Dimensional Adventure escrita por Projeto Alex


Capítulo 7
Meu Char


Notas iniciais do capítulo

Impossível resistir,
Essas cordas invisíveis
Obrigam-me a fluir.
Chegou minha vez:
Não vou mais fugir.



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Glads havia terminado de subir escada acima e ligado o computador, coisa que este fazia automaticamente ao entrar no dormitório tão bagunçado quanto o da própria Salye. —Yêhh! Vamos ver o que há de novo no mundo real... —Disse sentando-se na cadeira em frente à tela. Pelo visto a internet estava mais real do que o mundo fora dela, ultimamente.

No entanto, antes que o moreno pudesse começar a navegar, sua calça vibrou. Ansioso, atendeu a ligação sem ao menos ver quem estava do outro lado da linha, mas reconheceu de imediato a voz.

—Ei, Glads, o que você está fazendo? —Era Lucca. Um tom sombrio, com uma nota de desespero chegou aos seus ouvidos, uma música triste que já conhecia e que ouvia periodicamente...

—Ah não! —Glads franze as grossas sobrancelhas. —Aconteceu de novo, não foi? —ele passou a mão no rosto moreno, preocupado. Não era a primeira vez que o amigo falava daquela forma, na verdade, o conhecia a tempo suficiente para deduzir seu estado de espírito apenas pela forma como este respirava.

Do outro lado da linha, o gordinho se mantinha sentado no carpete, escorado na cômoda que bloqueava a porta do quarto. Estava sozinho ali, mas ainda assim, cobria os olhos a fim de esconder o quanto estavam avermelhados. O pai não estava mais tentando arrombar a porta, mas era costumeiro deixar o móvel ali até o dia seguinte, e as vezes, pelo fim de semana inteiro.

—Desculpa, amigo... —Pronunciou tremendo, enquanto sentado no chão de sua pequena fortaleza, visto que o frio começava a incomodar. —Eu só queria falar com alguém...

—DEIXA DE SER BOBO, LUCCA! —O alto falou rápido. —O que você está esperando pra vir pra cá? —O amigo esbarrou a mão contra a mesa, fazendo o gabinete sacudir. —Aí quem sabe a gente possa ligar pra pessoa com quem você realmente quer falar.

Lucca levantou-se de súbito. Ao que parece, o companheiro sempre tinha um argumento que lhe enchesse de ânimo.

O garoto foi até a cama e pondo o braço debaixo dela, arrastou para fora uma mochila grande, que deixava preparada todas as vezes que precisava sair daquele lugar repentinamente para refugiar-se na casa de Glads. Tirou dele um blusão de frio da Adidas, que ganhara dos pais enquanto a mãe ainda morava com eles. Trocou a farda pelo agasalho e a dobrou cuidadosamente, embora não estivesse limpa, pondo-a no cesto de roupa suja.

—Eu já estou indo praí! —Lucca desligou o telefone e, tomando a mochila, fugiu pela janela, abandonando assim, o único cômodo da moradia que era metodicamente organizado.

O gordinho foi depressa à residência do amigo, nem lembrou exatamente como chegara, só sabia que estava ali, mais uma vez, com a mesma bolsa nas costas e a mesma expressão desassossegada em seu rosto. Visto que era praticamente de casa, foi logo abrindo a porta e sentiu o cheiro delicioso de comida quente sendo preparada na cozinha.

—Oi filho! Pode subir, eu já levo a janta pra vocês. Você gosta de risoto de frango, amor? —A mãe do colega sempre o tratava com cortesia, embora sem nunca tocar no “assunto”.

Lucca parou no corrimão para atender à senhora: —É meu favorito! ^^ —Respondeu respeitosamente a mulher antes de subir.

Mas assim que entra no quarto do amigo, é agarrado por Glads que pendura-se na gola do seu blusão, com uma cara insana.

—MACHO, TU NÃO VAI ACREDITAR NO QUE EU FIZ. —O amigo faz uma careta que o denuncia antes mesmo dele se confessar. —Sabe o nosso game lá? Eu tava bem curioso e esperando você chegar, né...

—O QUE VOCÊ FEZ, DOIDO? —Abismado, o rapaz tira de si as mãos do outro e o chacoalha segurando-o pelos ombros. —NÃO ME DIZ QUE VOCÊ...

