Amy Tokisuru em Earthland escrita por AJ


Capítulo 7
Capítulo 7 - Bebê


Notas iniciais do capítulo

Depois de mil anos finalmente outro capítulo :P



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AMY

Amy não gostava de ver sangue, e isso não era mais um segredo para ninguém. Quando ela viu o corpo de Jake desabar, um ano atrás, com uma estaca de gelo cravada em suas costas e formando uma poça de sangue no gelo em que estava pisando, quase perdeu a consciência.

Agora não foi tão diferente. Quando olhou Yak no chão, sangrando, pelo ombro, uma cascata do líquido vermelho e espesso sobre a superfície da fábrica, primeiro sentiu náuseas, seguida de uma visão enturvada e a sensação de que iria desmaiar.

Pelo menos o rapaz não estava morto. Ela sabia disso pois ele estava se mexendo, colocando desesperadamente a mão sobre seu ferimento para testar a sua gravidade. Quando levou sua mão suja de sangue ao seu campo de visão, olhou com o mais puro ódio para o seu agressor. Bart.

— Da próxima vez, TR, peça para as suas crias me revistarem antes de me amarrar.

O garoto não só estava consciente, como também havia se soltado de suas amarras, e agora estava em pé, com uma arma prateada não muito grande em mãos. Onde ele havia conseguido aquele revólver era um mistério. Talvez Bart fosse mesmo o delinquente como Amy sempre imaginou. Ela sentiu um calafrio quando percebeu em quem o Bart estava mirando, e não era nela. Era em TR. Ou melhor, em Thomas, que ainda estava bem ao seu lado.

Sem pestanejar, ela se colocou entre Bart e o corpo possuído de seu pai.

— Sai da minha frente, Amy — Bart ordenou, ainda apontando sua arma, dessa vez para ela. — Vou acabar com isso.

— Não — ela disse, firme. Amy não tinha medo de Bart, e de jeito nenhum ele iria atirar nela. Não com Alice presenciando aquela cena.

— Não se preocupe, Amy. Ele não tem coragem de atirar em mim. — TR colocou uma mão sobre o ombro de Amy. Sentira um calafrio com o toque. Aquele gesto a fez lembrar que TR podia matá-la quando quisesse. — Bart sabe que armas não podem me matar.

Amy nunca deixaria Bart atirar, no entanto, e se ele o fizesse? Thomas morreria, mas TR, por consequência, também, já que, sem um corpo, um espírito não poderia sobreviver em um lugar sem mágica, como a Terra. Pelo menos, foi o que Alice havia dito a ela, enquanto treinavam magia. Logo, não havia motivos para TR estar tão confiante.

Para o alívio de Amy, Bart abaixou a arma, porém, dois segundos depois, a estendeu novamente, e dessa vez a apontou para Yak, que ainda estava caído no chão.

— Vem para cá, Amy — falou.

Ela tentou entender o motivo por trás daquele ato. Estaria Bart usando Yak como refém para que Amy pudesse fugir? Não, claro que não. O que ele queria mesmo era que ela saísse da frente para poder finalizar TR junto com seu pai. Permaneceu estática onde estava, com medo de que esse pensamento estivesse correto.

— Anda, garota — ele gritou, impacientemente. — Desamarre a Alice e vamos fugir. Eu não vou atirar no seu pai.

Fugir. Ele queria fugir. Bem, dadas as circunstâncias desfavoráveis, aquela seria mesmo a medida mais prudente. Amy não tinha chances contra Yak, Sony e TR juntos, não agora. Mas a ideia de deixar seu pai ali, com aqueles monstros, pesou tanto nela, que quando andou para frente, e se desprendeu das mãos que a tocavam, sentiu que era Thomas quem a estava prendendo, pedindo para não a deixar. Suas pálpebras se umedeceram com lágrimas, e Amy fez um esforço para segurá-las ali. Foi em direção à Alice e, após uma tentativa falha de desatar o forte nó que Yak fizera, perdera a paciência e usara suas chamas como um maçarico para queimar as cordas, tomando cuidado para não machucar a garota.

Livre, solta e em pé, Alice agradeceu a Amy e perguntou o que estava por vir para Bart.

— Bem, agora — falou, dando passos curtos para trás, sem deixar de apontar sua arma perigosa para Yak. — Agora a gente corre!

Em menos de dois segundos, Bart, Alice e finalmente Amy, deram meia volta e correram. Eles estavam indo na direção oposta à saída pela qual entraram, no entanto, uma fábrica como aquela deveria ter alguma saída de emergência nos fundos. Os três teriam que procurar por alguma antes que alguém viesse atrás deles.

Enquanto corriam, Amy calculou se suas chances de escapar dali com vida. TR era terrível, mas sua única magia era ressuscitar os mortos e transformá-los em monstros. Sony também não era um perigo, já que sua capacidade era apenas ler mentes. Yak, o único lutador daquele time, estava ferido e provavelmente incapaz de fazer algo. Ótimo. Talvez Amy sobrevivesse àquele dia afinal.

