Le Sobriété de Pouvoir escrita por Megara


Capítulo 14
S02C04 - O agoureiro


Notas iniciais do capítulo

Hi, guys!
Amo vocês! Não me matem ♥
[CAPÍTULO BETADO — 2019, @PatBlack, [u/26945/]



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— Eu não acredito que você ainda está dando um gelo no Snape... — debochou Gwendolyn, risonha.

Dahlia estava sentada à mesa da Lufa-lufa para o jantar, rodeada das amigas e sentindo o olhar ferino e irritado do professor de poções perfurar suas costas como facas. Ela não se importava. Porém, Gwendolyn, que merecia pertencer à Sonserina muito mais do que ela própria, estava adorando a irritação do homem.

— Você não devia encorajar essa porcaria, Gwendolyn! — irritou-se Ginny. A ruiva não aguentava mais ter aulas com o pior professor de todos sendo mais intragável do que nunca.

— Eu não nego que estou adorando, garota. Fui construída em sinceridade — respondeu Gwen, sorrindo. — Eu absolutamente odeio o homem, acredito que ele seja uma das piores pessoas do universo.

— Você é impossível, Gwen... — disse Luna, derramando ainda mais calda de mirtilho em suas panquecas já encharcadas.

— Como eu disse: não nego que o odeio — respondeu Gwen, dando de ombros.

— Dahlia, me lembre novamente porque você está nessa vendeta pessoal contra seu professor favorito — exigiu Luna, olhando para a sonserina.

Dizer que Dahlia Dursley se encontrava indignada havia se tornado um eufemismo. Desde que Malfoy saíra da enfermaria e voltara para a normalidade das aulas, logo em sua primeira dupla de Poções com a Grifinória, Snape quase havia envenenado propositalmente o sapo de Longbotton. Dahlia ficara furiosa, mas havia relevado, como sempre fazia. O real estopim foi a revelação do bicho-papão de Neville.

“Dahlia não conseguia mais olhar na direção da mesa de Poções e ver o garoto Longbotton vermelho de vergonha com a chacota dos sonserinos. Ela não havia tido nenhum contato naquele dia com a turma da Grifinória terceiranista, por isso não sabia qual era o motivo da vez para que Malfoy importunasse o garoto.

Ela mal havia se sentado à mesa ao lado de Marjorie quando ouviu mais uma explosão de gargalhadas vindas do grupo de Draco. Um garoto negro com quem Dahlia nunca havia tido contato antes parecia imitar Neville; ele visivelmente fingia tremer e olhava bobamente para a Greengrass mais velha, vestida com uma capa com o dobro de seu tamanho e uma expressão séria no rosto.

— Bobalhão, no final da aula vamos tentar envenenar essa sua coisa e ver no que vai dar, hã?! — disse Daphne, visivelmente segurando um sorriso de escárnio. O garoto que imitava Neville colocou as duas mãos no rosto e gritou um belo e ensaiado “Oh, não!”antes de se afundar na mesa e abaixar a cabeça, fingindo soluçar.

O grupinho ao redor dos atores chorava de rir em alta voz; Parkinson secava algumas lágrimas na manga da blusa enquanto se apoiava em Draco, enquanto este olhava maliciosamente para a mesa da Grifinória.

— Oh, não, Longbotton! — debochou Malfoy. — Sorte que Granger tinha seu pescoço, certo?

Dahlia não estava entendendo a situação e toda sua origem. A garota olhou para Marjorie com o questionamento estampado na face, mas a outra sonserina simplesmente deu de ombros, não se importando com a questão.

Mesmo assim, Dahlia exclamou, irritada: — Vá lamber uma bota, Malfoy! Deixe-o em paz.

— Se mesmo a ratinha da Sonserina não fosse demais para você, Longbotton, eu diria que você conseguiu a proeza de arrumar uma namoradinha!

Dahlia teve vontade de retrucar aquela resposta infame com um soco, mas, naquele mesmo momento, a Professora McGonagall transitava entre as mesas do refeitório.

Naquele dia, Dahlia teve o prazer de ver Malfoy e seus amigos levarem um belo esporro da professora mais severa da escola.

[...]

