Manipuladores do Futuro escrita por Amanda Maia


Capítulo 16
Paciência no limite.




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Com toda a agitação dos últimos dias, coisas normais escapavam da mente dela, sim, só tinha espaço para pensar sobre sua mãe biológica, a agência e as consequências da entrada de Fernando em sua vida. Não lembrou de ligar para seus pais, quase não via Letícia e com exceção de suas provas, até mesmo a manhã na faculdade passava como um borrão em suas lembranças.

Vestiu-se sentindo um pouco de culpa, não podia deixar de se preocupar com sua vida, mas não podia esquecer-se das pessoas que faziam parte dela. Enrolou um pouco para sair de casa, aquele seria seu último dia de aula antes das férias e a maioria das pessoas iriam para saber de suas notas e ter certeza de que não ficaram de dependência em alguma matéria.

Letícia entrava na casa quando ela desceu para a cozinha, a mulher estava ofegante e parecia cansada.

— Bom dia! Não achei que fosse te encontrar aqui. – Cumprimentou, surpresa, àquela hora a garota já deveria estar na faculdade. — Tudo bem?

— Tudo. Eu é que pergunto. Por que parece que você correu uma maratona?

— Giovanni queimou de febre a madrugada inteira. Tive que levá-lo ao pronto-socorro. Até esperar o ônibus para ir, voltar, passar na farmácia e depois vir para cá… Garanto, foi uma maratona. – Riu, estava acostumada a estar sempre correndo, mas naquele momento desejava muito deitar e dormir.

— Fala sério, Lê! Porque não me avisou? – Jogou a bolsa no ombro, não podia demorar muito mais em casa. — Eu poderia ter ido com o Giovanni, ou ter chamado um táxi. Qualquer coisa, caramba! – Estava irritada, conhecia aqueles garotos desde que nasceram, eram como irmãos mais novos para ela, apesar de estarem em outra fase da vida na qual os amigos da escola importavam mais. — Não é só porque minha mãe não está aqui, que você não pode mais contar comigo, entendeu?

— Eu não queria te aborrecer com isso.

— Não é aborrecimento. Você também é minha mãe. Sei que sou uma filha desnaturada, não precisa verbalizar o que está pensando. – Sorriu, mas logo ficou séria e continuou. — Como ele está agora?

— Melhor. É só garganta inflamada, mas pela manhã parecia uma faca cravada na garganta. Não dormi a noite toda.

— Posso imaginar. – Achou graça na forma como a mulher narrava e se aproximou. — Vou para a faculdade, mas se precisar pode me ligar, entendeu? – Letícia assentiu. — Vou pensar em alguma coisa para facilitar sua vida. – Deu um beijo no rosto dela e saiu para pegar sua moto.

Apesar de ser o último dia de aula, era possível encontrar alunos apinhados na biblioteca, provavelmente, aqueles que já sabiam se estavam de dependência, ou estavam ajudando os colegas para provas substitutivas. Por ter chegado um pouco mais tarde, Sophie não passou na cantina, seguiu direto para a sala, ou não conseguiria encontrar o professor da única matéria em que não tinha ido tão bem.

Conseguiu encontrar o professor no corredor e teve de acompanhá-lo até a sala dele. Sua nota não era boa, mas deu para passar, algo que não a agradava, porém, só podia se esforçar mais na próxima. Agradeceu o tempo dele e ouviu seus conselhos de bom grado antes de ir para a cantina.

Carlos a esperava impaciente, estava sozinho e nem esperou ela se sentar para começar a reclamar da nota que tirou em uma de suas provas.

— Sinto falta do ensino médio. – Confessou, cansado de reclamar. Não iria adiantar mesmo. — Sei que você não via a hora daquilo terminar, mas não me sentia tão burro e tinha você para me ajudar a estudar. – Riu ao lembrar do quanto sua amiga reclamava na época da escola. — Você devia fazer Letras comigo, sempre foi boa nessas matérias.

— Você não é burro e nunca foi. Seu problema é falta de concentração e indisciplina para estudar. – Retrucou, achando graça no desespero dele. — Lembra o quanto eu tinha que chamar sua atenção para ouvir o que o professor estava falando? E quando ia estudar em casa? Não parava de falar um minuto e viajava na maionese. – Por vezes pensou que seu amigo tinha viajado para outro planeta enquanto estudavam. — Carlos, sinceramente, não sei qual é o problema, você nem quer ser professor. – Percebeu algo por trás das reclamações dele, não era comum reclamar daquele jeito, estava irritado demais. — Porque escolheu esse curso?

