There Is a Smile of Love escrita por The Deserters


Capítulo 3
1/2 of my Heart is now a Memory


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :)



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22 de julho de 2015

Apartamento de Sansa e Margaery

 

A leve brisa da manhã e o calor confundiam seu corpo, não sabia se lhe incentivavam a continuar na cama ou se a puxavam para um novo dia. De qualquer forma, o movimento ao seu lado respondeu suas dúvidas. Abriu os olhos preguiçosamente, suas pálpebras lutando com a claridade do quarto. Era verão, os raios de sol penetravam pelas portas da varanda com uma vontade inabalável.

“É hora de acordar, minha pequena flor” Tais palavras foram sussurradas em seu ouvido com tanta delicadeza e afeto que Sansa se recusara a permanecer em seu estado de sonolência por sequer mais um minuto. Virou-se, enroscando mais ainda seu corpo aos lençóis, e se perdeu naqueles olhos marotos.

“Talvez. Mas não significa que temos que nos levantar ainda”, sua voz soara brincalhona apesar da rouquidão, a lascívia evidente em seu tom. Seus membros finalmente se moveram, acompanhando suas intenções e, agora, seus braços enlaçavam a cintura dessa criatura majestosa com quem dividia seu amanhecer. Foi só então que notara que sua companhia já se encontrava pronta para o dia, seu traje sempre mais elegante do que qualquer outro professor universitário ousaria se trajar, até mesmo Sansa. Margaery parecia muito mais preparada para uma coletiva com a imprensa do que uma mera aula de “Estratégia Política” – ou como Sansa e Tyrion carinhosamente apelidavam de “como formar amizades poderosas e se tornar popular I”.

“ Já de saída?” A nortenha direcionou seu olhar para o relógio à cômoda em seu lado e franziu o cenho ao perceber que marcava apenas 07:00 – Margaery normalmente não sairia da cama nesse horário, muito menos deixaria o conforto do apartamento delas antes das 10:00 – As aulas de ambas sofreram alteração nesse semestre e começavam sempre a partir das 11:20, justamente pela dificuldade de se separarem da cama que partilhavam logo tão cedo.

Sansa tentava lembrar da conversa que tiveram na noite anterior em busca de alguma explicação ou algo que tenha esquecido que pudesse justificar este fato incomum.

“Sim, infelizmente hoje tive que me adiantar. Permutei meus horários com o Dr. Tywin, já que minha querida avó tomou a liberdade de marcar um almoço em um restaurante fino qualquer e requisitou a minha presença” Margaery a fitara, esperando sua reação – parecia descontente, mas carregava em si certo nervosismo que não lhe era característico. Por sua vez, Sansa se questionava, procurando o porquê de tal mudança de planos sequer fora tópico de quaisquer de suas conversas recentes.

“Hmmm...quando tudo foi acertado? Dr. Tywin não é conhecido por ceder qualquer ato de gentileza, quem dirá de bom grado, ainda mais às pressas”, o questionamento de Sansa pareceu despertar algo nos olhos de Margaery. Talvez fosse mera impressão sua, mas não podia negar a aparente admiração e surpresa que efervesciam em meio à inquietação.

“Parece que alguém andou prestando atenção nos trejeitos mais encantadores de nossos caros colegas” dissera com uma risada deliciosa. “Será que finalmente consegui a façanha de te ensinar o jogo político de aparências, minha nobre lobinha?” Fazia tempos que o apelido não lhe era endereçado, houvera a época em que estas palavras carinhosas carregaram certa dose de ironia e incredulidade – o moralismo da jovem Stark já incomodara a morena tantas vezes quanto o atrevimento desta já resultara em embaraços à ruiva.

“Bem...você sabe como o povo do Grande Norte é, sempre nos adaptamos conforme o rigor do inverno. Neste caso, o sr. Lannister seria um eufemismo para a próxima era glacial” rebatera Sansa zombeteiramente. “Só gostaria que tivesse me avisado. Me incomoda o fato de que terei que enfrentar mais algumas horas sem você...”, antes que percebesse suas palavras foram cortadas pelo toque e a maciez dos lábios de Margaery nos seus. O beijo, ainda que breve e suave, roubara seu fôlego e neblinava sua linha de raciocínio.

“Desculpa, mas tenho que ir” viera o sussurro quase sem forças, os olhos da morena já obscurecidos com pesar e saudades. A ruiva juntou suas testas e retornou o beijo com a mesma gentileza. Suas mãos se prendiam aos cabelos da morena, traçando suas unhas na nuca desta. O arrepio que percorreu o corpo de Margaery, a fez sorrir em meio ao toque de seus lábios.