— Neville!

Quando Dahlia teve uma oportunidade de falar com o garoto Longbotton sobre o que acontecera, poucos dias haviam passado desde o episódio durante o jantar. O garoto estava saindo da biblioteca, enquanto ela entrava. A sonserina não perdeu tempo antes de arrastar o grifinório até uma das pilastras perto do local e questioná-lo.

Ele corou mais do que havia feito enquanto ouvia as piadas dos sonserinos e mal olhou nos olhos da garota. Mesmo relutante, ele contou à loira que, depois de tantos anos de estudo penoso com o professor de poções, o homem havia se tornado seu medo mais profundo. Bem… Dahlia soube dizer muito bem que o que Neville tinha mais medo, na verdade, não era exatamente Snape, e sim a humilhação que sempre seguia o grifinório quando estava na presença do mestre.

Ela ouviu tudo o que o garoto disse calada e apenas agradeceu quando ele terminou de falar. Não queria ouvir muito mais.

Ela sabia que devia estar furiosa. Sentia que devia estar estourando pelas portas do professor naquele exato momento, berrando sobre como ele estava psicologicamente abusando de seus alunos. Porém, Dahlia se sentia tão desolada, que ao menos soube manejar toda a revolta em fúria.

Ela sabia muito bem que Severus Snape tinha tolerância com os alunos que se restringiam à Sonserina, apenas, e em alguns aspectos específicos, uma preferência relativa a si mesma. Entretanto, todas as vezes que ouvia um dos Weasleys mais velhos difamando Severus, ela se sentia no dever de o proteger. Ele era ruim, sim, especialmente com os alunos grifinórios, mas ela nunca havia visto em cores e sons tudo que ouvia dizerem sobre ele. Em suas aulas com o mestre de poções, ela o via extremamente sarcástico e mordaz, mas nunca nenhum dos extremos sobre os quais escutava.

A realidade que vinha tentando suprimir a deixou devastada. Ela duvidava fortemente da palavra de Ron, mas nunca de Neville. O garoto sempre fora sincero, em tudo.

Ela tinha aula livre naquele tempo, que normalmente usaria para estudar ou realizar algumas das atividades pendentes das aulas extras, mas ela não se sentia muito no humor de fazer nada além do que sua consciência a ordenava agir.

Rumando calmamente até o caminho conhecido que levava às Masmorras, ela cantarolou. A loira sabia, por sua ótima memória, que Snape estava em um horário vago naquele momento.

Sorte a dela.

Quando finalmente chegou ao seu destino, o escritório do professor, ela entrou sem bater. Ele estava sentado em uma poltrona velha e de aparência ligeiramente desconfortável em um dos cantos da sala. Quando a viu, o homem levantou uma de suas sobrancelhas para a garota.

— Não me lembro de termos nada agendado, Srta. Dursley — disse ele, calmamente.— Nem que eu havia lhe dado liberdades para que entrasse em meu escritório com tamanha familiaridade.

Ela respirou fundo, antes de dizer: — Sinto muito, professor Snape.

Ele deu de ombros, apenas para indicar que queria que a garota continuasse a falar.

— Eu sinto muito, mas não vou dar continuidade com nossas monitorias de Poções, professor — disse ela, calma, mas sentindo as mãos suarem frio.

— Depois de todo aquele alvoroço, Srta. Dursley? — perguntou ele, fechando o livro e a observando intrigado. — Para onde foi toda aquela vontade de se tornar um Mestra de Poções?

— Permanece, senhor. Apenas não quero mais as aulas extras.

— Posso saber o motivo, senhorita? — perguntou ele, levantando-se e rumando para sua cadeira usual, atrás de sua mesa.

— Indisponibilidade — respondeu Dahlia, fria como mármore.

— Desistirá de algumas das suas outras aulas? — indagou o professor. Ele estava claramente intrigado, mas não parecia realmente infeliz.

— Não. Na verdade, irei ingressar em mais estudos independentes de História da Magia. — Isso não estava nos planos de Dahlia, mas assim que as palavras deixaram sua boca, pareceram certas. Estudos independentes de História se tornaram, em segundo plano, algo que ela descobriu ansiar. Fez uma nota mental para pensar mais sobre aquele assunto depois.

