Le Sobriété de Pouvoir escrita por Megara


Capítulo 13
S02C03 - Matrimônio respeitável


Notas iniciais do capítulo

Oi, meninos e meninas! Como vocês estão?
Eu sei que vocês devem estar querendo fazer picadinho de mim, mas esse início de ano, além de ser uma loucura pra mim, me fez sair um pouco do fandom de HP, o que levou muito da minha criatividade com o universo lá embaixo...
Enfim, pelo menos esse inicio de ano trouxe uma coisa boa: eu passei na faculdade! hehehe, sou uma universitária agora, obrigada Deus!
Enfim, me perdoem e não desistam de mim, folks!
Aproveitem o capítulo!

[CAPÍTULO BETADO — 2019, @PatBlack, [u/26945/]



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A semana de aulas começara da pior forma possível. Logo no primeiro dia de aula, a notícia de que Draco Malfoy se ferira gravemente na aula de Trato das Criaturas Mágicas correra por todo o castelo. Dahlia quase se sentiu maldosa por pensar que era muito bem-feito que o garoto sofresse um pouco.

— Aquele idiota! — bradou Harry, quando Dahlia o indagara sobre o que acontecera. Ele e os dois melhores amigos já haviam contado tudo às garotas, mas o grupinho de Malfoy cochichando por todos os cantos vinha irritando o garoto mais do que o usual — Ele insultou Bicuço! Hagrid o avisou que...

— Eu adoro hipogrifos — interrompeu-o Luna. Ela lia uma revista de cabeça para baixo, sendo encarada sem pudor por Hermione. — Mas não tenho certeza se foi uma atitude sensata levá-los em uma aula tão cedo.

— Um pouco arriscado, mas é o Hagrid! — exclamou Ron. — Claro que ele faria algo parecido.

— Não deveria — retrucou Luna, ignorando o olhar irritado de Harry e Ron.

Estavam todos a caminho do Salão Principal, mas se separaram assim que chegaram; Gwen insistira para que se sentassem na mesa da Lufa-lufa naquele dia.

— Se me perguntarem, digo que ele bem teve o que mereceu — exclamou Gwen, olhando irritadíssima para a mesa da Sonserina, onde todos estavam calados; salvo algumas garotas que diziam algo de forma quase inaudível.

— Gwendolyn! — repreendeu Luna, olhando ameaçadoramente para Ginny, que tentava segurar uma risada. — Você não devia estar querendo o mal de alguém.

— Luna está certa — concordou Dahlia, terminando de comer seu muffin.

— Mesmo que essa pessoa seja um ser humano detestável como Malfoy?

Antes que qualquer uma pudesse continuar a conversa, uma sombra grande tampou boa parte do quarteto. Era o prof. Snape, que olhava Dahlia com o olhar mais irritadiço que alguém poderia ter.

— Pensei que pertencesse à Sonserina, Srta. Dursley, mas vejo que deve ter desenvolvido algum problema de memória desde o primeiro dia de aula.

Escolhendo sabiamente ficar calada e não questionando o motivo do mesmo interromper seu café, Dahlia se levantou e foi até o professor. Ambos se afastaram da mesa de Lufa-lufa até saírem do Salão Principal. Andaram tanto que, só quando já estavam vários minutos longe do lugar, a sonserina notou que rumavam para a enfermaria.

— Prof. Snape — chamou ela, parando de andar e obrigando o outro a fazer o mesmo. — O que vamos fazer na enfermaria?

— Madame Pomfrey teve um pequeno acidente com seu estoque de poções ontem — começou ele, olhando-a bem irritado. — E, infelizmente, não podemos nos dar o luxo de repor seus estoques na sua primeira aula extra do ano.

— Professor, eu não acho que tenho capacidade o suficiente para fazer as poções de Madame Pomfrey — falou Dahlia cuidadosamente.

— Poções são criadas para serem usadas, Srta. Dursley — respondeu Snape, levantando uma sobrancelha para a garota e abrindo um sorriso zombeteiro. — Eu não preciso de um aprendiz que está usando minhas aulas e meu tempo como um passatempo. Se realmente deseja ser uma Mestra de Poções, largue essa insegurança de lado.

Engolindo com dificuldade uma resposta malcriada, Dahlia admitiu para si mesma, a contragosto, que o homem não estava errado. Ela sabia, também, que por pior que Snape fosse, ele nunca a colocaria em uma posição de risco para si ou outras pessoas.

