Amy Tokisuru em Earthland escrita por AJ


Capítulo 9
Capítulo 9 - Condor




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AMY

Bart abriu a porta da casa com violência. Alice entrou logo depois dele, com o bebê no colo, e Amy foi a última, fechando a porta atrás de si. Eles haviam discutido no carro. Após ele ter dito que estava na hora de revidar, Amy lhe disse que eles não estavam prontos, e que aquilo havia ficado evidente. Bart então começou a gritar, chamando-a de fraca e disse que se ela não fosse tão sentimental, TR já teria sido derrotado. Era óbvio que ele estava insinuando que, para isso, Thomas deveria morrer, e isso tirou Amy do sério. De um minuto para o outro, estavam todos discutindo e gritando. O bebê começou a chorar tornando a permanência naquele carro insuportável. Mesmo Alice, que nunca demonstrava raiva, saiu do sério e mandou que todos calassem suas bocas. Foi quando Bart deu uma freada brusca com o carro, pois haviam chegado em casa.

 Bart foi direto para a cozinha. Ele abriu a torneira da pia e com impaciência, lavou o seu rosto. Alice foi para o banheiro, em busca de papel para limpar o muco que o bebê expelira quando chorou desesperadamente no carro. Já Amy não fez nada. Ela apenas se sentou em um sofá extremamente velho que tinha no meio da pequena sala da casa. Afundou sua cabeça nas mãos e apoiou os cotovelos em suas coxas. Sua cabeça latejava fortemente, e ela quase teve vontade de chorar.

Instantes depois, todos já estavam de volta à sala. Bart estava recostado no batente da porta, observando tudo ao seu redor com raiva e asco. Alice estava em pé, perto da entrada do banheiro, sussurrando coisas para fazer a criança dormir. O clima não poderia estar mais pesado.

— Isso está ficando ridículo. — Bart cortou o silêncio como uma navalha corta o papel. — TR já deveria estar morto — ele voltou a repetir a mesma história, deixando Amy ainda mais irritada.

A garota, porém, permaneceu calada. Estava com a cabeça tão dolorida que quase sentia as veias de sua testa pulsarem. Não estava afim de continuar discutindo. Só sabia que se Bart voltasse a tocar no assunto de matar TR com ele dentro de Thomas, iria fazê-lo engolir uma esfera de chamas ardentes.

— Bart, quer calar essa boca? — Alice disse, então, com um tom áspero que Amy não sabia que ela tinha.

— Não me mande calar a boca. — Bart a encarou, enfurecido. — Deveria ter acabado com tudo ali, naquele instante.

— É, deveria. Mas não fez isso, e saber por que? Porque você é um fraco.

Ao ouvir isso, Amy saiu de seu torpor devido a dor, e olhou para Alice com aversão. O que tinha sido aquele tom de escárnio? Não era do feitio de Alice tratar as outras pessoas com tamanho desprezo, principalmente Bart. Amy ficara tão surpresa, que por um segundo ela cogitou a possibilidade de que ela estava sendo possuída por TR, ou que aquele fosse Yak se passando pela Alice. Porém, depois, ela prestou atenção em outra coisa...

— Ah, resolveu mostrar as suas garras agora — Bart disse para Alice, raivoso. — Entretanto, Alice, eu nunca vi você fazer alguma coisa de útil para derrotar o TR.

— Então agora a culpa é minha? — Alice continuou a responder à altura, nunca deixando de balançar o bebê que carregava em seus braços. — Não fui eu quem fui descoberta por Yak e feita de refém.

Então Amy teve calafrios ao perceber o que estava acontecendo. O bebê que Alice segurava olhava fixamente para a loira enquanto ela discutia, e seus olhos eram o mais assustador. Tanto as íris quanto as escleras estavam totalmente negras, deixando a criança com uma aparência extremamente bizarra.

Sem pestanejar, Amy levantou-se do sofá e clamou:

— Alice — ela disse, se aproximando da garota. — Solte esse bebê, agora.

A loira a olhou como se Amy tivesse surtado ou tivesse algum problema, entretanto, sem esperar por resposta, Amy avançou contra o bebê e o tomou dos braços de Alice com brutalidade.

A garota, então, respirou fundo, e abriu os olhos como se alguém tivesse lhe revelado algo importantíssimo. Olhou para Amy, um pouco assustado, e encarou Bart, claramente com um sentimento de culpa revestido em sua face, o que só evidenciou o que Amy já imaginava. Alice estava sendo induzida a agir daquela maneira pelo bebê. Mesmo que o pequeno estivesse agindo de forma inconsciente, Amy teve que conter ao máximo sua vontade de jogar a criança no chão. Era uma criação de TR no fim das contas, e fora criada com a intenção de fazer o mal. Ele queria que o grupo levasse a criança com eles, por isso havia sido tão fácil fugir da fábrica. Tudo se encaixava perfeitamente agora.

