Rainha Negra escrita por Anne P


Capítulo 6
Capítulo 6 • A sala das estátuas


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal,
Feliz Natal (atrasado) e Feliz Ano Novo!!
Espero que não tenham desistido de mim ♥
Boa leitura!
PS: Os capítulos ficarão por um tempo sem imagem, devido ao meu notebook que quebrou, de novo.
—----
Betado por
kellycavalcanti (ID: 567863)



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Já devia ser por volta das duas e meia da tarde quando Hope – Eleanore – chegou a Barne, com Alek e seu grupo.

 A garota só tinha estado em Barne duas vezes, e a última delas havia sido dois anos atrás, então ela mal se lembrava da pequena cidadela.

 Ela olhou para a cidade observando seus detalhes, as ruas estreitas, pelas quais  passavam várias pessoas; a maioria a pé, algumas montadas a cavalo e poucas estavam de carroça. As grandes e velhas construções já não estavam em seu melhor estado, e aparentavam que iriam ruir a qualquer momento. Barne era uma cidadela suja e em destroços, era de se esperar que ninguém que more na capital se lembre de sua existência ou das pessoas que viviam ali.

 Já para Alek, aquela era sua primeira vez na cidadela, era evidente a cara de desânimo e desagrado do príncipe, ele fazia várias caretas ao olhar cada canto do local, sem dúvidas Barne, comparada a capital, parecia mais um chiqueiro, no qual seu povo eram os porcos.

 Próximos ao centro de Barne, onde o tumulto era menor e as ruas mais largas – contudo ainda incrivelmente estreitas – Alek desceu de seu cavalo e andou em direção a Hope, que estava montada no animal de Fergus junto a ele.

 Ele estendeu uma mão em direção à Hope para auxiliá-la no desmonte, ela aceitou a mão do rapaz, mas considerando o fato de que a garota nunca havia descido de um cavalo em que tivesse outra pessoa montada, ela precisou pôr a outra mão no ombro de Alek para não cair.

 Sendo assim, ela desceu, desajeitada, segurando fortemente o ombro do homem  a sua frente.

 Alek não gostou do contato, queria tirar a mão da garota de seu ombro, mas quando olhou nos olhos a sua frente ficou intrigado, aquele azul profundo novamente o fazia lembrar de algo familiar.

 A garota olhou no fundo dos olhos cinzas de Alek e sorriu de leve, estava imensamente agradecida por ele a ter levado para Barne, Hope estava tão desesperada que não pensou na hipótese daqueles homens a fazerem mal, e graças aos deuses ela teve a sorte de encontrar alguém que realmente a levasse para lá sem tentar nada.

— Te trouxe a Barne como prometi — disse ao se afastar da garota, tirando a mão dela de seu ombro sem muita delicadeza.

— Sou muito grata ao senhor por isso, muitíssimo obrigado. — Hope se curvou levemente em agradecimento.

— Onde pretende ficar Eleanore? — perguntou casualmente, sem muito interesse pela resposta da garota.

 Foi então que os olhos Hope deram um “salto” e a garota pôs a mão frente aos lábios, se lembrando de algo muito importante. Pretendia ir até Hector pedir ajuda, contudo não sabia onde o encontrar.

 Mesmo que Barne fosse pequena comparada a capital e Hope procure pelo primo, ela nunca o encontraria antes do anoitecer, com sorte, talvez o encontrasse antes do entardecer do dia seguinte, mas não antes disso.

 Hope olhou perdida para Alek, que ficou curioso com a reação da jovem.

— Na-não tenho lugar pa-para ficar — gaguejou contra a sua vontade, mostrando sua aflição.

 Alek observou a garota dos pés a cabeça, era a segunda vez que a via desesperada naquele dia, ela estava a dar um imenso trabalho a ele.

— Pretendia vir a Barne e nem sabia onde ficaria? — questionou com voz firme e um pingo de ironia, a fazendo se encolher e segurar mais fortemente a manta que ainda tinha sobre os ombros.

