Então, um Marshall mais crescido chegou à sala, não vestia as mesmas roupas, trazia no corpo uma regata vermelha e uma jeans surrada. Sua expressão não era aflita, pelo contrário, ele tinha um grande sorriso no rosto. Sentou-se ao lado de uma Jujuba alegre no sofá, que segurava várias capas de DVDs.

— Onde os conseguiu? — ela perguntou fitando Marshall.

A princesa parecia relaxada, estava de pernas cruzadas, os pés descalços e vestia só uma grande blusa xadrez vermelha e preta que pertencia ao vampiro e trazia os longos cabelos rosas presos em um rabo de cavalo descuidado.

— Por aí. —Marshall respondeu com olhos travessos.

— Sei. — Jujuba disse irônica, dando um risinho logo em seguida.

— Meu pai me deu. — o vampiro falou baixinho, pondo a atenção sobre os DVDs.

Jujuba percebeu o tom sutil de tristeza em suas palavras e seu coração se apertou. Marshall podia ser da Noitosfera, mas era tão doce quanto um cidadão do reino da rosada. Ele era perfeito.

— Então, já escolheu o que quer assistir? — Marshall perguntou, abanando a mão como se espantasse alguma lembrança incômoda, um sorriso animado no rosto.

— Ah, não. — ela deixou os olhos caírem sobre as capas em suas mãos, nervosa por estar tão próxima dele, envolvida pelo seu cheiro, que escapava tanto da blusa que usava quanto de Marshall — Todos são de terror e, bem, eu não gosto de levar sustos.

O moreno riu e ela o acompanhou, a risada um pouco mais aguda do que o normal. Estava quase nua no sofá do vampiro e ele não fizera nenhum avanço, nem ao menos ousou olhar para suas pernas expostas. Marshall devia ser o garoto mais controlado de toda Ooo, talvez o fato de ser um vampiro ajudasse.

Contudo, por mais admirável que fosse seu respeito, Jujuba não ficou muito contente. Tinha planejado tudo minuciosamente em sua cabeça, e a demora sacudia seus nervos.

Plano Infalível (por Bonnibel Bubblegum)

01 – Dar um jeito de tirar minhas roupas comportadas (Ok)

02 – Instigar Marshall com seu jeito de garota delicada (Ok)

03 – Corresponder aos seus avanços (   )

04 – Se confessar (   )

A primeira etapa tinha sido fácil, derramara um copo inteiro de refrigerante sobre suas roupas e a idiota da irmã dele se recusou a empresta-la algo, a forçando a usar uma roupa do moreno. Quanto à segunda parte, Jujuba estava se esforçando para chamar a atenção do vampiro, estava mesmo. Mas ele parecia imune as suas insinuações.

O resto do plano só teria prosseguimento quando Marshall a beijasse fervorosamente e ela o correspondesse. O que daria início a um amaço maravilhoso, daí, se confessaria e teria 70% de chances do vampiro a pedir em namoro.

— Eu não sabia que era tão medrosa. — o moreno a provocou, mostrando as presas ameaçadoramente — Sabe que está do lado de um vampiro, não é?

— Não tenho medo de você Marshall, é o garoto mais legal que conheço. — e suas bochechas coraram, porque era verdade.

Uma comichão em suas mãos anunciou uma onda de culpa que vinha a todo o vapor. Marshall a tinha ajudado com Chiclete e Lumpy. Ele se tornara seu melhor amigo, por que não abrir o jogo com ele? Por que não ser sincera e propor abertamente o acordo que vinha bolando desde o dia em que descobriu a si mesma?

Uma batalha sangrenta aconteceu em sua cabeça. Contar ou não contar?

— Deixa que eu escolho o filme, vou encontrar o menos aterrorizante, ok? — a voz de Marshall pareceu distante, Jujuba entregou os DVDs distraidamente.