Os três correram bastante. Aparentemente não havia ninguém atrás deles. Chegaram a outro corredor, mais estreito, porém mais extenso, comparado ao que estavam antes, e nele, haviam diversas portas de metal. Bart tentou abrir a primeira delas. Estava aberta. Quando olhou lá dentro, fez uma careta de insatisfação e voltou a fechá-la, fazendo um barulho de rangido que provocou gastura em Amy.

— Não fiquem aí paradas — ele mandou. — Procurem por um quarto com uma janela, uma saída, que seja. — Começou a andar e abrir todas as portas do lado esquerdo do corredor.

Amy não ficou parada e, juntamente com Alice, começou a checar os quartos da direita. Abriu a primeira porta. Escuridão total. A única iluminação do quarto era a luz que adentrou lá quando Amy abriu a porta, proveniente das lâmpadas fluorescentes do corredor. Estava completamente vazio também. Fechou a porta e se dirigiu à segunda. O quarto parecia igual ao anterior.

— Tem como ir mais rápido, droga? — Bart gritou. Já estava bem longe, na quinta ou sexta porta do seu lado, e parecia que ainda não estava nem na metade, dando a impressão de que aquele corredor era infinito.

A garota tentou acelerar um pouco, mas estava cansada. Os acontecimentos do dia a deixaram com a cabeça extremamente dolorida. Rever o seu pai daquele jeito, todo customizado no estilo punk, fazia ela se lembrar do quanto ele estava preso e indefeso, e Amy não podia fazer nada para reverter essa situação. Reprimiu um soluço enquanto abria a terceira porta.

— Amy, você está bem? — Alice perguntou, enquanto carinhosamente colocou sua mão no ombro dela. Estava tentando ser um doce de pessoa, como sempre, contudo, além da pergunta ser desnecessária (claro que Amy não estava bem), o gesto que executara fez Amy se lembrar do toque de TR, minutos antes, e de como pareceu sincero, como se tivesse sido Thomas fazendo aquilo.

— Estou bem. — Fechou a porta e se afastou da garota, pronta para ir à próxima.

— Tudo bem, então. — Alice pareceu ter entendido o recado e foi atrás de Bart, deixando Amy sozinha, o que a deixou particularmente grata.

Uma lágrima escapou de seus olhos e Amy a limpou rapidamente, antes de abrir a quarta porta do corredor. Esta foi um pouco mais difícil de abrir que as outras. O metal estava bem mais enferrujado e fez um rangido insuportável quando Amy a empurrou completamente.

Como já havia se acostumado a deparar-se com nada além do vazio detrás das portas que abrira anteriormente, Amy não prestou atenção imediata ao objeto que jazia dentro daquela sala. Só então, depois de alguns segundos observando-o, foi que finalmente se deu conta. Havia um berço ali. Um berço de criança, que alguma vez devia ter sido branco, mas a sujeira e o pó entraram em contato com a grade de madeira e a deixara acinzentada, quase negra, e que tapava a visão do que havia ali dentro.

Entrou no local sem pressa, e se aproximou lentamente do móvel. Olhou por cima do berço e, quando viu o que havia lá dentro, tomou um leve susto. Era um bebê. Uma criança, pequenina, de pele clarinha e com um ralo cabelo escuro, que não devia ter nem ao menos um ano de vida. Quando este avistou Amy o encarando, lançou-lhe um olhar divertido com seus orbes mais negros que a noite mais escura, e um sorrisinho inocente típico em todos os bebês.

Quando olhou para aquele berço velho no meio daquela fábrica repleta de vilões, Amy teve que admitir que a última coisa que esperava ver ali era um bebê. O que aquela pequena criaturinha estava fazendo ali? Por que TR iria querer uma criança? A resposta surgiu em sua mente imediatamente. Alice lhe dissera, um tempo atrás, que para fazer suas antigas criações, TR testava seus poderes terríveis em crianças, ou mesmo em recém-nascidos. A própria Amy havia sido uma dessas cobaias.

Quando ela encarou novamente o bebê, viu a si mesma projetada ali. Uma criança, ou melhor, uma criação, que não fazia ideia do porquê podia fazer coisas sobrenaturais, como controlar o fogo, a água ou o que fosse. Sentiu um ódio extremo ao imaginar que TR ainda continuava fazendo coisas assim. Usando crianças para ajudar a completar seus objetivos sádicos. Sentiu cada fio de cabelo, cada pedaço de sua pele superaquecer de ódio. A parte de madeira do berço onde estava segurando para se apoiar agora estava se carbonizando. Ela estava saindo do controle como nunca antes.

