Amy Tokisuru em Earthland escrita por AJ


Capítulo 8
Capítulo 8 - Um Diálogo Agradável


Notas iniciais do capítulo

Um ano depois, hehehe



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JAU

Jau passou o resto do seu dia dentro do porão. Ele ficou empenhado em refazer a pedra do portal, já que a outra ele havia destruído na tentativa falha de voltar para a Terra. Já havia até gravado o modo de preparo da pedra em sua cabeça, sem a necessidade de ter que olhar para o livro de Sattlerin.

Enquanto pegava cada ingrediente necessário, ele se lembrava onde havia conseguido cada um, sendo vários deles obtidos com a ajuda de Sofia.

Sofia...

Jau ainda não havia tido a oportunidade de falar com a garota desde sua última discussão. A verdade era que ele estava preocupado que, quando perguntasse à garota o que ela quis dizer com “eu gosto de você, idiota”, Sofia respondesse o que ele temia, que ela estivesse apaixonada por ele.

E se esse fosse o caso, o que Jau faria? Teria que se afastar da garota. Não poderia continuar conversando com ela sabendo que Sofia o olhava com um desejo maior do que só amizade, afinal, Jau não sentia o mesmo por ela... Ou será que sentia?

Jau balançou a cabeça para afastar esse pensamento. É claro que ele não estava apaixonado por Sofia. A pessoa por quem ele nutria sentimentos de amor era Amy. Ela era a razão pela qual ele estava desesperado em voltar para a Terra afinal. Tentou tirar Sofia de sua mente até completar a pedra do portal. No final, ela estava idêntica à anterior, sinal de que provavelmente a havia feito de maneira correta. Só faltava mais uma coisa. A energia necessária para se viajar entre os mundos. O item que ele iria conseguir de qualquer jeito através do torneio de magos.

Nesse momento, Jau não conseguiu evitar pensar em Sofia outra vez, dizendo a ele que entrar naquele jogo era loucura. Que ele corria sério risco de morte. Ela muito provavelmente estava certa, mas Jau nunca iria se perdoar se deixasse o momento lhe escapar sem nem ao menos tentar.

Guardou a pedra recém feita em um baú antigo de madeira e a escondeu da melhor forma que pôde debaixo da mesa. Jau não se deu ao trabalho de arrumar o lugar. Berto não se importava com a bagunça.

Saiu do porão e notou que o céu já estava completamente escuro. Jau havia demorado mais do que pensava lá em baixo pois já estava de noite. Ele nunca se acostumou totalmente às noites de Portland. Quando observou o céu através da janela de seu quarto mais uma vez, ele continuava a ser um teto negro sobre aquele planeta devido à ausência de luz, uma vez que não era possível ver o cintilar das estrelas em nenhuma parte daquele mundo. Jau sempre se perguntou o porquê deste fato.

Parou com sua ponderação e se dirigiu para fora do quarto. Ouviu barulhos vindo da cozinha, e uma luz estava sendo emitida de lá. Provavelmente uma vela, que fora acesa por Berto. Jau caminhou até o lugar e descobriu que era esse o caso. O velho estava mexendo numa de suas típicas geringonças. Uma espécie de luva de couro. No lugar onde ficariam as costas da mão, estava acoplado um adorno circular metálico, um pouco sujo e desgastado, mas era possível ver que seria muito brilhante se estivesse limpo. Desse adorno saíam diversos fios, cinco mais precisamente, os quais se estendiam até o comprimento de cada um dos dedos da luva. Berto estava prendendo a extremidade de um fio que ainda estava solto na ponta do dedo mindinho com uma espécie de chave de fenda, quando Jau chegou. O velho o viu e sorriu timidamente, incentivando-o a se aproximar, e foi o que o jovem fez.

— O que viria a ser isso? — Jau perguntou, curioso, assim que se sentou na cadeira ao lado de onde Berto estava recostado.

— Isso aqui? — Berto terminou de realizar seu trabalho e colocou a chave de fenda de lado. Quase derrubou a vela do castiçal com o movimento, fazendo a luz bruxulear por toda a cozinha.

Jau afastou o castiçal para o centro da mesa para evitar uma possível queda, e pegou a luva de Berto no intuito de examiná-la. Percebeu que na palma desta também estava preso algo. Uma pérola de coloração ocre do tamanho de uma bola de gude, que brilhava intensamente de uma forma bela.

— Isto estava no fundo do meu baú há algum tempo e resolvi retirá-lo de lá hoje e fazer alguns ajustes. — Berto começou a dizer finalmente, notando a curiosidade nos olhos de Jau. — É uma luva que amplifica magias de eletricidade.

Os olhos de Jau brilharam de admiração, e ele não perdeu tempo para poder calçar a luva em sua mão esquerda. O interior da luva era quente, e mais confortável do que aparentava. Também era um pouco pesada. O couro marrom cobria os pulsos do rapaz e se estendia um pouco mais, de forma folgada. Jau abriu e fechou os dedos em torno da mão, e sentiu o poder da magia contida no orbe no centro de sua palma. Era algo como uma vibração de um celular, porém mais suave e era estimulante.

— Eu gostei. — Jau levantou suas mãos lentamente, para se acostumar com o peso. Pegou a chave de fenda que Berto estava usando anteriormente com a mão descalça e, abrindo a mão com a luva, fez despencar o objeto sobre ela. Ao invés deste cair e repousar-se sobre sua mão, a chave de fenda começou a flutuar, e a girar em ritmo lento, como se a luva tivesse criado uma espécie de campo magnético ao seu redor. Também era possível ver, se prestando bastante atenção, que pequenas faíscas luminosas eram emitidas da pérola do centro da luva.