— Você sabe que o curso que eu queria é…

— Alvo de preconceito? – Sabia que Carlos tinha talento para outras coisas e só estava tentando agradar seu pai. — Já falei. Larga isso e vai fazer o que você quer. – Estava cansada de repetir aquilo e não queria entrar nessa discussão, outra coisa o perturbava e ela queria saber o que era. — Pode falar, qual é o real problema?

— É o carinha que eu conheci. – Disse, desanimado, sabendo que só poderia desabafar com ela. — Ele foi expulso de casa. – Prosseguiu, ponderando se diria tudo, sabia o que Sophie iria pensar. — Ele morava com o pai, os dois viviam brigando e por isso ele passava mais tempo na rua. Fez amizade com umas pessoas estranhas e está na casa delas agora.

— Estranhas como? – Não entendia qual era o receio de Carlos, estava claro que ele sabia como essas pessoas eram, para que usar algo tão vago como “estranhas”.

— Pessoas envolvidas com drogas, eu acho… – Ele apertou os olhos e decidiu prosseguir antes que ela dissesse alguma coisa. — Eu sei o que você está pensando. Mas eu gosto dele e não, ele não usa drogas.

— Carlos, tudo bem que você goste dele, não tenho problemas com isso, minha preocupação é outra… – Sabia como seu amigo era impulsivo. — Você não pode se envolver com pessoas assim, toma cuidado. Tentando ajudar, podemos tomar os problemas dos outros para si.

— Eu sei… Só acho injusto tudo isso. Olha para mim! – Abriu os braços, exasperado. — Não faço um terço do que gostaria por causa dos outros, estou me formando em algo que eu não gosto, não posso ter um namorado e ainda tenho que agir como se tudo estivesse bem. Se meu pai descobre que sou gay, estou na rua. Tô de saco cheio disso!

— Escuta. Faça o que você gosta e esteja preparado para lhe dar com as consequências. Só não se meta em confusão. Quanto a estar na rua…. – Sophie achava pouco provável isso acontecer, mas queria acalmar seu amigo e não seria discordando dele. — Isso não é verdade. Sabe muito bem que eu não deixaria isso acontecer.

— Obrigado… – Sempre soube que podia contar com ela e por isso mesmo não queria continuar o assunto, estar aborrecido, não queria dizer que devia aborrecer os outros também. — Como vão as coisas?

— Bem, eu acho. – Estranhou a mudança brusca de assunto, mas não insistiu. — A agência não deu notícias até agora. Pensei que as coisas estavam ruins para mim… Acho que estou me preocupando à toa. – Rezava para estar certa. — A propósito…. – Pegou sua carteira na bolsa, retirando dinheiro e entregou ao amigo. — Agora é só escolher a autoescola que você quer.

— Obrigado! – Ele se levantou e a abraçou, apertado. — O aniversário é seu e eu que ganho presente? Não senhora! Também tenho um presente para você. – Se afastou e tirou de sua bolsa um embrulho. — Qual é? Esqueceu seu aniversário de novo?

Sophie apertou os olhos e riu. Sim, ela esqueceu o próprio aniversário e não era a primeira vez. Estava tão atordoada com tudo que foi fácil esquecer.

— Obrigada! – Aquiesceu ao abrir seu presente. Um exemplar de cavaleiro dos sete reinos. — Você sabe o que eu gosto. Adorei! – Agradeceu, empolgada, mas antes que abraçasse seu amigo de volta, Lucas os interrompeu.

— Oi Lucas! – Disse Carlos, tentando não soar ríspido. Não ter gostado da interrupção, eram raros os momentos que tinha com sua amiga sem a presença dele ultimamente.

Lucas o cumprimentou com um aceno e, desejando feliz aniversário, abraçou e beijou Sophie na boca, deixando Carlos abismado, pensando que perdoava a interrupção já que pareciam estar juntos. Tinha ciúmes de amigos, não de namorados dela.

Assim que Lucas a soltou e Sophie encarou o curativo na sobrancelha direita dele, o sorriso dela morreu, dando lugar a preocupação.

— O que aconteceu? – Perguntou, sentando-se de novo.

— Só um acerto de contas à moda antiga. Nada com que deva se preocupar. Estou bem. – A tranquilizou, ou pelo menos tentou, apontando para o próprio rosto.

— E agora? – Ficava cada vez mais apreensiva com sensação de que as coisas não estavam tão bem assim, se apoderando dela.

