Rainha Negra escrita por Anne P


Capítulo 7
Capítulo 7 • A cidadela




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 Após deixar Eleanore  em seu aposento, Alek marchou novamente até a frente da taberna, onde alguns bêbados entornavam suas cervejas e comiam o pão feito naquela manhã.

 Griffith se encontrava encostado em um pilar próximo a entrada do estabelecimento e quando avistou o príncipe, caminhou em sua direção. Queria saber qual seria o próximo passo.

— Reúna nossos homens — o moreno disse prontamente ao ficar frente-a-frente com o comandante. — Vamos para o palácio de Conde Iker.

 Palácio não era a palavra apropriada para descrever a moradia do Conde, mas ainda assim aquela era a maior construção de Barne, se assemelhava muito a um castelo como o da capital em termos arquitetônicos, mas era tão pequeno comparado a este e das outras cidadelas.

 Fergus saiu rapidamente para exercer o pedido de seu príncipe. Enquanto Alek sentou-se em uma mesa em frente a entrada, esperando seus homens aparecerem. Durante o tempo que esperava, uma serva lhe estendeu uma cesta de frutas para que pegasse uma, sem muita vontade pegou uma maçã, pois, estava com fome, mas tinha certeza que a comida daquele local não agradaria seu estômago. Nada naquela cidadela o agradaria.

 Quando avistou seus soldados, andou na direção destes, subindo em seu cavalo em seguida e deixando que Fergus fosse a frente, guiando o grupo em direção ao palácio de Barne.

 Em algum momento durante o percurso, Alek começou a comer sua maçã enquanto olhava os habitantes da cidade.

Todos são imundos!

 Pensará Alek ao ver uma criança brincar ao lado de um balde de frutas podres, sem realmente se importar com o cheiro.

 Para seu alívio – ou não – eles chegaram depressa à entrada do castelo. A construção a sua frente parecia ser a que estava em melhor estado ali, havia uma escadaria de comprimento média e bastante larga em frente à uma grande porta de madeira e ferro; de dois em dois degraus da escada havia um guarda em pé, bem posicionado no extremo desta e três guardas em frente a porta, impedindo a entrada de qualquer um que não tivesse permissão para entrar e de cada lado da escada dispunha um canteiro das flores exóticas de Drokhani.

 Um dos guardas, que estava no começo da escada, andou na direção de Fergus.

— O que querem  no castelo do excelentíssimo Conde Iker, protetor de Barne? — Alek girou os olhos pelo modo que o soldado se referia ao velho prateado.

— Temos um recado da capital para o Conde. — Foi a única coisa que Fergus disse.

— Não estamos informados de nenhum guarda da capital vindo para cá e mesmo que estivéssemos, acho impossível pessoas com tais vestes fazerem parte da guarda. — O guarda deu uma risada nasal olhando divertido para Griffith, que segurou fortemente a rédea de seu cavalo.

— É um recado importante da excelentíssima rainha Aeryn, que seja longo o seu reinado.

— Já lhe disse que não nos foi comunicado nada. Diga-me seu posto e seu superior, talvez eu seja legal e vá conferir se os nomes que me dará realmente existem.

 Foi de repente que um objeto esférico flamejante acertou a cabeça do guarda abusado, queimando seu cabelo e parte da lateral de seu rosto. Ele caiu no chão, berrando de dor ao mesmo tempo que outros dois guardas vinham lhe ajudar.

 As únicas pessoas que viram o que aconteceu, foram os soldados de Alek e os guardas da porta.

 Somente eles que viram Alek usar seu dom para pôr fogo no restante de sua maçã e jogá-la no guarda.

— Perdoem- me por meu atrevimento, mas odeio que me façam esperar. — Lançou um sorriso perverso aos guardas que estavam frente à porta, em contraste com seus frios olhos azuis, os homens  se encolheram.

 Após isso, Fergus não precisou de muitas palavras para convencer os guardas a liberarem sua passagem. Eles estavam com medo de Alek.

 Eles foram guiados para o salão do trono: um grande salão, no qual,  em cima de uma elevação, ficava o trono do Conde e atrás deste uma grande passagem que levava ao jardim particular de Iker, nas paredes se encontravam várias tochas que deixavam o lugar iluminado e embaixo de cada tocha havia uma estátua de cristal.

 Quando o guarda abriu a porta e deu passagem para Alek, Fergus e seus soldados. A primeira imagem que viram foi desconfortável e para Alek, repugnante.

 Lá estava o Conde, sentado em seu trono de cristal com sua camisa  aberta, em seu colo estava uma garota, não uma prateada, e sim uma garota normal de cabelos loiros como o sol, ela beijava Iker e soltava risadas e estava sem a parte de cima do vestido, deixando a mostra os seios medianos que era apertados pelas mãos do Conde, que usava uma luva metálica nas mãos.

