Le Sobriété de Pouvoir escrita por Megara


Capítulo 11
S02C01 - Cabelos brancos


Notas iniciais do capítulo

Ooooi, lindas da minha vida! Tudo bem com vocês?
Tenho uma novidade MUITO empolgante: agora a fic tem uma beta reader!
O nome dela é Patricia e é simplesmente um amorzinho! Conheçam o perfil dela e leiam as fics que ela postou (eu já li algumas e já acho todas maravilhosas):
https://fanfiction.com.br/u/26945/
Eu demorei um pouquinho pra postar por causa de uns problemas que tivemos com a revisão do capítulo e o atraso que o ENEM gerou na minha vida.
Mas... enfim aqui estamos! Espero mesmo que vocês gostem e já aviso que o próximo está pronto ;)
CAPÍTULO BETADO 13/11/2017, @PatBlack, [u/26945/]



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Dahlia Florence Dursley costumava detestar muitas coisas relacionadas à própria família. Por exemplo, sua mãe, Petunia, tinha uma irritante mania de ser obcecada por limpeza; mal podia ver um traço de poeira em seus móveis e limpava a casa inteira. Seu pai, Vernon, costumava gritar e cuspir quando falava. Seu irmão mais velho, Dudley, tinha uma leve tendência a crueldade, o que o transformava em um boçal, na maior parte do tempo.

Apesar de todos os pormenores, ela amava cada um deles.

Era quase uma da manhã e Dahlia ainda estava sentada em sua escrivaninha nas masmorras de Hogwarts, respondendo calmamente as cartas que sua família enviara. Ela ainda tinha que terminar algumas tarefas de Transfigurações e algumas poções para enfermaria, mas a letra em garrancho do irmão e suas tentativas de piadas faziam-lhe sorrir facilmente e era algo que precisava.

Depois de sua experiência no ano anterior, sua vida tomara uma reviravolta espetacular em alguns aspectos. Seus pais estavam tão amorosos quanto nunca foram antes — talvez por quase a terem perdido para a morte — e ela, mesmo oficialmente continuando seus estudos no segundo ano de magia, extraoficialmente tinhaque cumprir com todas as obrigações que perdera durante o ano nas férias.

O que significava que agora ela “morava” em Hogwarts até segunda ordem.

Dahlia não podia ter estado mais exultante nos dias de julho que se passaram. Mesmo estando mais próxima dos familiares, a garota não podia ter imaginado férias melhores para si.

Durante parte das manhãs, ela tinha aulas com o Prof. Binns de História da Magia, longe dos monólogos que geralmente escutava em sala, eles discutiam sobre revoltas que abalaram o mundo mágico, tradições que perduravam durante séculos e todos os assuntos que ela devia estudar se tornavam interessantes, embora longos.

Durante a tarde e parte da noite, ela completava os diversos deveres e estudava tudo que tinha perdido enquanto estava covalente, tudo deixado em uma lista por todos os professores de Hogwarts. Para ela, as mais desafiadoras eram, de longe, as de Herbologia; nenhuma planta confiava na garota e todas pareciam tendentes à morte com ela.

Mesmo que Dumbledore tivesse programado que suas aulas autodidatas durassem apenas até às seis da tarde, era absolutamente comum encontrar a sonserina tarde da noite enfiada no escritório do diretor da Sonserina ou na biblioteca do castelo.

Logo na última semana de julho, Snape se irritara com todos os papéis de anotações e livros amontoados um por cima do outro sobresua escrivaninha e conjurara uma mesa secundáriapara a garota, ao lado da dele.

Naquele dia,ele estava irritado, mas ela abrira um sorriso radiante para o professor, deixando seu humor ainda pior. Apesar das masmorras serem geladas, e Snape fosse muito monossilábico na maior parte do tempo, ela ainda adorava estar naquele lugar com ele, ao invés de sozinha na imensidão da biblioteca.

Severus Snape se tornara uma incógnita ainda maior para Dahlia. Ele podia se mostrar atencioso durante a manhã e à tarde, e a noite se tornar tão irascível como se ela fosse seu primo, Harry. Ele engajava em longas conversas com a garota sobre o preparo de poções difíceis e as funções únicas de cada ingrediente e o que ele podia fazer. Era simplesmente fascinante o que ela podia aprender com ele.