— Pre-Pretendia ficar com meu primo. — Hope fez uma leve pausa, para pensar em outra mentira que disfarça-se sua tolice de não saber como encontrar o primo. — Mas quando os saqueadores me atacaram pegaram a maior parte dos meus pertences, isso inclui o papel que dizia onde encontrá-lo — falou rapidamente enquanto olhava para o chão.

 Ela mordeu o lábio inferior e olhou para cima encontrando os olhos cinzas do jovem, o que fez com ficasse ainda mais nervosa.

 Alek girou os olhos e passou uma mão na testa, ele não deveria se importar, ela é só uma camponesa que irá atrasar seu dever, ela não é importante. Entretanto, aquele maldito sentimento, aquela afeição que só sentia por sua família, estava se manifestando por causa dela. Era frustrante!

 Ele não sabia o que era isso, acreditava de que, talvez, essa fosse a compaixão de que todos pediam, antes de sua mãe matá-los.

 O jovem sabia que provavelmente se arrependeria, mesmo assim o fez.

— Pode ficar com a gente. — Evitou olhar para a garota enquanto falava, seus olhos estavam perdidos no céu. — Mas só até que encontre seu primo e espero que seja o mais rápido possível.

 Ela soltou o ar com força e deu um sorriso enorme, suficiente para mostrar seus dentes, estava extremamente aliviada e feliz, tinha certeza que teria que dormir ao relento.

— Muitíssimo obrigado, Senhor Alek. — se curvou agradecendo.

— Por favor, pare de me chamar assim. Me sinto tão velho quanto meu pai — reclamou, enquanto ainda olhava para o céu, se recusando a olhar para os olhos azuis de Hope.

— Sinto muito... Alek.

 Um leve pigarro se fez ouvir atrás de Alek, chamando atenção dos jovens. Ambos olharam para trás, os dois pares de olhos encontram Griffith, ele tinha semblante sério.

— Meu senhor, gostaria de falar com você em particular. Se me permite?

— Claro, mas antes. Thomas, vá a frente e procure um vestido novo para dama, o dela encontra-se rasgado. Sabe onde nos encontrar depois— falou ao homem, que assentiu e foi a procura de algo para Hope.

 Alek seguiu Fergus, até que ele parasse a alguns passos de distância de Hope e dos outros. O espaço entre eles era curto, contudo o barulho de Barne permitia que a garota não escutasse sua conversa.

— Está ficando louco? Trazer essa garota com a gente só irá atrapalhar! — Fergus falou em alto e bom som fazendo com que algumas pessoas que passassem olhassem para ele, era quase possível que Hope tivesse escutado.

 Seu tom de voz, fez Alek se irritar, fechando a mão em punho enquanto se aproximava de Griffith.

— Tome cuidado quando falar comigo — pontuo num tom  baixo e aproximando do rosto de Fergus de modo ameaçador. —  Lembre-se que ainda sou seu futuro rei, e você é facilmente substituível.

 Ele olhou abismado para Alek e abaixou os ombros juntamente com seu olhar, que começou a encarar o chão.

— Só quero dizer, meu senhor, é que a garota pode nos atrasar, entendo que queira se divertir, ela é bonita, mas…

 Alek o cortou.

— Não quero uma diversão, tenho minha futura rainha e sou fiel a ela. Não sou imundo como o Conde.

— Mas, meu senhor, essa garota…

— Ela ficará conosco por poucos dias, não saberá de nada e não atrapalhará em nada.

 Fergus estava sem argumentos, não mudaria a escolha de um prateado. Se dando conta disso, balançou – contragosto – a cabeça em concordância.

 Alek saiu andando e foi de encontro a Hope que estava a passar a mão na cabeça de seu cavalo distraidamente, com um olhar triste e perdido. A morena não podia deixar de se lembrar de June enquanto passava os dedos pela crina branca do cavalo.

— Eleanore — Alek a chamou quando parou a alguns passos de distância de Hope, entretanto, a garota estava tão perdida em seus pensamentos que não chegou a notar sua presença. — Eleanore. — tentou novamente, sendo novamente ignorado.

 Alek, frustrado, tocou fortemente o ombro da garota a fazendo dar um salto e o olhar assustada.

Hope levou a mão ao peito tentando se acalmar do susto, ela ainda não estava acostumada a ser chamada pelo nome da sua falecida mãe.