 Com um pigarreio do guarda, o Conde e sua acompanhante voltaram sua atenção para a porta.

 A garota não pareceu se importar, sorriu com luxúria ao ver que tinha a atenção de vários homens em seu corpo seminu, provavelmente era uma prostituta. Já o Conde, foi rápido em arrumar a vestimenta e sentar de modo pomposo em seu trono cristalizado, quase derrubando a garota que estava em seu colo.

 Mesmo com os cabelos de Alek pintados, ele saberia muito bem reconhecer outro prateado, ainda mais um que fosse filho de Aeryn. Ele o tendo visto naquela condição não era algo bom.

— Amelie, espere-me em meu quarto. Tenho alguns assuntos a tratar — ordenou tirando a garota de seu colo.

— Sim, meu excelentíssimo senhor — falou a garota de modo luxurioso.

 Antes de descer as escadas, Amelie, tirou o restante de seu vestido ali, ao lado do Conde, com atenção de todos os homens em seu corpo desnudo. Desceu as escadas que levavam ao trono de maneira lenta e abriu ainda mais o sorriso ao passar por Alek antes de se retirar do cômodo.

 O nojo que o príncipe tinha do Conde estava estampado em sua face, numa careta que adulterava sua beleza, mas isso não pareceu incomodar muito Iker.

 O conde acenou com a mão para que o guarda fechasse a porta, mantendo assim a privacidade da conversa. Em seguida, ele desceu de seu trono para mostrar respeito a Alek, o futuro rei. Não se podia conversar com um príncipe olhando-o de cima, era um desrespeito, uma sentença de morte.

 Conde Iker era um senhor velho, em sua cabeça já não havia muitos fios de cabelo, possuía uma longa barba que era amarrada por uma fita. Apesar da idade, possuía um andar pomposo e sabia tratar respeitosamente prateados acima dele, mesmo que eles fossem mais jovens que si.

— Meu príncipe, o que lhe trás a minha cidadela?

— A traidora de Glacis fugiu para a floresta, seguimos seu rastro e vimos que foi atacada por um dragão. Acreditamos que, talvez, ela esteja em Barne — Fergus respondeu no lugar de Alek.

— É impossível ser atacado por um dragão e sobreviver sem que seja alguém da nobreza! — respondeu a Fergus de modo irritado, antes de voltar sua atenção a Alek e falar de maneira calma: — Meu príncipe, creio que deva voltar para a capital e informar nossa rainha, que seja longo o seu reinado, que a traidora está morta e teve o fim que mereceu por se opor contra ela.

— Tenho motivos para acreditar que ela esteja aqui — pronunciou Alek, pela primeira vez. — Quero que seus guardas procurem pela cidadela e tragam-me toda garota que encontrarem com a descrição de Hope Kane, quero todas elas aqui por bem ou por mal  — ordenou, se aproximando minimamente de Iker. — Quero também que mande dois guardas a fronteira de Syrus para vigiar os rebeldes da resistência, quero que eles me informem se a traidora está lá. E, somente se eu não encontrá-la, que irei retornar a Capital. Espero que pela sua lealdade a minha mãe, sua rainha, você cumpra minhas ordens.

 Conde Iker, muito contra gosto, maneou levemente a cabeça em afirmativa e saiu  em passos rápidos a procura de seu comandante, para passar-lhe as ordens.

 Alek continuou em seu lugar, seguiu o Conde com os olhos até ele sumir porta a fora. Fergus jurava pelos quatro deuses, que Alek poderia colocar fogo no Conde a qualquer momento.

 

Rainha Negra

 

 Alek foi chamado a passar o restante da tarde no castelo de Barne, como convidado especial do Conde, ele tinha acesso a todos os lugares do castelo que desejasse e era livre para ordenar o que quisesse.

 Pouco depois de ordenar seus guardas a levarem todas as garotas de olhos claros e cabelos negros ao castelo, o Conde sumirá, deixando Alek livre para andar por sua moradia, avaliando tudo com desgosto iminente.

 O sol estava começando a se pôr, Alek se encontrava no jardim particular de Iker, ele estava sentando em uma mesa de pedra que era rodeada de uma tenda de lenços brancos translúcidos, que ocultavam levemente os raios solares.

 O jardim particular do Conde, aos olhos de Alek, era como um prostíbulo a céu aberto. Havia trilhas de pedras brancas que em suas margens ficavam roseiras bem cuidadas, a grama era de um verde vibrante assim como as árvores repletas de flores e distribuído pelo jardim se encontrava várias tendas como a que Alek estava, algumas com mesas já outras com móveis acolchoados que cabiam mais de duas pessoas deitadas.

