Rainha Negra escrita por Anne P


Capítulo 8
Capítulo 8 • A garota


Notas iniciais do capítulo

Oi Oi! Sei que se tiver alguém que ainda lê essa história, você deve ta doido pra ir direto para o capítulo, mas lê aqui as notas iniciais ^^
Eu queria me desculpar com vocês, leitores dessa minha long, que eu tanto deixei de lado. Eu podia vir aqui e inventar um monte de desculpas pela minha demora, mas vou ser sincera mesmo, ao longo do ano passado eu passei por uma pressão enorme tanto em casa como na escola (famoso terceirão que ta td mundo louco por causa de vestibular) e isso resultou em uma crise existencial fudida e uma falta de criatividade horrível. Ganhei um notebook novo da minha vó em Setembro, e ela me deu justamente pq eu vivia falando q queria um novo pra escrever e quando ganhei... o desanimo tava tanto q fiquei um mês sem ligar ele direito. Então eu peço desculpas de coração, por favor não desistam de mim nem dessa história. Se eu sumir dnv, vcs podem ir cvs cmg no facebook: https://www.facebook.com/anne.senju.3
Pode vir tirar duvidas da história, puxa a orelha e etc.
Agr vamos pro cap.
ATENÇÃO, NÃO FOI BETADO



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AVISO: nesse capítulo há um trecho que fala de tentativa de abuso!

  O céu ainda se encontrava razoavelmente escuro, no horizonte os primeiros raios de sol surgiam entre as construções de Barne e planando sobre o ar, revoadas de pássaros saíam de seus esconderijos noturnos.

  Hope já se encontrava nas ruas da cidadela naquele horário, cumprindo o acordo que havia feito a Alek no dia anterior. Estava à procura de seu primo, Hector.

  Era ilusório manter as esperanças de encontrá-lo naquele lugar, contudo, saber que Barne era muito menor que a Capital já lhe dava alguma expectativa. Mesmo que fosse mínima.

  Não negava que seria muito mais rápida e eficiente sua procura caso tivesse ajuda, pensava nisso desde que pusera os pés pra fora da taberna. Porém, se negava a pedir ajuda a Alek e aos homens que estavam junto a ele. Já tinham lhe ajudado mais do que deviam: lhe resgataram, deram um quarto e uma cama – razoavelmente – confortável, compraram para si um vestido e garantiram seu alimento, para que não passasse fome. Estava imensamente agradecida a generosidade que lhe foi dada, estava em dívida com aquelas pessoas. Não podia os incomodar mais.

  Ajeitou a saia do vestido para que não esfregasse muito no chão sujo do caminho estreito que seguia. Tentava se manter atenta para não se perder na volta para a taberna.

  Olhou para o céu rapidamente e viu aos poucos, o azul escuro se tornar mais claro, lembrava-lhe dos olhos azuis de Alek.

  A última vez que o viu ele aparentava estar totalmente irado, o completo oposto do que estava antes. Estava a pouco tempo em sua companhia e já sentia que tudo que envolvesse o moreno era intenso. A bipolaridade de Alek era algo interessante aos seus olhos. Se não fosse os acontecimentos das últimas 72 horas, podia se dar ao luxo de observá-lo um pouco mais, saber mais sobre ele e sobre sua história. Mas, o pesadelo da noite passada junto das lembranças de terror envolvendo a fera alada, lhe lembravam que não usufruía de tal luxo.

  Hope se sentia uma casca vazia cujo único estímulo era a sobrevivência. A pele estava mais pálida que antes, seus olhos possuíam bolsas negras devido às noites mal dormidas e os lábios estavam rachados.

  A única família que lhe restou foi Hector, contudo assim que o encontrasse teria de partir, para assim protegê-lo do azar que era estar em sua companhia. Pois, era isso que Hope era, um mau agouro que trazia morte e desgraça para aqueles que amava. Pensar nisso a fazia ter vontade de chorar, contudo suas lágrimas já haviam secado.

