Dimensional Adventure escrita por Projeto Alex


Capítulo 8
Para Que Serve Um Hub


Notas iniciais do capítulo

No chão deste quarto, trancada,
Escuto o som que se desprendeu:
Uma gota caindo, afinada,
Sobre o espelho, mostrando esta “Eu”.

Sozinha, permaneço sentada
Ouvindo o sussurro, o qual também é meu.
Tento tocar a imagem espelhada,
Imaginando se esta seria a verdadeira “Eu”.



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—BABAAAAAHLUH! —A morena bocejou, apoiando-se na alça de segurança da cabine de metrô. Estava lotado! Gente se espremendo para passar... Eram tantas pessoas juntas num só lugar que se a condução freasse subitamente, ninguém daria de cara no chão, afinal não tinha mesmo para onde cair! Mas como havia chegado o tempo de chuva, esfriando as coisas com uma refrescante chuva ocasional, o ar-condicionado estava dando conta.

De repente, um sujeito estranho foi chegando perto da morena. Dava pra perceber o odor forte de aguardente e cigarro barato. Era enjoativo! O homem, ficou bem atrás da menina, encostando nas costas dela, os pelos encaracolados do peito, pela camisa semi-aberta.

Salye sentiu náusea, por causa do esbarrão brusco, contudo preferiu ficar quietinha, torcendo que não passasse de um contato involuntário. Entretanto, não ficou só nisso, pois o sujeito inclinou o queixo babado sobre o cabelo negro e fungou, extasiado com o perfume pueril da menina, arrepiando-a inteira.

Não suportando mais o bafo alcoólico na nuca, a menina procurou esquivar-se da investida do desconhecido, se apertando entre os demais passageiros, a procura de um lugar seguro onde pudesse continuar a viagem se forma tranquila. Sentia vontade de chorar! Mais uma vez fora vítima de alguém que não respeitava o espaço dela. Ela sabia que aquela coisa estava errada.

Contudo, embora a menina tivesse saído de perto do pervertido, este não deu-se por vencido. Insistente, continuava perseguindo-a, também espreitando por ente as pessoas, a fim de alcançar a vítima indefesa.

Salye ficou nervosa. Em sua mente se passavam diversos pensamentos indigestos. Como essas pessoas têm a insolência de fazer coisas ruins, mesmo na frente dos outros, em plena luz do dia, sem a menor cerimônia ou medo de serem pegos? Se ela o denunciasse e o pervertido negasse, então ela é quem seria taxada de mentirosa? Será que ela podia mesmo confiar que seria protegida pelos outros? Salye começou a se questionar se não estaria, na realidade... sozinha.

Nesse instante, a morena se viu então diante do grande espelho com borda de madeira entalhada, do seu sótão. O lugar estava em completa escuridão, mas estranhamente ela conseguia enxergar a si mesma e o objeto. O som de pingos de água caindo sobre uma superfície líquida, chegava-lhe aos ouvidos, formando uma onda sonora tão nítida que era quase possível ser vista.

A frente havia seu reflexo, no entanto, não parecia ser de fato apenas um reflexo. A morena levantou a mão a fim de verificar, contudo a imagem não repetia o movimento imediatamente, mas com certo atraso, como se fosse outra pessoa apenas lhe imitando, mirando-a com olhos inexpressivos. Salye se assustou, dando-se conta imediatamente e cobrindo os lábios: —Eu sei quem você é! Você foi quem atacou a Fabí e o cara no beco! —Ela indagou: —Quem é você?

A imagem abriu a boca rósea, fazendo um pedido: —Permita-me!

Espantada, a jovem não desistiu de obter uma resposta: —RESPONDA! QUEM É VOCÊ?

Mas o reflexo dizia apenas: —Permita-me!

—NUNCA! —A menina bradou. —VOCÊ É PERIGOSA! EU VI O QUE VOCÊ FEZ! —Salye se recusava a mirar aquela outra “Eu” ao passo que sobre a face alva, rolavam fios translúcidos. —Não posso ficar a mercê de um monstro descontrolado como você!

A figura enigmática franziu as sobrancelhas. —Você não é capaz de cuidar. Você está sozinha e só eu posso te defender. —A outra Salye estendeu a mão, tentando alcançar a da garota: —Não precisa esperar que seus amigos corram para te salvar, afinal, você nem confia neles... Por favor! Permita-me!