— Eu já sabia — Bart resmungou, referindo-se ao bebê. — O que esperar de uma das criações de TR afinal? — Então, ele virou as costas para as duas, se dirigiu à saída de casa e bateu a porta com força quando saiu, deixando Amy e Alice sozinha com o bebê.

***

A noite caíra. Bart ainda não havia chegado, o que deixava Alice bastante preocupada, andando de um lado para o outro no quarto. A iluminação estava terrível, a luz oscilava momentaneamente e permanecia uma boa parte do tempo apagada. A não ser pelos gemidos que o pequenino emitia ocasionalmente e o tique taque do relógio, tudo estava no mais perfeito silêncio.

O bebê estava ocupando a cama. Nem mesmo Alice tinha coragem de segurá-lo agora que sabia o que ele podia fazer. Amy sentou-se sobre o chão frio, e recostou-se na parede igualmente fria, mas que não a incomodava. O que ela mais desejava nesse momento era ser mais suscetível a sentir frio.

— Droga, Amy — Alice disse, parando de andar finalmente. — O pobrezinho não pode ficar deitado ali para sempre. Quem sabe qual foi a última vez que ele comeu?

Amy sinceramente não se importava com aquele bebê. Ele era a pior coisa que poderia ter acontecido agora. Uma criação do TR que deixava os outros com uma personalidade maligna, como se Yak e Sony já não fossem problemas o suficiente. Claro, ela também não queria que o pequeno sofresse assim. Apesar de tudo, ainda era uma criança que não tinha a menor noção do que estava acontecendo.

— Por que não pega leite quente, ou sei lá? — Amy sugeriu. — Coloque em um copo com um canudinho e improvisa uma mamadeira.

— Não é uma ideia ruim. — Alice lançou um olhar de aflição para o bebê. Ela ainda estava com medo de pegar nele. A ideia de ficar do mal parecia ser muito assustadora para a garota.

— Vai logo Alice. Eu olho o menino. — Amy se ofereceu, mas sem sair do lugar. Ela disse que iria olhá-lo, não necessariamente tocar nele.

— Tem certeza? — Alice a fitou com certa desconfiança, o que deixou Amy particularmente ofendida. O que ela achava que Amy iria fazer com o bebê afinal?

— Ok, tudo bem —  a loira decidiu, por fim. — Eu já volto.

E então ela saiu do quarto e foi direto para a cozinha. Amy poderia agilizar o processo de fervura do leite usando o seu poder, contudo, no momento, não estava afim de fazer coisa alguma, apenas ficar sentada, ouvindo o bebê choramingar de fome, o que não era tão ruim já que isso fazia a garota se esquecer de que nesse mesmo dia ela poderia muito bem ter sido derrotada por TR.

Amy ficou ali, por bastante tempo, com a cabeça entre os joelhos, tentando mais do que qualquer coisa segurar as lágrimas. Não queria pensar em seu pai possuído. Não queria pensar em Jau, morto. Mas o que ela podia fazer se todas essas lembranças a perseguiam como uma sombra eterna?

Foi quando tudo ficou silencioso. Mais do que o comum. Não se podia ouvir o barulho que Alice fazia na cozinha. Não se podia mais ouvir os sons que o bebê fazia ou os ponteiros do relógio. Também não se podia ouvir nenhum ruído vindo de fora. Tudo estava muito quieto.

Aflita, Amy levantou a cabeça para olhar ao redor, mas o que viu no quarto foi algo que fez ela ter calafrios seguido de uma vontade de gritar.

Havia alguém ali. Alguém que ela já havia visto antes, há um ano atrás. Que aparecera para ela por trás do espelho, momentos antes dela encontrar uma mensagem no caderno misterioso que encontrara numa biblioteca com os dizeres: “Sua vida corre perigo”. Um ser, vestindo uma capa negra que cobria todo o seu corpo e seu rosto, que tinha a aparência da dona morte.

Quem sabe fosse mesmo a morte. Talvez a hora de Amy tivesse chegado. Ela sempre ouviu falar que a presença desta era extremamente fria. Será que o poder de Amy a impedia de sentir até mesmo o frio da senhora morte? Essa ideia soou no mínimo desinteressante para a garota.

Ela queria perguntar para a coisa quem ela era e o que viera fazer ali. Porém, Amy sabia de antemão que se abrisse a boca, nenhum som sairia dali que não fosse um monte de gaguejos indecifráveis. Felizmente, ou não, para a garota, foi o ser de capa negra quem falou.