  Continuou a andar pelas ruas estreitas a procura de algum lugar que pudesse obter informações de Hector, lembrava-se que a última notícia que tivera do primo era que ele estava a trabalhar com um marceneiro, cortando árvores e o ajudando a fazer móveis.

  Aos poucos um sentimento estranho lhe apossou, sentia que estava sendo seguida. Olhou para trás e viu uma mulher com uma cesta em mãos, não era possível que estivesse sendo seguida. Deve ser coisa de minha cabeça, estou assustada de estar em Barne sozinha, pensou Hope.

  Chegou a uma rua mais larga, com bastante movimentação para aquela hora do dia. Tropeçou em algumas pessoas, foi empurrada por crianças e recebeu alguns xingamentos e ofensas por estar tão estabanada.

  Levou um longo tempo até conseguir a informação de que havia cinco marceneiros em Barne, sorriu ao conseguir a localização de dois deles com uma senhora de cabelos cinzas pela idade.

  O primeiro havia sido mais fácil de achar, a construção simples de madeira e tijolos se destacava entre as grandes construções de padarias e casas de carne. Deu ao homem parrudo a descrição de seu primo, perguntou a ele se conhecia Hector, se ele era seu ajudante. Mas, a única resposta que obtivera foi um ruidoso e grosso não.

  O segundo, ficava próximo a varias cabanas de comida. O homem que a recebeu era mais magro comparado ao outro, olhou para si com desejo e tentou mais de uma vez toca-la enquanto fazia perguntas.

  Por fim, a resposta que obtivera dele foi:

            — Nenhum Hector vindo de Glacis trabalha para mim. Entretanto, se me der algo em troca... posso apresentar-lhe a senhorita alguém que pode achá-lo em um dia.

            — Não tenho nada que possa dar em troca de seu favor, senhor.

  Hope achava estranho como ele aproximava de si, a cada passo que ele dava em sua direção ela recuava dois em direção a saída.

            — Tenho uma opinião divergente da senhorita, tens algo muito útil a dar-me.

  O homem esticou sua mão em direção a saia de seu vestido, Hope paralisou com o medo ao constatar ao que ele se referia. Contudo, em um súbito ataque de pânico misturado à adrenalina, Hope saiu correndo daquela construção. Esbarrou em diversas pessoas, sempre correndo sem parar ou olhar para trás.

  Quando finalmente não aguentou dar mais um passo, parou. Encostou-se em um muro e colocou pra fora o que restou do seu café da manhã. Ao limpar sua boca, percebeu que suas mãos estavam tremulas assim como suas pernas.

  Só percebeu que o muro que se encostava era a lateral de uma padaria quando escutou gritos e xingamentos em sua direção. O padeiro havia saído da loja, estava vermelho de fúria e xingava alto, chamando a atenção de todos que estavam nas redondezas. Hope fechou os olhos quando o viu pegar um pedaço de madeira e andar em sua direção.

  Não tinha voz pra implorar ou lagrimas para chorar, tudo que podia fazer era fechar os olhos e aguardar o fim da sua humilhação.

  Contudo, a humilhação nunca veio.

  Abriu os olhos vagarosamente e logo os arregalou. Bem a sua frente havia uma pessoa, mas especificamente uma mulher, que segurava com firmeza o braço do homem que iria atacá-la.

            — O que pensa que vais fazer com essa jovem?

            — Tu de novo, garota imunda? Cuide de seus negócios e deixa-me administrar os meus! — O homem puxou o braço de forma bruta, sua face estava contorcida em nojo e raiva. Hope não sabia se agradecia ou se estremecia com a possibilidade de trazer problemas a outra pessoa, novamente estava trazendo desgraça consigo para outra pessoa. — Essa prostituta sem modos, sujou a parede e a lateral de minha loja! Merece um corretivo! Uma humilhação em frente a todos, para que aprenda a ter boas maneiras! Ainda terá de limpar com suas roupas, pois eu não irei utilizar da minha água para limpar essa sujeirada.

