Le Sobriété de Pouvoir escrita por Megara


Capítulo 10
S01C10 - Acorde!


Notas iniciais do capítulo

OOOOOOI, AMORECOS DA MINHA VIDA! Sentiram muita falta? Eu morri de saudade dessas leitoras maravilhosas que eu tenho!
Espero que gostem muito ;)
CAPÍTULO BETADO 02/10/2017, @PatBlack, [u/26945/].



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Existem alguns pequenos momentos na vida em que o mundo simplesmente congela: o ar para de circular, o tempo não mais faz seu trabalho e a imagem diante de seus olhos parece uma pintura atemporal que nunca se modificará.

Esse era um desses momentos na vida de Harry.

Ladeado por seus dois melhores amigos, Potter havia se embrenhado em uma corrida cujo destino era a voz que sussurrava há alguns dias em sua cabeça. Pequenos sussurros: de morte, de dor e de violência. Mas Harry James Potter nunca em sua vida imaginaria uma cena como aquela.

Na penumbra de um corredor deserto, a parede do castelo parecia brilhar a luz de um único archote, as palavras escritas com sangue na mesma pulavam da superfície até os olhos, e o sangue que escorria do pulso para a água, que inundava o corredor, parecia belo demais para ser sangue comum.

Mas era. E era também sangue que pingava do braço de uma sonserina.

Dahlia Florence Dursley nunca estivera tão etérea quanto naquele momento. Seus cabelos dourados pareciam reluzir à luz das chamas, sua tez estava tão pálida que podia se passar por um fantasma e o sangue que escorria do ferimento em seu pulso parecia verter o vermelho mais vivo que ninguém jamais vira. Sentada no corredor inundado do terceiro andar, sob dizeres malditos e com um pulso rasgado e pregado acima da cabeça na parede, Dahlia parecia a encarnação da Morte.

Bela e... morta.

Harry não conseguia respirar, o ar não entrava em seus pulmões e sua visão se embaçava. Sua pequena irmã; cujo sorriso parecia iluminar seus dias, o andar abria flores e o abraço o fazia se sentir em casa, parecia morta. Seus joelhos não mais suportaram o peso de seu corpo...

— Harry...

Um ronco, como o de um trovão distante, informou aos três bruxos que a festa daquele dia terminara naquele instante. De cada ponta do corredor onde estavam, ouviram o barulho de centenas de pés que subiam as escadas, e a conversa alta e alegre de gente bem alimentada; no instante seguinte, os alunos entravam aos encontrões pelos dois lados do corredor.

A conversa, o bulício, o barulho morreu de repente quando os garotos que vinham à frente viram a cena. Harry, Rony e Hermione estavam sozinhos no meio do corredor, e os estudantes que se empurravam para ver a cena macabra se calaram.

Então alguém leu os escritos em meio ao silêncio.

— A Câmara Secreta foi aberta. Inimigos do herdeiro, cuidado!

Era Draco Malfoy. Ele abrira caminho até a frente dos alunos, seus olhos frios, muito intensos, dissecavam a garota como se tentasse processar o que acontecia. Ele também parecia mais velho do que ninguém jamais o vira.

— Uma sonserina atacada... — sussurrou Marjorie, uma das garotas que dividia o dormitório com Dahlia. — O que diabos aconteceu?

O garoto Malfoy se adiantou à frente do Trio de Ouro, chegando tão perto de Dahlia a ponto de lhe tocar a pele; o que realmente fez, colocando dois dedos suavemente na pele do pescoço da garota.

— Não está morta. Ainda...

[...]

— Você se lembra do dia em que fugimos de casa? Foram somente algumas horas, mas pareceram dias. Eu cuidei de você quando machucou seu joelho naquele dia, cuidei de você quando perdeu um dente de leite ainda fora do tempo e cuidei de você quando seu irmão lhe cortou os cabelos... mas agora... sinto que lhe perdi.

Dahlia não conseguia entender o que estava acontecendo. Não sentia suas mãos ou seus pés, e a respiração parecia fraca demais. Mas ela conseguia sentir, com vagarosidade, dedos desembaraçando seus cabelos...

— Você está tão descorada e nunca fica assim. Suas bochechas sempre estão coloridas e vermelhinhas, como se morangos tivessem deixado seu suco cair em você.

