Magali tocava em cada centímetro do seu rosto,tentando averiguar se aquele maquiagem em seu rosto era mesmo de verdade...mas as manchas que saiam na ponta de seus dedos respondiam a esta pergunta.A mesma ainda se sentia dentro de um sonho..afinal ela não queria acreditar que tudo aquilo realmente acontecera.

  Era como estar em um pesadelo,perdida e sem respostas ou qualquer explicação...Aquele experimento parecia uma âncora dentro da sua consciência que afundava cada vez mais a sua sanidade dentro de um oceano de arrependimento e dúvidas.Ela jamais sentira algo assim..uma vontade imensa de voltar no tempo e negar a participação naquele maldito experimento(que pelo o que tudo apontava era a causa dos sonhos e repentinos desmaios).

  Magali estava fisicamente e emocionalmente esgotada,mesmo tendo poucos sonhos..ainda assim sentia sua energia acabar rapidamente a todo momento,sua mente não conseguia mais distinguir o que era real ou não.Tudo estava muito confuso...e o pior de tudo é que a mesma não poderia se abrir com ninguém sobre tal assunto.

  No entanto começara a refletir melhor..se o experimento realmente fora encerrado,não havia mais motivos para que a mesma escondesse de alguém a sua participação naquele projeto.A partir daí começara a pensar seriamente em abrir o jogo com a sua família,e principalmente com os seus amigos...já estava mais do que na hora de colocar as cartas na mesa.

  Porém assim que respirou fundo e saiu do banheiro para voltar a “realidade”,fora surpreendida por uns cinco médicos lhe esperando na porta(ambos pareciam estar bem tensos transmitindo uma sensação inquietante para Magali).

—Você é a Magali?-Um médico se aproximou da sua paciente

—Sim..porque?Aconteceu alguma coisa?

—Bom...nos acompanhe e logo vai saber.-Outra médica gesticulou para que Magali a seguisse,já a mesma não pensou duas vezes e percorreu inúmeros corredores do hospital por fim chegando ao quarto onde Cebola estava:

—Ai meu Deus!Cebola!O que aconteceu?-Magali se aproximou rapidamente da maca do amigo num tom preocupado

—Eu não sei como te explicar..mas tem uma coisa muito estranha acontecendo e...

—Srta Magali?-O Doutor se aproximou dos dois amigos-Será que eu poderia examina-la?

—Claro...-A mesma não entendeu muito bem o que estava acontecendo naquele momento,mas não hesitou em permitir o exame

—Não se preocupe,vai ser rápido..- O médico enfim se aproximou da paciente e analisou o seu coro cabeludo meticulosamente,no entanto não sentiu nada incomum e muito menos viu alguma cicatriz...Assim pôde respirar aliviado-Ótimo!Esta tudo bem com ela garoto...-O doutor direcionava um grande sorriso a Cebola.

—Nossa!Que bom!um problema a menos...

—Como assim?Do que vocês estão falando?-Magali não estava entendendo absolutamente nada do que estava acontecendo.

—Acho que o seu amigo pode explicar melhor do que eu...com licença-Rapidamente o Doutor deixou Magali e Cebola a sós no quarto.

Assim que a porta fora fechada,Cebola tentou se acalmar ao máximo e juntar as palavras certas para esclarecer a situação:

—Então...eu não te contei que tive uma visão quando passei mal na escola né?

—Na verdade eu lembro de você ter falado que teve um pesadelo..mas não entrou em detalhes...

—Ok,então vou resumir pra você...eu sonhei que eu tava preso uma sala e eu fui operado,tipo um médico(ou sei lá o que era aquilo)colocou uma espécie de chip em mim..e no final do sonho você me matou.

— Credo Cê!que horror!!e o que esse sonho tem a ver com o resto?

—Quando eu cheguei nesse quarto,fui submetido a um teste..enfim eu tive que dormir e além de eu ter sonhado que estava naquele mundo de novo,eu também acordei com esse chip implantado na minha cabeça.

—O que?!Como assim?Você não disse que o chip foi implantado em um sonho?

—Sim...mas e se não foi um sonho?

Naquela mesma hora Magali sentiu um arrepio lhe percorrer o corpo inteiro e automaticamente tocou em seu próprio rosto,manchando seus dedos novamente e por fim entrando em um “quase” estado de choque:

—Magali?-Cebola começara a se assustar com a reação da amiga

—Isso não pode ser verdade...não pode..-a mesma balbuciava observando suas mãos sujas de maquiagem

—Maga..não precisa ficar assustada,isso só aconteceu comigo...esta ta tudo bem com você..não esta?

—Cebola..enquanto você estava aqui,eu acabei passando mal e...

—E o que?

—Eu também entrei naquele mundo,só que esta vendo essa maquiagem toda aqui?

—Sim...

—Então eu só estava maquiada no sonho...e acordei desse jeito depois,mas antes o meu rosto estava limpo entende?Isso significa que você não é o único

—Eu não posso acreditar...-Cebola respondera incrédulo 

—Muito menos eu...o que vamos fazer agora?!Esses sonhos parecem ser reais demais pra mim,tanto que deixaram até “rastros”na gente...

—Eu sinceramente não sei,a única opção é ir atrás do Franja e tentar esclarecer isso.

—Ou contar pra todo mundo o que aconteceu.

—Você enlouqueceu?!Nós fizemos um trato com o Franja,lembra?

—Pois é,o problema é que ele não parece ter comprido a parte dele...que seria encerrar o experimento,pensa comigo se ele realmente tivesse encerrado nada disso estaria acontecendo com a gente agora!