  O homem, gritava frente ao rosto da garota desconhecida, lançando a ela a raiva e o desgosto que foi causado por Hope. A multidão que se formava ao redor dos três, em sua maioria, balançava a cabeça em concordância com as falas do padeiro.

  Contudo, a jovem desconhecida estava acostumada a lidar com esse tipo de pessoa, bastava ser um pouco mais conhecido em sua ocupação e a nobreza subia totalmente a cabeça. Ela estava enojada, um simples plebeu achava-se tão importante se nem era um prateado.

            — Tens vários funcionários em sua cozinha, um deles não se importaria de fazer o trabalho sujo pelo senhor. Deixe a moça, ela está assustada e doente. Veja a palidez em seu rosto, provavelmente é algo contagioso... o senhor não gostaria de tê-la tão perto de seu estabelecimento, e se um de seus clientes pegam uma doença!? Acabaria com os elogios que o senhor recebe e seu negócio encerraria — falou com uma preocupação fingida, estava claro como o dia que suas falas eram de zombaria.

  O senhor queria revidar, estapear a face daquela intrometida por estar rindo de sua raiva, entretanto, ele olhou ao redor e entre a multidão já se formava os sussurros. Se questionando se deveriam continuar a comprar em sua loja, se ficariam doentes como a outra.

  Ele não pode fazer muito, a maldita havia colocado uma pulga atrás da orelha em seus clientes. Se mantivesse a outra por perto, para humilha-la e subjuga-la, criaria rumores que sua comida estava contaminada por doenças.

  Olhou com raiva da jovem em pé para Hope no chão.

            — Vai embora e não volte! Criatura imunda! — Virou-se e voltou para a padaria, onde todos os outros funcionários estavam na porta, olhando o que se passava. — Você! — Apontou para um dentre os outros. — Limpe isso, agora! Quero essa parede mais limpa que nossa cozinha, caso o contrário, não volte a aparecer na minha frente!

  A multidão se dissipou – tomando cuidado para não se aproximar de Hope. A jovem garota de Glacis estava estática no chão, um misto de sentimentos se misturava em seu amago. O desespero e o medo do acontecimento de antes junto a este novo, faziam sua cabeça girar.

  Com o olhar desfocado, olhava para a entrada da padaria onde o senhor havia entrado, e só depois de alguns segundos que a consciência pareceu voltar a si, reparando então na garota que havia a defendido. Ela ainda estava ali, ao seu lado.

            — Você está bem? Eu menti sobre sua doença, mas se estiver realmente mal eu posso leva-la a uma curandeira.

            — Não, eu... eu estou bem... só preciso de um tempo para me recuperar do choque... e de algo para colocar na barriga. — Se sentia tão fraca ao falar, precisava parar e puxar o ar a cada frase que dizia.

  A jovem pegou Hope pela mão e ajudou-a a levantar, colocou um braço ao redor da cintura da garota fragilizada e guiou-a pelas ruas de Barne, até que estivessem bem longe daquele local desagradável.

  Quando estavam próximas a uma praça repleta de tendas de alimentos, a garota desconhecida colocou Hope sentada no degrau de uma casa, disse um “volto logo” e foi em direção a uma tenda de frutas.

  Mesmo estando um tanto zonza, Hope focou por um momento naquela garota que conversava animada com o vendedor da tenda, parando para analisa-la somente naquele instante. Não desviou o olhar por nada, precisava ter certeza que aquela garota não faria mal a si.

  Ela possuía um cabelo quase tão negro quanto o seu próprio e ele era poucos dedos menor do que o seu era antigamente, ele estava jogado para a direita, enquanto a esquerda possuía vária tranças de diferentes tamanhos. Sua pele era pálida como a de Hope, contudo, mais saudável, mais rosada e os olhos eram uma mistura de verde com azul. Ela vestia vestes estranhas aos olhos de Hope, ela usava calças. Calça marrom, que assentava com as botas de mesma cor. Na parte superior usava uma blusa branca de linho, com mangas compridas que estavam um pouco desgastadas próximo as mãos, por cima da blusa estava uma jaqueta de couro marrom sem mangas, que se assemelhava a um vestido, contudo, parava na metade das coxas.