Apesar de tudo, ele não se abrira mais com ela como fizera no final do ano letivo, e isso a frustrava de certa forma.

Mesmo assim, Snape confiava nela em muitos pontos importantes, como sua habilidade imprescindível em poções. À despeito das expectativas, Severus tinha algo em sua vida que se assemelhava à caridade. Ele ajudava hospitais e a Central de Aurores do Ministério, e delegava algumas das poções simples que tinha de enviar a esses lugares à Dursley.

A garota adorava cada minuto de preparo das poções, mas não podia negar que haviam certos pontos negativos em ser um pocionista. Seus cabelos precisavam ser lavados pelo menos duas vezes por dia e todos os lugares que precisavam da ajuda de Severus Snape pareciam destituídos de qualquer esperança. Quando era autorizada a ajudar nas entregas das poções aos seus destinatários, Dahlia sempre voltava com péssimas lembranças.

Realmente, péssimas lembranças. Pensou Dahlia, estremecendo ao tentar se livrar das memórias.

Durante as refeições, ela assentava-se ao lado do Prof. Snape na mesa dos professores, mas era acompanhada por um ou outro fantasma que se esgueirava pelo salão principal para socializar com ela, conversando sobre os mais diversos assuntos.

Na manhã daquele dia, o Fat Friar era o fantasma que lhe acompanhava em sua refeição. Apesar de não deixar de saborear a deliciosa sopa que fora servida, Dahlia se sentia aterrada pela injustiça que fora cometida contrao fantasma.

Em vida, o Fat Friar trabalhara por muitos anos em uma igreja católica que existia nos arredores de Hogsmead. Compadecido dos muitos enfermos que as cruzadas e guerras religiosas resultavam, o monge tinha costume de curar os doentes com sua magia em segredo dos demais. Desconfiados da magia do frade, os seniores o executaram, acusando-o de magia negra.

— Mas é simplesmente um ultraje! — exclamou ela, depois de ouvir o fim de sua história. — Mal posso acreditar que tamanha crueldade pode ter acontecido com o senhor!

— Ora, jovenzinha — começou ele, docemente —, tem que aprender que nem todos são honrados ou puros de coração, e muitas vezes a vida nos trará mais maus agouros do que qualquer outra coisa.

— Não me surpreende que tenha sido sorteado para a Lufa-lufa. — Suspirou ela, observando o fantasma de olhar doce ao seu lado. — Eu não tenho certeza se teria tanto amor depois de tal tragédia.

— Ah, minha querida... — sussurrou o frade bondosamente, olhando-a nos olhos. — Mesmo as piores coisas não podem mudar tanto o âmago de uma pessoa. Não digo que somos completamente maus ou completamente bons, mas pessoas com um olhar como o seu, raramente se deixam levar pelas trevas.

Tão concentrados estavam em seu diálogo, quase não puderam ouvir a voz do Prof. Snape sussurrar ao lado de ambos: — Se engana quando diz que a dor profunda não pode mudar alguém. Os mais cruéis sabem muito bem que a dor é uma ótima ferramenta para quebrar o espírito.

A conversa morreu, depois da interrupção do professor, mas Dahlia também não sentia mais vontade de continuar o assunto. Ela estava concentrada na memória do olhar de seu mentor quando lhes dispensara aquelas palavras. Eram palavras doídas, seguidas de um olhar transtornado.

A história do fantasma da Lufa-lufa trouxe de volta à memória de Dahlia uma das visitas que fizera com Severusao St. Mungus ao longo do tempo que o auxiliara. Decididamente, a pior delas.

Dahlia não estava animada naquele dia. Ela andava atrás de Severus com passos lentos e metódicos, tentando olhar sempre para o chão. Na primeira vez que o acompanhara para uma entrega, ela estava radiante, mas os gritos das celas da Central de Aurores ainda ecoavam em seus ouvidos.