— Monte no cavalo de Griffith, estamos indo para uma taberna — Falou, ainda frustrado com a garota.

 Alek montou em seu cavalo enquanto Hope apenas assentiu com a cabeça, antes de sair de perto do animal.

 Ele seguiu até os outros homens, dando-lhes a ordem de levá-los a uma das melhores tabernas da cidadela. Já a garota ficou ao lado do cavalo de Griffith, esperando que ele montasse para que ela fizesse o mesmo.

 O comandante passou por Hope com a cara fechada, o jovem príncipe estava tomando atitudes insolentes e ele não podia fazer nada sem ser ameaçado. Ele culpava a garota, era tudo culpa da garota que, por sinal, não deveria estar ali.

 Ele subiu em seu cavalo sendo seguido por Hope, que tentou manter o máximo de distância possível de Fergus, ela sabia que ele não gostava dela e ela também não gostava do jeito que ele a olhava.

 Griffith guiou seu cavalo para seguir Alek, que já estava mais a frente, pensando em como a garota atrás de si parecia vagamente com a que eles estavam procurando.

 

Rainha Negra

 

 Quando chegaram a taberna, Alek pagou um quarto para si e outro para Hope, a morena chegou a perguntar a ele onde seus amigos ficariam, Alek apenas deu uma risada ácida e respondeu que eles não eram seus amigos. Ela então percebeu que ele estava levemente irritado.

 Enquanto a senhora de cabeleira loira os levava para seus respectivos quartos, ele lhe deu ordens de maneira mais ácida ainda.

— Não saía do quarto durante a noite, a menos que queira ser estuprada por algum bêbado, e fique sabendo que não irei interferir. Irão trazer sua janta no quarto e Thomas irá lhe trazer um vestido novo. Amanhã cedo quero que você vá procurar seu primo e não me incomode, caso precise de algo de extrema urgência, procure um de meus subordinados. — Foi tudo que o moreno falou antes de fechar a porta e seguir em direção ao seu quarto, sem ao menos esperar uma resposta.

 Hope deu um suspiro e observou o cômodo a sua volta: uma cama simples, uma mesa simples com uma cadeira simples, uma cômoda simples e velha e uma porta no canto do quarto, um quarto simples. Ela não sabia muito sobre tabernas e estalagens, mas sabia que aquela era uma das caras, mesmo sendo simples, com o piso sujo e os cobertores sobre a cama um pouco empoeirados. Outras mais baratas estariam em situação pior, então não reclamou nenhuma vez sobre o lugar onde passaria a noite.

 Isso a fez se questionar sobre quem Alek seria, e o que fazia em Barne. Ele não aparentava ter moedas pra pagar por aquele quarto. Será que ele havia roubado de alguém?

 Hope queria acreditar que o jovem que a resgatará nunca faria mal a ninguém – mesmo que tenha sido rude com ela agora a pouco –, ela sinceramente queria acreditar nisso. Entretanto, o ponto de interrogação em sua mente, que se perguntava quem ele era, contradiz o que ela presumia.

 A jovem deu outro suspiro e andou até a porta no canto do quarto, presumindo que lá fosse o banheiro.

 Era outro cômodo simples, com uma banheira de latão menor do que a que possuía em sua antiga casa, encostado no canto da parede se encontrava um grande galão d'água que estava cheio até a boca, ao lado da porta havia um espelho na parede e embaixo dele um banco com uma bacia de metal sobre ele.

 Hope se aproximou do espelho sujo e trincado e olhou seu reflexo, sua imagem era mais nítida do que a do lago e assim ela pode ver o motivo de todos a olharem com pena, se tivesse alguns hematomas poderiam dizer que ela havia apanhado, e muito.

 Em passos rápidos, ela voltou até o quarto e procurou dentro das gavetas da cômoda, algo que pudesse usar para cortar seu cabelo. Ela achou pomada para ferimentos, materiais de costura, um potinho com essência para água – que já estava no final –, um cobertor que estava com mais poeira do que os da cama, velas e, por fim, uma tesoura bem ao fundo da última gaveta.

