Dimensional Adventure escrita por Projeto Alex


Capítulo 9
Metralhadora Fedorenta


Notas iniciais do capítulo

Os lagos outrora cálidos encheram-se de cor,
Refletindo ávidos, a cúpula radiante,
Ardem ao sentir o calor avassalador.
A criança arrasta-se nesse instante
Hipnotizada pela melodia do trovador,
Sem aperceber-se se é para o bem ou para sua dor.



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—FINALMENTE! FINALMENTE! —Salye pronunciou extasiada. Ela remexia a ponta dos dedos, distorcendo-os de forma anormal.

—Mas o que está acontecendo aqui? —Lucca mostrou-se apreensivo a medida em que a luz misteriosa se dissipava, revelando aos poucos o ambiente em que se encontravam.

Eis que pareciam estar situados no salão principal da biblioteca municipal, contudo esta, com exceção dos quatro, estava vazia. As altas paredes outrora envernizadas, agora encontravam-se desgastadas, cobertas por heras, e seu majestoso acervo, corroído pela ação do tempo e completamente empoeirado.

—SALYE! —Glads, também excitado com a suposição, caminhou sobre o tapete esburacado, em direção a morena. —Não me diga que nós...! —Ele prontificou-se a rir loucamente, junto dela, num coro assustador, ambos balançando os braços no ar e escondendo a pupila dos olhos, exibindo apenas os funestos caroços brancos.

Intrigado, Edu coçou os fios ralos do cavanhaque. —Esta... não é a nossa biblioteca! Aqui é... Animon?! —Falou, ao erguer os olhos e ver os raios de sol entrando pela grande parcialmente quebrada cúpula de vidro do teto. —Salye, era isso o que você...?! —Chan intencionou ir até a menina a fim de perguntar diretamente para ela e também para acalmá-la, mas foi ultrapassado por Lucca.

O gordinho agarrou a amiga pelos ombros, preocupado com a reação descontrolada dela. —SALYE! SE ACALME! —Ele a balançou intencionando ajudá-la a voltar ao normal.

Todavia, a garota estava tomada pela a ansiedade de provar a todos a existência daquele... daquela... coisa que estava acontecendo com ela a algum tempo, e agora, com todos eles. —Eu não estou louca Lucca! Eu não estou louca! —As lágrimas escorriam pela lateral do seu rosto, enquanto dizia coisas nosense¹: —O ESPELHO FALOU QUE EU ESTAVA SOZINHA, MAS EU NÃO ESTOU LOUCA. EU NÃO ATAQUEI NINGUÉM! EU ESTOU MOLHADA, TA VENDO? O CELULAR ME CUSPIU! —Riu enlouquecida.

—Está pirada, a menina! —Edu apoiou o rosto com a mão.

O gordinho a afastou, assustado. De certo que o ocorrido com a garota, de ser sugada para dentro game também estava acontecendo com os três amigos, então ela não era de fato louca... mas naquele instante, ela não poderiam ser encarada exatamente como estando no seu normal.

Lucca franziu as sobrancelhas, com pena dela. A amiga chorava, intercalando segundos de imensa alegria e devaneios. Não suportando mais ver a amiga assim, ele a abraçou com força, envolvendo-a como uma jibóia estrangulando sua vítima. —VAMOS, ACORDE SALYE, VOCÊ TEM QUE VOLTAR AO NORMAL. ISSO PODE NÃO SER NOVO PRA VOCÊ MAS É PRA NÓS. SE VOCÊ NÃO ESTIVER NO SEU NORMAL, NÃO VAMOS CONSEGUIR FAZER NADA, NEM SAIR DESSE LUGAR! —Ele gritou o mais alto que pôde.

—Lucca! —A morena arregalou os olhos negros, surpresa com a atitude do gordinho, acordando de sua loucura. —Des...desculpa! —Ela começou a chorar mais uma vez, só que lúcida, agora. —Eu arrastei vocês pra cá sem dar nenhuma explicação. Eu sinto muito!