Os passos do professor eram firmes, mas pareciam mais pesados que o normal para a Dursley, então ela imaginava que ele achava as entregas, no mínimo, irritantes. Ele virava corredor atrás de corredor no Hospital St. Mungus, e ela apenas o seguia.

Quando chegaram até um corredor mais estreito, finalmente pararam e Dahlia juntou coragem para levantar seus olhos. Estavam os dois em um corredor com uma placa grande de ferro, no alto,com os escritos: DANOS CAUSADOS POR MAGIA.

Tenho que administrar algumas dessas poções em um paciente particularmente intragável, Srta. Dursley sussurrou Snape mansamente, sem se virar para olhá-la. Me espere sentada em alguma daquelas cadeiras.

Somente naquele momento,ela se dignara a olhar pelos arredores. O corredor tinha somente uma porta ao lado de uma janela transparente de vidro, coberta por cortinas brancas. Ao lado da janela havia um conjunto de três cadeiras confortáveis, emuma das quais a Dursley se sentou, com um suspiro.

Como esperado, ela logo estava entediada. Levantando de sua cadeira, ela ficou parada, fazendo círculos no chão com o pé, dançousozinha mesmo sem músicae até brincou de um jogo trouxa que conhecia desde pequena.

Quando se cansou, voltou a se sentar onde lhe havia sido ordenado, mas ainda se sentia entediada. Decidiu, por fim, dormir sentada. Severus provavelmente lhe esganaria quando a encontrasse adormecida, mas decidiu que valia muito a pena para sair daquele tédio irritante.

Toc...

Quando fechara os olhos, ouviu um barulho por trás da parede ecoar no corredor silencioso. Não era bem o somcomum de quando se batia em umaporta, era como se algo pequeno tivesse colidido com a madeira da parede. Ela vasculhou o corredor para encontrar a fonte do barulho, mas desistiu, depois de alguns minutos, voltando a fechar os olhos.

Toc...

Dahlia abriu novamente os olhos, mais curiosa do que irritada. Levantou-se de sua cadeira e andou silenciosamente até o início do corredor, depois até o final.

Parece tudo vazio aqui, pensou ela.

Toc!

Ela estava atenta quando ouviu o barulho novamente, mas, quando finalmente identificou a fonte do mesmo, se viu temerosa demais para continuar. A porta fechada do corredor abrigava o quer que fosse que estava fazendo aquele barulho inadequado.

Andando calmamente, ela colocou uma das mãos na maçaneta da porta, com medo demais para girar o objeto para o lado. “Como o chapéu seletor pode sequer imaginar me mandar para Grifinória?” perguntava-se ela, “nunca encontrei alguém mais medrosa do que eu”.

Irritada com a própria insegurança, mas ainda cautelosa, ela girou a maçaneta e adentrou no lugar que estivera outrora enclausurado. Era um quarto simples, com paredes brancas e camas lado a lado, abrigando pessoas que ressonavam tranquilamente:uma enfermaria.

Quando Dahlia voltou seus olhos para as camas, todos pareciam dormir profundamente, sem qualquer distúrbio, mas, quando tentou andar por entre as mesmas, pisou acidentalmente em um pequenino carrinho vermelho encostado na parede. Ela viu que, claramente, era um brinquedo trouxa e logo puxou suas molas para fazê-lo deslizar pelo chão.

Toc.

Ela tinha achado a fonte do barulhinho irritante, mas agora ela estava intrigada com os pacientes do lugar.

Saiu de sua imobilidade perto da entrada, rapidamente, andando pelo quarto,tomando notas mentais com certo furor. Dahlia notou muito rápido que algumas pessoas daquele lugar não se dariam muito bem com o exterior.

Na segunda cama de uma das fileiras estava alguém que parecia ter tentado se transformar em algo como um cachorro ou urso e não conseguira voltar à aparência original; sua cabeça estava completamente tomada por pelos. Em outra cama, um homem com os olhos vazados do rosto resmungava incongruente durante o sono.

Fora alguns parcos pacientes, todos tinham as cortinas de suas camas levantadas para privacidade. No fim do corredor, perto de onde estava uma janela gradeada, que lhe lembrava um pouco seu bairro, estava a última cama daquela fileira, onde, curiosamente, a cortina se movia e um pequeno som parecido com um assobio escapava.