 Quando ela voltou para o banheiro e se pôs em frente ao espelho, a morena se lembrou de como sua tia Gretel falava que seu cabelo era bonito. É tão belo quanto o de sua mãe, era o que sua tia sempre lhe dizia.

 Hope engoliu o bolo que se formou em sua garganta e começou a cortar as pontas de seu cabelo, para ficarem alinhadas.

 Ela precisou molhar o cabelo e penteá-lo com os dedos, para desfazer os nós que haviam se formado nas pontas queimadas. Quando terminou, o cabelo estava um pouco mais curto que antes, quase 2 dedos acima dos ombros em um corte reto e sem graça.

 Hope se olhava no espelho e não se sentia ela mesma, não era mais Hope Mary Kane, que havia nascido na capital, cuja mãe havia sido morta pela rainha, e que, após isso, foi morar com a tia nas fazendas Glacis. Não, aquela que refletia no espelho era uma garota que não tinha mais ninguém, não tinha família, não tinha amigos, estava sendo procurada pela rainha e com a qual havia algo de errado.

 Ela estava cansada, se perguntava se os deuses a estavam punindo por algo que tinha feito.

 Hope decidiu que precisava de um banho, precisava de algo para distrair sua cabeça ou começaria a chorar novamente, embora uma parte dela suspeitasse que não tinha mais lágrimas para isso.

 Usando a água do galão, ela encheu a banheira de latão e usou o resto da essência que tinha encontrado para deixar a água perfumada.

 Hope tirou seu colar e colocou sobre a bacia metálica, depois tirou seus sapatos e viu o pé levemente machucado, estavam também um pouco dolorido, mas nada que algumas horas deitada não melhorasse, começou a tirar o vestido quando escutou a porta do quarto se abrindo. Ela segurou a parte de cima do vestido em frente ao busto e andou até o cômodo, torcendo para que fosse Alek ou a senhora que tinha lhe mostrado o quarto. Não poderia lidar com mais nenhuma surpresa.

 Quando entrou no aposento, ela viu o homem que Alek tinha mandado comprar seu vestido próximo a cama e sobre ela se encontrava um vestido azul cobalto e botas pretas, simples e de cano médio.

 Thomas olhava Hope com um olhar curioso com um pouco de malícia, ela estava ainda usando o vestido de antes, contudo os braços estavam fora das mangas, mostrando a pele alva dos braços que seguravam a parte de cima do vestido para não cair. Ele a achava bonita, estava com o cabelo cortado e arrumado e ficaria linda com o vestido que trouxe.

 A morena sentiu suas bochechas ficarem vermelhas de vergonha pelo olhar intenso de Thomas, era de certo modo, desconfortável o jeito que ele a olhava, tinha vontade de se encolher ainda mais dentro do vestido.

— Obrigado pelo vestido  — disse na vaga esperança de fazer o homem ir embora.

— Agradeça a Alek e a vendedora, ela tem um bom gosto. — Ele sorriu e muito contragosto, andou em direção a porta.

 A garota parecia tão inocente que atraia sua curiosidade, queria saber até onde iria a sua inocência e também, se o resto de seu corpo tinha a mesma pele alva e de aparência macia de seu braço.

 Era uma pena que Alek tinha planos para ele, caso o contrário não se importaria de fazer companhia a garota por mais algum tempo.

 Assim que Thomas fechou a porta, Hope soltou o ar – que nem sabia que estava segurando – e foi até a porta, a trancando. Agora ela entendia o que Alek queria dizer em não sair do quarto durante a noite, os homens de Barne eram diferentes dos que moravam na fazenda, eles a viam como um objeto para atender às suas necessidades e Hope, com sua inocência estampada na cara, só deixava mais brechas para que eles se aproximassem.

 Ela voltou ao banheiro e se banhou na água fria, encolhida na banheira pouco espaçosa. Secou-se na manta felpuda que estava pendurada na parte de dentro da porta e foi até o quarto.

 Antes de colocar o vestido, a morena o observou com um pouco mais de atenção do que antes, ele era azul cobalto com costuras de cor creme que lembravam ao dourado, as mangas eram longas e se abriam a partir da dos cotovelos, a parte de cima era semelhante a um corpete com o trançado na parte frontal e havia uma parte branca, que ia do busto ao final da saia. O vestido era de uma costura boa, assim como seu antigo e novamente Hope se questionou como Alek possuía moedas para ele.