  Aquela garota se vestia de maneira tão descontraída quanto ela mesma parecia ser.

  Ela se afastou da tenda e voltou até Hope, ainda sorria igual quando conversava com o vendedor, seu sorriso era traiçoeiro e sapeca, como de uma criança levada.

            — Espero que goste. — Estendeu a Hope três frutas: um caqui, uma banana e uma maçã.

            — Obrigado.

  Pegou as frutas e comeu a primeira devagar, testando se seu estomago aceitaria aquele alimento, não sentindo enjoo nem tontura, comeu as outras duas tão rápido quanto pode.

            — Aqui. — Estendeu um cantil a Hope, que hesitou antes de pegar. — Pode pegar, é água. — Tomou um gole e voltou a estender o cantil para Hope, que, dessa vez, pegou sem hesitar.

            — Se sente melhor? — Hope balançou a cabeça em concordância. — Que bom. Meu nome é Garath, e o seu?

            — Ho-Eleanore. Obrigado por me ajudar com aquele senhor e por me dar comida Garath, muito obrigado. Estou eternamente grata. — Curvou a cabeça em agradecimento.

            — Não seja para tanto, ele é uma pessoa horrível que só agrada aqueles que lhe pagam bem. Mas, você também escolheu um péssimo lugar para fazer aquilo, passou a noite toda bebendo em uma taberna? — perguntou interessada, ela novamente sorria com zombaria, de modo sapeca.

            — N-não... eu... esbarrei com um cara rude que tentou levantar minha saia, fiquei extremamente enojada.

  O sorriso de Garath deu lugar a uma expressão de confusão e raiva.

            — Como isso aconteceu?

            — Estou a procurar meu primo, Hector. Ele trabalha como ajudante de marceneiro, contudo não sei qual. Estava verificando com um dos marceneiros de Barne quando... ele sugeriu que eu fizesse algo com ele, em troca de me apresentar alguém que acharia meu primo.

            — Hm, acho que conheço a pessoa que ele se referia. Mas, pelo que conheço dele, ele não te ajudaria sem ganhar nada em troca. Ainda bem que recusou aquele desgraçado, caso contrário, teria de fazer algo pior com outra pessoa, para assim conseguir as respostas que deseja.

  Hope concordou com desanimo, somente de se lembrar daquele homem seus pelos se arrepiavam e sua mão voltava a tremer. Devolveu o cantil que ainda tinha em mãos, com medo de derramar o restante da água que havia sobrado.

            — Você sabe que há cinco marceneiros em Barne? — perguntou, mostrando os cinco dedos da mão para enfatizar sua pergunta.

            — Sim. Visitei dois deles, nenhum tinha noticias de Hector. Preciso encontrar os outros três.

            — Posso te ajudar com os outros três, mas em troca... quero esse colar. — Apontou para o colar no pescoço de Hope, mordendo o lábio inferior em travessura.

  Instantaneamente, Hope cobriu o colar com as mãos, como se assim conseguisse esconde-lo do olhar predatório de Garath.

            — Sinto muito, mas não posso te dar esse colar, é a única coisa que restou dos meus pais.

  Por mais que estivesse com medo de continuar sozinha, Hope se recusava a dar aquele colar a Garath. Estava a se levantar, iria procurar informação sobre os marceneiros com algum vendedor das tendas, entretanto, Garath segurou-a pelo antebraço, impedindo-a de ir até a praça de tendas.

            — Tudo bem, eu entendo que é algo precioso da sua família. Então, irei te ajudar mesmo que não receba nada em troca. Do jeito que é pequenina e delicada, irão tentar levantar sua saia novamente.