Lembrando-se do desagradável fato que Draco Malfoy estaria na enfermaria, Dahlia se consolou dizendo a si mesma que poderia ter alguma companhia e conversa com Elleonore e sempre podia ignorar Malfoy. Ou calá-lo com um soco.

Quando ambos, professor e aluna, adentraram pelas portas grandes da enfermaria, a primeira visão que tiveram foi de Draco, deitado em uma das camas do lugar. A aparência do garoto estancou Dahlia no lugar e ela se arrependeu instantaneamente de desejar que ele ficasse tão mal que não pudesse vê-lo por alguns dias.

Ele parecia péssimo, não havia outra palavra para descrevê-lo. Sua pele, normalmente muito branca, estava quase translúcida e todas as veias de seu rosto pareciam estar muito mais escuras que o normal. O braço que denunciava onde o hipogrifo o atacara estava envolto em tipoias vermelhas.

— Professor Snape! — exclamou Madame Pomfrey, que antes encarava Malfoy com um olhar preocupado. — Já não era sem tempo! Eu preciso de poções de reposição sanguínea, depressa!

— Vou deixar a Srtª. Dursley com os cuidados do seu estoque. — Ao ver o vinco que franziu as sobrancelhas da mulher, ele acrescentou, com a voz arrastada: — Tenho plena confiança de suas habilidades, mas posso checar a qualidade das poções, se desejar.

— Seria perfeito, obrigada, querido — respondeu ela, passando os braços ao redor de Dahlia e ignorando Severus a partir daquele momento. Levando a garota rapidamente até os fundos da enfermaria, ela lhe entregou os ingredientes e lhe deu três caldeirões empilhados.

— Papoula! — exclamou uma voz que vinha da porta de um dos escritórios do lugar; era Elleonore, que vinha com um pergaminho longo em uma mão e uma pena curta na outra. — Temos que adicionar algumas poções de sono sem sonhos na lista; temos apenas duas em estoque.

— Francamente! O quanto mais de prejuízo aquele bicho papão poderia ter causado?

A aprendiz de enfermagem, que parecia corada, bem poderia ter respondido se não tivesse visto a sonserina equilibrando precariamente os caldeirões em um dos braços. Sorrindo em saudação, Elleonora apertou os ombros de Dahlia e a ajudou.

— Obrigada! — agradeceu Dahlia, piscando para a amiga.

As três, juntas, deixaram o escritório e rumaram novamente para a cama de Malfoy. Madame Pomfrey foi diretamente até o garoto e começou a trocar bandagens de seu braço, enquanto Dahlia e Elleonore montavam os caldeirões em uma bancada conjurada perto dali.

— O que ela está fazendo aqui? — murmurou o garoto enquanto olhava para Dahlia.

— Salvando sua pele de cobra, Malfoy. — Dahlia não lhe dignou um olhar, começando a fazer a Poção Para Repor Sangue tão rápido quanto possível.

— Que infantilidade, crianças — repreendeu Madame Pomfrey, sem dispensar muita atenção aos sonserinos. Pegando sua varinha de um dos bolsos do jaleco, a enfermeira acenou-a e Malfoy perdeu um pouco do suor gelado que empapava seu rosto e seu braço relaxou em cima do tronco.

— Sinto muito, Dahlia — começou Elleonore, olhando ansiosa para o pergaminho que levava em mãos. — Tenho que terminar a conferência de estoque, estamos completamente perdidas aqui.

— O que aconteceu com este lugar ontem, afinal? — perguntou Dahlia, curiosa. Ela não olhava para as enfermeiras, mas sim começava a terceira poção ao lado dos outros dois caldeirões que já ferviam.

— Pirraça — sibilou Elleonore, enquanto Madame Pomfrey se adiantava ao sair do recinto, bufando de raiva. — Ele achou que seria muito divertido encaminhar um bicho papão para o nosso estoque de poções.

— Um bicho papão? — perguntou Dahlia, lembrando-se do que lera em um dos livros de Introdução a Defesa Contra as Artes das Trevas. — Eu me lembro de ter lido algo sobre eles em um livro. São seres que assumem a forma do maior medo das pessoas.

— Sim — confirmou Elleonore, coçando o braço em desconforto; gesto que não passou despercebido aos olhos da sonserina. — Bem... depois dos ataques do ano passado, eu fiquei um pouco abalada, para dizer o mínimo. Quando mais nova eu tinha fobia de cobras, e depois de ouvir todos aqueles relatos e descrições do basilisco...