 Ela o vestiu e viu como o vestido era pesado – mostrando a boa qualidade do tecido –, mas diferente do seu antigo, este era um pouco mais leve. O vestido ficou um pouco largo em seu quadril e as mangas quase cobriram totalmente suas mãos, mas isso não a incomodava.

 Hope sentou-se na cama e passou a pomada mal-cheirosa nos pés, ela pensou em ler o diário de sua mãe ou então aproveitar a última hora de sol para dar uma volta nas proximidades e procurar seu primo, entretanto as palavras de Alek voltaram a sua mente juntamente da cena com Thomas e ela desistiu da ideia.

 Cansada, deitou na cama e adormeceu.

 Seu sonho começou doce, ela estava em um campo florido onde os cravos e crisântemos se destacavam, o céu estava claro e com poucas nuvens, era límpido o piar dos pássaros ao longe e em suas mãos ela fazia uma coroa de flores usando os cravos e alguns chuva de prata. Seu cabelo ainda estava longo e se encontrava trançado, seu vestido bege era simples, entrando em harmonia com a natureza ao seu redor. Hope sentia que sua tão perturbada alma estava em paz, uma paz que não sentia a muito tempo e isso a fazia sorrir bobamente. Quando terminou a coroa, a pôs sobre as madeixas negras de seu cabelo e se deitou sobre o campo, contemplando o céu e as poucas borboletas que voavam perto dela.

 Subitamente, o sol em seu rosto foi tampado, a garota não se importou, deveria ser apenas uma nuvem, entretanto quando olhou para cima viu algo voando no céu, seu sangue gelou reconhecendo que aquele ser não era um pássaro.

 Ela escutou um grito próximo e se sentou em um sobressalto, olhando ao redor.

 O cenário não era o mesmo, havia mudado, agora estava dentro de um cômodo bem iluminado pelas grandes janelas, o chão estava muito bem limpo – tanto que conseguia ver seu reflexo nele – e em frente a ela estavam dois tronos: em um estava a rainha, no outro o rei.

 Hope fechou os olhos com força e mordeu o lábio inferior até sentir o gosto férreo, era aquele o pesadelo de sempre, ela não queria mais ver aquela cena de novo e de novo, ela queria que a paz voltasse.

De novo não, por favor!

 

 Ela escutava um choro fraco ao seu lado, e quando se virou a viu novamente. Seu cabelo negro estava preso para trás em um coque, suas roupas eram de empregada. Seus olhos, seu nariz e sua boca estavam borrados, contudo ainda se podia ver a marca vermelha na bochecha que se assemelhava a um tapa.

 Sua mãe estava em pé ao seu lado, tremendo assim como Hope, enquanto ela abraçava seu próprio corpo. Ela parecia tão pequena perto da nobreza.

 Foi quando escutou um rugido rasgar o céu e logo depois, lá estava ele, entrando pela grande janela e passando ao lado do trono, onde a rainha sorria, divertindo-se com o pânico que causava.

 O dragão era enorme, maior que qualquer um que já pode ver, suas escamas eram vermelhas e pretas e seus olhos dourados, sua boca estava aberta, ele parecia sorrir em ver a sua próxima refeição parada a sua frente.

 Quanto mais ele se aproximava, com seus passos pesados que faziam o chão tremer, mais Hope tentava se afastar, se arrastando pelo o chão, sem conseguir se levantar pelo medo, suas pernas estavam fracas. Quando suas costas bateram na parede, a jovem presenciou a fera parar em frente a sua mãe, seu choro estava mais forte e ela tinha caído no chão, de joelhos, pedindo perdão por algo que Hope não conseguia escutar.

 Foi rápido o que houve, a fera afastou um pouco a cabeça, antes de se aproximar de uma vez e morder metade do corpo da mulher, separando o quadril do restante do corpo, que se encontrava na boca do dragão.