Mesmo com sua consciência rugindo sobre sua inabilidade e desrespeito porque estava naquele lugar, onde aquelas pessoas certamente desejavam paz, Dahlia seguiu em frente e abriu de leve a cortina da última cama.

Era uma senhora mais velha que repousava sentada na cama, usando outro brinquedo trouxa para fazer bolhas pelo ar. Seus cabelos longos eram branquíssimos, mas seus traços não pareciam combinar com a idade que suas madeixas aparentavam. Outros carros de brinquedo, e alguns papéis de chiclete, adornavam a cama onde ela se encontrava.

Ambas as mulheres se olharam com curiosidade. Os olhos verdes de Dahlia perscrutavam com curiosidade os castanhos incongruentes da outra.

Saindo de sua brincadeira inocente, a mais velha largou o brinquedo na cama, aberto, derramando, sem cuidado,a água com sabão. Levantando-se, a mulherpôs-se em frente à garota sonserina, abaixando-se até ambas ficarem com quase o mesmo tamanho.

Sorrindo de leve, a paciente do St. Mungus pegou uma mecha longa do cabelo dourado da garota e puxou até a altura dos olhos, pegando uma mecha de seu próprio cabelo branco e colocando ambos ladeados.

Eu...

A loira sentiu vontade de chorar, mas não pode descobrir por quê.

O que faz aqui?!

Dahlia ouviu a voz ríspida do Prof. Snape vinda da porta. Ele a encarava estupefato, talvez com sua desobediência ou qualquer outra coisa. Ela devia ter permanecido na cadeira quieta.

Olhando enternecida para a paciente, Dahlia pegou suas mãos com cuidado e as colocou de volta ao lado do corpo da dona. Sorrindo em despedida, mas decididamente melancólica, a loira voltou-se correndo para a porta onde seu mestre se encontrava.

Quando seus olhos se voltaram novamente para as camas dos pacientes, a última delas já tinha suas cortinas fechadas novamente.

A batida da porta do escritório a tirou do estupor de memórias que se encontrava. Dahlia piscou para a mão com a pena, que pingava gotas de tinta sob um pergaminho. Seus olhos viajaram de suas mãos para o jornal do dia (onde sete pessoas muito ruivas acenavam para a foto) e, por fim,para a porta do lugar.

Severus estava encostado de leve no batente, olhando-a com ares irritados, nada muito diferente do usual.

— Por que não está deitada nesse momento renovando seu sono, Srta. Dursley?

Ele ainda se negava a chamá-la de Dahlia.

— Estive terminando alguns deveres, nada demais.

Seus olhos se desviram novamente para o papel em suas mãos, mas ela não tinha mais presença de espírito para responder nenhuma carta, mesmo que tivesse várias delas.

Largou a pena sobre o pergaminho de qualquer jeito e se recostou na cadeira, suspirando. Mesmo quando ela ouviu o professor puxando sua própria cadeira e sentando atrás de sua escrivaninha (bem maior que a dela, de fato), ela ainda não quis levantar os olhos.

Parecia um ótimo momento para notar quão esgotada estava e o quanto desejava ardentemente dormir.

— Fiquei absolutamente surpreso com sua irresponsabilidade em nossa última visita ao St. Mungus — disse ele, tirando a garota de seu estupor. Ela o ouviu atenta, pois no dia do ocorrido ele não lhe dirigira nenhuma palavra, furioso como estava. — Você nunca é irresponsável.

— Posso me lembrar de um par de vezes que não fui tão responsável quando deveria, professor.

— Você tem a língua afiada, garota. — Ele tinha os olhos ferinos e não tinha gostado de ser interrompido.

— Assim como você. — Dahlia Dursley também podia ser muito arisca.

— Você sabia que era aquela mulher no hospital? —perguntou ele, não desviando o olhar do dela por nenhum segundo.

— Sim, tenho acesso completo ao banco de dados do St. Mungus — resmungou ela, malcriada. O sono lhe tirava o juízo e a paciência.