Jau olhou para Berto com excitação. O rapaz gostava das invenções do velho. Ele sempre criava equipamentos que misturavam a magia e a tecnologia de um jeito incrível. Jau usara algumas dessas invenções em sua busca por ingredientes para a pedra do portal.

— Sabia que iria gostar. — Berto juntou suas mãos sobre a mesa. — Gostaria de dar ela para você. Acho que vai precisar dela para o que vem a seguir. — O velho terminou essa frase olhando para as suas mãos.

Jau observou Berto com atenção, esperando uma explicação para o que ele acabara de falar. Vários segundos se passaram para que o velho decidisse cortar o silêncio mais uma vez.

— Sabe, rapaz. No momento em que você me contou que descobriu que precisaria de energia para concluir a pedra do portal, eu imediatamente pensei no Grande Torneio de Magos de Gaia.

Jau permaneceu calado, ouvindo com atenção tudo o que Berto tinha a dizer, enquanto continuava explorando as funções da luva que tinha em mãos.

— É um evento grande, no qual vários magos poderosos participam. — Berto coçou sua barba branca rala. — Claro, não magos, aqueles que usam magia limitada, também podem participar, porém nunca ouvi falar de algum que tenha chegado até as finais desse torneio.

Jau suspirou. Baseado no que estava ouvindo, Berto já sabia muito bem que ele estava pretendendo entrar no torneio para ganhar a grande quantidade de energia como prêmio, e não estava gostando nada dessa ideia, assim como Sofia.

— Então você acha que eu não deveria entrar no torneio? — o garoto perguntou, encarando a mesa e já sem vontade de continuar mexendo em sua luva.

— Não, meu rapaz. Estou dizendo que você deve entrar no torneio.

Jau voltou-se para Berto, surpreso com a resposta que recebera do velho. Este o olhava seriamente. Não estava brincando.

— Jau, você voltou da morte há um ano atrás. Não é um garoto comum. Acredito que você tem um grande caminho para trilhar. Algo que vá mudar o rumo das coisas aqui em Portland.

— Eu só quero voltar para casa, Berto — Jau interrompeu imediatamente. Não queria saber dessa história de mudar as coisas em Portland. Só queria voltar para casa, rever Amy e descobrir mais sobre suas origens, já que boa parte de sua memória havia sido arrancada dele.

— Eu entendo. E esse é mais um motivo para você enfrentar esse torneio. Por mais que ele seja difícil, você tem uma vantagem que muitos magos não têm, você possui inteligência e determinação. Lembra do que eu disse antes? Sobre você ter feito descobertas que magos antigos demoraram anos para descobrir?

Jau balançou a cabeça para cima e para baixo suavemente, afirmando.

— Aquilo era verdade. Eu nunca pensei que depois de apenas um ano você já teria feito tanto avanço em relação às viagens dimensionais.

— Acha que eu tenho o suficiente para vencer esse negócio? Sofia disse que eu morreria na primeira etapa. — Por algum motivo, essa memória fez Jau esboçar um sorriso ao invés de sentir medo. Já Berto, permitiu-se soltar uma gargalhada.

— Meu jovem, aquela garota está apaixonada por você.

Jau sentiu calafrios. Aquilo não era verdade, era? Ele não sabia, afinal, era isso que deveria perguntar à Sofia assim que ele a visse.

— Talvez eu esteja equivocado. — Berto passou a mão em sua careca. — Mas ela se importa com você rapaz, ela sabe que você corre muitos riscos ao entrar nesse jogo. Você vai ver, Jau, ela ainda vai querer te ajudar a entrar e muito possivelmente, vencer.

Jau quem riu dessa vez. O velho achava mesmo que ele tinha chances de vencer todos aqueles magos poderosos, quando nem mesmo Jau acreditava nisso.

— Falando nisso — o garoto disse — onde a Sofia se meteu?

— A Sofia voltou para sua cidade por uns tempos. Disse para mim que volta em alguns dias, e que espera que essa ideia maluca de entrar no torneio esteja esquecida — Berto respondeu, reprimindo a vontade de dar mais risadas.

— Entendo. — Jau removeu a luva de sua mão e a repousou na mesa. — Infelizmente ela vai ter uma decepção. — Ele olhou para Berto com convicção, e Jau quase pôde sentir uma pitada de orgulho nos olhos do velho.

Jau já estava se preparando para se retirar para seus aposentos quando Berto o chamou mais uma vez.

— Espere, garoto. — Ele pegou a luva que Jau havia deixado na mesa e o devolveu para o rapaz. — Fique com isso. Pode vir a calhar quando estiver no torneio.

Jau pegou o objeto das mãos de Berto, e o velho apertou sua mão no processo, com determinação.

Era dessa confiança que Jau estava precisando. Ele não sabia o que fazer antes, mas agora ele tinha certeza. No dia seguinte, assim que acordasse, iria atrás de Sofia, em sua cidade natal, iria esclarecer todas as dúvidas que tinha em relação aos dois, e iria pedir sua ajuda para entrar no torneio. Apesar de tudo, ele ainda precisava da ajuda de Sofia, e ela estava sempre pronta para lhe prestas apoio.

Jau voltou para o seu quarto, armazenou a luva que acabara de ganhar na gaveta de uma cômoda, deitou-se em sua cama e encarou o teto. Dormiu muito bem naquela noite, crente de que iria entrar naquele jogo para vencer.


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