Era Harry, ela podia sentir... Mas ele estava tão melancólico e parecia tão triste. Dahlia não gostava do primo assim.

— Acorde...

Ela não conseguia abrir os olhos, mas queria tanto olhar nos olhos que eram tão parecidos com os seus...

— Acorde...

Tinha acontecido alguma coisa importante, ela podia sentir. Mas não conseguia lembrar, e muito menos abrir os olhos.

— Por favor, acorde...

Harry tinha que ver sua mão direita, mas ele não mais tocava nela, e ela também não conseguia abrir sua mão para que ele a notasse...

— Flor...

Por que mesmo ele precisava ver sua mão?

[...]

— Você era tão linda quando era um bebê... Suas bochechas eram tão gorduchas e seus risos pareciam sinos que embalavam o ar. Seus cabelos eram loirinhos como os meus antes da tintura. Mas eu não conseguia olhar para você...

Dahlia se sentia semidesperta novamente, mas não conseguia saber de quem era aquela voz suave que ouvia perto de si. Parecia conhecida, mas tão arranhada e triste que a sonserina podia verter lágrimas se a ouvisse por muito tempo.

—... os olhos verdes. Você era tão parecida com ela que eu não pude aguentar muito tempo. Cada segundo me mostrava o que eu podia ter sido, mas não fui. Ela sempre foi mais, e mais, e mais. Mas eu ainda a amava, só não a queria.

Dahlia sentiu um toque suave em sua mão, seguido de um arquejo e logo depois veio o vazio novamente. A inconsciência mostrava suas garras novamente, mas não pode levá-la antes das últimas palavras.

—... eu a queria morta... o meu pequeno lírio. E consegui...

[...]

Dahlia estava em uma clareira banhada pela luz do sol do entardecer, um lugar que conhecia, mas, incrivelmente, não mais lhe passava medo. Diferente da última vez, a garota tinha seus onze anos, mas seu rosto ainda se rasgava com um sorriso de orelha a orelha.

Ela corria pelas árvores bem espaçadas e ria com vontade pela clareira iluminada enquanto gritava de felicidade, suas pernas estavam raladas e cansadas, mas ela não queria parar a brincadeira tão cedo. As flores de lavanda exalavam um cheiro calmante e tornavam o momento tão belo que Dahlia se sentia no dia mais lindo que já vivera.

Dahlia!

Ela corria mais rápido e tinha certeza que o dono dos pés que corriam atrás de si não deixaria nada acontecer consigo. Rindo, a garota parou de correr e virou para trás de súbito. A Dursley gritou de alegria quando se sentiu ser agarrada pelos braços acolhedores.

— Dahlia...!

Ela abraçou aquele pescoço com tanto amor que podia transbordar, os cabelos dele tinham diversos cheiros, mas ela não achava nenhum deles ruim e as mãos dele acariciavam suas costas com carinho.

— Acorde, Dahlia...

Diferente das outras vezes em que a inconsciência a tragava de volta para a escuridão do sono, daquela vez, a sonserina sentiu os dedos da realidade a tocarem, trazendo-a de volta para onde devia realmente estar.

Devagar e com vagarosidade, a sonserina moveu os dedos das mãos e dos pés, suspirando calmamente como se acordasse com preguiça depois de dormir muito tempo. Seus olhos doíam tanto, que a mera tentativa de abri-los fê-la ter vontade de chorar, mas seus olhos apenas arderam como de costume.

— Madame Pomfrey! — bradou uma voz macia ao seu lado, com urgência. O som pareceu alto demais para seus ouvidos sensíveis, e ela logo os tapou com as mãos. — Srta. Dursley — disse a voz novamente, com a calma e volume de um sussurro. — Pode abrir os olhos? Ou falar algo?

Ela não parecia poder e também não tinha vontade de tentar. Meus olhos doem tanto... Independente da dor, ela abriu suas pálpebras. Em frente à sua cama, estava uma mulher desconhecida. Ela tinha longos cabelos castanhos escuros, sua pele era branca, embora não exatamente clara, e seus olhos eram os olhos mais doces que Dahlia já vira.

— Srta. Dursley, meu nome é Elleonore Wolfgang — disse ela calmamente, tocando sua tez com a mão diminuta. Ao olhá-la bem, a garota reparou que, dos sapatos de boneca até os cabelos, ela era pequena. — Você ainda não me conhece, mas eu sou a nova ajudante de Madame Pomfrey.