— Ele se tornou seu maior medo — concluiu Dahlia, assistindo Elle confirmar.

— Aquela cobra enorme quase destruiu a enfermaria, o professor Snape e Dumbledore levaram horas para se livrar do bicho papão por causa do tamanho — explicou Elleonore. — E ainda tinham a preocupação dos olhos...

Aquela afirmação despertou lembranças desagradáveis na garota. Ela sentiu a pele arrepiar enquanto recordava dos arrepios de medo, aquela expectativa terrível da morte e, por fim, os olhos que a fizeram ter pesadelos mesmo depois de ter acordado de um sono de quase três meses.

Foram apenas alguns segundos de memórias desagradáveis, mas aquele pequeno espaço de tempo já fora necessário para Elleonore se mostrar arrependida. Vendo a reação da amiga, Dahlia afastou aqueles pensamentos e se forçou a sorrir.

— Está tudo bem, Elle — assegurou Dahlia, sorrindo trêmula. — Você sabe que não foi sua culpa. Eu posso apostar que se eu tivesse dado de cara com um bicho papão ele teria assumido a mesma forma.

Era mentira, mas Dahlia se sentiu um pouco melhor quando viu que Elleonore tinha acreditado em suas palavras. Em um reflexo, ela olhou para Malfoy e o viu desviando rapidamente o olhar das duas. Ela se perguntou se ele teria ouvido toda a conversa; elas estiveram conversando baixo durante todo o tempo.

Elle a abraçou em agradecimento e disse que ela era uma boa garota, mesmo que Dahlia se sentisse péssima por mentir. Ao observar as costas da amiga enquanto esta se dirigia ao estoque para continuar seu trabalho, a sonserina pensou em seu maior medo.

É claro que o basilisco também assombrava seus pensamentos, seus olhos amarelados a faziam acordar suando frio muitas noites. Mas o que mais a aterrorizava não era a cobra, e sim a pessoa que costumava controlá-la.

Aquele espectro de Voldemort que habitara em Ginny lhe deixava trêmula. A interação que tiveram fora ínfima, mas a maldade que Dahlia podia sentir parecia sufocá-la. Ela com toda certeza podia entender por que aquele homem tirava o sono da Comunidade Bruxa.

— Você mentiu.

A voz de Malfoy a tirou do estupor que se encontrava e ela notou que a mão que mexia em um dos caldeirões estava tremendo. Fechando as mãos em punhos bem cerrados, ela olhou para seu colega de casa.

— E isso é da sua conta? — retrucou Dahlia, irritada.

— Estou preso nessa cama estúpida a horas por causa do medo ridículo daquela mulher, Dursley — debochou Malfoy, apontando para a tipoia que envolvia seu braço — Digo que é da minha conta sim.

— Você está sendo absurdo. Madame Pomfrey nunca iria liberá-lo antes de amanhã, você sabe disso — respondeu Dahlia, torcendo o nariz para o garoto. — Fora que ambos sabemos que você iria ficar gemendo como uma carpa nessa cama o dia inteiro para ter a compaixão dos seus seguidores.

— Seguidores? — zombou ele. — Você quis dizer: “amigos”?

Isso a fez rir. Era aquilo que ele chamava de amigos?

— Seu conceito de amigos é distorcido, Malfoy.

— Você acha que estou falando de Crabble e Goyle? — Ele gargalhou, fazendo Dahlia olhá-lo com curiosidade. — Você devia ser mais observadora, é só o que digo.

— Você diz muito sobre coisas que não entende também, Malfoy — criticou Dahlia, levantando uma das sobrancelhas para o garoto. — Você julga Elleonore por causa da forma que o bicho papão dela assumiu, mas qual forma o seu tomaria?

Ele não respondeu nada, mas, sentindo-se especialmente maldosa, ela continuou:

— Seu maior medo seria seu papai dizendo que você é a vergonha da família?

— Cale a boca, Dursley — respondeu Malfoy, rilhando os dentes e apertando os dedos, irritado. — Você não sabe nada sobre mim.

Ela se calou diante daquela resposta e ele também escolheu não dizer mais nada. Eles permaneceram por muito tempo em um silêncio desconfortável enquanto os caldeirões borbulhavam.