 Era para aquele lugar que o Conde levava suas prostitutas e mesmo que isso enjoa-se Alek, ele não podia negar que o lugar em si era agradável.

 Os lenços se mexeram e por entre eles passou Iker, com um semblante sereno e um sorriso contido nos lábios. Ele se sentou frente a Alek, que tomava o chá que havia pedido a uma serva mais cedo.

— Local agradável, não? — perguntou o mais velho a Alek.

— É um jardim encantador, entretanto, o que o Conde faz nele é desprezível, meu estômago se embrulha só de pensar — alfinetou Alek, enquanto bebericava seu chá que já estava no final.

 A semblante calmo de Iker se foi, dando lugar a uma feição contrariada e infeliz.

— Me diga, Conde Iker, o senhor estava fodendo aquela prostituta agora pouco, certo? É a isso que se deve o seu sumiço?? — O príncipe esperou por uma resposta, mas tudo que ganhou foi o olhar irritado de Iker. — O desgosto de vossa esposa foi tanto que ela adoeceu e veio a falecer. Lembro-me quando a notícia chegou à Capital, era um espanto para todos que uma prateada viesse a morrer na flor de sua juventude. — Alek terminou de beber seu chá e colocou a xícara sobre a mesa, agora, dando total atenção para o homem velho a sua frente. — Pobre Conde, sua esposa faleceu de desgosto e seus filhos o abandonaram. Contudo, eu não os  julgo, eu também abandonaria um velho decadente.

 Iker levantou-se de supetão e bateu fortemente o punho sobre a mesa, fazendo a xícara que Alek antes usava deitar-se sob a mesa e rolar até o chão, quebrando-se.

— Tenho um enorme respeito por minha rainha e por vós, meu futuro rei. Contudo, peço que não teste minha paciência — falou rapidamente. Mesmo as palavras sendo de respeito, o Conde estava irritado com Alek. Se ele não pertencesse à nobreza prateada, faria questão de matá-lo por tê-lo desafiado.

 O príncipe levantou-se, arrumou suas vestimentas e encarou Iker com um olhar vitorioso, superior.

 Pegou a blusa do mais velho e puxou em sua direção, para que aproxima-se o rosto do seu e disse ameaçadoramente:

— São lixos como o senhor que mancham nosso legado e acabam com nossa dignidade.

— Não pense que sou o único a fazer isso rapaz — disse enquanto um sorriso pequeno nasceu em seu rosto. — Muitos fazem, contudo, somente eu que deixo meus pecados a mostra, esse velho é um livro aberto, meu príncipe. Você entenderá do que falo quando for sua vez de sentar no trono.

 Alek perdeu seu sorriso vitorioso.

— Não ouse comparar-me a você — vociferou.

 Ele podia sentir o ardor em sua mão livre crescendo conforme sua vontade de destruir o Conde aumentava. Não se controlaria caso o velho falasse mais alguma asneira, iria queimá-lo até que ficasse um corpo carbonizado.

 Foi quando passos rápidos foram ouvidos, não demorou muito para que um guarda abrisse caminho entre os lenços da tenda. Ele arregalou os olhos ao presenciar o posição de ataque de ambos os homens. Deveria proteger seu Conde ou o herdeiro do trono de Drokhani?

 Alek soltou a blusa do Conde e olhou o guarda com toda a raiva que possuía, se não pudesse acabar com um iria acabar com o outro.

— Desculpe-me por interrompê-los, meu Conde, meu Príncipe. — Curvou-se para cada um deles. — Os guardas voltaram, trouxeram cada uma das garotas de Barne com as características da traidora, estão esperando pelos senhores na sala do trono.

 O Conde alisou sua blusa, pondo-a no lugar e Alek pareceu se acalmar com a notícia. Seria agora que descobriria se uma de suas suspeitas estava certa ou não.

 Andavam pelo jardim em direção a sala do trono. O céu estava começando a escurecer e os raios de sol já não eram mais presentes.

 Passaram pela abertura que dava acesso a sala do trono e olharam paras as várias jovens que estavam ali. No piso inferior encontravam-se 7 fileiras de mulheres, todas entre os 19 e 30 anos de idade, das mais diversas profissões e locais de Barne. Algumas choravam baixo, outras pediam clemência por suas vidas e o restante permanência em silêncio, estavam sérias, angustiadas, assustadas e curiosas. O que todas tinham em comum, o cabelo negro como a noite mais escura e os olhos claros.