— Não tem tempo para Poções, mas tem para História da Magia — afirmou ele, sorrindo irônico. — Tenho certeza que será de ótimo proveito.

— Nunca disse que não tinha tempo. Disse que não estava mais disponível para suas aulas, professor — corrigiu Dahlia, internamente sorrindo com a face de desgosto do homem.

— Está dispensada, senhorita.

Dahlia quase abriu a boca para falar sobre Neville e sobre todos os outros alunos, os quais sempre reclamavam dos abusos de poder de Snape, mas no último segundo, mudou de ideia. Não parecia muito produtivo abordar aquele assunto com o homem.

Porém, quando estava a ponto de abrir a porta para sair, ela se impediu e voltou-se para olhar novamente para o professor. Encarando-o nos olhos, a sonserina perguntou:

— Você nunca se arrepende?

Dahlia acreditava que ele não esperava uma pergunta como aquela, porque ele pareceu absolutamente atônico por alguns segundos, antes de se levantar, furioso, de sua cadeira e bradar:

— Que diabos de pergunta é essa?

— Perdão, professor. Apenas me ocorreu que suas ações poderiam ter consequências graves na vida das pessoas. Com licença.

Ela se referia aos alunos, é claro, mas quando deu às costas ao homem e partiu, ela não sabia que ele se lembrava de ações muito piores do que a chacota diária que cometia contra os alunos.”

— Vocês sabem muito bem o porquê eu não estou mais me envolvendo de nenhuma forma com Snape — falou Dahlia, respondendo à pergunta de Luna. A corvina apenas revirou os olhos para a loira, que acenou desinteressada para aquele gesto.

— Não podemos dizer que você não tem vocação para o drama, Dahlia — disse Luna, sorrindo debochada para a sonserina e piscando para as outras duas.

— Até você, Luna? perguntou Dahlia, incrédula. Normalmente, Luna era a mais ponderada e gentil de todo o quarteto.

— É simplesmente interessante fazer joça da sua cara, cobrinha — disse a corvina, rindo.

— Eu acho que Gwendolyn é uma péssima influência, sabem? — disse Ginny, jogando um guardanapo na francesa, que retribuiu com uma expressão de indignação e começou a fazer cócegas na grifinória.

À despeito das brincadeiras das amigas, Dahlia começou a pensar um pouco mais em Neville. Ela gostava do grifinório, e o achava quase digno de proteção, por isso estava tentando ajudar o garoto o máximo possível quanto às suas questões inefáveis com Poções e todo o resto.

Só não entendia muito bem o porquê, afinal, ela achava muitas pessoas fofas dignas de proteção.

— Bem... — Dahlia conhecia aquele sorriso de Ginny, que parecia muito com o sorriso dos gêmeos Weasley. A sonserina estreitou os olhos claros para a amiga enquanto ouvia com cuidado as palavras seguintes: — Também podemos dizer que nossa amiga estudiosa aqui tem um xodó por um dos meus colegas de casa específico...

O rosto da Dursley rapidamente se pintou em carmim escuro. Ela não podia acreditar no que estava ouvindo... Ela, Dahlia Dursley, sentido aquele tipo de sentimento por Neville Desastrado Longbotton. A possibilidade era uma lástima.

— Eu não acredito... — começou Luna. Dahlia ainda corava e quando ia dizer algo para desmentir Ginny, Gwen começara a rir loucamente.

— Eu não acredito... — exclamou Gwen, quase gritando, repetindo a fala de Luna.

— Isso não é ver...

— Isso é troco cósmico, eu tenho certeza! — interrompeu a lufana, ainda se acabando de rir. A garota estava atraindo tanto atenção por causa das gargalhadas que fazia Dahlia querer morrer e se enterrar, só para fugir daquela situação.

— Tudo bem que eu queria tirar uma com a cara de Dahlia, Gwen — disse Ginny, sorrindo. — Mas Neville não é tão ruim para que você tenha todo esse ataque, garota. O que é isso tudo?

