Alvo Potter e a Sala de Espelhos escrita por Tiago Pereira


Capítulo 5
Capítulo 5 — Pena de grifo


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde, gente bonita, tudo bem? Espero que sim.
Enfim, lá vamos nós para mais um capítulo e eu só tenho que agradecer todos que comentaram até aqui, os números são incríveis! Pô, 36 comentários, 35 acompanhamentos e 10 favoritos. De verdade, eu agradeço muito a todos vocês por acreditarem na minha fanfic. :)
Só eu que voltei das férias? :( Bom, de qualquer jeito, hoje é um lindo dia para postar, não acham?
Boa leitura!



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ALVO BATEU O PUNHO CONTRA A PRÓPRIA testa para saber se aquilo fora ou não real. Não podia ser. Tudo estava em perfeita sintonia, como sempre: as pessoas caminhavam em uma esteira, as lojas estavam apinhadas, as crianças admiravam bolas de sorvete dançarem no ar; somente os Potter permaneciam estáticos e sem cor. Foi aí que Alvo se deu conta de que a predição havia acontecido.

— Onde está? — enfim indagou Alvo, se referindo à bola de cristal.

As três crianças trocaram olhares vazios, sem saber o que dizer. Lílian fez menção de falar, mas Tiago não lhe deu a oportunidade e guiou os irmãos adiante, ignorando o fato de uma professora ter dito palavras sem sentido. As pernas curtas de Alvo se movimentavam automaticamente pela estrada rachada, enquanto seus pensamentos o faziam mergulhar em um mundo distante. Queria culpar Tiago, afinal, ele que começou com a maré de desventuras, só que no seu íntimo sabia que era injusto.

Seria mesmo uma profecia para ele? Seria Alvo Severo uma criança amaldiçoada?

— Não dê atenção para ela — comentou Tiago ao ver o rosto abatido do irmão. — Fred e Molly sempre me falam que ela é louca, sai prevendo a morte de um aluno todo ano.

Tiago tinha razão, pensou Alvo. Não tinha para que se preocupar, eram apenas palavras soltas, um devaneio.

Talvez seja mesmo uma predição, dizia uma voz no fundo do seu cérebro.

— Posso tocá-lo? — perguntava insistentemente Lílian, esticando os braços para alcançar um caldeirão falante no alto de uma estante na Loja de Caldeirões Potage. O rosto entalhado em ferro parecia estar dormindo, mas Alvo teve uma sensação ruim de que ele daria uma mordida na sua irmã a qualquer instante. — Ele é tão bonito!

Alvo se sentiu um pouco chateado por não poder comprar um caldeirão automexediço, porque na sua lista estava escrito especificamente estanho. Tiago, no entanto, indicou ao irmão um belíssimo telescópio de latão, no qual o dono da loja fez questão de gravar as iniciais do menino em sua lateral, e uma modesta balança para as aulas de Poções.

Ao saírem da Pendantes: Equipamentos Bruxos, Alvo e Tiago revisaram suas listas.

ESCOLA DE MAGIA E BRUXARIA DE HOGWARTS

Uniforme:

Os estudantes do primeiro ano precisam de:

Três conjuntos de vestes comuns de trabalho (pretas)

Um chapéu pontudo simples (preto) para uso diário

Um par de luvas protetoras (couro de dragão ou similar)

Uma capa de inverno (preta com fechos prateados)

As roupas do aluno devem ter etiquetas com seu nome.

Livros:

 Os alunos devem comprar um exemplar de cada um dos seguintes:

Livro padrão de feitiços (1ª série) de Miranda Goshawk

História da magia de Batilda Bagshot

Teoria da magia de Adalberto Waffing

Um guia de transfiguração para iniciantes de Emerico Ewitch

Mil ervas e fungos mágicos de Fílida Spore

Bebidas e poções mágicas de Arsênio Jigger.

Animais fantásticos e onde habitam de Newton Scamander

As forças das trevas: um guia de autoproteção de Quintino Trimble.

Outros Equipamentos:

1 varinha mágica

1 caldeirão (estanho, tamanho padrão 2)

1 conjunto de frascos

1 telescópio

1 balança de latão

 Os alunos podem ainda trazer uma coruja OU um gato OU um sapo OU um coelho OU uma aranha OU uma serpente OU um pássaro de pequeno porte OU um furão OU um morcego OU um rato. Animais não mencionados deverão ter aprovação por escrito do Corpo Diretor.