 Alek desceu as escadas e começou a avaliar mulher por mulher, prestando atenção nos mínimos detalhes de cada face, comparando-as com o retrato da traidora que tinha gravado em sua mente. Conforme achava uma ou outra que lembravam muito a Hope, mandava os guardas tirarem-na de perto das demais, para logo depois continuar a avaliar as restantes.

 Ao final, depois de ter passada pelas 7 fileiras, Alek conseguirá separar 5 garotas que eram extremamente semelhantes a Hope. Parou frente a elas e as analisou de maneira mais profunda, as intimidando.

— Meu príncipe — Fergus disse baixo, ao lado de Alek. — Como pediu, eu ordenei aos guardas para que não incomodassem aquela garota na taberna, mas caso deseje posso trazê-la aqui imediatamente.

— Não — falou firme. — Primeiro, iremos ter certeza com essas aqui, depois iremos averiguar o caso de Eleanore.

 Andou até as mulheres e as analisou, uma por uma, comparando cada mínimo detalhe ao desenho. Anotava em sua mente até os mínimos detalhes das garotas que via.

 Parou especificamente na frente de uma, ela era particularmente muito semelhante a garota do desenho, possuía uma beleza exótica e seu olhar era firme, nada comparado as outras garotas e seus olhares apavorados. Ela não. Ela olhava Alek de frente, encarava com tanta confiança quanto ele.

— Você. Qual é seu nome?

— Garath, meu senhor — respondeu com ironia. Parecia que tudo nela zombava de Alek, da ponta do pé até o último fio de cabelo.

 Alek odiava isso. Gostava de ser temido, respeitado. Queria tirar a zombaria daquele olhar superior lançado a si. Queria pavor. Medo.

— Garath, você está sendo acusada de traição à coroa. Virá comigo até a capital, caso recuse eu tenho permissão da rainha Aeryn para matá-la.

 Ele esperava encontrar completo desespero na face da garota, contudo Garath sorriu.

— Gostaria de saber, meu senhor, do que estou sendo acusada. Afinal, eu vivo aqui em Barne desde meus sete anos e nunca fiz mais do que ajudar na alfaiataria.

— Seu rosto e suas características correspondem a uma traidora da coroa, vinda das fazendas Glacis para Barne. Hope Kane, esse nome soa familiar?

— Nunca ouvi esse nome em toda a minha vida e mais, posso lhe afirmar que vivi minha vida toda em Barne.

— Já basta, levem-na daqui. — Alek sinalizou para dois guardas próximos a porta.

— Espere.

 Dessa vez, quem se manifestará fora um guarda. Ele era jovem e andou com cuidado até Alek, reconhecendo sua autoridade ali.

— Essa mulher não é a que procura.

 Alek virou-se contrariado na direção do guarda. Sentia suas mãos arderem e sua raiva começando a crescer.

— Como não? Está a trair a coroa também?

— Não meu senhor, veja. — O guarda andou até Garath e parou atrás dela. Puxou as mechas de seu cabelo negro para trás, mostrando o lado direito do pescoço branco. — Ela não pode ser a mulher que procuras, não com essa marca.

 Alek olhou bem para a tatuagem negra, ao desviar os olhos das linhas negras e levar até os olhos claros da garota, viu como ela estava irritada, arrisca.

— Pelo que vejo, você não viveu a vida toda em Barne como alega. — O sorriso vitorioso de Alek era enorme, desafiando totalmente a garota. — Contudo, a nossa traidora não é de uma linhagem suja como a sua. Podem tirá-la daqui, ela não nos é útil.

 O guarda que mostrará o pescoço de Garath a arrastou dali pelo braço, ela não fazia muita questão de se mexer. Não com aquele ser sorrindo daquela maneira, ela não era inferior a ninguém para aguentar aquele tipo de sorriso.

 Alek ficou mais um  tempo tentando conectar as outras garotas a Hope, entretanto, nenhuma delas  poderia ser diretamente ligada aos acontecimentos em Glacis. Não poderia deixar uma traidora como Hope livre, não podia levar qualquer uma para a capital e esperar ser  coroado.

 Hope era uma inimiga para sua mãe e os inimigos de sua mãe, eram os seus.

 Após a última garota do salão ser retirada, o príncipe andou até Fergus que estava encostado em uma estátua no canto da parede.

— Parece que minhas suspeitas estão corretas, meu príncipe — começou a dizer o comandante. — Teremos que tomar cuidado, a inocência dela engana.

— Irei me aproximar cautelosamente, e assim que tivermos certeza de que Eleanore é Hope Kane, a levaremos imediatamente a minha mãe.

— Como quiser, meu príncipe.


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Notas finais do capítulo

Garath se pronuncia Garati



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