—Tudo bem. —O garoto a soltou, olhando-a nos orbes ônix. —Mais importante que isso, você está bem? —Ele a questionou.

—Sim. —A morena balançou a cabeça positivamente. Depois, voltando a atenção para Glads, o qual a essa altura, pegava todos os livros que podia alcançar e jogava-os para cima causando uma nuvem de poeira, ela indagou: —E agora? Ele ainda está surtando!

 —E aí, Lucca, o que você vai fazer? —Chan apertou os olhos (ainda mais), curvando a boca num risinho sugestivo.

O gordinho respondeu sério, entendendo a indireta desagradável: —Com o Glads é mais fácil. —Assim, ele deu dois passos rumo o altão e então desatou a correr para cima dele com o punho cerrado.

O cruzado acertou em cheio o rosto do moreno, arremessando-o na tapeçaria. Felizmente, a pancada foi suficiente para acordá-lo: —Nossa! Isso...doeu! Eu não imaginava que dava pra sentir dor dentro de um jogo! —Desde o chão, Glads coçava a bochecha, surpreso. —Iêêh! Precisava ter batido tão forte?

O que foi essa barrinha verde que apareceu agora a pouco?

O amigo estendeu o braço, ajudando o garoto a se levantar: —Foi mal, mas você sabe que se eu não tivesse colocado toda a força, nunca que daria pra te derrubar.

—Então Crazy Girl... —Edu pôs o braço entorno do pescoço da menina. —Era isso o que você ia falar pra gente, né? Bom, depois dessa, não tem como duvidar de mais nada.

A jovem mirou os três Ela sentia que os garotos a viam como uma deles, como alguém em quem confiavam. Ficou feliz. A morena nunca fora boa com as palavras e por isso tinha muita dificuldade em falar sobre seus sentimentos mais profundos.

Salye queria agradecer por todos estarem ali com ela, compartilhando essa experiência nova, mas nem bem abriu a boca, um pombo gordo esquisito parecendo desenho animado surgiu do nada e chamando a atenção deles, abriu uma caixa de texto no ar:

 

—Está na hora de começar sua primeira missão, pruuuh!

       Desejam continuar com ou sem tutorial?

 

A ave cor-de-rosa ficava saltitando sobre o nada e arrulhando à medida em que os jogadores liam as palavras do balão.

—Pfffh! Quem precisa de tutorial? Eu vou é explorar tudo agora! —O moreno levantou a mão propondo uma votação. —Eu digo que é uma perda de tempo.

—Hoê, isso também já é demais, seu estúpido! —Lucca pede para que o amigo espere. —Isto aqui não é um game comum. Se nós não formos com calma podemos acabar nos machucando. Você disse que sentiu dor, né? Não sabemos até onde a dor pode ir dentro do Animon.

Todos se encararam com seriedade, de fato, aquilo fazia sentido. Até então, não sabiam o que aconteceria se fosse causado um grande dano a eles dentro do jogo. O que será que aconteceria com eles no mundo real? Mesmo que a Salye já tivesse alguma experiência a mais no game, estava mais do que claro que esse era um universo desconhecido, mesmo para ela.

—É verdade. —Chan se adiantou aos demais e apontando para a bolota voadora, confirmou: —Ei, seu pássaro maluco! Vamos querer ver os tutoriais nesta primeira missão.

 

    —Understood! Tutorial confirmed! —O pombo deu uma cambalhota. —Agora, me mostrem seus celulares, buh pruuuh!

 

Um pouco desconfiados, os jovens levantaram cada qual seu aparelho, esperando a próxima orientação do NPC².

 

—Como presente, darei a vocês um upgrade totalmente de graça, pruuuh! —E virando-se de costas, ele levantou a calda emplumada.

 

Antecipando o “presente” que a ave lhes daria, os meninos mudaram de decisão, gritando ao mesmo tempo. —NÃO, NÃO! A GENTE MUDOU DE IDÉIA, NEM QUEREMOS MAIS! —Ambos preparando-se para fugir dali.