—Tá bom, não digo! —O moreno não sabia ao certo se chorava ou se excitava mais ainda. —Mas cara... pra um jogo de celular... pelo pouco que deu pra eu ver, aquilo lá TÁ INSANO! —Não resistindo a tentação de contar.

Lucca se senta então, desabando sobre o leito de Glads, balançando a cabeça num gesto de negação: —A Salye vai te matar!

[...]

Salye quase pulou da cama quando leu “Iniciar Scaner de Jogador”.

Impossível! :O

A menina desequilibrou o aparelho na mão quase o deixando despencar no piso. —Isso daqui é...!?

—Sim Salye! —Era possível perceber através do tom da voz que Lucca sorria agora. De fato a animação da amiga era contaginate. —Pode comemorar, você provavelmente acertou!

—Mas... eu pensei que esse tipo de tecnologia era patenteada apenas pelos videogames XBox¹! —A menina não conseguia desfazer a expressão de admiração, a qual parecia viajar pela ligação, tornando-se visível para aqueles em conferência, embora ela mesma já tenha tido uma experiência bem intensa com o aplicativo nesse dia.

—Será que as duas empresas fizeram alguma parceria para este jogo? Deve ter sido por isso que demorou tanto a ser lançado. —Edu coça o queixo cuja tenra barba surgia em poucos fios negros encaracolados.

No entanto, não fazia sentido especular sobre que fatores levaram as coisas a ser dessa maneira, agora, o que importava era chafurdar no programa e matar toda a curiosidade que envolvia o mistério desse game! Afinal, Salye passara por alguns momentos que desafiavam a lógica e tudo o que ela conhecia: a queda num buraco escuro, ser rodeada por luzes em forma de libélulas, os cervos saltitando sobre misteriosas ruínas no meio da selva... A estranha fechadura nos portões do oceano! O que isso tudo queria dizer?

Será que eles também vão ver as coisas que eu ví? Não posso ter sido a única... Não posso estar ficando louca!

—VAMOS SALYE! —Lucca compele a amiga a acordar. O jovem sabia sobre toda a espera desse tão aguardado jogo e o quão ávida a morena estava na expectativa disso tudo. — O que você está esperando? Faça seu Char²! —Mesmo assim, o que ele mais queria era estar com ela, para vê-la rir como louca daquela forma tão assustadoramente... não poderia dizer "fofa", pois apenas Lucca o achava assim.

A garota se agita! Levantando, ela joga a cadeira da escrivaninha para o lado e coloca o celular apoiado sobre a mesa pintada de branco. Selye pôs-se então a frente do aparelho. A tela reluzente implorava apenas por um toque para que fosse desvendado. Assim, a jovem deslizou a ponta do dedo sobre a tela.

Vento azul! A sensação que a jovem sentiu foi como uma rajada de vento passando através de seu corpo, através de todas as células suas. Não era um simples vento. Linhas resplandecentes moviam-se de cima para baixo, em forma de rede, lendo cada membro e os memorizando.

—Hôe! O que é isso gente? —A garota disse, receosa, dando um passo para trás. Porém, enchendo-se de coragem, esticou os braços, permitindo ser atingida pelas cordas, buscando entender como elas funcionavam ao certo. Ela tremia incontrolavelmente imaginando se o mesmo ocorrera com seus colegas, mas estava decidia a ver até onde isso ia dar. —Eu não estou ficando louca... Eu não estou ficando louca... —Repetia para si mesma enquanto seus lábios curvavam-se escancarando um riso insano.

Ao passo que era atingida pelos feixes cianos, na tela do celular surgia uma cópia exatamente igual a ela. O char girava lentamente sobre uma plataforma no formato de coroa, dando a Salye a oportunidade de ver os mínimos detalhes da sua cópia digital: Eis que a personagem estava com o mesmo pijama estampado o qual vestia, o pé enfaixado e até a franja mal cortada, bagunçada por não ter sido penteada ainda! Era impressionante a riqueza de detalhes, parecia que estava olhando para uma foto em perspectiva 3D.

No entanto, embora fosse a primeira vez que fazia isso, notou ao lado o slot³ de gravação contendo uma gravação já iniciada, mostrando ao todo cerca de seis horas jogadas e uma foto sua com o uniforme da escola sujo de lama.