 Sangue voou para todos os lados e Hope gritou alto quando vários respingos vindos da mãe lhe atingiram, ela gritou até sua garganta arder e seus pulmões ficarem sem ar. Ele começou a mastigar o corpo e o barulho ruidoso dos ossos se partindo se fez presente, ela fechou os olhos com força e levou a mãos aos ouvidos, tentando não ouvir aquele ruído.

 A garota tremia muito e chorava compulsivamente, puxava o ar fortemente, mas parecia que ele não chegava aos pulmões, ela soluçava e se encolhia enquanto ainda escutava o barulho repugnante.

 Quando o som finalmente passou, Hope sentiu uma mão lhe afagar o cabelo e abriu os olhos, vendo sua tia Gretel.

 O local mudou novamente, agora estava em sua antiga casa, em seu antigo quarto, deitada em sua velha cama enquanto sua tia lhe afagava os cabelos, e com sua voz doce de sempre, pedia para se acalmar. Hope chorou ainda mais quando reconheceu sua tia, sentia falta da velha senhora.

— M-me desculpe...— falou entre os soluços. — me d-desculpe… Tia Gretel… P-por ter te deixado a-aqui.

 A velha senhora lhe deu aquele sorriso, que sempre a acolhia nas noites de pesadelo, e então lhe beijou a testa.

— Está tudo bem, criança. Agora Hope, eu quero que você acorde. Você precisa acordar. E então toda a dor irá sumir, eu lhe prometo.

 Ela não entendeu o que a tia queria dizer, mas mesmo assim fechou os olhos lentamente e quando os abriu, estava novamente no quarto da taberna.

 Sua respiração estava um pouco acelerada e seus olhos úmidos, seu corpo tremia contra sua vontade, ela tentava se acalmar enquanto focava sua visão no teto, porém as imagens de seu sonho sempre voltavam a sua mente, aterrorizado seus pensamentos.

 Hope se sentou na cama e viu que já estava de noite, entretanto uma luz iluminava o quarto. Se levantou com cuidado da cama e andou descalço pelo chão encardido e gelado, até a luz que estava sobre a mesa.

 Ao se aproximou um pouco, pode ver que sobre a mesa estava uma vela já no final, ao lado de um prato com sopa e de um pedaço de pão, junto de um jarro de água e uma caneca de alumínio.

 Parou de frente a mesa, viu então, o exato momento em que a chama vermelha da vela se tornou azul, apagando-se em seguida, deixando o aposento na penumbra.

 Hope piscou os olhos duas vezes e se pôs a observar a vela apagada, como se o acontecimento fosse algo normal. Aquilo não a assustou, na realidade, parecia algo tão trivial, o pesadelo a pouco tinha lhe roubado as energias, se sentia mais cansada do que antes de dormir.

 Sentou-se na cadeira, começando assim a comer sua ceia, mesmo que o estômago estivesse ainda embrulhado pelo ruído dos ossos se partindo. Ela precisava de algo para distrair sua mente até o amanhecer, pois, sabia que não voltaria a dormir.

 

Rainha Negra

 

 Aeryn andava por aquele corredor escuro e estreito que ficava no subsolo do castelo. As paredes aparentavam estar úmidas e o teto estava com várias teias, mas aquilo não a incomodava.

 Na mão esquerda, levava um candelabro com quatro ramificações, todas elas com velas acesas, já na direita levava um pequeno buquê de violetas.

 Ela andou até chegar a ampla sala, com fileiras e mais fileiras de estátuas, continuou a andar, até chegar na estátua que queria encontrar. Era a estátua de um homem, com os cabelos compridos e lisos, presos para trás, o rosto estava com feições sérias, que combinavam com sua antiga personalidade e o porte era musculoso, para findar a aparência temível.

 A estátua de pedra calcária estava sobre um bloco quadrado de mesmo material, nele havia  escrito Allen Amnos Cimulzi Virgil II. Aeryn colocou o candelabro sobre o bloco e as flores sobre os pés da estátua.

— Lembro-me de quando era criança, o senhor sempre pedia para as servas encherem os vasos de violetas, elas te lembravam a mamãe — falou baixo, olhando para os olhos da estátua. — Faz algum tempo que não venho lhe visitar papai.