 

—Não é opcional! :) —Dizendo isso, o bicho abriu o asterisco(*) e começou a cuspir neles jatos em alta velocidade.

 

—MAS O QUE É ISSO? —A garota abaixou a cabeça, se esquivando de um dos torpedos melequentos.

—Côco é que não é! —Lucca a puxou pela mão. —CORREEEEH!

Os quatro meteram o pé na carreira a fim de escapar dos torpedos malcheirosos, os quais deixavam um rastro de purpurina colorida no ar. Só que o troço era teleguiado!

Os quatro separaram-se para não serem pegos. Chan e Glads que eram mais ágeis, subiram as escadarias precárias rapidamente buscando fugir, ao passo que Lucca e Salye moveram-se ao longo dos corredores, entre as estantes empoeiradas, derrubando o que podiam, para tentar defender-se dos mísseis.

A morena correu o tanto que pode, contudo seu tênis acabou se prendendo a uma tábua solta e ela tropeçou.

O jato fedido veio em sua direção violentamente e a garota imaginando seu fim, cerra os orbes instintivamente.

A massa fétida se espatifa em algo. Criando coragem e abrindo os olhos, Salye vê que Lucca a salvara, ficando entre ela e o míssil que enlameara o celular e o braço do gordinho.

—EEEECA! —O gordinho sacode a mão e pedaços de arco-íres são jogados no assoalho. —Você ta bem?

—Acho que s-... —Antes que pudesse terminar a frase, outro jato de bosta voou sobre ela. A única coisa que deu tempo de fazer foi colocar as mãos a frente do corpo para defender-se.

—QUI NÔÔÔÔJO! —Do andar de cima era possível ouvir a choradeira de Glads, o qual também fora pego. O altão nem conseguia olhar para a mão, completamente lavada de diarréia de pombo. Nem mesmo o asiático conseguira se manter intacto.

Assim que o ultimo dos jovem foi atingido, a metralhadora retal cessou. Então, com cautela, eles foram se reunindo novamente no salão principal, temendo encontrar novamente o NCP maldito que lhes atacou.

—Como você se deixou ser pego, Chan? Eu sempre esperei mais dos asiáticos. —O gordinho provocou-o desta vez, visto que o outro parecia extremamente fulo.

Edu levantou a sobrancelha. —Eu posso ter olho puxado, mas eu nunca disse que era o Chuk Norris do kung fu. —Ele escarrou no chão, enojado com o fedor que exalava de seu braço. —Já te dei entender que eu luto por acaso? Meu negócio é futebol, espertão.

—Pessoal, eu gosto de uma briga amistosa como qualquer pessoa sem futuro, mas acho que não é hora pra isso. —Ela se mete entre os dois, balançando as mãos sujas. —A gente tem que dar um jeito de se limpar. Olha o estado dos celulares! Vai dar um trabalhão limpar e não foi nem paga a ultima prestação ainda! ToT

 

—Agora que todos estão equipados, podemos começar, buh pruuh! —O animal emplumado aparece novamente, sobrevoando, as cabeças deles e indo pousar sobre a bancada de bibliotecário, mais adiante.

 

—Ai não! De novo não! —O gordinho pegou alguns livros outrora derrubados e começou a jogar no bicho, sendo seguido pelos outros. —FORA DAQUI MALDITO, VÁ SUJAR OUTRA FREGUESIA!

Alguns dos objetos acertaram-no de frente, contudo, ao invés de se chocar contra ele, atravessaram a ave.

Milhares de pixels espalharam-se e se recomporam imediatamente.

—Esse inimigo é invulnerável? —Chan questionou, sem parar de jogar coisas. —Como vamos saber se estamos tirando miss³ ou não?

 

—Let’s start! PRRUUUUUUUH! —Um som seguido de eco saiu do fundo do papo do animal, colidindo com o excremento purpurinado que sujava, coincidentemente, os pulsos e celulares dos quatro.