De repente, duas bandeiras brancas foram erguidas. Empate. Meia verdade, então. Decidida, Jujuba colocou uma mão sobre a de Marshall, o fazendo parar sua busca e a fita-la.

— Eu preciso... Eu tenho uma proposta.

— O quê? Não vai conseguir me convencer a ir ao cinema hoje. — ele declarou.

— Não é sobre o filme. — Jujuba suspirou fundo, tentando ganhar coragem diante do olhar curioso do vampiro — É sobre... Marshall, você aceita ser meu namorado?

O moreno arregalou os olhos, surpreso, e em poucos segundos, sua expressão se tornou indecifrável, então, ele confessou:

— Me desculpe Jujuba, mas eu... — hesitou, desviando a atenção para a mesinha de centro — Eu sou gay.

Jujuba piscou algumas vezes. Processando a informação, digerindo-a. Tudo pareceu mais claro.

— Você é gay?

— Sou. — ele disse firme, voltando a encara-la — Eu estou te contando isso por que confio em você, é um segredo.

Ela somente o fitou por um minuto inteiro, ele parecia desconfortável, nervoso com o escrutínio de seus olhos, mas não conseguia evitar fixa-lo. Então, uma fisgada puxou seu coração e Jujuba percebeu a tremenda ironia que era aquilo. O primeiro garoto que a fazia duvidar de suas certezas, o primeiro que a fazia sentir algo. Ele era gay. Mas não podia deixar que isso afetasse sua decisão, precisava persistir no que realmente importava.

— I-isso é muito melhor! — ela exclamou de repente, assustando Marshall e o deixando confuso.

— Melhor? Mas eu...

— Eu não estava querendo dizer namorado de verdade. — ela se obrigou a abrir um sorriso travesso.

O vampiro franziu as sobrancelhas, entendendo menos ainda a princesa.

— Acontece que eu preciso manter uma imagem e... — interrompeu-se, não eram as palavras certas, recomeçou — Eu não quero caras me importunando, fingindo estarem interessados em mim quando na verdade querem somente as vantagens de minha coroa. Você ser gay é um ponto positivo, pois não corro o risco de quê se apaixone por mim.

— Isso... — Marshall tentou dizer algo, mas estava atordoado demais.

Foi como se estivesse vendo Jujuba pela primeira vez, avistado ela através de toda aquela meiguice habitual. Sorriu, deixando a princesa soltar um suspiro, aliviada.

— Você é muito mais interessante do que pensei.

— Então, vai aceitar ser meu namorado de mentira?

— Não. — ele respondeu-a com um olhar de sinceras desculpas.

— Mas não vai precisar se prender a mim! Poderá namorar livremente, só vai precisar ser discreto! — ela argumentou.

— Minha resposta continua sendo “não”.

— Por quê?! — a princesa perguntou, aflita.

— Porque já é bastante ruim eu ter de mentir sobre minha orientação sexual, não quero acrescentar outra farsa a minha lista.

Ela engoliu em seco enquanto observava as palavras do moreno. Sentiu inveja por sua sinceridade, por sua capacidade de se aceitar e por ter lhe confessado a verdade.

— Se você fingir ser meu namorado será muito mais fácil convencer as pessoas de que é hétero! — Jujuba insistiu.

— Eu pareço precisar de ajuda para isso? — Marshall ergue uma das sobrancelhas — Você nunca saberia a verdade se eu não tivesse te contado.

Jujuba calou-se, ele estava certo, ela nem mesmo desconfiou dele um minuto sequer.

— Ufa! Ainda bem que tivemos essa conversa. Estou aliviado por ter te contado meu segredo e também por você ter me dito logo o que queria, agora que estamos resolvidos, acho que vai parar de dar em cima de mim hoje, certo?

— Claro que vou! — ela exclamou, vermelha como um pimentão.

Então, com um estalo, às luzes se apagaram.

— Ah, parece que o gerador pifou. — a voz de Marshall soou na escuridão — Espere aqui, vou ligar o reserva.