Um Novo Aluno escrita por Cat Lumpy


Capítulo 11
Cap. 11 A Casa Abadeer (Parte 01)


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo UHUUUUUUUU
Isso é o que Finn vê dentro do armário de vassouras.



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A Noitosfera não era um lugar para crianças. Hunson Abadeer, o Rei demônio, sabia disso. Se seus filhos fossem criados naquele submundo cheio de vicissitudes e desgraças, não teriam cabeça para governar nem mesmo uma colônia de formigas.

— Papai, você tem mesmo de ir? — uma pequena Marceline, que não aparentava ter mais de dez anos perguntou, chorosa.

Ao seu lado, o irmão mantinha os braços cruzados e não olhava para o pai. As roupas dos dois, um vestido cheio de babados e um terno, combinavam em seus tons escuros de azul. Hunson deu um olhar amoroso aos dois, o que só fazia quando tinha certeza de que ninguém veria tamanho afeto saindo de sua pessoa.

—Sim querida, mas prometo que volto pra outra visita quando puder.

Uma sala surgiu em torno dos três. Primeiro o chão carpetado, depois as paredes rosa. Então, os móveis — um sofá, um raque com uma televisão e outros aparelhos eletrônicos raros, mesinha de centro — e quadros e fotografias em molduras douradas se materializaram de repente. Uma porta abriu-se na parede atrás de Hunson.

— Filho, — o Rei tinha uma expressão de dor ao olhar Marshall — eu estou fazendo isso por vocês.

O garoto ficou calado, ainda evitando encarar o pai. Marceline, já chorando, correu para Hunson e abraçou suas pernas compridas. O demônio alternou a atenção entre um e outro. Ele não se parecia em nada com os filhos, exceto na cor dos cabelos. Os gêmeos tinham puxado a aparência da mãe humana, embora não soubessem disso, pois Hunson não possuía foto alguma dela para mostra-los. O demônio suspirou.

— Talvez demore até que eu consiga outra folga de minhas obrigações filho, não vai querer se despedir de mim?

Então, Marshall pôs olhos ferozes sobre o pai, descruzando os braços e mantendo as mãos em punhos.

— Não! Não quero me despedir! — gritou zangado, lágrimas de magoa escapando e rolando por suas bochechas coradas — Quero ir com você!

Hunson, surpreso com o arroubo repentino de emoção do filho, demorou alguns segundos para sorrir-lhe paternalmente.

— Não pode vir comigo, tem de ficar aqui com sua irmã, para que um dia retornem a Noitosfera cientes das sutis crueldades humanas e assim possam governar e me deixarem orgulhoso.

Uma escada formou-se no fundo da sala, como também uma passagem que dava direto a cozinha.

— Se não me levar com você hoje, eu n-nunca mais vou voltar! — o pequeno Marshall ameaçou, soluçando no meio da frase.

— Nos vemos na próxima visita. — foi a resposta de Hunson.

Ele se agachou, acolhendo a pequena Marceline em um abraço e logo se ergueu para se aproximar do filho e se despedir. Contudo, Marshall exclamou:

— Eu não quero! Não quero! — e saiu correndo escada acima.

Um corredor escuro e curto surgiu em sua frente, assim como três portas, ele agarrou a maçaneta da segunda e se enfiou lá dentro. A porta fechou-se atrás de um Marshall completamente diferente. Não era mais uma criança, era um adolescente. Blusa xadrez azul e preta, calça jeans surrada e botas velhas. Um quarto (paredes azuis, posteres de bandas de rock, uma guitarra em um canto, um armário no outro, uma cômoda e uma cama) pintou-se em volta do Marshall adolescente.

Ele deu dois passos em direção a guitarra, mas parou ao notar algo. Virou-se para sua cama, um sorriso enviesado atravessando-lhe o rosto.

— Entrou no quarto errado, o da minha irmã é o primeiro depois da escada.

Um rapaz alto, que parecia ter seus quinze anos, estava largado na cama, as mãos atrás da cabeça. Os cabelos brancos eram longos, chegando até os ombros, tinha a pele pálida como a de Marshall e vestia-se num estilo completamente diferente do irmão de Marceline. Usava uma regata branca simples e calça e tênis novinhos em folha.

Ele tinha olhos verdes límpidos que combinavam com seu rosto fino de traços delicados. Marshall não tinha trocado mais de meia dúzia de palavras com Ash. Ele era o namorado de sua irmã e isso já era motivo suficiente para não querê-lo por perto.

Mas havia outra razão também.

— Eu sei. — Ash disse calmo, prendendo os olhos verdes de grandes pestanas nos de Marshall.