As poções de Dahlia já tremeluziam e a garota conferia os ingredientes mentalmente quando Malfoy estalou a língua várias vezes, de forma irritante. Quando levantou os olhos do líquido azulado para ordenar que ele parasse com aquilo, ele se adiantou ao dizer:

— Aproveite bem, sangue-ruim. Essa vai ser a única vez que poderá usufruir da minha presença sem que eu seja obrigado a isso — disse Malfoy, tentando se arrumar na cama, sem sucesso. — Ah, espere! Acho que essa é uma situação em que estou preso a você por obrigação.

Dahlia o encarou, irritada, mas se compadeceu da situação do garoto, levantando-se e arrumando os travesseiros sob sua cabeça de modo a deixá-lo confortável.

— Você nasceu como um babaca ou foi criado para ser um? — perguntou Dahlia, voltando-se para a poção e desviando o olhar do garoto.

— O que quer dizer com isso? Eu sou perfeito. — Ele riu depois da afirmativa e ela viu que ele realmente acreditava naquilo.

A Dursley o encarou longamente, analisando-o. Draco Malfoy tinha uma compleição magra e esguia, o rosto fino e pontudo era anguloso e ladeado por cabelos lisos e loiros demais, quase brancos. Ele, naquele momento, estava em um tom doentio e branco, mas Dahlia sabia muito bem que o garoto era considerado bonito. Só não era, bem... o tipo de garoto que Dahlia coraria pela presença.

— O que eu quero dizer é que seus avós criaram seus pais de forma ignorante e seus pais o criaram da mesma forma. Isso fez de você um idiota.

O sorriso sumiu da face de Malfoy e ele assumiu um tom sério como ela nunca tinha visto antes. Aquilo, de certa forma, alertou Dahlia, mas ela se desviou do garoto e voltou sua atenção para a poção, que já estava escura como devia ficar.

— Eu deveria saber que você nunca entenderia a gravidade mencionar os antepassados de um sangue-puro, garota. Nunca diga algo assim novamente — disse ele, ríspido. — Você devia ser agradecida por sua ignorância, Dahlia. As responsabilidades que um herdeiro tem...

— Pobre Malfoy — debochou Dahlia. — Tão rico, tão mimado, tantas responsabilidades.

Ela levantou a cabeça até olhá-lo com o canto dos olhos, mas viu que ele não mais lhe dispensava atenção. O sorriso zombeteiro tinha deixado seus lábios e ele fechava os olhos lentamente, como se estivesse decidido a não dizer mais nada.

— Pobre Malfoy — concordou ele, sem sorrir. O assunto já escasso dos sonserinos acabou depois daquilo.

Horas mais tarde, a maioria das poções que Dahlia fizera já fora examinada por Snape e liberadas para Madame Pomfrey, algumas das restantes ainda coziam a fogo brando dentro da enfermaria.

Depois da troca de insultos que tiveram cedo, Dahlia e Draco não haviam se bicado em nenhum outro momento e, quando a noite chegou, o Malfoy já tinha todos os cortes do braço fechados e as poções de reposição de sangue já tinham sido tomadas.

Os dois sonserinos estavam muito satisfeitos em ignorar a existência um do outro, até que Parkinson, uma garota do ano de Malfoy, chegara durante a tarde. Como todos os sonserinos, ela não era exatamente mal-educada com a Dursley, mas a intimidade que viu entre os dois puros-sangues a deixou levemente incomodada.

Não que eles fossem namorados, ou pelo menos Dahlia achava que não, mas os dois se comportavam como Harry e ela quando ambos estavam sozinhos em casa. Os socos, as brincadeiras e os olhares preocupados eram os mesmos. A loira decidiu que, por mais que não gostasse de Malfoy, não podia exatamente desgostar de Pansy Parkinson.

Enquanto voltava para o dormitório, depois de ouvir minutos de agradecimentos de Madame Pomfrey, a garota pensou um pouco sobre as relações ligeiramente incestuosas das famílias puros-sangues. Ela se lembrava do que lera sobre os Black, que se casavam entre primos de primeiro grau há séculos; sobre os Longbotton e Potter, que não faziam parte do “sagrado vinte-e-oito” por sua liberdade com trouxas; e sobre os Malfoy, que há séculos tinham somente um herdeiro homem.

Cuidar do nome e passar as tradições para as gerações futuras, lembrou Dahlia, isso é o que o que todas essas famílias fazem.