— Por favor, tanto Neville quanto Dahlia ganhariam na loteria se tivessem um ao outro, minha cara... — respondeu Gwen, debochada. — O troco cósmico é para Snape e aquela cara de uva passa oleosa dele.

Dahlia quase se adiantou para defender o homem, mas logo se lembrou que ainda estava furiosa com o professor, então rapidamente se calou e continuou ouvindo a amiga.

— É inegável que ele prefere essa cobrinha aqui — começou Gwen, apontando para Dahlia. — Imagine agora se a favorita dele acaba com Neville Longbotton? O garoto que ele mais detesta no mundo? Bem... tirando Harry Potter. Entretanto, Harry pertence à essa ruiva aqui e o seboso não tem nada demais contra Ginny. Os gêmeos pelo contrário...

Ginny, que também estava rindo e cutucando Dahlia com os dedos, calou sua risada na mesma hora e voltou seus olhos de maneira ridiculamente irritada para Gwendolyn.

— Harry e eu não temos nem teremos nada, Gwendolyn Pardeux.

— Huh! Entendi... — debochou Luna. — Suas bochechinhas vermelhas nem denunciam o quanto você queria que essa frase nunca fosse verdade, Ginny.

— Eu tinha um certo interesse em Harry, sim, mas essa questão já foi superada. Obrigada.

Para aquela afirmação, até mesmo Dahlia foi forçada a revirar os olhos, o mesmo fizeram as outras duas garotas. Ginny mal conseguia ficar perto do garoto Potter sem corar como a garotinha boba que ela não era, mal é preciso dizer que Harry não havia “sido superado” coisíssima nenhuma.

— Se a vossa senhorita afirma, quem somos nós para discordar? — debochou Gwen, sorrindo para a ruiva e levantando os braços em rendição. — Também não esquecemos de você e seu xodó grifinório, Florzinha.

Dahlia e Ginny se uniram e ambas reviraram os olhos.

Incrivelmente, parecia que as turmas de primeiro ao sétimo ano haviam formado um consenso sobre o favoritismo de Defesa Contra as Artes das Trevas, porém, ao que parecia, o horário havia sido criado para o pior azar de Dahlia e Ginny; as turmas da Grifinória e Sonserina do segundo ano estavam sendo as últimas a terem a desejada primeira aula da matéria.

Naquele dia, elas ouviram entusiasmadas sobre como a primeira aula da Lufa-lufa e Corvinal havia sido incrível, mas Gwendolyn se recusava terminantemente a contar qualquer coisa sobre o tema da lição, tampouco deixou que Luna falasse qualquer coisa.

Quando ainda faltavam minutos para a primeira aula, Ginny e Dahlia já estavam à espera do professor à porta da Sala dos Professores, onde haviam sido avisadas que deviam ir. Claramente, não foram as únicas que ansiaram pelo início daquela matéria; quase todos os alunos da Grifinória já se encontravam conversando entusiasmadamente pelos cantos do lugar.

— Dahlia! Ginny! — exclamou um garoto baixinho, à esquerda das garotas e pouco mais distante da porta da sala. Era Colin Creevey, mais sorridente do que nunca, acompanhado por um outro garoto da Grifinória.

— Colin! Faz muito tempo, certo? — cumprimentou Ginny, piscando um dos olhos para o colega de casa. Ela se referia à pequena arte que os três fizeram em uma das aulas de poções no ano anterior, embora os três soubessem que aquela não fora a última vez que haviam conversado.

— Realmente. Adorei a foto com Harry, Dahlia. — Colin tinha os olhinhos brilhando, mas o garoto ao seu lado revirou os olhos e pigarreou para chamar sua atenção. Creevey sorriu entusiasmado antes de puxar o menino para seu lado. — Este é Taylor! Nós começamos a conversar essa semana, mas ele é incrível!

Taylor era um garoto mirrado, mas incrivelmente bonito. Ele tinha a pele branca como giz e olhos grandes centralizados em um rosto asiático e quase andrógino. O garoto sorriu simpático para as meninas e acenou.

— Vocês que ajudam Colin com Poções, certo? — perguntou Taylor, depois de todos terem se apresentado propriamente.

