There Is a Smile of Love escrita por The Deserters


Capítulo 2
Show Me The Way


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :)



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13 de maio de 2013

09:03. Ala das Rosas, Universidade de Highgarden

 

O som dos passos apressados ecoava pelo corredor. Estava atrasada. A ansiedade pelo seu primeiro dia a deixara acordada boa parte da noite e, como sempre há de acontecer em situações como esta, o despertador do celular não tocara.

Depois de um bom tempo corrigindo sua roupa e cobrindo as bolsas sombreadas que agora adornavam seus olhos como resultado da noite anterior, Sansa chegara ao Campus da Universidade de Highgarden, onde passaria a lecionar como Professora Adjunta na disciplina de Literatura Simbólica. Muitos até se surpreenderam por sua escolha, seus colegas de graduação e sua família sempre presumiram que a jovem docente tenderia à arte do Romantismo, no entanto ela voltaria a repetir a todos eles que a arte do fantástico e dos símbolos a atraía bem mais do que romances novelísticos.

E, ainda assim, Sansa estava atrasada para a reunião do departamento, onde seria oficialmente apresentada aos demais membros do corpo de professores.

Seguiu pelo lance de escadas e virara à primeira à esquerda, na segunda porta lia-se “Sala dos Professores – Departamento de Literatura Criativa”. Se obrigou a parar em frente à sua sina e olhara o relógio em seu pulso: 09:07. O que sua mãe diria se soubesse que a filha se atrasou pouco menos que dez minutos logo no seu primeiro dia? Provavelmente ralharia, apontando que esperava ter ensinado a pontualidade dos Tully a pelo menos um dos filhos.

Suspirou e levou a mão trêmula à maçaneta. “Droga”, xingara baixo, quase um sussurro sobre sua respiração. “Que ótimo momento para se sentir ansiosa. Mas e se eu estragar tudo? Sansa, se controla. Foram apenas 7...bem, 9 minutos de atraso...e você é nova, todos entenderão o atraso...apenas se acalme, aja naturalmente e diga que infelizmente se perdeu em um dos corredores...”

“Essa porta deve ser extremamente interessante”. A voz melodiosa a assustou e a mão que segurava a maçaneta voara para o seu peito quase como se o objeto a tivesse queimado. Sansa sabia que deveria parecer desconcertada, os olhos arregalados, mãos junto ao peito e respiração acelerada; foi então que o proprietário da voz se revelou, se encostando à parede logo ao lado da porta que tanto atormentara a ruiva, ou melhor dizer...proprietária.

“Desculpe por assustá-la, mas seu olhar permaneceu fixo por uns bons minutos e já estava cansada de tentar adivinhar quais segredos se escondem nesta porta aparentemente tão comum, ou melhor...por detrás dela” falara um anjo. Bem, não um anjo de verdade, claro. Mas Sansa acreditava que encarava um. Talvez ainda estivesse sonhando...isto mesmo, talvez ela não estivesse totalmente atrasada, nem tivesse feito papel de boba na frente de uma mulher tão gloriosa. “E então?” a voz tornara a quebrar seus devaneios.

“Hm...ah, e-e-eu sou a nova professora do departamento e tinha uma reunião marcada com os meus colegas nesta sala às 09:00”, suas palavras soaram ocas, a ruiva sabia que tinha falado rápido demais, nervosa demais e embaraçada demais. Sentia o rosto queimar e rezava aos antigos deuses para que não parecesse tão ridícula quanto se sentia neste exato momento.

O anjo a encarava pensativa, carregava em si um tom de superioridade tão natural que dispensava qualquer presunção de arrogância. Sansa não sabia dizer se a postura confiante da mulher em sua frente lhe lembrava mais a uma gatuna ou a uma dama da realeza vitoriana, mas tinha certeza de que todo este aspecto de sua persona se amenizava pela calidez de seus olhos - um mar azul zombeteiro, porém gentil, pelo menos no momento. Tinha a impressão de que não gostaria de estar sobre a mira destes, em dias tempestuosos.

“Bem, eu sei que o Dr. Tyrion não se incomodaria com uns poucos minutos de atraso...afinal ele mesmo não está tão acordado a esta hora da manhã. Não há motivos para tamanho nervosismo, minha pequena flor. ” As palavras saíram envoltas de um tom reconfortante e acompanhadas de um meio sorriso que poderia ter sido confundido como irônico, mas era tão charmoso que Sansa não conseguia acreditar que o fosse.