 Aeryn abaixou a cabeça e fez uma rápida prece à Vaughn, o deus do verão, antes de voltar-se para a estátua, conversando com ela como se o falecido rei Allen estivesse ali.

— A última vez que vim aqui, foi quando Gia nasceu. Sua neta já está com nove anos, herdou o dom da morte, como Heath. — olhou pelo canto dos olhos para a direita, onde estava a estátua de seu segundo irmão mais velho, Heath Amnos. — Mas creio, que Gia saberá usá-lo melhor do que seu filho, ela é ambiciosa. Já Heath era fraco, se recusava a usar o dom, se recusava a matar sem ser por combate, foi essa fraqueza que fez com que eu o matasse.

 A rainha sorriu em escárnio ao se lembrar do passado.

— Mas  não vim aqui lhe contar sobre os acontecimentos, nem para lhe mostrar como me tornei uma ótima rainha, ao contrário do que me disse em seu leito de morte. Se passaram mais de vinte anos, e eu ainda me lembro como o senhor disse que eu iria arruinar seu legado, me amaldiçoou por matar seus queridinhos: Orion, Heath e seus netos. Mas, no final, eu que estou sentada no trono, não eles. — A rainha fez uma pausa e respirou fundo. — Não, não foi sobre nenhum desses assuntos que vim falar. Vim te dar um aviso.

 O silêncio do subsolo durante a madrugada, foi cortado pelo barulho do vento entre os corredores, fazendo assim, ruídos surgirem entre o silêncio. Era como se o falecido rei e seus filhos, dissessem que estavam escutando – seja lá onde estivessem.

— Quero que pare. Quero que senhor e os deuses parem de brincar com minha paciência. Parem de por pedras sobre meu caminho, pois, saibam que irei destruir todas elas. Assim como destruí aquela camponesa há 17 anos atrás e os vários lordes e condes que se opuseram contra mim! — Quando começou a se exaltar, Aeryn parou e respirou fundo novamente. Trazendo o tom ameaçador a sua voz. — Eu irei destruir essa garota que apareceu também e quero deixar bem claro a vocês, que quero que ela seja a última pedra. O trono de Gavin pertence a mim e aos meus filhos, então parem de tentar nos atrapalhar.

 A rainha pegou o candelabro sobre a pedra e andou em direção a saída. Deixando a sala das estátuas novamente na escuridão.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado ❣
Corte de cabelo da Hope: http://www.sobrebeleza.com/wp-content/uploads/2013/12/top-5-os-melhores-cortes-bob-de-hollywood2.jpg
Vestido da Hope: https://i.pinimg.com/736x/ac/e6/47/ace647c6cc11cab4d7ead3d3846dfe09--vestido-medieval-medieval-dress.jpg
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Galerinha vamos conversar de algo importar, na verdade, uma personagem importante, a Aeryn. Quero que vocês entendam ela, pois essa parte da sala das estatuas foi muitoo importante para o desenvolvimento dela.
Vocês (principalmente) tem que entender que ela é louca, não louca de ir para um hospício e conversar com mortos, não. Ela é louca pelo poder! Caso alguém tenha se perdido, vamos relembrar que ela possuía 3 irmãos mais velhos (todos homens) e um pai extremamente machista que não reconhecia seu poder, pelo simples motivo dela ser mulher (Não vamos criar uma treta Machismo x Feminismo esse não é o foco da história). Ela viveu a vida dela sem ser reconhecida pela família, sem receber a atenção que queria de seu pai, então ela matou 2 de seus irmãos, junto de suas mulheres e filhos e deixou que 1 fugisse. Ela tentou mostrar ao pai que ela era poderosa, mesmo sendo uma garota e ele não aceitou isso! Foi o que levou ela a matá-lo. Mesmo após assumir o trono e ter o poder em suas mãos, isso que aconteceu com ela a deixou louca por poder, o que a leva a se livrar de tudo que ela considera uma ameça, que pode ir de um serviçal a um nobre mais poderoso que ela.
Quero que vocês tenham entendido isso, pois ela é minha vilã favorita ♥ e o juntamente com a Hope e Alek, Aeryn também será muito importante no enredo.

Se gostaram não se esqueçam de comentar e fazer uma autora feliz ❣



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