QUÊÊÊÊ?? —A morena pronunciou em pensamento, a fim de não fazer mais barulho. Para ela isto estava ficando ainda mais maluco! Alguma coisa havia acontecido no beco, quando Salye fora cuspida para fora do telefone com um montão de água. Sentiu medo. Como um simples aplicativo poderia controlar o que lhe acontecia tão subitamente? Ela não sabia.

—SALYE? SALYE? VOCÊ AINDA ESTÁ AÍ? —Lucca a chamou preocupado com o silêncio da companheira. —Aconteceu alguma coisa? —Ele a indagou.

Os outros garotos também chamaram por ela, ajudando-a a reagir. —Ei, menina! Você ainda está aí? —Glads tentou obter alguma resposta.

—Sim eu estou! —Ela voltou a si. —É que no meu aparelho, eu já tenho uma gravação, o estranho é que eu não tinha logado desde hoje de manhã!

—Estranho! —Glads comentou. —O slot de gravação estava vazio, só pediu pra gravar quando a gente criou os chars, perfeitos diga-se de passagem. Principalmente o meu! ;) Com você também foi assim, Chan?

—Foi! Amanhã, a gente devia se reunir pessoalmente pra ver o celular da Salye. —O asiático respondeu da própria casa dele. —Na praça, como sempre?

Todos concordaram.

Claro que eles não poderiam perder a oportunidade de fuçar no game, todos juntos. Salye ativou a gravação já existente e se viu dentro de seu próprio quarto! O programa não só havia feito uma cópia dela, como também uma cópia do mapa de seu próprio quarto!

—PUT* MERD*! COMO ISSO TÁ LOUCO!!! —Ela podia ouvir os meninos pela chamada de conferência, animadíssimos com a novidade! —Isso lembra o GO, só que infinitas vezes melhor! —Os quatro se aventuravam maravilhados com a capacidade do jogo de reproduzir tão fielmente seus ambientes e a medida que os personagens entravam nos outros cômodos, o mapa aumentava. Em alguns compartimentos havia caixas que quando quebradas, acumulavam-se numa pequena barra para ganhar pontos de experiência.

Salye estava maravilhada com Animon, era incrível e bastante interativo. Ao subir a escada foi em direção ao grande espelho com bordas entalhadas, objeto que realmente existe em seu sótão. Contudo, o vidro parecia líquido! Esticando a mão do char, a garota retirou de dentro do espelho, o seu primeiro item: Uma espécie de Hub⁴ flutuante, o qual ela, apressada, colocou direto nos slots de itens ativos, sem ao menos ler as especificações. Ela mesma ria de uma orelha a outra fazendo pequenos barulhos esquisitos de tão animada que estava, mas...

Em certo instante, ela parou de rir, dando-se conta de algo importante.

Não que o game não fosse surreal, ele era melhor do que esperado, mas... a experiência que ela teve com o jogo, mais cedo, fora infinitas vezes mais intensa que aquilo... Ela havia sido sugada para dentro da tela e viu coisas extraordinárias, quem sabe até impossíveis! Mas foi tão real... Inconcebível que tudo não tenha passado de fruto da sua imaginação! Ela só queria que os garotos também tivessem visto... Eles ficariam tão intrigados e entusiasmados quanto ela...

Sem pensar direito, Salye começou a soprar frases, das quais ela mesma não sabia o porquê:

—Pessoal... —A garota passou a mão na testa e uma gota de suor pingou no pijama rosado. Não dava mais para conter: —Quando vocês fizeram os chars... aconteceu alguma coisa estranha com vocês?

O questionamento surpreendeu a todos, de tal forma que eles pararam de fazer os avatares se moverem. O que poderia ter acontecido de estranho? O que ela queria dizer com aquilo? Eles não faziam ideia, mas de uma coisa tinam certeza: estava rolando algo insano com a amiga!

—Salye a gente não entende o que está acontecendo com você, mas se você não for direto ao ponto, não tem como nós sabermos! —Chan se adiantou aos demais, falando aquilo que já passava pela mente dos outros faz tempo. —Isso tem haver com Animon, não é? —O asiático a pressionou, acertando em cheio o assunto.

—Só pode! —Glads acusou. —Desde que o jogo entrou sozinho do celular dela ou sei lá, ela vem agindo assim. Sério ta me dando medo, já!