— Agora ele está por aí. – Deu de ombros. — Provavelmente planejando o que fazer e quem punir, sei lá.

— Gente, o que está acontecendo? – Interrompeu, perdido na conversa do novo casal.

Lucas e Sophie precisaram atualizá-lo sobre os últimos acontecimentos, na verdade, Lucas só se deu ao trabalho de fazer isso por causa dela, mas não achava seguro que Carlos soubesse tanto assim.

As expressões que seu amigo fez ao saber da visita de Fernando, confirmaram suas suspeitas. As coisas não estavam bem e a qualquer momento tudo poderia mudar.

— Vocês vão a festa? – Decidiu mudar de assunto depois de um longo silêncio. — Não quero ir sozinho, o mala do meu irmão já vai comigo.

— Não. – Responderam Sophie e Lucas ao mesmo tempo e riram.

— Fala sério! Hoje é seu aniversário e você vai ficar em casa? – Retrucou, indignado. Sophie nunca foi festeira, mas gostava de sair e não passava um ano sem comemorar o aniversário.

— Não pretendo ficar sozinha, Carlos. – Piscou e sorriu, maliciosa. Estava começando a planejar a noite.

— Sinto muito, Sophie, mas preciso resolver umas coisas e não sei se consigo te ver hoje. – O tom dele deixava claro que mais coisas estavam acontecendo além das que ele contou. — Talvez até consiga um presente para você.

— Está vendo? Vai mesmo ficar em casa, sozinha? – Perguntou Carlos, antes que ela pudesse dizer alguma coisa a Lucas.

— Também acho que você não deveria ficar em casa. Vai à festa, qual é o problema? – Incentivou, mesmo contrariado. Não era o momento de a garota passear por aí, mas não queria assustá-la ao dizer isso e pretendia vê-la se pudesse. — Se tudo der certo, passo na festa. Provavelmente será bem mais tarde.

Já fazia algum tempo que não saía para se divertir e seus planos poderiam acontecer de uma forma ou de outra… Só não estava gostando do comportamento de Lucas, algo estava errado.

— Certo, eu vou. – Fingiu estar vencida pelo cansaço. — Mas você precisa chegar mais cedo para me ajudar. – Afastou o cachecol, os hematomas não tinham sumido por completo e seu gesto deixou Lucas incomodado.

— Isso não é problema. – Seria fácil cobrir as manchas com maquiagem.

— Ótimo! – Lucas se levantou. — Preciso ir. Até mais tarde, se der. – Ele se abaixou para beijar Sophie e se despediu de Carlos antes de sair.

Nenhum dos dois entendeu a pressa dele. Carlos deu de ombros, mas Sophie se preocupou, já tinha estranhado o comportamento de Lucas e aquilo significava que algo mais grave estava acontecendo. Ela precisava saber o que era.

— E seu admirador secreto, como vai? – Foi como se Carlos o chamasse ao perguntar, pois em seguida seu celular tocou e era Narciso.

Ela entregou o celular e Carlos parou para ler as mensagens. Ficou impressionado, o tal admirador parecia, pelo menos por mensagens, legal e sua amiga tinha passado um bom tempo conversando com ele, o que o deixou um pouco enciumado. A última mensagem era parabenizando-a e ele tomou a liberdade de agradecer no lugar dela, só para ver a resposta.

De certa forma ficou aliviado, para ele, parecia que o cara estava iniciando uma amizade para alcançar um objetivo, assim como Lucas. Esperava que Sophie tivesse a oportunidade de conhecer seu admirador, pois até ele estava curioso e ela parecia bastante empolgada nas conversas sobre ele e com ele.

Mais tarde, em sua casa, Sophie comemorou seu aniversário com Letícia e seus filhos, Giovanni e Luís. Letícia guardou os presentes que a garota recebeu, eram três; Um urso de Bruno, com um cartão prometendo lhe entregar outro mais tarde, uma caixa com livros de Adriano, a quem não via há algum tempo mais sabia exatamente o que ela gostava e um buquê de rosas amarelas de Fernando, adorou as rosas e por isso não as jogou fora quando leu o cartão dele se desculpando pela briga e prometendo se redimir mais tarde.

Decidiu que não deixaria a loucura dele estragar sua tarde e aproveitou com os garotos. A ligação de seus pais não chegou a estragar sua tarde, mas a abalou um pouco, já sabia que eles não viriam, porém, ainda não sabia o motivo e eles não queriam contar.