  Hope agradeceu a Garath durante todo o caminho. Pela primeira vez naquele dia, teve esperanças de finalmente encontrar Hector.

Rainha Negra

  Estava no final do dia, o dia ensolarado dava lugar a noite escura e fria. Isso deixava Hope ansiosa, a noite deixava-a ansiosa.

  Ela e Garath haviam visitado mais dois marceneiros durante a tarde e estavam indo de encontro ao quinto e último marceneiro que trabalhava na cidadela, seria agora que encontraria Hector? A ansiedade fazia seu estomago revirar de euforia e expectativa.

  Garath havia lhe contado que este marceneiro era o mais caro e nobre, fazia moveis para o palácio do Conde e para os comerciantes mais ricos. Ele possuía inúmeros ajudantes, então provavelmente seu primo estaria trabalhando lá.

  Pensar em Hector trabalhando com alguém importante deixava-a tão orgulhosa.

  Garath parou abruptamente e apontou uma construção para a jovem, maior do que as outras que havia visitado, o estabelecimento do quinto marceneiro ficava próxima ao palácio.

  Hope andou confiante até lá, entrou e procurou pelo chefe em meio a tantas pessoas trabalhando. Contou-lhe sobre Hector, o descreveu e perguntou se ele se encontrava ali.

  Seu sorriso e sua confiança foram ladeira abaixo ao descobrir que o marceneiro conhecia Hector, ele havia ido lá pedir emprego, contudo nunca o contratou. Hector nunca havia trabalhado ali. O marceneiro lembrava-se dele, ele estava desesperado por uma ocupação, dizia que não comia a dias e que não se importava de fazer o pior trabalho que ele tinha, contudo, com sua fama aquele marceneiro não podia dar trabalho a alguém sem experiencia, arruinaria suas vendas. Depois disso, nunca mais havia visto Hector.

  Hope saiu da construção desolada. Pelos Deuses, onde está Hector? Pensava enquanto andava até Garath que esperava ao lado da entrada.

  Não precisou dizer uma palavra, a jovem espontânea sabia que Hope não havia encontrado a pessoa que desejava. Sentiu pena dela, parecia ainda mais pequenina e frágil com os ombros caídos e face para baixo.

            — Venha, vamos comer algo. Você não comeu nada após as frutas, andamos muito, precisa de mais energia.

  Novamente, Hope foi guiada por ela pelas ruas de Barne, que pareciam tão assustadoras após o entardecer.

  Pararam nos fundos de uma padaria, contudo, essa não parecia tão presunçosa quanto a outra e nem estava bem cuidada, era possível ver os ratos na rua que poderiam entrar facilmente na cozinha. Garath a deixou naquele beco escuro e entrou no estabelecimento pelos fundos, não levou nem meio minuto até voltar com quatro pães em mãos e o cantil de água cheio.

  Deu dois para Hope. Ela olhou um pouco para o alimento antes de comer com desanimo. O pão era velho e duro, sabor estava azedo e descia seco na garganta, mas ela não reclamou, estava grata por Garath estar a alimentando – novamente.

            — Pergunto-me se Hector está bem. O marceneiro disse que ele pedia trabalho, dizendo que não comia a dias e ele parecia fraco. — O olhar de Hope era vago, olhando para a imensidão escura que seguia por aquela rua.

            — Não sei de onde você e seu primo são, mas... ele não está acostumado a Barne. Sem-teto de Barne ficam quase semanas sem comer, com sorte acham alguém que lhe dão um pão velho e deixam beber um pouco de água.

            — Como podem sobreviver sem comida? — perguntou atordoada.

            — Não sobrevivem. São poucos que duram muito tempo assim, por isso durante o dia todo andando, tu não viste nenhum.

            — Achas que Hector está morto? — perguntou em um fio de voz.

            — Se mesmo com fome ele ainda procurava por trabalho, possivelmente não. Tem muitos empregos sujos que pessoas normais não aceitam, sobra assim para os desesperados. Pessoas com fome procuram comida, não trabalho. Se teu primo foi insistente o suficiente, ele ainda esta vivo em algum lugar de Barne.