A garota segurou a própria garganta. Como permitiu ser lida assim tão facilmente? Era a história do Jankenpô de novo! De certo que revelar seu pequeno segredo aos os garotos a poderia pô-la em uma enrascada colossal: Entrar dentro de um game... com certeza é um sério problema de saúde mental. Ia acabar tendo de tomar remédios tarja preta o resto da vida!

Não havia mais como esconder além daquilo, mesmo assim a menina não estava disposta entregar o jogo: —DEIXEM PRA LÁ, É DOIDEIRA... —Ela procurou desconversar, arrependida por ter tocado no assunto. —Eu devo estar cansada só isso, não tem com o que vocês se preocuparem.

—Por favor, Salye... Eu... —Lucca decide expor-se, sem se importar com aqueles que também estavam ouvindo. —SENTIR QUE VOCÊ ESTÁ COM ALGUM PROBLEMA E NÃO PODER FAZER NADA, É UMA TORTURA PRA MIM!

Glads, que estava na presença do amigo, olhou-o imediatamente, perplexo. Ele arfava, segurando o peito, como que tentando impedir que este se rompesse e explodisse. Nunca vira o companheiro tão nervoso, pelo menos não desde que vira a morena ser derrubada nas escadarias por Fabí... —Ei, Lucca! Isso é uma...???!!! —Nem mesmo o alto teve coragem de completar a frase, fazendo-o apenas em pensamento.

Confissão?

—Ah cara! —Edu coçava o cabelo espetado, do ouro lado da linha. Mas satisfeito com a postura do colega.

Quanto a Salye, também foi chocante para a jovem ouvir palavras tão firmes, embora a Eterna Desligada não percebesse o que poderia estar nas entrelinhas. De qualquer forma, não era fácil convencer a jovem do que quer que fosse, visto que sua teimosia era lendária, mas se tratando do gordinho, ela sempre amolecia.

De repente, uma barulheira veio se arrastando da cozinha até o dormitório. —SALYE! —A mãe da morena aproximava-se gritando, anunciando a chegada no quarto. —Que zoada é essa aí? —Como se a mesma fosse um poço de silêncio.

—AMANHÃ! —Ela pronunciou com força. Afinal, se existia alguém no mundo que era capaz de entendê-la sem a ver como uma completa maluca, esse alguém era seu querido amigo Lucca. —Amanhã eu vejo vocês na praça, a gente se encontra lá! E ... Lucca... Eu prometo te contar tudo...

—E a gente? Vamos ficar na merda? —Edu e o moreno falaram respectivamente.

—Vocês também, Glads e Chan! Pra vocês também! —Desligando o telefone rapidamente e o pondo debaixo do travesseiro.

A mulher entrou com a panela de sopa de feijão e uma colher do tamanho duma pá. —Com quem você estava falando pra não estar repousando? Eu pensei que você estava doente, porque é isso o que os doentes fazem: re-pou-sar! —A mulher esticou a bochecha da filha com os dedos em forma de alicate.

—A mãe sabe que eu falo sozinha quando eu to com febre. —A menina tentou disfarçar, mais uma vez sem mentir. —Cadê minha colher? Eu vou comer isso aí com esse troço? —Segurando o talher e fazendo cara de nojo (afinal vocês sabem, sopa de feijão, né)...

—Vai comer com isso daí mesmo, você não lavou a louça!

—Nem quando a gente ta doente, nããããm!!! —Disse inflando a bochecha e enfiando a colher inteira na boca.


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Notas finais do capítulo

¹XBox: Certa linha de videogames que escaneia o jogador e põe sua imagem em alguns jogos.

²Char: Seu "Char" no jogo é o personagem que você controla, que você criou com base em seus gostos e estilos. "Char" também é a abreviação de Character, em inglês, que significa personagem.

³Slot: Na área dos jogos, são os espaços que se tem disponível para guardar ou fazer melhorias em algo. Tipo os bolsos da sua mochila, por exemplo.

⁴Hub: é um equipamento que tem a função de interligar vários computadores em uma só rede, distribuindo informações e conexões entre todos os computador nele ligados.


Oi galera boa? Estou começando a colocar fotos nos capítulos. Estou procurando fotos que pareçam o máximo com os meus personagens, mas nem sempre eu encontro. Então se a descrição não parecer muito com a imagem, lembrem-se: as fotos são meramente ilustrativas.



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