Por sorte, naquele momento,Snape não parecia suscetível às suas irritações.

— Eu estudei com ela durante os meus sete anos em Hogwarts... —suspirouSeverus, surpreendendo a loira com suas palavras. Snape nunca conversava sobre seu passado. Ela permaneceu calada, com medo que ele parasse de falar. Mas o homem não continuou.

— Qual é o nome dela? — perguntou a garota, surpreendentemente ansiosa.

— Alice.

Snape não disse mais uma palavra, ela também não lhe perguntou mais nada.

[...]

— Elle!

Era a Srta. Wolfgang a quem Dahlia chamava. Incrivelmente, a sonserina havia criado uma boa amizade com a nova enfermeira da Ala Hospitalar e não podia estar mais feliz com isso. Mas, naquele momento, no auge da frustração, a Dursley só queria alguém para brigar.

— Sabe que não posso lhe dar o máximo da minha atenção agora, querida — disse ela, revirando os olhos para a mais nova.

— Mas porqueesse maldito boneco não aceita minhas ordens?

Há alguns dias,havia sido o aniversário de Harry, mas Dahlia, com medo da reação dos pais, não lhe enviara o presente. E também não tinha como enviar ao primo um presente defeituoso.

A garota havia estudado o suficiente de transfiguração e feitiços para conseguir transfigurar um candelabro e uma vela em um boneco de madeira e em uma bolinha dourada, respectivamente. Ela, em uma brincadeira, havia cortado a testa do boneco até fazer um raio imitando a cicatriz do primo. Mas, apesar de suas habilidades e pesquisa, o boneco voava em volta do mini-pomo, recusando-sea capturá-lo. Ela fazia suas tentativas frustradas havia, pelo menos, cinco horas.

— Você tem que enfeitiçar o boneco para querer perseguir o pomo, Dahlia.Como se você desejasse que ele fizesse isso. Ele deve ser obediente ao seu feitiço, afinal.

Franzindo um pouco as sobrancelhas, a garota apontou a varinha novamente para o boneco e pronunciou os feitiços necessários. Parando no ar por alguns momentos, o boneco de Harry de repente disparou em busca da bolinha dourada, que fugia de seu agarre com velocidade.

— Incrível! Deu certo! — exclamou Elleonore, surpresa, olhando espantada para seu feito e deixando de lado alguns relatórios que completava para Madame Pomfrey.

— Como assim? — perguntou Dahlia, confusa. — Você que me indicou o que fazer! Não deveria estar surpresa.

— Eu lhe disse a teoria, apenas. Não esperava nem mesmo que conseguisse transfigurar aquele candelabro nesse boneco.

— Quanta sinceridade...

Abafando uma risada com a mão, Elleonore levantou-se de sua cadeira e sentou-se ao lado da garota na cama em que ela se encontrava. A enfermeira suspirou, apoiando o queixo nas mãos e olhando para os olhos da sonserina.

— Não entendo como você pode ser tão diferente de outros sonserinos, Dahlia.

— Por quê?

— Eu fui lufana em meus anos de estudo e tudo o que eu conseguia conjurar de sonserinos era o quanto eu os detestava. Um, em especial,adorava me jogar bolas de papel nas aulas de Feitiços, eu era péssima na matéria, mas isso não vem muito ao caso.

— Você tem os olhos doces de uma lufana — disse a garota, mas completou com um sorriso matreiro —, mas também é desastrada como uma.

— Que ultraje! — Elle se irritava com certa facilidade. — Saiba que eu quase fui mandada para a Corvinal,mas o destino quis que Madame Pomfrey fosse a corvina orgulhosa dessa enfermaria.

— Não acredito em destino.

— Deveria. O mundo mágico está construído sobre ele.

— Então foi o destino que quis que Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado possuísse Ginny no semestre passado? — sibilou a garota em resposta. — O destino quis que esse bruxo das trevas tentasse me matar?

— O destino é construído com base em nossas escolhas, mas mesmo depois de firmado ainda deixa margem para mudanças. — Aquele tom professoral da enfermeira não irritou Dahlia tanto quanto deveria. A garota apenas revirou os olhos em resposta.