 

Os vestígios de dejetos desprenderam-se pela ação percussiva do arrulhado, tomando forma de uma espécie de liga metalina brilhante, circundando seus braços. O material misterioso cobriu os celulares, aderindo-se a eles e transformando-os num tipo de bracelete high tech⁴.

 

—Estes são os seus equipamentos padrões. Com eles vocês conseguirão mais mobilidade em suas aventuras! Experimentem acessá-los, pruuh. —O bicho estendeu a ponta da asa como um indicador.

 

—Olha o tamanho desse troço! Ô louco, meu! Parece o Beystadium⁵ que o Faustão usa no pulso! —O altão admirou-se com a proporção do bracelete.

—Então é por isso que foi impossível desviar dos toleterpedos. —Chan tocou no aparelho, ativando-o. —Era um evento obrigatório do game!

Uma tela em holograma se formou na sua frente, basicamente igual a interface que tinham anteriormente em seus celulares, mas é claro, num formato bem mais prático. Eles podiam acessar todas as opções apenas tocando no holograma.

—Legal! —Salye disse animada. Nem parecia a mesma pessoa que minutos antes estava correndo desesperada para salvar a vida. :P

De qualquer forma, para uma primeira missão, até que se saíram bem. Talvez, bem demais...

—Diga pássaro, essa não ainda não foi a missão que nós aceitamos, não é? —Lucca tomou a frente dos demais.

 

—Sigam-me todos! A melhoria foi apenas o começo de sua jornada. Bu pruuh. Nós precisamos que vocês encontrem os emblemas perdidos, que dão acesso a uma sala especial da biblioteca. —O pombo rosa voou até a mais alta prateleira, mostrando, entalhados na madeira que revestia o alto desta estante, cinco símbolos singulares. E lá de cima, soltou algo que deixou os garotos fulos: —Mas nessa bagunça será impossível encontrá-los... —A ave balançou a cabeça negativamente. Tragam–nos aqui para que eu abra a porta para vocês.

 

—Que desgraçado! —Chan falou, sabendo o trabalhão que ia dar para achar esses desenhos.

—Ei pessoas! —Salye levantou a mão. —Entanto o Lucca e eu tentávamos nos proteger, nos livros que derrubamos, acho que vi um desses símbolos. —Ela tocou os lábios com a ponta do dedinho.

—O que você está esperando? Um convite formal? Mostra pra gente onde foi, agora! —O asiático se animou.

A garota ia à frente, guiando os meninos pelos corredores e admirando o equipamento novo em seu braço.

—Que bom que aquilo não era cocozinhos de verdade, né? —O altão deu uma leve cotovelada na morena. —Que alívio!

—Sim, mas... —A jovem levantou uma das madeixas com a mão e notou que estavam um pouco grudentas. —...Por que meu cabelo ainda tá fedendo? =/


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Notas finais do capítulo

Espero que este capítulo tenha arrancado de vocês boas risadas, porque eu quando estava escrevendo dava cada gargalhada que o vizinho veio ver se estava sendo assassinado.
Sim, eu rio parecendo alguém morrendo.


¹Nosense: Coisa sem sentido. Desprovido de significado ou coerência.

²NPC: Personagem não jogável. É um personagem de qualquer jogo eletrônico que não pode ser controlado por um jogador mas se envolve de alguma forma no enredo de um jogo. Ele exerce um papel específico cuja finalidade é a simples interatividade com o jogador.

³Miss: Quando o ataque que você lança no adversário foi ineficiente e não causou dano a ele por motivos de sei lá.

⁴Hig tech: Apositivo de alta tecnologia; coisa cuja tecnologia é muito avançada. Diz-se daquilo (objeto, estilo, arquitetura etc) que possui qualidade, aparência e aspecto industrial.

⁵ Beystadium: Trata-se de uma arena para duelo de piões do anime Beyblade, que já passou em canal aberto no Brasil.



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