A morena cerrou os dentes. Era desesperador o quanto sua outra “Eu” estava correta. De fato sentira-se sempre sozinha e não conseguia confiar em outros... nem em si mesma...

Você não pode pensar essas coisas! Precisa aprender a se defender dessas pessoas! Grite, peça ajuda, como o Lucca te ensinou! —A menina falava consigo mesma, procurando em si forças para sair daquela situação perigosa. —PUT* MERD*, SALYE! Eu estou cansada de nunca fazer nada, de nunca mudar! Tem um monte de gente no vagão que pode te acudir. —Ela queria gritar para todo mundo e pedir ajuda, mas por mais que tentasse, nenhuma voz saia da garganta. Ela simplesmente não conseguia agir. Estava paralisada e desde o escuro do sótão, sentia que o sujeito o qual lhe abordara, chegava cada vez mais perto.

De repente alguém que a observava de longe, vem em seu auxílio. —Francamente! Ninguém pode te deixar sozinha por um instante que é como deixar água parada no verão! —Uma silueta familiar envolveu a morena com os braços, criando uma barreira entre a menina e o agressor.

Imediatamente, Salye voltou à cabine do metro, e segurando a roupa de seu defensor, escondeu o rosto contra o tecido: —Lucca! Desculpa! Eu... eu... —A pequena começou a chorar, agarrada ao moletom azul marinho, umedecendo-o com as lágrimas.

—Não peça desculpas. Você é a vítima, esqueceu? Eu já te disse isso várias vezes! —Ele falou para a garota, embora sem tirar os olhos do pervertido.

Então, usando o braço, o garoto afastou a menina para longe do estranho, colocando-a atrás de si. A amiga, escondida as costas do companheiro, observava o desenrolar do caso com receio. Lucca estava 100% absolutely putaço. Não era a primeira situação em que precisava agir para cuidar de Salye, mas fervia-lhe o sangue cada ocasião que um maldito desgraçado tentava por os dedos na sua...

O gordinho apontou o dedo na cara do homem. —Eu só vou falar uma vez: Vaza pro outro lado da cabine!

As pessoas ao redor começarem a notar o burburinho. O pervertido olhou a sua volta e percebendo que chamara a atenção, ele ficou com medo. —Abaixe esse dedo, menino! E-eu não estou fazendo nada, garoto. Não enche, tá? —Retrucou, deixando sair da boca um habito terrível que parecia vômito.

—Eu vou deixar uma coisa bem clara pra você, de um jeito que até uma ameba entenderia: Se você chegar perto da minha amiga de novo, eu juro que vai ser a ultima vez... —O jovem o olhou no fundo dos orbes do bebum, o qual entendeu de imediato que se tratava de uma ameaça velada. —Lembre-se do meu rosto, porque eu não vou esquecer sua cara imunda!

Pela expressão de Lucca dava para perceber que realmente falava sério!

O homem ficou nervoso. Passageiros desconfiados, já se perguntavam, cochichando, sobre o que estava acontecendo e o motivo da discussão. O tarado sabia que se fosse apanhado, provavelmente não conseguiria escapar de tanta gente. Com certeza as coisas estavam ficando ruim pra ele. Portanto, assim que a porta abriu, o sujeito saltou na estação, embora talvez nem fosse o destino que tomaria.

Você confia tanto assim neles? Vamos ver como você usará o presente que lhe dei...

[...]

—Finalmente! —Galds falou aos dois quando se aproximaram da fonte em que ele estava sentado, aguardando-os. —Eu detesto ficar esperando sozinho. Não sei porque o Lucca decidiu ir te buscar.

O gordinho, torceu o lábio, desviando o olhar, o que fez o altão perceber a bola fora. Embora Salye estivesse mais calma agora, a colocação de Glads deixou-a um pouco desajustada. Então Glads, a fim de quebrar o clima, molhou a mão na fonte e, malvado, aspergiu a água fria no rosto da morena.

—Esse é seu castigo por me fazer esperar! —O moreno sorri sádico. Mas dessa vez, Lucca não deu sinais de desaprovação. Parece que seria bom para a menina, espantar pensamentos depressivos da mente.

—PARA SEU MALDITO! VOCÊ SABE QUE EU DETESTO ME MOLHAR PELA MANHÃ! —A garota desequilibrou-se ao etar se defender da metralhadora de respingos e pô-se a espirrar descontroladamente, quase a ponto de pedir ajuda. —OLHA O QUE O QUE VOCÊ FEZ IDIOTA! AAATCHUUUH! AAATCHUUUH!... AI MINHA RINITE! AAATCHUUUH —Disse choramingando e limpando o nariz na maga cumprida da camisa. —O Lucca chegou na mesma hora que eu e você não faz nada. Além disso, o Chan ainda nem chegou, entã-...

