o corpo dela reagiu substituindo o frio pelo calor do desejo e causando aquele frio na barriga, podia estar cometendo um erro, sabia disso, porém, não aguentava mais fingir que não o queria, estava cansada disso, não era assim.

Pressionando o corpo dela contra o guarda roupa, Lucas a segurou pela cintura, da mesma forma que fez mais cedo na sala. Ficou feliz por não haver medo estampado no rosto da garota, gostava de vê-la sorrir e se odiava por ter tido vontade de bater nela, sua raiva pelo que aconteceu tinha de ser direcionada a outra pessoa.

Por mais gostoso que tenha sido o beijo e o corpo dele colado ao seu, aquele não era o momento, sentia como se um caminhão tivesse passado por cima de si, estava cansada, sonolenta e preocupada, claro que ainda tinha aquele espaço reservado ao medo que ainda não tinha passado.

Ela o afastou com delicadeza e negou com a cabeça, Lucas não entendeu de primeira, mas não foi difícil, não depois do que a garota passou.

— Preciso de um banho. Tenho uma manhã difícil e tenho que estar desperta.

Sem discutir, ele entendeu e sorriu.

— Vou fazer o mesmo e volto para te buscar, tudo bem?

— Sim. – Ele lhe deu um beijo rápido, mas carinhoso e saiu do quarto.

E foi nesse momento que ela finalmente desabou, sozinha, rezando para a água do chuveiro ajudá-la a revigorar as forças e afastar o pânico.

A angústia que sentia não era apenas pelos acontecimentos recentes. Sophie passou tanto tempo ressentida com a mãe biológica, acreditando ter sido abandonada, rejeitada por uma mulher irresponsável e egoísta, agora que sabia que nada daquilo era verdade, precisava se libertar.

Sentia ódio, não era justo o assassino conseguir se lembrar tão bem de sua vítima, quando a família não conseguia. A culpa por tentar formar a imagem de Lívia em sua mente e não conseguir a consumia, quis por tanto tempo esquecer do rosto dela, nem mesmo gostava de ver fotos dela.

Sua vida estava uma bagunça e uma parte era culpa sua mesmo, estava num curso pelo motivo errado, escondeu segredos de uma das pessoas que mais se preocupava com ela, se consumiu por anos por sonhos que não podia controlar e não mediu esforços para se esconder do mundo. Precisava dar um jeito em tudo aquilo, a tendência era aquela situação piorar.

Fernando não demoraria a aparecer, Lucas era uma incógnita em sua vida, tinha um perseguidor e um admirador secreto, estava milionária e em breve moraria oficialmente sozinha. Seu maior medo era de não estar nessa encrenca toda por acaso. E se Fernando e Lucas tivessem entrado em sua vida para lhe mostrar a verdade e mudar tudo? E se ela não estivesse vendo toda a verdade?

O Velho viria trás dela, mais cedo ou mais tarde. O que Lucas fez foi ganhar tempo. A questão agora era, lutaria para se livrar de tudo isso e seguir em frente, ou lutaria para descobrir tudo o que aconteceu e fazer justiça a sua mãe?

Sua cabeça estava uma bagunça, não conseguia ordenar as ideias e nem fazer planos, fazia as mesmas perguntas e não encontrava respostas para qualquer uma delas e isso a dilacerava por dentro.

Quando saiu do banho estava decidida a fazer e pensar em uma coisa por vez, pela manhã tinha outras preocupações e não podia sofrer por antecedência. Fez o possível para limpar sua mente e se concentrar.

Vestiu-se para enfrentar o frio e se certificou de que o cachecol cobriria os hematomas em seu pescoço, estavam ficando escuros demais e desenhavam uma mão, em sua pele, não teria como explicar uma coisa daquelas nem que quisesse.

Pegou sua bolsa, jogou o celular e o notebook dentro e desceu para encontrar Lucas na porta de casa.


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