Nenhum dos bruxos era abertamente sexista, Dahlia sabia, mas, quando ainda estava presa em Hogwarts nas férias, Snape lhe contara que, principalmente as famílias tradicionais, eram extremamente patriarcais.

A Dursley sabia o que Snape queria dizer com “extremamente patriarcais”, mas só podia imaginar o que fizera até mesmo o professor de poções mais carrasco da história torcer o nariz em desgosto.

— Agradeça por ser nascida-trouxa, Dahlia — dissera Snape, na ocasião — Por que o graça de ser homem, na sociedade bruxa purista, é uma dádiva que você, infelizmente, não tem.

Relembrar todos aqueles fatos e relacioná-los com Malfoy e Parkinson fez a garota ter um arrepio desconfortável, e ela decidiu não mais pensar naquele assunto.

Ao ver a parede que escondia a entrada para o Salão Comunal da Sonserina, Dahlia soltou um gemido. Pela hora que saíra da enfermaria, estava bem em tempo do jantar, mas ela tinha vários deveres de casa que mal começara e estava com preguiça de subir até o Salão Principal.

Arrastando-se até seu dormitório e juntando todas as suas tarefas, Dahlia começou finalizá-las, uma a uma.

Ela já estava no fim das tarefas de transfiguração, a Profa McGonagall havia se esmerado ao passar uma redação de três metros aos alunos inquietos e dois temas de pesquisa extra à Dahlia, quando a porta do dormitório se abriu.

Checando o horário no relógio da parede — estava muito cedo para as garotas subirem — a loira se voltou para trás, encontrando uma Marjorie muito loira e ereta na abertura.

— Trouxe alguns bolinhos de sobremesa para você. — Dahlia levantou as sobrancelhas em surpresa, de todas as garotas de seu ano que dividiam o dormitório com ela, Marjorie era a que menos lhe aturava. — Soube o que fez por Malfoy e fico grata pela ajuda.

A nascida-trouxa ainda não havia encontrado palavras, por isso, a O’Hare se adiantou e colocou os dois bolinhos vermelhos em sua cama. A visão fez o estômago de Dahlia se revoltar, exigindo atenção. A outra loira olhou novamente para Dahlia, provavelmente esperando alguma reação.

— Hm... obrigada, Marj... O’Hare. — É, Dahlia ainda se lembrava da repreensão que havia levado da garota quando a chamara pelo primeiro nome. Louca, pensara Dahlia, na época. — Mas, se não se importa, posso perguntar por que você liga para isso?

Marjorie mediu a garota de suas meias descombinadas até os cabelos frisados e presos em um rabo de cavalo desgrenhado. Essa garota tem a incrível habilidade de me fazer sentir uma formiga, pensou Dahlia, sentindo as bochechas corarem.

— Houve uma época em que fui noiva de Draco, Dahlia.

O tinteiro entornou na mesa, bem em cima de seus papéis, quando a surpresa a fez bater o cotovelo no mesmo. O reflexo ajudou Dahlia a pegar a varinha rapidamente e limpar a bagunça, mas a frase de Marjorie a havia estagnado em diversos níveis de espanto.

Marjorie estava chamando-a pelo primeiro nome, coisa que nunca fazia. E, pior de tudo, Dahlia acreditava seriamente que sua colega de quarto de doze anos – DOZE ANOS! – estava lhe dizendo que já fora noiva.

— Eu acho que não entendi bem o que você quis dizer...

Marjorie olhou para ela, espantada, e, como se fizesse aquilo sempre, soltou uma risadinha. Dahlia nunca havia visto Marjorie rir daquele jeito estúpido em dois anos de estudo juntas.

— As vezes eu me esqueço que você é uma sangue-ruim — explicou Marjorie calmamente, como se não houvesse insultado a colega de quarto. — Tendo essas aulas extras de Poções, História da Magia e blablabla, eu acreditava que você teria um pouco mais de conhecimento da sociedade bruxa tradicional.

— Tenho certeza que essa é a prioridade número um dos professores — disse Dahlia entredentes, olhando para a outra, fervendo em irritação. — “Como ser um preconceituoso estúpido”, módulo um.

— Não seja obtusa, querida. — O’Hare deu de ombros e sentou-se na cama que pertencia a Foxes, bem à frente de Dahlia. — Bem... pode chamar o que eu vou lecionar de “Matrimônio respeitável, módulo único”.