—Pior que você tem razão..por mais que eu queira confiar nele,ta difícil...mas eu não queria contar pra ninguém mesmo assim...sabe,acho que não vão nos entender...

—Cebola,sempre vai ter alguém disposto a nos ajudar..independente da situação...eu duvido que alguém vai conseguir entender facilmente o que aconteceu com a gente,mas pelo menos nós vamos estar falando a verdade pra todo mundo.

—Eu não sei...isso parece ser mais difícil do que eu imaginava,se bem que pra alguém realmente conseguir nos ajudar teria que pelo menos entender a nossa situação..e..

—Acho que eu posso ajuda-los!-No mesmo instante o Doutor entrou no quarto surpreendendo os seus pacientes-Eu sei que pode parecer falta de educação..mas eu estava escutando a conversa de vocês e lembrei de uns amigos que analisam esse tipo de caso.

—Como assim?-Cebola e Magali perguntaram em coro

—Olha eu estava suspeitando que havia alguma coisa errada com vocês dois,pelos sintomas que apresentaram achei que fosse epilepsia em um nível avançado...mas agora depois dessa conversa de vocês,tudo ficou mais claro pra mim...Em que experimento entraram exatamente?poderiam descrevê-lo ?

Cebola e Magali ficaram um tanto receosos de falar alguma coisa,mas logo viram que não tinham muita opção:

—Bom a gente ficava em uma maca com uma espécie de capacete na cabeça,e do “nada” a gente acabava parando em outro mundo sabe?Eu não sei explicar direito..mas é tipo isso-Cebola tentava explicar do seu melhor jeito

—Meu Deus!Eu estou desconfiando seriamente de que seja o experimento alfa...Mas prossigam por favor.

—Experimento Alfa?!-Magali exclamou..aquele nome lhe parecia familiar

—Você não sabem qual o nome do experimento?-O doutor perguntou aos pacientes,um tanto surpreso

—Não...-Os mesmos responderam juntos

—Tudo bem..me deem mais características,assim vou poder confirmar ou não se é realmente o que estou pensando...

—Era praticamente isso,entrar em um mundo dos sonhos e ficar lá por um tempo e depois voltar..só que o problema é que ficamos com alguns efeitos colaterais que nos trouxe aqui.-Magali continuou a explicação do amigo

—E vocês fizeram algum teste antes de entrar nesse experimento?

—Sim,Vários...físicos,psicológicos...enfim tudo  que você pode imaginar.-Cebola começara a lembrar rapidamente dos testes em que submetido

—Agora tenho mais que certeza de que seja o “Alfa”,bom esses meus amigos conhecem e estudam esse experimento...eu também estou estudando a um bom tempo,mas acho que eles podem ajudar vocês.

—Mesmo?-As duas cobaias já poderiam ver uma luz no fim do túnel,esperançosos. 

—Claro...eles sim são profissionais,eu vou informá-los do caso de vocês e com certeza eles estarão dispostos a ajudar no que for possível.

—Mas vão encerrar o nosso experimento?-Magali queria se garantir em relação ao experimento

—Sim!Tenho certeza que vão...eles estão a anos estudando e analisando este projeto,eu não duvido que consigam.  

—E porque você ficou tão assustado quando começamos a falar desse experimento?-Cebola perguntou um tanto desconfiado 

—É uma longa história...eu não tenho muito tempo pra explicar,sugiro que pesquisem sobre o “experimento Alfa” mais tarde...

A partir dali,Magali lembrou de relance do dia em que Cebola esbarrou em Franja na biblioteca de sua casa,e que o mesmo deixou cair alguns livros e papéis incluído uma folha que falava sobre o experimento alfa...a medida em que aquelas memórias voltavam a tona,a desconfiança de Magali aumentava cada vez mais..parecia que tudo estava se encaixando.

 -Muito obrigado Doutor!-Cebola agradeceu aliviado,finalmente poderia confiar em alguém

—Não precisa agradecer,o caso de vocês não é muito comum...é como se o experimento tivesse saído do controle..é mais que a minha obrigação como médico de cuidar dos meus pacientes.E não se preocupem quanto a solução do problema eu entrarei em contato com os meus amigos hoje mesmo...e vou dar alta pra vocês.

—Alguma recomendação?-Cebola já queria garantir que nada de ruim acontecesse depois daquela alta que receberiam 

—Só que evitem de entrar em qualquer coisa relacionada a esse experimento,até eu falar com os meus amigos...e recomendo também que não contem nada a ninguém,mesmo que estejam com isso preso na garganta...peço pra que esperem mais um pouco até tudo ficar esclarecido.

—Ta bom...-Ambos os pacientes aceitaram a"proposta"

—ótimo!Entrarei em contato com vocês em breve...e por favor evitem qualquer tipo de atividade que exija muito esforço,vou dar um atestado pra vocês dois ficarem de repouso....Agora se me derem licença,vou chamar uma ambulância para levá-los pra casa.-Assim que o Doutor fechou a porta,Magali e Cebola se sentiram aliviados e ao mesmo tempo assustados...guardando a expectativa para descobrir o que era o tal experimento Alfa e no que ele consistia.

Além de pensarem como tudo ocorreria daquele dia em diante,o que iria acontecer com o Franja depois de tudo aquilo?e será mesmo que os amigos do Doutor seriam capazes de acabar de vez com aquele pesadelo?Só o tempo poderia responder aquelas perguntas que atormentavam as eternas cobaias.