Forçou a conversa até eles contarem que Arnaldo tinha passado por uma cirurgia na coluna e precisava de cuidados, reforçando a necessidade de seus pais se mudarem para cuidar de seus avós. Ela se sentiu horrível ao pensar assim, mas seria difícil viver sem eles por perto.

Letícia foi embora pouco tempo depois, percebeu o abatimento de Sophie e decidiu deixá-la sozinha. Quando estava se preparando para dormir um pouco antes de se arrumar para a festa, Narciso voltou a mandar mensagens e dessa vez, Sophie, precisando desabafar um pouco. Contou o que estava sentindo em relação ao seus pais.

Narciso não a achou egoísta, pelo contrário, lhe disse que era um sentimento comum e que o mais importante era que ela sabia que havia mesmo a necessidade de alguém cuidando de seus avós.

A conversa a deixou mais aliviada, não imaginava que conversar com um estranho pudesse ser tão bom, não havia julgamentos de pessoa, apenas a situação e os atos.

Diante de toda a situação e a possibilidade de a agência ainda representar perigo, uma solução se apresentou a ela, unindo o útil ao desagradável. Seus pais não queriam ficar longe dela e fizeram o convite, ainda podia morar com eles e ajudar a cuidar de seus avós. O desagradável, além de se afastar de seu melhor amigo, era estar perto demais do restante da família.

Conferiu a hora no celular e, apressada, começou a se arrumar, não queria se atrasar, Carlos chegaria mais cedo, mas nem tanto e Igor não gostava de esperar por muito tempo.

Carlos chegou pouco tempo depois para ajudá-la a se arrumar. Sophie tinha escolhido um vestido preto e não muito curto, algo básico, mas que sabia que seu amigo aprovaria, a única discussão entre os dois aconteceu por causa do sapato, Carlos queria salto alto e ela, sapatilhas.

— Você ganhou! – Falou mais alto para encerrar a discussão e diminuindo o tom, avisou. — Mas vou levar sapatilhas na bolsa.

— Tudo bem. – Ele deu de ombros, contente por ter ganhado e já colocando sua amiga sentada na cadeira para cachear seu cabelo ondulado e fazer a maquiagem.

Mesmo um pouco desconfortável, Sophie teve certeza de que estava bem quando desceu a escada, Igor nunca escondeu sua queda pela amiga de seu irmão e mais uma vez fez questão de demonstrar isso com seus elogios.

Acostumada, ela apenas agradeceu e aceitou a ajuda dele para entrar no carro depois de trancar a casa.

— Já estou avisando, Carlos. Você vai dançar comigo e nada de ir embora cedo, entendeu? – Interrompeu a música que estavam cantando enquanto Igor dirigia o Jipe amado de seu pai.

— Entendi. – Assentiu, já pensando no que tinha se metido. Sabia que Sophie não saía de casa para voltar cedo e era uma das últimas a abandonar a pista de dança.

O lugar estava cheio e boa parte daquelas pessoas Sophie não conhecia. Também não imaginava que as casas do condomínio perto do lago eram tão grandes. O salão era enorme e uma escada ainda maior se erguia, para o que ela julgou ser os quartos, havia um garotinho sentado nos degraus finais da escada, o que despertou sua curiosidade.

— Quer guardar sua bolsa lá em cima? – Ela se virou, assustada com a aproximação de Larissa e Glaucia para recebê-los. — Aquele é meu irmão mais novo. Está ali para garantir que ninguém suba sem autorização. – Prosseguiu Glaucia.

— Bom segurança. – Brincou, mas com a impressão de que o garoto barraria qualquer um mesmo, no mínimo estava ganhando algum da irmã. — Não preciso guardar a bolsa, obrigada!

— Fico feliz que tenham vindo. – Larissa se adiantou para cumprimentar os convidados com beijos no rosto, intimidade que nunca tiveram, porém, Sophie correspondeu, não queria ser mal educada.

Os dois apresentaram Igor e pouco tempo depois já estavam dançando na multidão. Encostaram por alguns minutos em uma das mesas de bebidas, mesas enormes, como aquelas que se vê em gráficas. Carlos aproveitou para fazer piada com as roupas de Sabrina.

— Deixa ela. – Acotovelou o amigo, sem conter uma risada. — Ela acha que está arrasando, não seja estraga prazeres.

— Só se for arrasando com nossos olhos. – Brincou, colocando uma das mãos na frente dos olhos e rindo. — Nunca vi tanto brilho na minha vida.

— Deixa de ser implicante. Vamos dançar. – Não estava ali para ouvir ou fazer piadas. Queria se divertir e puxou seu amigo pelo braço.

