Amy Tokisuru em Earthland escrita por AJ


Capítulo 6
Capítulo 6 - Sentimentos Guardados




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JAU

Jau não dormia tão bem há semanas. Passou o resto do dia e também a noite inteira descansando. Fora um sono totalmente livre de sonhos, pesadelos ou flashbacks do passado. Fazia muito tempo que o rapaz não se sentia tão revitalizado. Ao acordar, encostou-se na cabeceira da cama, espreguiçou-se e, com bastante calma, pegou seus óculos de cima do baú. Ficou alguns minutos ainda sentado, tentando criar coragem para se levantar. Quando finalmente o fez, foi em direção à porta, pegou sua camiseta e a vestiu.

A primeira coisa que Jau queria fazer era voltar ao porão para poder continuar fazendo suas pesquisas. Agora que tinha descoberto enfim o que estava faltando para recriar a pedra do portal, mal via a hora de reproduzi-la. No entanto, sua barriga então começou a roncar, o que não era incomum já que Jau não se lembrava da última vez que havia feito uma refeição. Ele sabia que Berto guardava frutas, cereais e leite na dispensa, então foi para lá que seguiu seu caminho. Antes de chegar lá, porém, ouviu algumas vozes vindas da sala principal, que Jau reconheceu. Eram Sofia e Berto discutindo. Jau tentou fazer o máximo de silêncio possível ao permanecer no corredor, para não ser notado. Sabia que era errado, mas queria saber sobre o que estavam falando.

— Tem certeza que vai contar isso a ele? — Sofia perguntou ao velho. Jau imediatamente soube que os dois estavam conversando sobre ele.

— Não quero ter que esconder nada do garoto — foi o que Berto respondeu. — Além disso, é bem capaz dele acabar descobrindo sozinho.

— Berto, o Jau está obcecado. Se ficar sabendo sobre isso, não duvido nada que ele tente ir atrás dessa coisa. E você sabe muito bem que ele não tem nenhuma chance de vencer isso.

— Você provavelmente tem razão, mas isso deve ser uma escolha que ele deve fazer.

Jau estava morrendo de curiosidade para saber sobre o quê aqueles dois estavam falando. Queria ir até lá agora e confrontá-los exigindo uma resposta clara e concreta. Mas não fez isso. Permaneceu quieto onde estava por um ou dois minutos até as coisas entre Sofia e Berto esfriarem. Foi quando ele enfim resolveu ir até lá.

Os dois estavam sentados no sofá velho da casa de Berto, e calados, como se nada tivesse acontecido. Jau trocou olhares com ambos e então disse:

— Bom dia, pessoal. — Acenou com a mão para os dois e eles responderam, com sorrisinhos culpados e apreensivos estampados nos rostos.

— Sofia — Jau continuou. — O que faz por aqui?

— Fiquei preocupada quando você saiu correndo ontem igual a um maluco. Quando vim aqui Berto disse que tinha ido dormir, então fiquei mais aliviada. — Foi o que respondeu.

Não era uma mentira completa. Eles eram amigos próximos o suficiente para que um ficasse preocupado com o outro. Mas Jau queria que Sofia contasse sobre o que ela e Berto estavam conversando minutos atrás, e ele iria arrancar isso dela, com toda a certeza.

— Obrigado pela preocupação. Estou ótimo agora que descansei. — Voltou-se para Berto. — Posso ir fazer uma refeição?

— Claro, pode sim. — Berto se levantou. — Bem, eu vou deixar vocês sozinhos. Tenho um paciente para ver aqui no vilarejo. — Então ele foi até a porta e se retirou, deixando Jau e Sofia a sós.

O rapaz foi até a cozinha e a garota o seguiu, ambos quietos. Jau abriu um dos velhos armários de lá, mas logo o fechou, por não haver mais cereais por ali. Então ele se contentou em pegar uma das maçãs que estavam em uma cesta de palha sobre a mesa. Deu uma mordida, enquanto olhava para Sofia, e ela o encarava com curiosidade. Após engolir um pedaço grande da fruta doce e suculenta, respirou fundo e perguntou à Sofia:

— Vai me dizer sobre o que você e Berto estavam conversando, agora a pouco?

Sofia suspirou, e Jau logo sentiu sua insatisfação.

— Então você ouviu.

— É, ouvi. E agora você tem duas opções. Ou me conta tudo você mesma e me deixa contente, ou eu pergunto ao Berto e fico com raiva de você. — O tom de voz do garoto saiu mais severo do que ele gostaria, mas e daí? Ele odiava quando as pessoas tentavam esconder coisas dele, principalmente se aquilo o envolvia.

— Está bem — Sofia disse, claramente irritada pela maneira como estava sendo tratada. — Berto me contou sobre a sua grande descoberta de ontem.

Enquanto ela falava, Jau deu outra mordida em sua maçã. Uma mordida nervosa que arrancara uma boa parte da fruta. Ele mastigou com frustração.