O que aconteceu? Era o que ela queria perguntar, mas sua voz não parecia existir.

— Srta. Dursley! — exclamou uma ofegante Madame Pomfrey, que vinha correndo dos arredores da enfermaria. Depois de olhar rapidamente a garota na cama, virou-se para Elleonora. — Encontre Albus e Severus. Depressa!

Enquanto sua ajudante saía da enfermaria, Madame Pomfrey examinou-a por longos minutos. Notando seu desconforto, a enfermeira pegou um copo de água e o levou até sua boca. Cada gole foi uma benção.

Suspirando levemente, guardou a varinha nas vestes, pegando as mãos pequenas de Florence com suavidade.

— Estávamos todos tão preocupados — exclamou ela — É simplesmente incrível que esteja tão refeita. Os outros não tiveram tanta sorte, pobrezinhos...

Outros? Pensou Dahlia com curiosidade. Mas antes que pudesse indagar sobre o fato, a porta da enfermaria abriu-se novamente com um baque, e por ela entraram Dumbledore e Snape, ambos com preocupação no olhar.

— Que milagre vemos diante dos nossos olhos, Severus — disse Dumbledore, achegando-se perto da cama de Dahlia.

— Como você está, Dahlia? — perguntou Severus, ignorando Dumbledore e colocando uma das mãos geladas contra a testa dela. Dahlia estranhou um pouco o uso de seu primeiro nome e a preocupação do professor, mas não disse nada sobre.

— Me sinto estranha, Prof. Snape — resmungou ela, com a voz entrecortada e rouca. — Não lembro o que aconteceu para estar aqui. O senhor poderia me informar?

Todos os adultos presentes trocaram olhares preocupados e misteriosos, dando tempo para a sonserina franzir as sobrancelhas em desconfiança. Desviando rapidamente os olhos de todos, Dahlia reparou pela primeira vez nas outras camas da enfermaria.

— Hermione! — disse ela, alarmada. Tirou os cobertores de sobre as pernas e tentou se levantar com rapidez, antes que as enfermeiras pudessem detê-la. Para sua completa surpresa, quando seus pés tocaram o chão, suas pernas perderam a força e ela caiu, torcendo um pouco o tornozelo.

Sentindo-se extremamente envergonhada e vermelha, ela agradeceu baixinho quando Severus se abaixou onde ela estava e a pegou com cuidado do chão, depositando-a novamente na cama da enfermaria.

— Por que não consegui ficar em pé?

Nenhum dos presentes parecia saber como lhe responder, então a enfermeira novata, Srta. Wolfgang, adiantou-se a frente de todos, pegando suas mãos entre as próprias com ternura.

— Dahlia, qual a última coisa que se lembra antes de… dormir?

— Eu… eu me lembro de sair das masmorras já arrumada para o Dia das Bruxas e… não sei… acho que passei no banheiro e... água... — Ela estava confusa, olhando as mãos macias da enfermeira. — Tinha água no banheiro, mas eu não me lembro porquê.

— Na noite de trinta e um de outubro, Hogwarts presenciou algo inédito na história da escola — começou Elleonora, cuidadosamente. — Algo terrível surgiu e muitos alunos foram atacados a partir daquele dia. Você foi a primeira.

— Isso é… — A garota parecia querer encontrar palavras, mas nenhuma era suficiente.

— Inacreditável. Estamos todos com pesar no coração, querida — disse Madame Pomfrey. — Mas, felizmente, nenhum aluno foi mortalmente ferido. Foram todos petrificados e logo mais a poção necessária estará pronta para trazê-los de volta.

— Então por que eu acordei antes de todos? — perguntou ela, curiosa. — E por que não consigo me levantar? Que dia é hoje?

— Srta. Dursley — era Dumbledore se pronunciando, seus olhos azuis cintilando com compreensão atrás dos óculos. — Você, diferentemente de seus colegas, não foi petrificada. Não sabemos ao certo o que aconteceu, mas depois do ataque, além de perder uma quantidade significativa de sangue, a senhorita entrou em um profundo estado de inércia, ou coma, como preferir.

— Eu estava em coma? — perguntou ela, incrédula, olhando para Snape como se esperasse que ele desmentisse Dumbledore. — Por quanto tempo?