  Mesmo a resposta não lhe confortando, Hope se sentia melhor sabendo que havia chances de o primo estar vivo em vez de morto, mesmo que isso significasse nunca o encontrar.

            — Sabes voltar para sua casa daqui? — Hope pensou na taberna que dormiu na noite passada, balançou a cabeça negativamente. — Pois bem, vou te acompanhar até o lugar que nos conhecemos, de lá você me guia até sua casa.

  Estava incerta se conseguiria lembrar o caminho de volta a partir daquele ponto, mas acenou positivamente. Garath conhecia tão bem a cidadela, com ela por perto nunca se perderiam.

  As ruas daquela parte de Barne eram muito escuras, nem mesmo a luz da lua iluminava o caminho que andavam. Muitas vezes, Hope pisou em algo escorregadio que não sabia ao certo o que era.

  Depois de alguns caminhos estreitos e sinuosos, as ruas ficaram um pouco mais iluminadas devido as tabernas próximas, ainda estava escuro, mas a luz que emanava dos estabelecimentos a ajudava identificar o caminho que pisava.

  Estava a passar por uma rua mais estreita quando se foi ouvido vozes. Mais a frente havia um grupo de seis pessoas, estavam sentadas ao redor de uma mesa velha e redonda que ficava nos fundos de uma taberna, no centro desta havia três grandes velas que iluminavam parcialmente seus rostos e distribuída por ela havia várias garrafas de bebida. Eles estavam relativamente escondidos por uma montanha de moveis velhos, jogados de qualquer maneira na rua.

  Garath aconselhou a Hope que andasse rápido e sem olhar para o rosto de nenhum deles, entretanto, Hope era demasiadamente curiosa e não resistiu a olhar para eles enquanto ainda estava escondida atrás da montanha de moveis.

  Arregalou os olhos ao reconhecer em meio aos outros o rosto de seu primo, Hector.

  Ao perceber que Hope havia parado atrás da pilha de objetos, Garath foi até ela e tentou puxa-la pelo braço para prosseguir, mas Hope se manteve firme no lugar, com os olhos presos a figura parcialmente iluminada do primo.

            — É meu primo. Aquele é Hector. — sussurrou para Garath, que passou a prestar atenção na conversa dos outros, assim como Hope. —  Tenho que falar com ele.

  Contudo, Garath a segurou.

            — Espere um momento.

  As duas se puseram a escutar o assunto, era um grupo de quatro homens e duas mulheres, entre eles estava Hector, sentado descontraidamente com uma garrafa de bebida em mãos, ele sorria e conversava, mas não parecia ser o mesmo Hector que Hope conhecera, estava diferente, mais sombrio. Seu cabelo estava mais comprido do que antes, e havia uma cicatriz no pescoço.

            — Pois bem, pois bem. Então eu disse a ela, “Você duvida do meu trabalho, mulher ingrata?”, foi quando se encolheu toda com o rabo entre as pernas, só da o corretivo uma vez que ela nunca esquece — falou um dos homens, ele tinha uma mulher sentada em seu colo que ria de suas falas enroladas assim como os outros.

            — Por que te casaste com ela então? Reclama de sua beleza, reclama de sua comida, reclama do seu corpo e de sua fala. — Quem perguntou foi Hector, que sorria mesmo estando com um semblante sério.

            — Dinheiro, sua família és muito rica. Descendente de senhores feudais, eu tinha uma boa vida garantida, já me via esbanjando riqueza como a rainha. — Riu alto, derramando um pouco da cerveja que levava aos lábios. — Só no dia do casamento me deram uma bolsa com cinco rubbins, me senti nos céus. Mas, aquela vadia louca mentiu para mim! Ela e sua família. São primos distantes de senhores feudais, seus pais são meros comerciantes, quase não tem dinheiro.