—Acertô mizeravi! Quem te insinô? —Edu aparece por de traz duma barraquinha de lanche. —Eu tinha de tomar café. Estar aqui às 8 horas da madrugada, o que vocês tem na cabeça? —O asiático deu a mordida final no cachorro quente.

—Então... já que estamos todos, né? ...acho que já dá pra ir... —A menina passou a mão no cabelo, dando um sorriso desconcertado, por ter julgado mal Edu.

Os quatro se posicionaram para sair em grupo rumo ao quartel general. A frente iam Glads e Lucca, seguidos de Salye e Chan. O moreno levantou o braço, em forma de punsh, flamulando o tecido do casaco: —VAMOS NESSA!

Chegaram ao local onde costumavam se reunir para estudar, jogar e passar o tempo: A biblioteca municipal.

As altas paredes, revestidas de madeira envernizada, comportavam um imenso acervo, dos mais variados tipos de matériais de leitura. Algumas salas eram destinadas a grupos de estudo, que os pegavam, liam-nos e debatiam sobre a matéria em grupo, porém sem incomodar os demais freqüentadores do lugar.

Embora o lugar fosse preservado e mantido como patrimônio da cidade, Não eram muitas pessoas que se interessavam por visitar tal ambiente; ainda mais na nova era da informação, onde tudo está disponível a distância de um clic.

Os garotos escolheram o compartimento de sempre: a ultima sala, visto que poucas pessoas passavam por ela. Eles perceberam de imediato, que trocaram algumas coleções de lugar, afinal, o ambiente era bem freqüentado por eles nas horas de ócio ou simplesmente para estudar tranqüilos. Havia agora, alguns romances policiais nas prateleiras e Salye reconheceu de imediato um dos escritores, sir Arthur C. Doyle¹.

—Sherlock Holmes! A morena falou com entusiasmo, pondo as mãos entrelaçadas, atrás do corpo, lembrando-se que este já fora estudado no colégio.

—Elementar, minha cara Salye. —Glads, o palhaço da turma, meteu-se na frente da menina e pondo a mão em formato de lupa, fingiu examinar a garota de tal forma que esta, surpreendida, deu um passo para trás, esbarrando em Lucca.

—Se controla aí bestão. Cê ta mais pra Lady Gaga do que pra Sherlock. —O gordinho o contém, pedindo espaço. —Estamos perdendo tempo, vamos começar logo. —Ele apontou pra mesa, incentivando os outros a sentarem.

Edu pulou no sofá e logo pôs os pés sobre a mesa, cruzando as pernas como um manda-chuva. —Esse lugar é mesmo o máximo! —O asiático destacou.

Mas a morena puxou as pernas dele para baixo: —Ei Marajá! Se ajeita que isso daqui não é A Casa da Mãe Joana, se quiser, baixe o filme e assista na sua casa! —Ela repreendeu o outro enquanto este ria, divertindo-se com a menina, aparentemente tão perigosa quanto um pintinho armado com uma faca de pão.

—Tá, ta! —O rapaz apertou os olhos amendoados.

Assim, todos sentaram-se e um silêncio profundo tomou conta do lugar. Os garotos miravam-na, esperando que a amiga em fim revelasse o motivo de tanto mistério. O clima era tão obvio que não foi preciso que ninguém fizesse a pergunta.

Selye tremia o lábio. Havia chegado o momento de lhes revelar toda a verdade. Ela colocou os cotovelos sobre a mesa de madeira e entrelaçando os dedos, escondeu a face, deixando a mostra apenas os orbes negros.

—Não sei como dizer... só mostrando. —Ela abriu então a mochila, segurando o zíper com chaveiro de Itachi, e tirou de lá o carregador do celular. —Todos trouxeram seus carregadores?

—O Mário² é da Nintendo? —O moreno tocou a testa com o punho. —Que pergunta!

Eles iniciaram o game e carregaram as gravações. De certo que Salye esperava logo de cara, algum acontecimento estranho, envolvendo aquelas luzes ou o teleporte maluco que a levara para dentro do game, mas nada acontecera. Estava sendo igual quando vasculhara no mapa do jogo, a réplica da sua casa. Absolutamente normal!