— Destino é uma desculpa.

— Não vou discutir com você. Esse é um daqueles assuntos irritantes em que os mais velhos dizem que somente quandose chegar a certa idade poderá entender.

Dahlia revirou os olhos novamente.

— Ainda bem que sabe que são irritantes.

— Mas sabe... Madame Pomfrey está empenhada em descobrir o que aconteceu com você — começou Elle, suavemente. — As possibilidades são ínfimas, mas mesmo assim parecem impossíveis.

— O que ela conseguiu descobrir? — perguntou Dahlia com curiosidade. — Dumbledore conversou com ela sobre o que eu me lembro.

— Bem... ela não descobriu nada — respondeu Elleonore. — É simplesmente impossível a mais ínfima possibilidade de você ter encarado um basilisco nos olhos.

— Minha memória deve ter me pregadouma peça.

— Você deve ter visto um lampejo de feitiço e se confundido — sugeriu a lufana. — Existem tantos feitiços das trevas que não conhecemos, que ficaria surpresa.

— Me lembro da ordem — contou Dahlia, desviando seus olhos dos da amiga. — Ele me mandou abrir osolhos, e, quando o fiz,vi apenas dois olhos grandes e amarelos.

— Dois olhos grandes e amarelos... — sussurrou Elleonore. — Perdi a conta de quantas vezes fui ao banheiro do terceiro andar e ouvi Myrtle descrevendo esses olhos. Mas é simplesmente impossível.

— Elizabeth, ou Myrtle, como você a chama, nem ao menos olha em meus olhos — sussurrou Dahlia, jogando-se na cama. — Ela diz que tem medo de mim, que eu devia ter morrido.

— Mas não morreu — respondeu Elleonore. — Seja sorte ou qualquer outra coisa que tenha contribuído para isso, o resultado foi mais do que satisfatório:você e Ginny Weasley estão vivas.

— Graças a Harry, em parte. — Dahlia olhou para o brinquedo que confeccionara para o primo com um sorriso dançando nos lábios. Ao seu lado, a enfermeira franzia as sobrancelhas em dúvida.

— Sempre tive dúvidas sobre como Potter e Weasley conseguiram desvendar todo aquele mistério sozinhos — indagou. — Quer dizer, pelo que ouço dos professores, nenhum dos dois é exatamente excepcional. Sem ofensas, mas nem mesmo Dumbledore conseguiu pensar em tudo que aconteceu a tempo de antever os fatos.

— Os dois tiveram pequenas ajudas minhas e de Hagrid — respondeu Dahlia risonha, achando graça na dúvida da amiga. — Quando éramos mais novos, Harry e eu brincávamos muito de um jogo onde se devia desenhar uma figura e adivinhar o que significava. Eu fiz essa marca com minhas unhas ­— explicou Dahlia paciente, levantando a mão direita no nível dos olhos, onde se podia ver uma cicatriz de raio. — Para que Harry tivesse uma dica de quem era o culpado dos ataques. Assim que ele a viu, associou os ataques a Voldemort.

— Mas e quanto a Hagrid?

— Digamos apenas que ele tem um amigo, que tem um amigo, que ouviu que o monstro era uma cobra.

— Um basilisco... — sussurrou Elleonore, olhando para o teto. — Sabe... se eu tivesse pais diferentes, é provável que fosse uma magizoologista hoje.

— Seus pais são...

Antes que Dahlia pudesse completar sua pergunta, a porta da enfermaria se abriu de súbito, fazendo um barulho estrondoso ao se chocar com a parede do lugar, fazendo as garotas pularem em seu lugar. Era Snape que entrava na enfermaria, a capa ondulante atrás de si.

— Vejo que estão ambas suficientemente confortáveis — rosnouSeverus, olhando para Dahlia com absoluta repreensão no olhar. — Nenhuma das duas têm deveres para cumprir?

— Estávamos em um processo de profunda concentração, professor — gracejou Dahlia, fazendo troça.

—Claro que estavam — debochou ele zombeteiro. — Esperava mais de você, Srta. Wolfgang. Se planeja um dia substituir Madame Pomfrey,deve estar à altura.