— Dahlia… — suspirou o diretor da sonserina, mais cansado do que a garota jamais o vira. — Nós estamos na metade do mês de maio… A senhorita ficou desacordada por quase sete meses…

A senhorita ficou desacordada por quase sete meses…

A senhorita ficou desacordada por quase sete meses…

A senhorita ficou desacordada por quase sete meses…

Dahlia Florence Dursley sentiu uma incrível vontade de rir enquanto a frase de Severus Snape rondava seus pensamentos. A noção de que ficara mais da metade de um ano deitada em uma cama parecia ridícula aos seus ouvidos.

— Como…? — disse ela, respirando fundo para deixar a vontade de gargalhar de lado. — Por quê?

— Não sabemos — disse o Prof. Snape, colocando uma das mãos em sua cabeça, como uma leve carícia. — Todos achavam que você não sobreviveria. Estava muito debilitada…

Apesar de a possibilidade parecer absurda aos seus ouvidos, tinha que ouvir uma confirmação de alguém. — Meus pais… meus pais foram avisados?

— Não existia outra possibilidade, senhorita — respondeu Dumbledore com calma. — Seus pais foram notificados no dia seguinte ao ataque. Devo dizer que ambos ficaram… preocupadíssimos com seu bem-estar.

— Eles… eles vieram? — Isso era o que a garota precisava saber. Não imaginava nenhum de seus suburbanos pais em uma escola de magia, mas não sabia o que sentiria se ouvisse uma negativa.

— Sua mãe esteve aqui diversas vezes, Srta. Dursley — disse a Srta. Wolfgang, entendendo o temor da garota. — Você é muito querida por todos; nunca ficava sozinha.

Todos pareciam esperar uma reação dela, mas Dahlia ainda se sentia anestesiada. Queria gritar, agradecer, chorar… Queria que todas as dúvidas que rondavam sua cabeça desaparecessem, mas não queria fazer as perguntas necessárias.

— Eu vou ter que repetir de ano? — perguntou ela, temerosa, dando-se conta que ficara quase todo o ano letivo sem estudar. A perspectiva de repetir o primeiro ano lhe deu ânsias de vômito e seu rosto pareceu ficar ainda mais branco.

— Discutiremos isso mais tarde, senhorita — disse Dumbledore, calmamente. — Mas eu não creio que essa será a medida a ser tomada. Você é uma aluna brilhante, e todos os professores levarão esse dado em conta antes de tomar uma decisão.

Dahlia anuiu, a cabeça se tornando mais pesada a cada segundo que se passava. A despeito da lógica, a sonserina queria somente descansar da dor de cabeça que começava a sentir.

— Creio que Harry ficará extasiado ao lhe encontrar bem — falou Dumbledore, sorrindo um pouco. — Ele será avisado que acordou bem.

— E quanto às minhas amigas?

— Elas… também serão avisadas — sussurrou Dumbledore com certa pressa. — Está chegando nossa hora, Severus. Acompanhe-me, por favor.

Snape pareceu furioso por um momento, mas seus olhos endureceram para Dumbledore e ele apenas deu às costas a cama em que ela se encontrava, seguindo o diretor sem mais uma palavra. Apesar da dicotomia do homem, Dahlia se sentiu melhor ao saber que ele esteve ali por alguns minutos.

O tempo passou e logo o dia deu lugar à tarde e então a noite tomou seu lugar, porém, Harry não aparecia, e Dahlia se preocupava mais a cada minuto. Conhecia seu primo o suficiente para saber que, assim que soubesse que estava acordada, viria o mais rápido possível.

Olhando para a porta do escritório de Madame Pomfrey e da Srta. Wolfgang, percebeu que ambas estavam ocupadas com os retoques finais da poção de mandrágoras que ressuscitaria os alunos petrificados.

Sendo tão silenciosa quanto possível, ela tirou os lençóis que a cobriam e tentou novamente levantar-se, calmamente dessa vez. Suas pernas tremeram tanto que parecia que Dahlia estavam dançando, e todos os seus músculos queimavam. Apesar de tudo, a sonserina esforçou-se para treinar seu caminhar, tendo sucesso depois de vários minutos.

Quando tinha certeza que conseguiria andar, ela trocou sua camisola branca pelas vestes de Hermione, que estavam dobradas ao lado da cama da grifinória. Apesar da diferença de um ano de idade das duas, ambas eram quase do mesmo tamanho. Os sapatos tinham somente um número de diferença também.