“A-ah. Obrigada...eu acho...” Sansa não sabia o que mais poderia responder, já estava se repreendendo mentalmente por todo o desconforto que demonstrava, tudo extremamente nítido em seu rosto corado.

Com uma risada estonteante, a mulher oferecerá a mão direita a Sansa e respondeu: “Não há de quê. E me perdoe pelos meus modos, diriam que sou uma bárbara por não me apresentar apropriadamente a uma dama tão deslumbrante. Sou Margaery Tyrell, Professora do Departamento de Ciências Políticas”. Sansa aceitara o breve aperto de mão com a certeza de que hiperventilava com o comentário de Margaery. Mar-ga-e-ry. Sua língua se deliciava com as sílabas deste nome sem, no entanto, produzir qualquer som. Prometera a si mesmo que não correria o risco de piorar mais ainda a péssima impressão que estava formando na memória de sua presente companhia.

“Sansa Stark” Ofereceu em um quase sussurro, a boca seca e a língua áspera pareciam ter dificuldade em cortar o ar para formar qualquer resposta mais forte. E, mesmo assim, Margaery parecia não perceber o embaraço da ruiva ou escolheu não o fazer, acolhendo a informação que lhe foi dada com um brilho de curiosidade nos olhos e um largo sorriso de aprovação.

“Prazer, Srta. Stark. Espero que esta monstruosidade de madeira não incomode mais essa sua cabecinha linda” falara docemente apontando para a porta ao seu lado, enquanto se desvencilhava da parede em que permanecera todo esse tempo. “Entretanto, temo que eu me encontraria em situação de semelhante atraso se não seguir meu caminho agora. Não se preocupe tanto, você se sairá perfeitamente bem”. E com um leve sorriso, se despediu, caminhando pelo corredor em direção às escadarias.

Quando não pode mais a acompanhar em seu campo de visão, Sansa pôs novamente a mão na maçaneta da porta e a abriu, e, apesar de envolta numa atmosfera de conversas animadas e um cheiro intenso de café, só conseguia pensar se a veria novamente. Seu anjo de sorriso zombeteiro. Margaery.

 

23 de dezembro de 2015

23:12. Winterfell Manor

 

“Então, você é gay? Grande coisa...”, retrucara Arya, revirando os olhos. “Como se isso mudasse o fato de que você é parte permanente desta matilha. Mas se bem que se você namorasse uma Lannister seria outra história...você nunca namorou nenhuma Lannister, né? Eu ouvi por aí que Mircella Baratheon visitou Highgarden para o lançamento do novo cd ou algo do tipo...”

“Não, Arya. Eu nunca namorei nenhuma Lannister e Mircella Baratheon é bem mais nova do que eu, seríamos incompatíveis de tantas formas”, Sansa replicara incrédula. Claro que nunca tivera medo de ser rejeitada pela família, sabia que a aceitariam ainda que fosse uma criminosa...estariam decepcionados decerto, mas nunca a negariam. Mas o fato de estar apaixonada pela neta da ex-Primeira Ministra de Westeros e filha do Reitor da Universidade em que trabalhava, era algo a se pensar com cautela. As implicações de seus sentimentos não se estendiam apenas a ela, Margaery deixara isso bem claro.

Arya a fitou por alguns minutos, sua testa franzida e suas mãos inquietas bagunçavam o cabelo curto. “Por quanto tempo isso vinha acontecendo? Quer dizer, é óbvio que vocês não estão mais juntas...nunca te vi tão desanimada, Sans”, sua irmã nunca admitiria em voz alta, mas seu semblante já a entregava, a preocupação estampada em suas feições era tão incomum que incomodava Sansa.

“Hm…ficamos juntas por um pouco mais de um ano e dois meses, praticamente estávamos morando juntas...antes de...você sabe...acabar”, Sansa suspirou, seu olhar fixo no teto, onde estava traçado o atlas- nada mais compatível com a sua irmã e seu espírito aventureiro do que o mapa de toda a Westeros e Essos pintados nos tons da casa Stark.

Não choraria, sabia que não o faria, sentia o caroço em sua garganta e o ato de respirar era um tormento, mas já havia derramado lágrimas suficientes por uma vida inteira. Nos primeiros dias, chorar parecia ser o único comando que seu corpo compreendia. Agora, só se sentia o torpor, seu corpo ainda reagia de forma incoerente às vezes, mas a sua mente já tivera algum tempo para aceitar o aconteceu. Margaery fez a sua escolha e lutar contra este fato somente a enlouqueceria.