— Para falar a verdade, eu não poderia ser mais mediana nessa matéria — respondeu Ginny, sorrindo para o garoto. — Dahlia é o verdadeiro gênio das poções.

Dahlia corou e sorriu um pouco constrangida, mas acabou por apenas dar de ombros em resposta.

— Vocês se importariam que eu fosse aos seus encontros na biblioteca? — questionou Taylor, coçando a orelha. — Me desculpem, mas Colin não pôde deixar de comentar comigo sobre isso, e eu sou realmente uma negação com poções...

Antes que Dahlia pudesse responder, o professor Lupin despontou em um dos corredores que levavam à Sala dos Professores. Ele arquejou surpreso ao ver quase todos os seus alunos à sua espera, já que ainda faltavam dez minutos para o início das aulas, mas sorriu mesmo assim para todos.

— Vocês estão um pouco adiantados ou eu estou atrasado? — brincou ele, fazendo todos soltarem algumas risadinhas com a joça. Ele era um homem bonito, por volta dos trinta anos de idade, com cabelos castanhos claros e opacos e um rosto bem marcado. Por mais novo que aparentasse, ainda tinha um dos rostos mais cansados que Dahlia já vira e suas bolsas abaixo dos olhos serviriam para soneca de alguém, tão grande estavam. — Começaremos assim que todos chegarem.

Não demorou muito para que o homem abrisse a sala dos professores e convidasse a todos que entrassem. A sala dos professores, uma sala comprida, revestida com painéis de madeira e mobiliadacom cadeiras velhas e desaparelhadas, estava vazia. O professor se adiantou à frente de todos e começou a mexer em uma caixa que estava acomodada em um dos cantos do lugar.

Não tardou muito para que os Sonserinos, os únicos faltantes, chegassem. Pareciam todos falsamente entediados, mas os brilhos em seus olhos denunciavam que estavam tão curiosos quanto o resto da turma para o início da explicação.

— Boa tarde! — iniciou o professor. — Tenho certeza que ouviram maravilhas sobre a aula prática dos outros anos, mas, infelizmente, os primeiros e segundos anos somente terão o uso real das varinhas a partir da nossa terceira aula, aproximadamente.

A turma toda arquejou, desanimada. Ginny xingou baixinho ao lado de Dahlia, maldizendo a suposta falsidade das outras amigas por mentirem tão bem em relação à aula de Lupin.

Quando os alunos começaram a remexer na mochila, desanimados, à procura do livro de Defesa, o professor riu e disse:

— Não disse que iríamos fazer uso dos livros, podem guardá-los. Informei apenas que não faríamos uso das varinhas. — Ele estava se divertindo com a cara deles, mas ninguém além de um sonserino ou outro, mais mal-humorado, pareceu se importar; todos muito aliviados.

— O que vocês acham que está aqui dentro? — perguntou o professor, ficando ao lado da caixa desconhecida e apontando para o objeto.

Apenas dois alunos se adiantaram para frente da sala, sendo um deles Taylor.

— É um bicho-papão — exclamou um dos garotos da sonserina, sorrindo entusiasmado. — Eu tenho certeza! Ouvi uma das garotas que teve aula com o senhor dizer isso.

— Se vocês fossem da turma do terceiro ano, essa seria uma afirmação verdadeira — respondeu o professor Lupin, sorrindo. — Porém, vocês todos são do segundo ano. Mais algum palpite?

— É um Crupe! — exclamou Taylor, sorrindo. — Minha avó tem um e ele fica em um caixa igualzinha a essa! Ele tem uma casinha e almofadas espalhadas por toda a casa, mas sempre volta para essa caixa.

— Ótimo palpite, Sr. Jones — disse Lupin, sorrindo. — Infelizmente, você também está errado. Por coincidência, eu estava entre um animal como o Crupe e o que eu realmente trouxe hoje. Cheguem todos um pouco mais perto, por favor.

Em sincronia, todos os alunos andaram alguns passos mais próximos do professor para visualizarem a caixa. O homem mais velho se adiantou para a caixa e a destampou, dando visão para algo que Dahlia nunca tinha visto antes na vida.