Com o sangue latejando nos ouvidos, Dahlia tentou abrir a porta da saída, pedindo a Deus que não se fizesse nenhum tipo de rangido. Os céus pareceram escutar seu pedido, e logo ela estava fora do lugar onde, como agora sabia, tinha ficado hospedada por meses.

Ela sabia onde ficava o salão comunal da Grifinória, mas não podia pensar em como iria entrar no lugar para procurar Harry ou Ginny. Esperava poder encontrar algum grifinório pelo caminho, ou mesmo algum Weasley.

Porém, quanto mais perto chegava do terceiro andar, mais tonta Dahlia parecia ficar, até que chegou o ponto onde tinha de se escorar nas paredes para se manter de pé. Decidida a chegara seu objetivo, a garota continuou até onde ficavam as escadas.

Antes de chegar até elas, Dahlia perdeu o fôlego quando olhou para a parede ao lado do banheiro daquele andar; onde a famosa Myrtle vivia. Palavras em vermelho vibravam na parede.

“A CÂMARA SECRETA FOI ABERTA. INIMIGOS DO HERDEIRO, CUIDADO!”

A garota prendeu tanto o fôlego que ficou próxima do desmaio, sua cabeça doía tanto que parecia que seu cérebro desejava escorrer pelos ouvidos. Imagens de momentos que não se lembrava, passando como um filme diante de seus olhos.

Coisas ruins acontecem no banheiro do segundo andar Elizabeth parecia melancólica quando falou aquilo, mais que o normal. Eu morri lá. As pessoas pensam que o único motivo de ter tornado aquele banheiro minha morada foi este: minha morte.

E não foi?

Não... ela suspirava enquanto falava. Comecei a pensar que se afastasse as pessoas daquele lugar, poderia evitar mais coisas ruins. As inundações, os gritos, as lamentações... tudo funcionou por muito tempo.

Mas... o que tem de tão ruim lá?

Ela tinha conversado com Myrtle logo antes de...

Abra seus olhos ordenou ele.

Dahlia Dursley caiu no chão com a força das memórias, que sua mente se esforçava em bloquear. Sua visão estava turva e seu nariz sangrava, manchando o uniforme de Hermione. Levantando com dificuldade, Dahlia pretendia seguir até o banheiro de Myrtle, até ver as palavras gravadas na parede logo abaixo das que ela, tecnicamente, ajudara a fazer.

“O ESQUELETO DELA JAZERÁ NA CÂMARA PARA SEMPRE”

Desesperada, a loira entrou no banheiro gritando o nome de Myrtle, encontrando nada mais que o vazio. O banheiro, pela primeira vez, não estava inundado e, ao correr os olhos pelo lugar, a pia, ou onde devia estar uma pia, havia um grande cano exposto, um cano largo o suficiente para um homem escorregar por dentro dele.

— O que você está fazendo aqui? — guinchou uma voz estridente atrás da garota.

— Elizabeth? — sussurrou Dahlia, surpresa. — Estava a sua procura! Você sabe quem o basilisco levou para a câmara?

— Você devia estar morta! Morta! — sussurrou a fantasma, aterrorizada. — Você olhou os olhos dele, eu vi! Como você não está morta?

— Eu não sei! — gritou Dahlia com o peito doendo. Ela precisava saber quem tinha sido levada, tinha um péssimo pressentimento. — Me conte quem...

— A ruiva! Uma garota ruiva! — disse a outra, afastando-se da sonserina como se fosse contagiosa. — Eu morri assim! Você devia estar morta!

— Qual garota ruiva?

— Weasley! A garota Weasley foi levada! — gritou Elizabeth em resposta. — Harry Potter, outro Weasley e o paspalhão Lockhart foram à procura dela. Estão todos mortos a essa altura.

O coração de Dahlia parecia ter parado por alguns segundos e voltado a bater novamente muito forte, a tontura que a assolava há tempos parecia pior. Ela olhou para o vão aberto no chão, onde deveria ter uma das pias de Hogwarts, e respirou fundo, tomando uma decisão.

Eu não posso ajudá-los.

E correr, dando as costas para o banheiro do terceiro andar, o banheiro de Moaning Myrtle, pareceu uma das decisões mais difíceis que tomara na vida.