“Droga, Sansa. Você deveria ter me contado. Eu sei que não sou boa nessas coisas, mas eu estaria lá por você... E Jon também. Ele é um idiota, mas teria saltado no primeiro trem para Highgarden com uma tonelada de tortas de limão pra você...”, sua irmã divagava apenas quando extremamente irritada ou nervosa, presumiu que fosse o primeiro. A postura de Arya gritava de insatisfação por não ter conseguido protegê-la. Sansa cada vez mais se surpreendia com a mudança na dinâmica entre as duas, onde antigamente estariam se ignorando completamente, hoje lutavam com garras e dentes pela segurança e felicidade uma da outra. Gendry que se cuidasse, caso fosse tão estúpido ao ponto de machucar sua irmã.

“...e Bran provavelmente interromperia as viagens ao receber a primeira mensagem. Até Rickon largaria seu bendito lobo...não, melhor ainda, ele levaria o bendito lobo para defender sua honra. Ninguém bagunça com um Stark e sai ileso. Por falar nisso, cadê meu bastão? Tinha a impressão de que precisaria dele” Arya se pôs a levantar da cama, mas o aperto de Sansa em sua mão fora mais rápido e a interrompeu de seu intento inicial.

“Arry, a única coisa de que preciso agora...é que você me escute”. O cansaço dominava a voz da ruiva, já houve um dia em que a Lady de Winterfell soara alegre e inocente, porém o presente a desprovia de qualquer emoção ou simplesmente impedia que estas transbordassem em suas palavras. Sansa tornara-se mais comedida em seus atos, cada uma de suas ações atadas a fios invisíveis tecidos de forma alheia à sua vontade, mas acolhidos por esta. Em verdade, Sansa cansara de lutar. “Eu não gostaria nem permitiria que qualquer um de vocês a machucasse. Eu sei que ela provavelmente não merece, mas eu sou incapaz disso...”

Precisava admitir a si mesma, a visão do rosto de sua irmã neste exato momento era impagável, Sansa não sabia se sua irmã estava tentando um novo recorde de perplexidade ou se ela realmente não conseguia parar de balançar a cabeça em sentido de negação.

“Mas que diabos...essa mulher...”

“Margaery”

“Que seja...essa mulher...te destrói em pedaços...e você não quer que nada aconteça com ela?” A voz de Arya se elevara tanto que Sansa agora tinha certeza de que a casa inteira já tomara conhecimento de sua situação. Não poderia negar que o questionamento fazia sentido, porém Sansa tinha plena ciência de que se algo acontecesse à sua ex, seu coração não suportaria. Que coisa doentia não? Sofrer pensando no bem-estar daquela te fez sofrer.

“Sim. Eu ainda a amo. Muito, pra ser sincera.” E, assim, a verdade que tanto escondera nas últimas semanas finalmente fora lançada, se materializava no ar, cortando ainda mais a fenda que Margaery desenhara em seu peito. Como se sentia livre e, ao mesmo tempo, nauseada ao proferir estas palavras. No entanto, esse contraditório não a confundia mais. Havia aceito tal fato faz dias. Tentou por noites insones odiar qualquer resquício dela em seu apartamento, nem precisaria discutir para saber que foram tentativas frustradas e, no fim de cada dia, Sansa adormeceria usando uma camisa qualquer dela que fora esquecida nas profundezas de seu guardarroupa.

“Sansa, ela teve a oportunidade de te escolher”, desta vez as palavras foram proferidas com uma leveza incomum, os olhos de Arya revelaram a mesma tristeza que vira em Jon mais cedo. Seus irmãos sentiam sua falta. Não a desta forma oca e desprovida de qualquer intensidade, mas a de sua antiga persona mergulhada em delicadeza e sensibilidade. Acontece que Sansa tal como rosas expostas ao inverno, encontrou-se pouco a pouco imersa numa crosta de gelo, da qual não consegue se desvencilhar.

“Eu sei”, respondeu simplesmente. “O poder sempre foi o caminho mais sedutor para ela, ainda que isso significasse trilhá-lo sozinha”. Sentiu o abraço forte de sua irmã e, pela primeira vez desde que desembarcara na estação de sua cidade natal, se sentiu feliz por sua escolha. Estava em casa. Tudo ficaria bem.

Era uma Stark e se reergueria como tal.


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