Já estou no inferno, basta queimar, decidiu a nascida-trouxa, acenando sua varinha para guardar cuidadosamente todos os pergaminhos de estudos e penas sujas. Quando viu a cama livre de entulhos, ela agarrou o travesseiro e apoiou-o no colo, olhando para a outra sonserina com expectativa.

— Para as famílias tradicionais, puristas ou não, o matrimônio, além de um contrato mágico indissolúvel, é uma das ligações mais importantes que bruxos podem criar. Até pouco menos de duas décadas, o casamento era montado e moldado pela família. Não deve ser uma surpresa, o mesmo ocorre com os trouxas.

— Ocorreu — corrigiu Dahlia. — Não acontece mais a muitos anos, séculos.

— Você deve estar pensando que a sociedade bruxa é “atrasada” — continuou Marjorie, como se não houvesse sido interrompida. — Mas, mesmo os trouxas sabiam que matrimônio deve ser inquebrável, esse valor foi perdido para vocês, por isso a organização pela família deixou de ser feita.

— Mas e o... e o amor? — perguntou a Dursley sentindo-se um pouco estúpida.

— O amor sempre foi criado com o convívio, querida. De uma forma ou de outra.

— Mas e se você se apaixonasse antes?

— Mas, mas e mas... você sempre coloca os empecilhos, não é? — retrucou Marjorie. — As famílias não-puristas não se importavam se os filhos escolhessem alguém até os dezessete anos, os casamentos eram sempre realizados aos dezoito.

— As famílias não-puristas... e quanto às outras?

Marjorie abriu um sorriso jocoso antes de falar:

— Ora, você já deve saber a resposta.

Não, você não pode escolher a pessoa que vai passar a vida ao seu lado, Dahlia não podia deixar de desprezar um pouco aquelas pessoas.

— Não fique tão chocada, Dahlia — disse Marjorie, levantando-se da cama em que estava e se sentando ao lado da outra garota. — Somos criados a vida inteira com essas regras. Não é um martírio segui-las da forma como você imagina.

Dahlia conseguia duvidar seriamente daquela afirmação, mas não disse nada em retorno. Apenas questionou Marjorie sobre o que esta ainda não tinha esclarecido.

— Então, quer dizer que seus pais escolheram Malfoy como seu marido?

— Não seja boba. — Marjorie não cansava de surpreender Dahlia.

— Mas você disse que... — ela começou a reclamar, emburrada.

— A aula de “Matrimônio respeitável” ainda não acabou. — interrompeu Marjorie, sendo mais irritante que o normal. — Os pais geralmente procuram alguém com o mesmo ciclo social, mesmo poder monetário, mesma cosmovisão; tudo isso igual ou, pelo menos, parecidos com os próprios fundamentos. E é sempre a família do homem que faz o pedido.

— Foram os Malfoy que juntaram vocês dois? — perguntou Dahlia, curiosa.

— Sim, mas da mesma forma que eles enviaram o pedido, também o retiraram. Eu tinha cinco anos quando noivei e Draco tinha seis; éramos um pouco velhos, se quer saber... O costume é estar com o casamento marcado aos três anos. Mas o pedido foi retirado um ano depois.

— Foi pouco tempo, Marjorie — notou Dahlia. — Por quê?

— As famílias procuram por linhagens que têm todos aqueles fundamentos afins, mas também procuram por alguns outros requisitos. Uma mulher submissa ao noivo e à sua família também é bem cotada.

Dahlia olhou em horror para Marjorie. Uma mulher submissa é bem cotada, como gado, e ela disse isso com tanta naturalidade.

— Não me olhe com esse espanto, é impossível que você não saiba que os puros-sangues são patriarcais, para não dizer sexistas — provocou Marjorie. Dahlia teve vontade de arrancar aquele deboche de seu rosto com um tapa, mas não o fez.

— Já me disseram, sim — Dahlia se lembrou de Snape, que não discorrera muito no assunto.

— Enfim, eu não fui tão servil quanto o esperado para a noiva de um Malfoy. Nunca gostei de obedecer.

— O que você fez? — perguntou Dahlia, curiosa.

— Gritei que nunca iria me casar com um “garoto bobo de cabelo lambido para trás como ele” — disse Marjorie, sorrindo. Dahlia tentou imaginar a garota que conhecia fazendo uma coisa daquelas, mas a imagem não veio à sua cabeça. — Nós estávamos no meio de um jantar entre as duas famílias e Draco estava me cutucando. Eu me irrito muito fácil.