[...]

— Por que não me contou antes que Ginny havia sido levada? — perguntou-lhe a loira calmamente.

Snape estava sentado na cadeira atrás de sua escrivaninha, enquanto Dahlia estava no sofá de seu escritório; ambos em lados opostos do aposento, mas o lugar estava tão silencioso que eram facilmente ouvidos. Ao ouvir sua pergunta, o professor recostou-se pesadamente nas costas do assento, parecendo cansado.

— Obviamente você não sabe disso, Dahlia, mas é terrível olhar para você. —A garota aceitou as palavras com calma, mas confusa, perguntando-se que tipo de resposta era aquela. Ainda o olhando, esperou o homem continuar. Mas ele nada disse.

— Espera que eu entenda essas poucas palavras?

— Antes de receber minha carta de Hogwarts, eu morava em uma cidade chamada Cokeworth, e, incrivelmente perto do parque da minha vizinhança, morava uma família trouxa, os Evans. — Snape observou um pouco da surpresa da garota antes de continuar. — Naturalmente, eu não tinha costume de andar pelo lugar, mas, no acaso do destino, um dia eu vi uma jovem garota fazendo magia acidental e lhe contei que era bruxa. Nós nos tornamos amigos desde então.

— Lily? — sussurrou Dahlia, incrédula. — O senhor era amigo de minha tia?

— Por algum tempo, sim — respondeu ele, desviando o olhar dela. — Mas nós separamos nossos caminhos quando estávamos ambos no quinto ano.

— Isso... — disse Dahlia, ainda tentando digerir a informação. — É incrível, mas ainda não entendo...

— Lily Evans está morta — disse ele com a voz rouca, mas agora olhando nos olhos de Dahlia. — Mas você, Dahlia, você não poderia se parecer mais com ela.

— Verdade? — sussurrou a garota, surpreendendo Snape. — Eu poderia ser ruiva.

Apesar da improbabilidade da situação, Severus Snape riu. E arrancou um pequeno sorriso de Dahlia também.

— Sim, você poderia ser ruiva.

A garota Dursley estava abraçada com os próprios joelhos desde que se acomodara no sofá, mas a posição não parecia mais confortável. Olhando para o professor, Dahlia se deu conta que, inevitavelmente, Severus se tornara o professor que ela mais tinha apreço.

Levantando-se com calma, ela andou até o homem mais taciturno e arrogante de Hogwarts, o qual todos os alunos tinham medo, e o abraçou, deixando de lado a pergunta sem resposta.

Naquele dia, Dahlia descobriu que gostava de surpreender Severus.

[...]

— Obrigado por ter avisado os professores que estávamos em perigo, Flor —falou Harry, deitado em uma cama da enfermaria. Embora não estivesse machucado, Madame Pince o obrigara a se deitar por alguns minutos, somente por precaução. — E principalmente pelo aviso em sua mão.

— Eu estava impelida a entrar no lugar, mas sabia que não podia ser de muita ajuda para vocês — informou ela, afetuosamente, fazendo carinho nos cabelos revoltos do primo. — Eu tive medo que não soubesse o que o raio significaria...

— Esse raio esteve gravado em minha pele por quase treze anos... — resmungou Harry, passando os dedos de leve na cicatriz de raio, muito parecida com a própria, que marcava a pele da palma da prima. — Assim que a vi, associei-a com Voldemort.

— Você não devia dizer o nome dele, você sabe... — ordenou ela, apreensiva. — Há boatos que ele amaldiçoou essa palavra.

Dando de ombros, Harry se acomodou melhor na cama, sorrindo para a loira. Os dois se encontravam agradecidos demais para deixar o silêncio se tornar irritante.

Estavam ambos na enfermaria depois de terem escutado o que parecia serem duas horas de um sermão em conjunto de Madame Pomfrey, Srta. Wolfgang e Prof. McGonagall. Todos os alunos petrificados foram ressuscitados e, pelo que os garotos sabiam, Dumbledore estava organizando uma festa para aquela noite.

— Sabe... você devia rever seu conceito sobre o Prof. Snape, Harry — começou ela, enquanto as sobrancelhas do primo se franziam. — Ele não é perfeito, mas foi ele que tomou todas as medidas para que todos vocês fossem resgatados a salvo.