            — Que triste história — comentou com ironia, o rapaz ao lado de Hector.

            — Realmente, parece que ela te enganou, amigo. — Hector se levantou e fez um sinal com os dedos, a garota sentada no colo do outro saiu. — Mas, acho que ela e sua família já estão fartos de você e sua humilhação.

            — Deveriam se sentir horados de eu não a humilhar em praça publica — falou novamente o homem, que levou novamente a garrafa aos lábios.

            — A informarei disso quando for receber meu pagamento.

  Assim que Hector terminou de falar, surgiu a faca em sua mão, afiada e rápida. Cortou a garganta daquele bêbado de uma extremidade a outra. Ele abriu a boca em choque sem conseguir pronunciar uma palavra, a garrafa em sua mão caiu no chão se quebrando e antes de enfim deixar essa vida, ainda pode entender as últimas palavras de seu assassino.

            — Com os cumprimentos de sua esposa.

  Quis gritar, mas não conseguiu. A única coisa que deixou seus lábios fora sangue. Até que finalmente o corpo tombou para frente e caiu falecido.

  Hector, sentou-se novamente no lugar de antes, agora com a mulher em seu colo. Ele e os outros ao redor riam como se tivessem visto a maior piada já contada, não era para menos, cara do sujeito antes de morrer havia sido hilária para eles.

  Hope estava mais pálida do que era naturalmente, de um jeito quase fúnebre. A risada de Hector entrava pelos seus ouvidos e faziam sua cabeça girar.

  Seu primo havia matado aquele homem. Seu Hector era um assassino! Como ele havia se transformado nisso? Ela ainda se lembrava dele correndo pela floresta com June, brincando de esconde-esconde com ela, trocando sorrisos bobos com uma garota de Glacis. Como aquele Hector havia se transformado naquilo?

  E havia sangue, tanto sangue! No chão, no corpo caído, na mesa, na mão de Hector, nas roupas de Hector. O vermelho estava negro devido a falta de luz, tão negro quanto a alma de seu primo.

  O que sua tia diria se o visse assim?

  Hope iria desmaiar, estava em pânico novamente e Garath percebeu. A jovem já tinha se esquecido da presença de sua acompanhante depois de tudo que havia visto, se deu conta novamente quando Garath a puxou de volta para o caminho que fizeram.

  Hope não se opôs a ser puxada contra a sua vontade, pois a única coisa que tinha em mente, era que seu primo é um assassino.

Rainha Negra

  Griffith abriu a porta do aposento de Alek e ela entrou.

  Alek estava sentado de frente para uma mesa, nela havia duas cartas. Uma para Faye e outra para sua mãe. A para Faye já estava pronta, entretanto ainda escrevia a que seria entrega a rainha.

  Ela era loira e de estatura mediana, seu rosto redondo era emoldurado pelos grossos cachos loiros, sua vestimenta simples e em mãos tinha uma cesta.

  Andou em passos cuidadosos até ele e se pôs de joelhos em sua frente. Ela não sabia quem ele era e qual era seu nome, contudo, sabia que era alguém importante, afinal estava te pagando tanto para fazer tão pouco.

            — Fez o que lhe pedi? — perguntou com sua voz de superioridade sem tirar os olhos do papel de carta.

            — Sim, meu senhor. — A resposta chamou a atenção de Alek, fazendo o olhar para ela pela primeira vez.

            — Então me diga, por onde andaste Eleanore? Por favor, seja detalhista...


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Notas finais do capítulo

O cap passado eu postei correndo pq tava no computador do meu namorado (e meu cunhado quer me matar sempre q tiro ele do LOL kkkkk) e nem tive tempo de agradecer, muito obrigado Alicechan pela recomendação, fiquei muito feliz!! Ela q me deu forças pra começar a escrever o começo desse cap ❤❤❤
Bem galerinha é isso, prox cap n vai demora dessa vez, eu juro. Qualquer coisa, só me manda msg lá no face!
Beijão



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