O olhar cheio de indiferença irritou-o.

— Mas é claro que sabe. — o moreno retorquiu, fechando a cara diante do aperto inconfundível em seu estômago ao ver o corpo esguio de Ash ali, jogado em sua cama.

Repreendeu-se mentalmente, “ele é o namorado da sua irmã, ele é um cara!”, a última parte foi pensada sem a real intenção de ser ouvida. Não conseguia mais se enganar, gostava de garotos. Estava gostando do namorado de sua irmã.

— Ela não está em casa. — Ash disse, quebrando o breve silencio que tinha se estabelecido, os olhos cheios de malícia.

O vampiro engoliu em seco, estava imaginando coisas, “estou imaginando coisas!”. Desde que conhecera Ash forçava-se a convencer a si mesmo de que estava ficando louco. Os olhares que sentia queimar sua pele não eram lançados pelo namorado da sua irmã, os esbarros no corredor eram acidentais, aquelas meia dúzia de palavras não tinham nada de segundas intenções.

— Estamos sozinhos. — Ash acrescentou baixinho.

Ele não estava imaginando coisas. Sabia disso, mas só aceitou a verdade naquele momento. Ash era como ele. Sinceramente, não entendia o porquê de Marceline namorar alguém como Ash, os dois não possuíam nada em comum, e, além disso, o rapaz parecia mais uma garota alta.

— E daí? — Marshall perguntou rudemente, sentindo-se enojado por seus desejos.

Estava querendo beijar o namorado de sua irmã!

— Você sabe muito bem, Marshall. — Ash retrucou, dizendo o nome do moreno lentamente, como que provando cada letra.

— Eu... — claro que Marshall compreendeu o que Ash estava insinuando, mas não podia!

Mesmo que sentisse uma vontade louca de ter aquele corpo em seus braços, imaginava o tamanho da traição que isso significaria para Marceline.

—... Saia do meu quarto. — o vampiro disse abrindo a porta bruscamente. As bochechas coradas por uma raiva borbulhante.

“É o namorado dela, para de dar em cima de mim!”

— Se é assim...

Ash se levantou calmamente, indo em direção de Marshall. Imprevisivelmente, ele atirou-se sobre o vampiro e tomou seus lábios. Marshall paralisou de choque, os olhos arregalados. Mas não demorou para suas pálpebras fecharem-se e ele começar a corresponder o beijo, ávido por provar daquela boca que tanto o atiçava. Sua língua se encontrou com a de Ash e ele agarrou a cintura fina do namorado de sua irmã. O puxou para si, colando-se a ele e aprofundando o beijo sofregamente.

As mãos de Ash passearam pelo peitoral largo e se enterraram na vasta cabeleira negra do vampiro. Marshall podia ter só catorze anos, mas aparentava muito mais, tanto pela experiência quanto pelo físico. O moreno costumava seduzir meninas como se isso fosse um jogo divertido.

Marshall, se é que era possível, apertou-se mais contra Ash, não deixando um centímetro entre os dois. E pela primeira vez em sua vida, o vampiro se sentiu livre, solto das amarras da moral, sendo ele mesmo. Era a primeira vez que beijava um garoto.

Ele estava tão extasiado com as sensações que percorriam seu corpo que nem mesmo escutou o som de passos nas escadas. Só percebeu que alguém tinha surgido no corredor quando...

— Marshall!

O vampiro largou Ash no mesmo instante, o coração pulando no peito, a respiração ofegante e os olhos arregalados. Ele só conseguiu pensar uma coisa: merda!

Sua cabeça virou e Marceline surgiu em seu campo de visão. Ela tinha a boca aberta, descrente do que tinha acabado de presenciar.

—E-eu posso explicar... — ele disse fracamente, pois não fazia a mínima ideia de como contar tudo a sua irmã.

“Bem, acontece que desde que você me apresentou seu namorado eu tenho sentido um tesão enorme por ele...”

Não, não tinha como explicar aquilo para sua irmã.

Perdido, lançou um olhar desesperado a Ash e congelou. Ele tinha um sorriso tranquilo nos lábios inchados pelo beijo, completamente satisfeito.

— Marceline. — Marshall chamou, indo em direção a ela.

A vampira alternava o olhar entre os dois, completamente sem palavras (o que era espantoso, tratando-se da garota). Ela deu meia volta e desceu rapidamente as escadas.

— Marceline! — ele gritou, seguindo-a pelos degraus, os sons de seus passos misturando-se aos dela.


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Notas finais do capítulo

Até a próxima :*



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