— É a obrigação dele como professor, Flor — resmungou Harry — E todos da escola sabem que ele me odeia.

— Eu não poderei voltar com você para casa nessas férias... — disse ela, ignorando a fala já esperada do garoto sobre Snape e esperando a reação dele com a nova notícia. — Sabe que eu passei quase sete meses sem ter aulas, e isso devia automaticamente me reprovar.

— O que aconteceu, ao invés disso?

— Os professores chegaram a um consenso deque ela era a melhor aluna de todas as casas do primeiro ano e disseram que seria um infortúnio que seu talento fosse desperdiçado por causa do tempo que perdeu doente — esclareceu a Srta. Wolfgang, sorrindo para os dois e examinando novamente Harry e Dahlia. — Os professores Snape, McGonagall, Flitwick e Binns foram os que mais intercederam ao seu favor, Dahlia.

— Até mesmo o Prof. Binns? — perguntou Harry, surpreso. — Mas ele mal vê os alunos em sala!

— Ah! Ele disse que se impressiona com a vontade de aprender História da Magia que a Srta. Dursley tem — disse a Srta. Wolfgang, fazendo um carinho gostoso na cabeça da garota. As duas haviam se tornado amigas em tão pouco tempo que Dahlia ainda se impressionava.

— Porém, ainda vou ter que abdicar das minhas férias e repor todo o conteúdo aqui em Hogwarts — informou Dahlia, dando de ombros. — Os professores não vão ficar, pois todos também têm suas próprias férias, mas o Prof. Snape se voluntariou para se responsabilizar por mim. Vou ter que fazer testes no dia trinta de agosto para confirmar se vou realmente passar para o segundo ano.

— Tenho certeza que vai conseguir gabaritar todos eles, Flor!

Depois de mais alguns gracejos, ambos foram rapidamente liberados da enfermaria por Elleonora e seguiram para o Salão Principal.

Na festa, todos estavam de pijamas, e a comemoração durou a noite inteira. Dahlia havia se sentado à mesa da Grifinória naquele dia, assim como suas outras três amigas, que se apertaram todas na sonserina em um abraço.

A Grifinória havia ganhado quatrocentos pontos devido aos feitos de Harry e Ron, garantindo, assim, a posse da Copa das Casas pelo segundo ano consecutivo, a Prof. McGonagall se levantou para anunciar que todos os exames tinham sido cancelados como um presente da escola e Dumbledore anunciou que, infelizmente, o Prof. Lockhart não poderia voltar no próximo ano, porque precisava se afastar para recuperar a memória. Muitos professores participaram dos aplausos que saudaram esta última notícia. Dahlia, que havia sido informada do mau-caráter do professor e de toda a história, também aplaudiu com energia a informação.

— Que pena! — disse Ron, servindo-se de uma rosquinha com geleia. — Eu estava começando a gostar dele.

[...]

O restante do trimestre final passou numa névoa resplandecente de sol. Hogwarts voltou ao normal com apenas algumas diferenças — as aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas foram canceladas e Dahlia não tinha mais aulas com seus amigos sonserinos, dedicando-se sozinha para recuperar toda a matéria que havia perdido. Para a felicidade das amigas e da família enorme, Ginny Weasley voltou a ser absolutamente feliz.

Demasiado cedo, chegou a hora de voltar para casa no Expresso de Hogwarts. Harry, Ron, Hermione, Fred, George, Ginny, Gwen, Luna e Dahlia (que havia sido autorizada a ver a família por algum tempo na plataforma), conseguiram uma cabine só para eles. Brincaram de snap explosivo, queimaram os últimos fogos Filibusteiro de Fred e George e treinaram como desarmar uns aos outros com feitiços. Harry estava ficando muito bom nisso.

Estavam quase chegando a King’s Cross quando Harry se lembrou de uma coisa.

— Ginny... que foi que você viu Percy fazendo, que ele não queria que contasse a todo mundo?

— Ah, aquilo — disse Ginny entre risinhos. — Bom... Percy tem uma namorada.

Fred deixou cair uma pilha de livros na cabeça de George. Dahlia, que conhecia a história, apenas soltou um risinho debochado.

— Quê? — a exclamação foi quase uníssona.