Sansa moveu-se, então, pressionando beijos na base do pescoço da outra, a fazendo arfar. “Sansa, falo sério...eu...preciso ir...”, a fala pausada e a respiração ofegante de seu objeto de afeição, somente aumentara o sorriso da nortista, que pausara brevemente suas ações para responder: “Eu sei, mas não posso evitar. Você foi a única a quebrar nossos planos habituais de preguiça”.

A morena a encarou por alguns segundos, suspirou e segurou as mãos da ruiva firmemente, mantendo-as longe de seu corpo. “Sério, Sans. Tenho que ir”. Então, beijara-lhe o rosto, levantou-se da cama e se dirigiu à porta do quarto.

Não demorara muito e foi possível ouvir o leve “clic” da porta de seu apartamento. Sansa ainda permanecia deitada, enquanto seu corpo lutava bravamente para manter as sensações que Margaery lhe evocara. A dor fantasma daqueles lábios junto aos seus.

 

24 de dezembro de 2015

07:45. Winterfell Manor

“Sansa...”

“Sansa...? Eu sei que você está me escutando”

 

Era como se finalmente tivesse emergido de um mergulho profundo, aos poucos seus membros entorpecidos pelo frio reagiam, suas mãos sentiam o formigamento e depois o calor – a xícara de chá que segurava a tranquilizava, mal havia tocado em seu conteúdo, mas ter algo em suas mãos amenizava sua inquietação.

Os barulhos ao seu redor retornaram e a intensidade lhe deixava ansiosa. Os sons de talheres se chocando, de cadeiras sendo arrastadas; o som de vozes, - discutiam sobre hóquei, ou talvez fosse outro esporte qualquer, Robb e Theon reclamavam de um resultado ruim em uma temporada que até então julgavam como promissora.

 Sansa voltara-se à voz que lhe retirara de seu estado de torpor. Jon a observava cuidadosamente, enquanto Arya esperava impaciente por uma resposta.

“Oi, Arya. O que você quer?” Sansa levara a xícara à boca pela primeira vez desde que sua mãe a entregara. Deixou o sabor adocicado de hortelã a preencher, aquecendo-a e despertando-a mais um pouco. Precisaria voltar a si para aguentar a véspera de Natal junto à sua família.

“Já que a vossa realeza nos agraciou com sua atenção. Jon e eu estávamos pensando em ir à cidade em pouco minutos, nossa mãe mencionou algo sobre uma lista de coisas que nosso pai disse que buscaria, mas esqueceu ‘por conta do seu nobre e belo trabalho como eremita de gabinete’. É.…os feriados natalinos sempre despertam o melhor nas pessoas”. O jeito com que Arya imitava jocosamente sua mãe a fizera sorrir. Do outro lado de sua irmã, Jon definitivamente não conseguira guardar a risada e agora limpava a mancha de café que decorava sua camisa.

“Você é impossível, Arry. Duvido muito que a mãe tenha chamado o pai de eremita”, o tom divertido de Sansa iluminara o semblante de sua irmã que agora lhe apontava a língua. Sentia falta disto. Seus irmãos. As brincadeiras bobas entre eles. Até mesmo do frio, que tanto desprezara no passado.

“Então? Vai conosco? Temos que ir logo se quisermos chegar antes do tio Benjen” Era a vez de Jon se empolgar, falara como um garotinho impaciente para desembrulhar seus presentes.

Sansa não o culpava, o vínculo entre Jon e o tio era até mais forte do que com o próprio pai deles. Seu pai vivia e respirava seu trabalho, era nobre participar do Conselho do Norte, mas cruel a seus filhos, ainda mais àquele que não guardava a mesma maternidade que os demais. Tio Benjen não o via como aquele que quase lhe custara o casamento, mas sim como um igual, alguém com quem compartilhar suas experiências e histórias de guerra.

“Claro”

11:23. Kingsroad

 

Depois de algumas horas perambulando pelas travessas enevoadas de Winter Town, em busca das encomendas que foram incumbidos, os três Starks decidiram retornar, aos primeiros sinais de uma possível nevasca. Jon ainda passara uma boa meia hora apressando as irmãs, provavelmente ansioso pela chance de se reencontrar com seu tio.

Embora já nevasse e a caminhonete de Jon não fosse um carro tão apropriado para o clima, o trajeto se mostrava tranquilo. Seu irmão cantarolava baixinho junto sua estação de rádio favorita, por sua vez, Arya cansada de reclamar do gosto do mais velho, agora se deitava de olhos fechados no banco de trás – era perceptível que mexia os lábios consoante a música; para quem reclamava tão ferrenhamente, seria de estranhar que soubesse a letra e Sansa a lembrou disso, causando risadas no banco ao seu lado e xingamentos literalmente às suas costas.

O frio penetrava o carro e as árvores passavam rapidamente como cenário. Sansa absorvia a nostalgia por estar em sua terra natal e se deixava embalar pelo sono, a letra da música ecoando em seus ouvidos.