Aprumando-se como um pombo muito pequeno, Elleonore se levantou da cama que estava ao lado de Dahlia, vermelha como um morango maduro. Não dignando um segundo olhar ao professor de poções, saiu tempestuosa para sua salinha no fim da enfermaria.

— Deveria se retratar com ela — sugeriu Dahlia, dividida entre o riso e a indignação. — Quando cair doente, pode acabar envenenado ao invés de curado.

— Tenho bezoares suficientes para um evento do tipo, obrigado — rosnou Snape, abrindo a porta da enfermaria e sinalizando para que a garota o seguisse. Antes de colar nos calcanhares do professor, Dahlia catou o brinquedo do primo, colocando o boneco debaixo do braço e segurando o pequeno pomo nas mãos.

— Devia saber que seu inconsequente primo fugiu de casa alguns dias atrás. — A surpresa de Dahlia fê-la estancar no corredor. Ignorando a resposta da garota, Snape continuou: — Potter não podia ser mais inconveniente.

— O que diabos meus pais fizeram?

Olhando intrigado para a loira, Severus interrompeu seus passos para olhá-la nos olhos.

— Você certamente quis dizer o que ele,Potter,fez.

— Eu disse o que disse — retrucou ela, irritada. — Meus pais são absolutamente intragáveis, Severus.

— Humpf! Ele inchou a irmã do tio até fazê-la virar um balão.

Um sorriso irrefreável dançou nos lábios da Dursley. Ela e Harry tinham somente uma tia viva, e Dahlia realmente detestava Marge Dursley, ainda mais seus cachorros odiosos.

— Espero que ele tenha conseguido mandá-la para tão longe que Margenunca mais dê as caras... — ignorando o olhar estupefato do mentor, Dahlia continuou: — Onde Harry está agora? Ele está bem?

— Conhece Potter, ele é muitíssimo importante — ironizou Snape, mordaz. — O próprio Ministro da Magia o recebeu no Caldeirão Furado, onde o garoto está hospedado.

— Ele deve se encontrar com os Weasley — murmurou Dahlia, um pouco invejosa, pois morria de saudades de Ginny e dos outros amigos. — Eles já devem ter voltado das férias no Egito.

— Você, entretanto, ainda tem que terminar três pergaminhos de cinco metros de Defesa Contra as Artes das Trevas, se não me engano.

— Somente um — corrigiu ela, suspirando. — Mas vamos almoçar primeiro.

Olhando-a com rabo de olho e com um sorriso de canto, Snape seguiu-a para o Salão Principal. O caminho da enfermaria até o salão foi lento como sempre, mas Dahlia se sentia incomodada com algo. Quando abriu a grande porta descobriu o porquê.

— Surpresa!

Dahlia pulou para trás com o susto. O Salão Principal de Hogwarts estava adornado com os mais variados tipos e cores de balões e festins; o teto decorado com fitas cor-de-rosa e faixas da Sonserina que se estendiam tão longas que quase tocavam os cabelos do Prof. Snape. A mesa, que os professores geralmente ocupavam,estava transbordando das comidas preferidas de Dahlia e o lugar estava lotado com os fantasmas de Hogwarts, juntamente com os professores McGonagall, Flitwick e Dumbledore; todos com sorrisos risonhos estampados no rosto.

— Não achou que seu aniversário foi esquecido, certo? — disse Dumbledore com um largo sorriso. — Ah, devo também dizer que você está, oficialmente, em seu segundo ano de estudo em magia, Srta. Dursley!

Por mais que sentisse falta da família e dos amigos, Dahlia não poderia ter gostado mais daquela surpresa em especial.


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Notas finais do capítulo

Gostaram, amores?
Esse capítulo vai para a maravilhosa da @Julia Martins [/u/532882/] que fez um comentário tão fofo e maravilhoso que me inspirou a escrever esse capítulo e o próximo (que já está pronto e em revisão). VOCÊ É MARAVILHOSA, MULHER!
Não vou nem fazer muita despedida por que vamos nos ver novamente já já.
Até ♥



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