Era um pássaro grande e preto-esverdeado, que lembrava muito um abutre pequenino e malnutrido. Ele tinha um aspecto tristonho e abria a fechava a boca várias vezes, como se sentisse o ar ao redor de si. O pássaro estava coberto com pedaços do que parecia restos de um ninho anterior, mas logo se balançou fervorosamente até que estivesse limpo. Dahlia o achou incrível.

— Este é um agoureiro — informou Lupin, sorrindo para a turma, apesar do olhar incrédulo de alguns. — É uma ave bastante curiosa, se querem saber...

— Não acho que quero saber não, professor — disse uma sonserina, interrompendo o professor abruptamente. Ela estava se afastando do grupo de alunos com o cenho franzido, olhando para a ave com um certo medo.

— Minha família diz que o agoureiro anuncia a morte! — exclamou a garotaquase tremendo de medo. — Um dos meus tios disse que, quando foi caçar perto de um ninho desses bichos, quase teve um ataque do coração ao ouvir o choramingar deles.

A súbita informação da garota fez muitos sonserinos se afastarem da ave com pressa, quase tapando os ouvidos com as mãos, apressados.

— O agoureiro é uma ave que anuncia a chuva, senhorita — afirmou Lupin, calmamente. — O grande motivo que eu estou mostrando essa ave a vocês é essa informação errada que muitos têm.

 O bichinho afanou as próprias asas com calma, tapando-se com uma delas, como se tivesse vergonha dos alunos. Algumas garotas soltaram risinhos ao ver a cena, sorrindo para o professor e o animal.

— Muitas vezes, quando pessoas fazem caças em áreas povoadas com agoureiros, eles são mortos por esse tipo de pensamento. Embora muitos já saibam que eles anunciam a chegada de chuva,e até os usem como barômetro, ainda assim há aqueles que não deixam a sua ideia errada do bicho. Quem sabe vocês não serão os próximos a falar as novidades àqueles desinformados de suas famílias, hã?

O professor os encorajou a fazer carinho no animal, que parecia não saber o que fazer com toda aquela atenção, mas, mesmo assim, era receptível quando alguém lhe passava os dedos pelas penas.

Por infelicidade, Ginny e Dahlia eram as últimas da fila, logo atrás de Taylor; Colin havia conseguido se infiltrar entre os primeiros e agora conversava animadamente com uma grifinória desconhecida.

Quando Ginnyterminou sua sessão com o pássaro, chegou a vez de Dahlia. A loira sorriu quase instantaneamente ao encarar o animal, adiantando-se para fazer igual aos colegas de classe. Entretanto, diferente do esperado, o agoureiro foi o que se adiantou e se infiltrou abaixo das mãos da garota, soltando algo diferente do lamento que fora ouvido até então.

— Que fofo! — exclamou Dahlia, sorrindo de orelha a orelha. — Olhe isso, professor!

A garota foi encarada pelo homem mais velho pela primeira vez naquele dia, e este franziu as sobrancelhas ao olhar para a sonserina. Mesmo estranhando um pouco a atitude do professor, Dahlia continuou a sorrir e acariciar o agoureiro.

— Esses animais raramente gostam tanto de pessoas, senhorita...

— Dursley, senhor — informou Dahlia, sentindo o agoureiro quase adentrar em suas mangas, tal sua afeição à garota.

— Eles se apegam aos donos, quando são domesticados, mas raramente têm uma afeição tão instantânea — continuou Lupin, ainda encarando a loira. — Talvez devesse conseguir algum quando voltasse de férias, Srta. Dursley.

Dahlia podia ter informado que algo como aquilo nunca seria possível, pois era nascida-trouxa e seus pais detestavam qualquer indício de magia, mas relembrar seus colegas de casa que era nascida-trouxa nunca parecia boa ideia, por isso, apenas deu de ombros e sorriu para o homem.

Durante o restante da aula, o professor havia explicado muitas coisas sobre os agoureiros e desmitificado um pouco a existência do animal. Ao fim da aula, até mesmo os alunos que iniciaram absolutamente receosos com o agoureiro pareciam confortáveis e até mesmo sorriam. Por fim, Lupin passou um dever de casa que envolvia descobrir pelo menos cinco animais que tinham uma mitificação errada e descrever o porquê a comunidade bruxa errava sobre as informações comuns dos bichos.