— É aquela monitora da Corvinal, Penelope Clearwater. Foi para ela que Percy esteve escrevendo o verão todo. Eles têm se encontrado escondido por toda a escola. Um dia eu peguei os dois se beijando numa sala vazia. Vocês não vão caçoar dele, vão? — acrescentou ansiosa.

— Eu nem sonharia — respondeu Fred, que parecia um menino cujo aniversário tivesse chegado mais cedo.

— De jeito nenhum — disse George, abafando o riso.

O Expresso de Hogwarts reduziu a velocidade e finalmente parou.

Harry tirou uma pena e um pedaço de pergaminho e se virou para Ron e Hermione.

— Isto se chama um número de telefone — disse a Ron, escrevendo duas vezes, rasgando o pergaminho em dois e entregando um pedaço a cada. — No verão passado, contei ao seu pai como se usa um telefone, ele vai saber. Liguem-me na casa dos Dursley, está bem? Não vou suportar outros dois meses tendo só o Dudders para conversar.

— Ah, Ron! — exclamou Dahlia, temerosa. — Tente ligar para Hermione primeiro, para testar se realmente sabe como se usa um aparelho trouxa, e nunca mencione magia nos telefones, nem a mais leve menção de varinhas, sapos ou Hogwarts. Seria um desastre se um de meus pais atendesse ao telefone por acaso e você fizesse alguma coisa do tipo.

O garoto sorriu, um pouco constrangido, e anuiu com a cabeça.

— Mas os seus tios vão se sentir orgulhosos, não vão? — perguntou Hermione a Harry quando desembarcaram do trem e se juntaram à multidão de alunos que se dirigia à barreira encantada. — Quando você contar o que fez este ano?

— Orgulhosos? — falou Harry. — Você enlouqueceu? Depois de todas aquelas vezes que eu podia ter morrido e não morri? Eles vão ficar furiosos.

E juntos, eles atravessaram a barreira para o mundo dos trouxas.

Do outro lado, todos se separaram com abraços e prometeram manter contato. Dahlia foi esmagada por cada uma das amigas e jurou nunca mais tentar morrer. Quando se voltaram para trás, notaram os outros três Dursley à espera de ambos ao lado de um trem.

Petunia parecia estar com os olhos marejados, Vernon torcia as mãos nervosamente e Dudders estava corado. Todos os três olhavam nervosos para a garota loira ao lado de Harry. Quando os dois chegaram perto o suficiente da família, Dahlia sentiu as mãos ossudas da mãe a agarrarem em um abraço. Surpresa, a sonserina sentiu os olhos arderem.

— Você quase morreu, querida — disse ela, acariciando com amor os cabelos dourados da filha. — Eu senti tanto medo que pudesse partir...

Ficaram as duas naquele abraço por alguns minutos e, quando se separaram, Dahlia foi abraçada de leve por Vernon e levou um soco do irmão. Ela não podia estar mais surpresa, mas gostou de saber que não estava morta de verdade para a família.

— Ainda não aprovamos o antro de anormais para o qual se enfiou, garota — disse Vernon, contrariado. — Mas não queremos que morra.

Petunia parecia querer falar alguma coisa, mas simplesmente olhou para a filha. Seus olhos transmitiam algo entre carinho e repreensão, mas foi o olhar mais bonito que Dahlia se lembrava de receber da mãe.

— Não se atrase para pegar seu trem de volta, Florence — murmurou ela, pegando de leve no ombro da loira.

— Pode me chamar de Dahlia, mãe — sussurrou a mais nova com carinho. — Eu amo o nome que me deu, agora.

Petunia soltou um de seus raros sorrisos verdadeiros, daqueles que chegavam até os olhos, e aqueciam quem observa, e abraçou novamente a filha. Quando se largaram pela segunda vez, a mais velha a empurrou de leve até a parede que separava as plataformas nove e dez.

Sozinha, mas se sentindo explodir de felicidade, Dahlia Florence Dursley atravessou a passagem para voltar a Hogwarts.


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Notas finais do capítulo

Meninas, alguém mais ama de paixão o Snape igual eu?
QUE HOMEM, MEU DEUS DO CÉU!
Me mandem suas opiniões, meninas! Por favorzinho! Eu custei a fazer esse capítulo com o bloqueio criativo que eu estava; foi sangue, suor e tempo que custou, viu? Ô dificuldade...
BEIJINHOS DE LUZZZZ,
Meg ♥