— Não tenha medo, Amy. — A coisa se aproximou dela, e se ajoelhou em sua frente, fazendo Amy se arrepiar completamente, mas não de frio, e sim de medo. Pavor, para ser mais exato. O fato do ser saber o seu nome não a surpreendeu tanto, afinal, este já a conhecia há um ano, se fosse o mesmo.

— Meu nome é Condor, e não tenha medo — ele repetiu. — Eu estou aqui para ajudar você. Pode confiar em mim.

Aquele era um pedido impossível. Dificilmente Amy confiava em alguém. Mas confiar em alguém que tudo o que fizera até agora fora aparecer de formas misteriosas e escrever uma ameaça de morte num caderno era uma ideia no mínimo ridícula.

— O que é você? — Amy conseguiu dizer por fim, numa voz rouca, quase inaudível.

— Por favor, me chame apenas de Condor — ele respondeu. Amy sabia que era um homem, pois, apesar da voz ser bem baixa e suave, possuía um tom grave, o que não era de fato amedrontador.

— Seria ruim — Condor continuou — se você soubesse quem eu realmente sou. É por isso que tenho que me esconder. Lamento que minha capa assuste você.

Amy permaneceu calada. Por algum motivo, algo dentro dela sussurrou que Condor poderia ser confiável, e que estava sendo sincero. Não tinha como ela ter certeza. Quem possuía o dom de saber quando os outros estavam mentindo era Jau. Mesmo assim, Amy encarou o rosto coberto de Condor. Era quase como se ele não tivesse face. Só era possível ver os seus lábios se mexendo e mesmo isso era difícil, já que a essa altura a luz do quarto já nem acendia mais.

— Quero que confie em mim, Amy. É por isso que venho te ajudando esse tempo todo.

— Me ajudando? — Amy riu secamente. — Desculpe, mas não consegui notar a sua ajuda.

— Não? — Condor se levantou. — Amy, olhe ao seu redor. Não está percebendo nada de estranho?

Amy obedeceu à ordem de Condor e observou em sua volta. Tudo estava normal, exceto por alguns fenômenos estranhos, como a lâmpada ter parado de oscilar, o bebê ter parado de fazer sons e de se mexer. Mas foi quando ela viu o velho relógio pregado na parede atrás de Condor, que ela entendeu o que poderia estar ocorrendo. Nenhum dos ponteiros se movia mais. Tudo ao seu redor estava completamente paralisado. Será que o tempo havia congelado?

— Como... como faz isso? — Amy perguntou, com seu medo agora duplicado. Se sua teoria estivesse correta, então Condor era poderoso demais...

— Eu sou um mago do tempo, Amy. E mais uma vez peço que não tenha medo. — Condor voltou a se ajoelhar na frente da garota. — E um aviso. Tome mais cuidado ao atravessar a rua.

Então Amy lembrou-se do que havia acontecido nesta manhã. Ela se despedira de Caus, ele havia entrado no ônibus, e então Amy atravessou a rua. Repentinamente, sentiu seu corpo sendo jogado violentamente para frente por um carro desgovernado. Amy já havia se convencido de que aquilo fora apenas um de seus flashbacks, porém, baseado no que Condor dissera, aquilo tinha acontecido realmente.

— Não me diga que você... — Amy não teve coragem de completar a frase. Felizmente, Condor fez isso por ela.

— Eu voltei no tempo para impedir que aquilo acontecesse, Amy. — Pode-se ouvir um suspiro vindo dele. — Foi algo perigoso, que eu não deveria ter feito, e que provavelmente irá trazer efeitos colaterais. Mas eu não podia deixar você morrer.

— E por que não? — Amy perguntou, ainda sem saber o motivo de Condor estar ajudando-a.

— Porque sua história não acaba aqui. — Condor estendeu sua mão para Amy. — Você quer saber onde a sua história começa, Amy? Quer saber o motivo de você ter que passar por todas essas coisas hoje? Eu posso te dar todas as respostas que precisa saber, você só tem que segurar a minha mão.

Amy observou a mão de Condor. Esta estava descoberta já que as mangas de sua capa só cobriam até o comprimento de seus pulsos. Sua mão era esbranquiçada e quase luminosa naquela escuridão.

Ela ponderou por um momento sobre o que ele disse. Sim, ela queria saber o porquê de ter que passar por tantas coisas horríveis atualmente. Ela queria obter as respostas sobre seu passado e entender porque estava envolvida em toda essa história.

Sem pensar mais, com determinação, Amy segurou a mão que Condor havia lhe estendido. De repente, tudo ao seu redor ficou negro, e era como se ela e Condor estivessem flutuando no além. Então, uma luz forte e cegante emergiu do nada, o que fez Amy fechar os olhos automaticamente, perder o equilíbrio, e cair, no que parecia ser um precipício sem fim.


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