— Liberados.Não se esqueçam que o dever de casa é para nossa próxima aula — disse Lupin, sorrindo e acenando para todos. — Srta. Dursley, uma palavrinha.

Todos os alunos saíram da sala, conversando em alta voz sobre “a melhor aula de DCAT que já tiveram”. Ginny, como sempre, permaneceu na sala à espera da amiga, e Dahlia foi até Lupin.

— Você é prima de Harry Potter, correto? — perguntou o professor, sorrindo.

— Sim, senhor — ela respondeu.

— Eu acredito já ter comentado com ele sobre isso... — começou o professor, coçando um dos lados do rosto. — Mas o fato é que, durante o meu tempo em Hogwarts, eu fui muito amigo de sua tia, a mãe de Harry.

Dahlia sabia o que ele diria a seguir, por isso, quando a porta da sala dos professores se abriu abruptamente, a garota mal se virou para checar quem havia entrado.

— Ah, sim! Minha tia Lily... — Todos diziam que Dahlia era uma cópia da falecida mãe de Harry, e a garota já havia comprovado aquele fato ao ver algumas das fotos da mulher em sua casa. — Todos que a conheceram comentam sobre a semelhança.

— De fato, é impressionante — disse o professor, cruzando os braços à frente do corpo. — É impossível não se lembrar dela quando olhamos para você, mesmo com a diferença do cabelo...

— O cabelo é parecido com o da mãe — disse uma voz azeda às costas de Dahlia.

A sonserina não precisava fazer isso, mas se virou para olhar o professor Snape sentado em uma das poltronas da sala; ele devia ter entrado antes, mas não parecia muito feliz em estar ali. Na verdade, ele quase nunca aparentava felicidade.

— É verdade, professor Snape — confirmou Dahlia, quase sentindo vontade de rir da cara que Ginny fazia ao lado do professor de poções. — Não sabia que conhecia tão bem minha família.

Snape nunca falava muito quando estava junto de Dahlia nas antigas monitorias de poções, mas ela sabia muito bem que, caso ele tivesse comentado qualquer coisa sobre conhecer sua mãe, ela teria se esquecido com pouquíssima facilidade.

— Eu tive pouco contato com sua mãe na vida, Srta. Dursley — respondeu Snape, ainda mordaz. — Mas minha excelente memória me permite me lembrar de como eram seus cabelos na infância; iguais aos seus.

Ela podia ter perguntado mais, muito mais. Estava curiosa como nunca e queria questionar o professor de poções até que se virasse o dia; mesmo que estivesse, quase rudemente, ignorando o professor Lupin ao seu lado.

Contudo, ela ainda era uma pessoa absolutamente orgulhosa. Todas as vezes que ela olhava para o rosto de Snape, a forma como ele tratava muitos alunos também disparava na memória da garota, e ela só queria ficar longe para não gritar.

— De fato — comentou ela, dando às costas a Severus e se voltando para oprofessor Lupin novamente. — Professor, temo que tenha aula de Feitiços com a Lufa-lufa agora, tenho que ir.

— Claro, claro — respondeu ele, contido. — Corra. Me desculpe por atrasar seu compromisso.

— Não foi nada — falou ela. — Ah! Digo por toda a turma quando afirmo que tivemos a melhor aula dessa semana com o senhor, professor.

Lupin pareceu satisfeito, mas não respondeu nada à garota, apenas acenou a cabeça em cumprimento. Quase correndo, a sonserina foi até Ginny e a puxou até a saída da Sala dos Professores, ignorando totalmente o professor Snape.

Quando ambas estavam longedo lugar, a grifinória se virou para a amiga e exclamou:

— Mas que coisa foi essa? — perguntou Ginny, olhando para Dahlia com uma interrogação quase escrita na testa.

— Honestamente? Eu não faço a mínima ideia.

Ainda quando Ginny se separou da sonserina, e rumou para sua próxima aula, Dahlia permaneceu pensando em quão estranhos seriam os grupos de amizade de alguns anos passados.


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Notas finais do capítulo

Eai?