— Ele me contou que precisa de energia, mas tanta energia assim custa muito caro aqui em Portland. Pouquíssimas pessoas têm acesso a metade da energia necessária para se viajar entre os mundos.

— Legal. — Engoliu o alimento antes de falar. — Mas sei que não estavam falando apenas sobre isso. Quando acordei, ouvi você dizer que eu estou obcecado o bastante para ir atrás de alguma coisa e que não tenho a menor chance de sobrevivência. Quero detalhes disso.

Sofia mexeu nos seus cabelos enormes bruscamente, como fazia quando estava nervosa. Era óbvio que ela não queria dizer pois, se a resposta era o que Jau estava pensando, então ela estava certa. Ele iria atrás disso sem se importar com o quão difícil isso seria.

— Tem um jogo — ela respondeu por fim. — Um evento para magos. Magos poderosos. Acontece todo ano. É uma forma da realeza entreter o seu público e também plantar o espírito da esportividade nas pessoas. — Disse a última frase em tom de escárnio. — Se quer saber, isso é tudo fachada.

Jau esqueceu sua maçã na mesa. Ainda estava com fome, mas sua curiosidade era maior.

— Não está me contando a parte que importa.

— A parte que importa é que o prêmio para o vencedor desse torneio é o que você precisa para voltar para a Terra. — Ela pegou a maçã de Jau da mesa e deu uma mordida do lado que ainda estava intocado. Após engolir, terminou: — Energia. Muita.

Jau coçou o queixo, onde sua barba, que não havia feito há algum tempo, estava agora suja do suco que escorreu da fruta.

— Energia o suficiente?

— Sim.

Eles trocaram olhares diferentes. Jau a olhava com satisfação pelas respostas recebidas, e ela o olhava com preocupação, por imaginar o que aconteceria a seguir.

— Certo. — Sorriu, e começou a andar em direção à sala, com uma Sofia apressada atrás dele.

— O que vai fazer?

— O que eu vou fazer você já sabe, então vou dizer o que você vai fazer. Você vai me ajudar a entrar nesse torneio. — Da sala, Jau se dirigiu para o seu quarto. A garota dos ventos ainda o seguia.

— Você não prestou atenção em nada do que eu disse, né? — Ela tentou agarrar o ombro de Jau para fazê-lo parar de andar, mas não conseguiu, e o garoto desceu as escadas e foi para o porão. Ela não teve escolha senão ir também.

— Eu prestei atenção aos mínimos detalhes. — Respondeu, enquanto preparava sua mesa, pegando os ingredientes que precisava para refazer a pedra do portal.

— Até na parte que eu disse que só magos poderosos participam desse torneio?

— Principalmente nessa parte. — Ele arrumou tudo e contou os itens que tinha. Já possuía quase tudo. Só faltava uma coisa.

— Jau, me perdoe se isso parecer doloroso de ouvir, mas você não é mago, e muito menos poderoso. — Sofia cruzou os braços. — Não vai passar nem da primeira parte. Sem falar que o assassinato não é proibido nesses torneios e também não é incomum. Você vai morrer, garoto. Morrer!

— Sofia, eu não pedi sua opinião. — Jau aumentou o seu tom de voz. — Se não quer me ajudar, tudo bem. Eu me viro sozinho. — Ele ia se direcionar às escadas novamente, mas a garota o barrou. — Sai da minha frente.

— Não, eu não vou sair. — Ela também começou a gritar. — Ouça a voz da razão pelo menos uma vez, seu doente. Está tão louco que acha que consegue derrotar uma legião de magos extremamente experientes de Portland.

— Que inferno, Sofia — ele esbravejou, mais alto que ela, retendo a vontade que tinha de empurrá-la para trás. — Você não pode falar nada. Se juntou a um espírito do mal para salvar o seu marido, a pessoa que você amava. Por que tenta impedir que eu reveja a pessoa que eu amo?

— Porque você vai morrer se entrar nesse torneio.

— E por que diabos isso importa para você?

— Porque eu gosto de você, idiota!

Foi aí que Jau recuou, e os dois ficaram calados, olhando nos olhos um do outro, dessa vez sem ter a mínima ideia do que estavam sentindo. Jau tinha que ser sincero consigo mesmo e admitir que quando fez a última pergunta, a resposta que Sofia dera foi a última coisa que ele esperava ouvir. Aquilo era verdade mesmo? Pela expressão assustada da garota, não só era verdade como ela também estava totalmente arrependida de ter dito aquilo.

— Deuses. — Sofia desviou seu olhar para o chão, por fim, e meneou a cabeça negativamente. — Como eu sou burra. — Então ela virou as costas e, correndo, se retirou daquele lugar.

Jau queria chamá-la de volta, porém, apesar de querer uma explicação sobre aquilo, ao mesmo tempo tinha medo de saber o que aquelas palavras poderiam significar. Então ele não fez nada. Apenas deixou que a garota fosse embora, enquanto ficava ali, com aquela dúvida recém-plantada em sua cabeça.


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