—Ããnn?? Cadê as paradas todas? —A menina sentiu uma coceira louca na cabeça, bagunçando ela em pensamento, confusa com esse aplicativo que teimava em lhe enganar. Ela chacoalhou o celular de todo jeito, tentando ativar algum recurso oculto e ... nada! >:o

Isso era péssimo! Sem uma prova... não tinha como contar nada para os garotos nem mesmo para Lucca...

—O que é esse item estranho no seu inventário? —Lucca Esticou-se sobre a tela dela e apontou para o Hub que Salye tinha encontrado. —Nenhum de nós encontrou itens ainda.

É mesmo! Ela estava tão animada com a plataforma de jogo quando tinha logado ontem que nem se lembrou de checar o troço.

Ao tocar no Hub, apareceu uma lista com seu username³ e os de seus três amigos. —Acho que está pedindo para conectar o meu jogo com o de vocês! —A garota levanta o rosto, mirando os meninos. —O que eu faço?

—Bem, se estivermos todos juntos com você, talvez seja mais seguro. —O gordinho sugeriu.

—Eu não me importo de estar conectado a você. —Edu não perdeu a oportunidade de mexer com ela e atingir o gordinho, que franzia as sobrancelhas.

—Tá esperando quê? —O altão completou, envergando o canto da boca.

Contente com o apoio deles, a jovem selecionou cada nome. No mesmo instante, nos telefones dos quatro apareceu uma página contendo status e atributos de seus personagens como equipe, surpreendendo a todos.

—Nós... Nós somos uma equipe de Animon agora? —A jovem disse, exaltada com a descoberta.

Mas nem bem ela fechou a boca, surgiu uma mensagem num quadro vermelho contendo uma ação urgente:

Condição para evento principal cumprido

        Iniciar missão de campanha?

                 Sim                Não

 

—Caceta! Isto é uma missão de campanha⁴! —Lucca se arrepiou. —Temos de resolver entrar ou não como equipe. —Ele tomou a frente a fim de decidir com os demais. —Então, o que vai ser?

—Até parece que alguém vai clicar em não... —Glads balançou a cabeça, apressado para iniciarem. —A mão de tocar em “Sim” chega a tremer! — Ele parodiou, rindo.

—Sei não ein, acho que nesse momento o Lucca deve estar gritando por dentro: ME SOLTA QUE EU TENHO QUE DIZER PRA SALYE IR COM CALMA! —Edu insistia em pegar no pé do gordinho apenas para ver a reação deste.

Não suportando mais esperar pelos garotos os quais pareciam apenas queres brincar, Ela bate na mesa, com força, impaciente. —TODO MUNDO APERTA LOGO ESSA BAGAÇA DE “SIM” antes que o tempo acabe! —Ela mostrou os dentes, parecendo que ia mesmo morder alguém.

Imediatamente todos, incluindo o próprio Lucca, obedeceram, afinal quando queria, Salye podia mesmo ficar bem assustadora.

Os quatro acionaram continuar. Contudo, no instante em que o fizeram, do aparelho de cada um deles, surgiram raios luminosos que chocaram-se uns com os dos outros, inundando todo o ambiente.

A luz ciana tomou então conta da sala inteira, como um flash, pegando de surpresa a Edu, Glads e Lucca. Quando isto aconteceu, Salye começou a rir insana, quase virando os olhos, até ser engolida pelo resplendor. Boquiabertos, os meninos ficaram sem ação, ou pode ser que estivessem ali e ao mesmo tempo em nenhum lugar! Então a luz se dissipou.

Já era hora! Eu não aguentava mais esperar! —O sorriso da morena que havia sido encandeado pela potente claridade, apareceu de novo. —Vamos lá, chegou o momento! Vou contar tudo o que sei pra vocês.

Não tinha mesmo como eu estar louca!


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Notas finais do capítulo

¹Arthur C. Doyle: Autor do famoso romance investigativo, Sherlock Holmes.

²Mário: Mario é personagem de uma série e franquia de jogos eletrônicos da empresa de consoles e games Nintendo, na qual é mascote. É um encanador italiano baixinho e bigodudo.

³Username: Mesmo que nome de jogo.

⁴Missão de Campanha: São as missões da do jogo, onde você vive o que os produtores te proporcionam no game, interagindo com os personagens computadorizados ou com outros jogadores, caso estiver jogando online.



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