Durante alguns momentos, Carlos desaparecia e ela se via dançando com outra pessoa, o lugar estava cheio e depois de algumas bebidas isso já não importava mais. Sentia-se bem, enquanto dançava, suas preocupações desapareciam e era disso que estava precisando.

— Sophie! – Abriu os olhos ao ouvir Carlos gritar perto de seu ouvido. — Estou cansado. Vamos parar um pouco. – Pediu, torcendo para ela aceitar e tomando coragem para avisar que queria ir embora.

Faltava pouco para meia noite, ainda sorrindo e se mexendo ao ritmo da música, Sophie abraçou o amigo e começou a levá-lo em meio às pessoas para um canto mais tranquilo, não queria que ele desistisse de ficar, daria um descanso a ele. Seus olhos encontraram um rosto conhecido e ela sorriu, esperava não estar bêbada a ponto de imaginar coisas.

— O que foi? – Perguntou, procurando a direção em que ela olhava. — É ele mesmo. – Avisou ao reconhecer Lucas e perceber a dúvida dela.

— Vamos falar com ele. – Ela o puxou pelo braço e saiu arrastando o amigo em direção a mesa de bebidas onde Lucas estava encostado.

Seu coração saltava no peito, talvez o que queria fazer não estivesse perdido. Lucas estava lindo, usando roupas sport chique e encostado a mesa com um sorriso nos lábios. O olhar cobiçoso dele fazia o coração dela bater mais forte ainda. De repente o sorriso dele diminuiu até sumir.

Sophie demorou a perceber quem estava em seu caminho e praticamente trombou com Sabrina. Deu dois passos para trás, irritada e Carlos ficou ao seu lado.

— Preciso passar, Sabrina. – Gesticulou com as mãos. Não adiantou.

— Não vai cumprimentar o Bruno? – A garota colocou um braço em volta dos ombros do cara e riu. E só neste momento que Sophie percebeu ele ali.

— Oi. – Sorriu forçado e Bruno se livrou de Sabrina para abraçá-la. — Não sabia que você estaria aqui. – Disse, direcionando um olhar suplicante a mesa onde Lucas agora a encarava. Estava irritado.

— Fui convidado. – Bruno indicou Sabrina e segurou as mãos de Sophie, fazendo com que ela desse uma volta e assoviando. — Você está linda! – Em seguida tirou de seu bolso um embrulho prateado. — Esse é seu segundo presente.

Sem jeito, Sophie agradeceu e começou a abrir o embrulho, mas Bruno a interrompeu.

— Agora não. – Pediu, um pouco preocupado. — Vamos dançar?

Sempre saíram para dançar juntos e ela não quis ser grosseira. Então concordou e pediu a Carlos para segurar seu presente. Ao ouvido dele, cochichou para pedir que Lucas a esperasse, pois daria um jeito de sair daquela situação.

Sabrina, mais que satisfeita, saiu de perto deles, sabia que não demoraria muito para a confusão começar.

Os dois dançaram pelo menos três músicas e Sophie precisou de jogo de cintura para desviar da investidas de Bruno.

§§§§§§§§§§§§§§

— Qual é o problema dela? – Lucas estava a ponto de interromper a dança dos dois e não parava de reclamar na cabeça de Carlos, mas tinha seus motivos. — Precisamos ir embora.

— Qual é o seu problema? – Indagou, irritado e doido para ir embora. — Estou a horas dançando com ela, também quero sair daqui. Você disse que não viria. Minha amiga estava vindo até você, mas Bruno é um amigo antigo. Da próxima vez, vem junto. – Em condições normais, não falaria daquela forma com um cara daquele tamanho. Naquele momento, se levasse um soco nem sentiria, por isso arriscou.

— Um caso antigo, você quer dizer? – Estava tão irritado que nem ouviu tudo o que Carlos disse. — Dê um jeito de avisar sua amiga que meu irmão já deve estar na festa e provavelmente procurando por ela. – Cruzou os braços, desviando o olhar dos dois e encarou Carlos. — Se ela não quiser seu “caso” machucado, é melhor sair daqui.

Assustado, Carlos entregou o embrulho a Lucas e foi na direção da amiga. Bruno não gostou da interrupção, mas esperou. Sophie aproveitou e pediu algo para beber, sabia que seu amigo só estava esperando ele sair para falar e parecia urgente.

— Fernando está na festa te procurando. – Nem respirou ao contar.