— Você é tão controlada. Não consigo imaginá-la fazendo algo assim — alegou Dahlia. — Nunca vi você perdendo a compostura...

Isso, aparentemente, foi o máximo que Marjorie pôde aguentar. Ela tombou a cabeça para trás e soltou uma alta gargalhada.

— Não seja inocente, querida — disse ela, ainda arfando. — Meus pais me colocaram em um internato no dia seguinte. Eu ainda posso lembrar do escândalo que foi aquela noite. Os Malfoy não disseram uma palavra, mas Lucius e meu pai ficaram trancados no escritório por uma hora depois do jantar.

A Dursley geralmente também não simpatizava muito com Marjorie, mas ela sabia o quão horrível um internato poderia ser, e pelos poucos relatos da criação da outra, Dahlia conseguia fantasiar muito bem como seria o internato que a garota estivera.

— Eu também já estive em um internato de “correção de comportamento” — disse Dahlia, surpreendendo Marjorie. — Eu sei que não é a melhor coisa do mundo, Marjorie.

Ela pareceu que ia dizer mais alguma coisa significativa, mas apenas acenou com a cabeça e sorriu.

— Você está... noiva de novo? — perguntou Dahlia, cuidadosamente.

— Quando você tem um contrato de casamento anulado tão rápido como o meu foi, sua família tem algumas dificuldades para atrair um pretendente descente rápido. — Marjorie não parecia nenhum pouco incomodada com aquele fato. — Eu tenho uma prima que poderia honrar a família tomando meu lugar como esposa dos Malfoy... Ah! E você a conhece.

— Quem?

— Relaxe, querida — replicou Dahlia. — Draco Malfoy nunca vai ter a sorte de desposar minha prima. Ela gosta de garotas tanto quanto ele parece gostar.

Se tinha uma coisa que podia surpreender Dahlia mais do que qualquer outra coisa estranha naquele dia, era aquilo. Com base no preconceito de sangue que permeava a sociedade bruxa, Dahlia acreditava fielmente que relações homoafetivas fossem estritamente proibidas também.

— Trouxas e seus preconceitos estúpidos — disse Marjorie, ao reparar na expressão de Dahlia.

A garota queria replicar aquela afirmativa, perguntar o que poderia mudar caso a pessoa fosse homossexual, mas tinha se descoberto exausta. Sua cabeça doía e suas costas reclamavam de estarem a tanto tempo eretas. Por isso, ela apenas concordou.

— Preconceitos estúpidos...

— Sua aula de “Matrimônio respeitável” acaba de findar — concluiu Marjorie. — Espero que tenha conseguido entender um pouco das relações bruxas, querida.

— Por que você se tornou tão amigável, Marjorie? — perguntou Dahlia, exausta de sonserinos fazendo joguinhos com ela.

— Dahlia, cresça.

Não era uma frase dita de brincadeira, reparou a garota Dursley, mas não pôde deixar de se sentir inferiorizada.

— Não pode me culpar por achar suas atitudes no mínimo estranhas, O’Hare.

— Decidi que é mais fácil ter uma colega amigável que seja bem-apessoada e inteligente do que uma inimiga com as mesmas características — explicou a O’Hare.  — Eu vejo potencial em você, e gosto muito de ter pessoas assim por perto.

Dahlia aceitou o argumento e abriu a boca para abrir mais um questionamento, mas Marjorie já havia se levantado de sua cama e se dirigia ao banheiro do dormitório. Aquela era a sonserina no sentido mais puro da palavra que Dahlia conhecia, mais do que Malfoy, Parkinson ou qualquer outro.

Pouquíssimos minutos depois, as outras três colegas de quarto entravam no aposento e Marjorie permanecia no banheiro, provavelmente no banho, mas Dahlia ainda estava sentada em sua cama, tentando se lembrar de como havia começado a se envolver tanto com as relações sonserinas e puros-sangues.


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Notas finais do capítulo

Talvez um capítulo um pouco esquisito? Talvez. Mas ele é bem necessário pra Dahlia começar a se envolver direito com esse mundinho de cobras que ela tem que se enfiar!
Anyway... vocês vão ver MUITO a nossa protagonista interagindo com os sonserinos, tudo bem? Tudo bem!
Não deixem de comentar, por favor! Ajuda muito a manter essa mente aqui motivada a escrever mais.
Espero que tenham gostado do capítulo!
Abracinho em vocês e até a próxima!
Megara.



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