 

“Stay, forget about heaven

Stay where the sun makes darkness bleed

Stay, walk with your demons

The truth is a broken heart still beats”

 

12:00. Winterfell Manor

 

Um leve chacoalhar em seu ombro a acordara, Jon apontava para a casa à frente. “Já estamos de volta. Você pode acordar a Arya, enquanto busco as encomendas na mala?” Sansa acenara que sim e ainda que estivesse meio grogue, retirou o cinto e virou-se para trás para chamar por sua irmã. Arya acordara sobressaltada e quase socara a ruiva, o que resultou em um pedido de desculpas atrapalhado e risadas de ambas.

Jon as chamara e imediatamente saíram da caminhonete. Seguiam pela neve até a entrada da casa, cada qual tracejando sua marca no tecido de neve que acoberta o suposto jardim.

Ao entrarem no conforto e no manto cálido de Winterfell Manor, o silêncio lhes chamou a atenção. Sabiam que a refeição já estaria sendo servida quando chegassem e, portanto, esperavam a mesma confusão de sons, se não pior, da qual fugiram no início da manhã.

Em verdade, o silêncio não era de todo absoluto. Ouviam-se vozes abafadas à medida em que seguiam em direção à cozinha. Arya, então, dera de ombros e passou pelos irmãos, entrando no cômodo. Jon e Sansa se entreolharam e fizeram o mesmo.

O cenário em sua frente era peculiar no mínimo: Para começar, Bran e Rickon comiam educadamente, mostrando sua melhor postura; em seguida, Robb e Theon conversavam em tom baixo, evitando o excesso de gestos rudes que normalmente fariam em suas discussões; e, por fim, seus pais e tio Benjen se encontravam na cabeceira da mesa, todos estes com os semblantes soturnos, os pratos em sua frente intocáveis.

“Mas que diabos? Por quê todos estão tão quietos?”, bradou Arya, que já se sentava à mesa do lado dos irmãos mais novos. Desafiava seus pais, que em retorno somente a observavam impassivos.

Sansa e Jon permaneciam à porta da cozinha, este descarregara aos seus pés os caixotes que carregava e se encostou no batente da porta, enquanto a ruiva se apoiava em seu ombro. Ambos estavam apreensivos, esperando qualquer tipo de reação daqueles sentados à mesa.

Então, seu pai quebrou o clima tenso e falara, com tranquilidade, porém firme: “O Conselheiro de King’s Landing, Jon Arryn, faleceu. Ele era um exímio cavalheiro e excelente político, além de um grande amigo da família”.

“Sinto muito pela sua perda, sr. . Mas, se me permite sanar a dúvida: a vaga dele neste Conselho seria automaticamente de algum representante do Vale?” Jon perguntara o que todos estavam receosos demais para inferir. Já Sansa ao seu lado, tinha o terrível pressentimento de que já sabia o desfecho desta história.

“Não necessariamente”, se pronunciara tio Benjen. “O Conselho de King’s Landing não funciona como o nosso. Vocês sabem que em cada Região, existe um Conselho como o que o seu pai trabalha. E existe o Conselho da Capital, que representa a base aliada do governo de Westeros”.

“O que nosso tio quer dizer é que, cada Região decide quem serão seus conselheiros, enquanto que o Conselho da Capital é determinado pelos representantes-chefes de cada uma das famílias de maior influência em Westeros e que declararam abertamente o seu apoio ao Primeiro Ministro”. Robb completara quase que indiferente e, seu pai e tio assentiram com a cabeça ao comentário.

“Certo, a perspectiva de Robb está correta até certo ponto. Acontece que, em tese, o Primeiro Ministro, Robert Baratheon, é um grande amigo do seu pai; mas escolheu outra pessoa para o cargo”, continuara tio Benjen pensativo. “Não que questionamos de forma alguma a nomeação do irmão do Primeiro Ministro ao cargo, acontece que Renly é muito novo e esta nomeação realmente só foi possível pela futura aliança da Casa Baratheon à Casa Tyrell”.

E à menção deste nome, o ar faltara a Sansa. Se sentia fraca e sua cabeça doía. Os olhos de Arya encontram os seus e uma sombra de reconhecimento cruzava o olhar de sua irmã.

“Como assim?” Perguntara Jon alheio ao mal-estar da irmã ao seu lado.

“Bem, Renly Baratheon e Margaery Tyrell estão noivos há pouco mais de cinco meses”, a resposta de seu tio cortara-lhe o peito em pedaços e, enfim, Sansa se sentiu cair na escuridão.


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Notas finais do capítulo

A música que toca enquanto eles estão na estrada é A Broken Heart Still Beats do The Rigs



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