— Não devo nada a ele. – Cruzou os braços, tentando fingir que não se importava.

— Lucas não diria para você ir embora à toa. – Sem pensar duas vezes, Sophie se virou para a mesa em que Lucas estava e seu coração disparou novamente, Bruno conversava com ele, tinha mandado o cara para a toca do lobo. — Não será bom para o Bruno e nem para você.

— Certo… – Começou a dizer, mas sua voz morreu ao ver Fernando se aproximar da mesa também. — Droga! – Apontou, indicando ao amigo os três perto da mesa.

Carlos a pegou pelo braço e abriu caminho até outra mesa, perto de onde estava a cozinha, daria um jeito de tirá-la dali e Sophie não discutiu. Infelizmente, seus planos não deram certo.

— Já vai embora? – Sabrina bloqueou o caminho deles e cruzou os braços. — Você arruma problemas e depois foge?

Cercada por algumas pessoas e encurralada pela mesa, Sophie não tinha para onde ir e Sabrina, gritando, chamou a atenção de pessoas o suficiente para começarem a prestar a atenção nelas.

— Sai do caminho, Sabrina. – Gritou, começando a ficar desesperada. — Preciso sair.

— Não senhora. – Riu, debochada. — Quero ver você se explicar para seu namorado antes.

A alegria de Sabrina chegava a ser insana, ou não tinha noção do que poderia acontecer, ou tinha e gostava da possibilidade.

— Já disse para cuidar da sua vida. – Vociferou e Carlos a cutucou, impaciente e assustado, Sophie olhou para trás e viu o porquê. Fernando e Bruno abriam caminho entre as pessoas e Lucas continuou parado, parecia indeciso sobre o que fazer.

Pensando rápido, ela só tinha uma saída, arrumar confusão e desaparecer. A quantidade de pessoas reunidas a sua volta e a mesa de bebidas tinham que servir, pois a outra opção era passar por cima de Sabrina.

Ela cochichou no ouvido de Carlos e em seguida ele saiu de perto delas.

Lucas não entendeu nada e estava preocupado, principalmente porque tinha certeza que para Sophie pedir a seu amigo para sair de perto, algo ruim iria acontecer. Carlos parou ao lado dele e deu de ombros, tentando controlar a ansiedade.

— Ela pediu para você esperar no lago. – Foi a única coisa que disse à Lucas.

— E como ela vai sair dali para me encontrar? – Se iria intervir ou não, seria de acordo com a resposta dele.

— É o que eu quero ver, mas ela garantiu que vai ficar tudo bem. Confio nela.

— Isso eu também quero ver.

Mas não teve mesmo tempo de ver muita coisa, apenas ouviu gritos e risadas, a música parou e quando deu por si, Sabrina estava deitada em cima da mesa e Sophie tinha desaparecido.

— Essa é minha deixa. – Lucas deu um toque no ombro de Carlos e saiu da festa.

Carlos, ao contrário dele, tinha visto tudo, quando Sophie arremessou Sabrina em cima da mesa de bebidas, achou que era pouco, aquela garota merecia uma lição melhor, mas por hora, ficaria satisfeito.

§§§§§§§§§§§§§§

Sophie se aproximou pelas costas de Lucas e com uma mão, tampouco os olhos dele. Impaciente, ele se virou e por reflexo, segurou a mão dela. Ainda bem que fez isso, pensou.

— Caramba! Quer me derrubar? – Em sua outra mão, segurava uma garrafa de Contine e achando graça, bebeu um pouco direto da garrafa, oferecendo a ele, que recusou, rabugento.

— Vamos embora! – Tentou pegar a garrafa da mão dela, mas não conseguiu, então a puxou para o carro.

— Calma! – Pediu ao puxar o braço de volta. — Vou cair assim. – Não estava sendo fácil se equilibrar de salto na grama e não teve tempo de calçar as sapatilhas.

— Estou com pressa. Você está bêbada e preciso te levar para casa. – Enumerou, parando ao lado da porta do passageiro e a abrindo. — Vamos, não tenho a noite toda.

— Tudo bem. – Revirou os olhos, sem entender o a irritação dele, mas decidida não discutir, precisava mesmo de uma carona.

Lucas foi o caminho todo em silêncio, dava algumas olhadas cada vez que Sophie bebia mais um pouco e estava abismado. Outra pessoa já estaria desmaiada por beber tanto e ela parecia tranquila, tão sã quanto possível e linda, não deixou de reparar, principalmente quando ela se abaixou para tirar os saltos e seus vestido subiu um pouco.


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