Então o pequeno menino começou a chorar, e isso, por algum motivo, ajudou Amy a se recuperar. Ela voltou a encará-lo, e ele a olhou com um certo medo. Amy não podia culpá-lo. Para falar a verdade, o que a garota queria fazer mesmo era segurar a criança e fazer ela se acalmar, uma espécie de extinto protetor, que Amy não sabia muito bem se possuía ou não. Ela só não o fez porque tinha medo de ferir o pequeno com o calor excessivo do seu corpo, principalmente agora que quase perdera a cabeça para a raiva. Por sorte, Alice havia voltado, juntamente com Bart, e Amy lhes mostrou o que havia ali naquele cômodo da fábrica.

— Não acredito — Alice disse de imediato, e apressadamente foi em direção ao berço pegar o menino. Ele estava enrolado em cobertores velhos e escuros, que subiram um pouco de poeira quando Alice os pegou. Que lugar terrível para um bebê.

O pequenino protestou um pouco ao ser segurado por Alice, mas não chorou, e ela o chacoalhou levemente e balbuciou palavras serenas para que o menino se acalmasse, o que funcionou.

— Não acredito — ela repetiu — que mesmo depois de tudo TR ainda usa crianças para fazer suas criações.

— E o que você esperava? — Bart resmungou. — É do TR que estamos falando. — Ele lançou um olhar de repugnância para Alice e o bebê, como se ela estivesse segurando um objeto radioativo.

— Não podemos deixar ele aqui. — Alice virou-se para Amy. — Nós achamos uma saída em uma das salas. É uma janela, não muito grande, mas não vai ser difícil escapar por ela. Temos que levar o bebê com a gente.

A ideia de levar o bebê com eles causou a Amy muita preocupação. Eles mal podiam cuidar de si mesmos, quanto mais de uma criança. Como iriam sustentá-lo? Antes que ela pudesse concluir os seus pensamentos, Bart os interrompeu:

— Tem razão, Alice. Temos que levá-lo.

Ao ouvir aquilo a primeira coisa que Amy pensou foi: “O Bart concordando em cuidar de um bebê? Mais uma boca para ele alimentar? Tem algo errado aí”.

— Afinal — ele prosseguiu — se ele ficar nas mãos do TR vai ser só mais uma arma que ele pode usar contra nós no futuro.

Amy encarou Bart com seriedade. Ele com certeza estava planejando alguma coisa muito ruim para o bebê. Quase desejou ter a habilidade de Sony naquele momento para saber exatamente o que ele estava pensando.

Ao lembrar de Sony, Amy sentiu um leve arrepio. Eles estavam demorando muito e logo alguma das criações de TR, ou o próprio, poderia aparecer e a garota não estava afim de olhar para eles novamente nesse dia.

— Tudo bem, então vamos levar o bebê — ela falou por fim. — Mas vamos embora daqui imediatamente.

Todos concordaram e se dirigiram para o quarto, quase no final do corredor, onde Bart e Alice encontraram a saída que seria a fuga deles para fora daquela fábrica abandonada. Não era assim tão pequena como Alice descrevera. Era uma passagem estreita, mas nem tanto, que dava direto para o ar livre. A luz do dia trespassava por ali. Eles passaram sem muitos problemas. A parte mais complicada foi passar ali com o bebê no colo, como Alice fez.

A princípio, Amy não sabia muito bem onde estava, mas então percebeu que se andasse mais um pouco para a frente, iria voltar à entrada da fábrica, local onde Yak a levou de carro e onde tirou Alice do porta-malas para virarem reféns de TR.

O veículo ainda estava lá. Yak nem mesmo se deu ao trabalho de fechar o carro e levar as chaves consigo. Fugir nunca foi tão fácil. Aquela facilidade preocupou Amy ainda mais. Talvez TR queria, ou esperava que eles fugissem. Será que isso tinha alguma coisa a ver com o bebê?

Bart pegou no volante, e Alice, com o bebê ainda no colo, e Amy, sentaram-se atrás.

— Vamos para casa? — perguntou Alice enquanto Bart dava a partida no carro. — Deveríamos encontrar outro lugar, agora que TR sabe onde nós estamos.

— Não, não adianta mais fugirmos. — Com pressa, Bart guiou o carro, para a estrada e pisou o pé no acelerador. — Com Sony no time dele agora TR pode nos achar muito facilmente. Não, não vamos fugir. Está na hora de revidar.

Amy não pôde evitar que todos os seus pelos se arrepiassem. O encontro de hoje deixou mais do que claro que ela ainda não estava pronta para uma luta. Alice não podia usar magia, e Bart apenas tinha seu perigoso revólver — que Amy ainda gostaria de saber onde ele a arrumou. Será que ele pensava mesmo que tinham alguma chance?

— Espero que esteja preparada, Tokisuru — Bart disse, enquanto fazia a curva que os levaria para a rua de casa. — Chegou a hora de derrotar TR de uma vez.


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