LEMBRAMOS AOS PAIS QUE OS ALUNOS DO PRIMEIRO ANO QUE NÃO FOREM REALIZAR TESTES PARA OS TIMES DE QUADRIBOL DE SUAS RESPECTIVAS CASAS NÃO PODERÃO USAR VASSOURAS PESSOAIS. ESTES ARTEFATOS FICARÃO GUARDADOS NO ARMÁRIO DE VASSOURAS ATÉ O MOMENTO QUE FOREM UTILIZADOS EM ATIVIDADES OFICIAIS PROMOVIDAS PELA ESCOLA.

— OK — concluiu Tiago, ainda de cara fechada desde o encontro com a professora de Adivinhação. — Vamos comprar conjuntos de ingredientes para preparo de poções na Mullpepper’s.

As crianças visitaram a farmácia, um lugar com cheiro pútrido e acre, embora, dentre todas as lojas do Beco Diagonal, fosse uma das mais interessantes. As prateleiras possuíam fileiras e mais fileiras de objetos bizarros, como raízes de cuia, rolos de língua de serpente, miolos moles e um chifre de arpéu exposto em uma cúpula vendido à quarenta galeões e dezessete sicles.

— Podemos comprar um? — pediram Alvo e Lílian ao irmão mais velho.

— É claro que não — disse Tiago com rudez. — Não temos dinheiro para isso.

Lílian amarrou a cara e espichou a língua para Tiago, que apenas retribuiu com uma careta. Os olhos de Alvo correram pela entrada da farmácia, onde duas garotas acabavam de entrar e, o menino jurava, ambas não paravam de encará-lo com risinhos. Alvo contemplou o próprio reflexo em um prato de metal puído para saber se sua aparência estava das piores, mas, confessou a si mesmo, estava melhor do que antes.

Tiago terminou de pagar os conjuntos de frascos, quando toparam com uma criaturinha sorridente e cabeçuda de orelhas pontudas. Seus olhos negros estavam úmidos e cintilantes como a bola de cristal que a professora deixara cair.

— Desculpe — rezingou Tiago ao ver que a criatura quase tombara no chão, mas ela não parecia nem um pouco aborrecida. Ao contrário, fez uma reverência solene e exacerbada aos três Potter.

— Eu é que me desculpo, Tiago Potter! — disse com a voz estrídula, seu nariz de cenoura à centímetros do chão. — Alvo Potter, Lílian Potter! — E fez mais uma reverência.

— Ãh... alô! — cumprimentou Alvo, sem jeito. A farmácia inteira parou para observá-los. — Quem é você?

A criatura deu um salto, atônita.

— Boxe, o elfo doméstico — disse na mesma cordialidade de Donald MacDuff. Em seguida, se aproximou para abraçar onde pôde cada um dos Potter, as lágrimas escapando de seus grandiosos olhos. — É uma ho-honra... desculpem,  desculpem... Boxe acabou de encontrar com o humilde e modesto Harry Potter, a nossa libertadora Hermione Granger... E agora com os seus simples e educados filhos...

E então o elfo foi aos prantos.

— Não chore, Boxe. — Lílian acariciou o topo da cabeça do elfo, que estalou um beijo no dorso de sua mão. A garota corou.

— Quanta elegância... quanto louvor... Monstro sempre me disse sobre a grandeza dos Potter para Boxe... — Boxe estalou os dedos com uma cipoada e um carrinho de supermercado com verduras, legumes, frutas e carnes surgiu. Ele ergueu um pedaço de fígado de dragão embrulhado nas tripas de bode e Alvo notou um anel brilhando em um dos seus dedos. — Aceitem esta oferta, Boxe insiste.

Enquanto Tiago e Lílian recusavam tudo que o elfo doméstico oferecia, Alvo tentava ler o que estava inscrito no anel, mas não reconheceu a linguagem. Havia letras miúdas que Alvo teve que espremer as pálpebras para conseguir uni-las até formar a palavra Impavidum. Qual seria o idioma escrito? Grego? Latim? Não fazia ideia. Pensou em perguntar a Boxe, mas achou displicente e desnecessário, afinal, o objeto, para além do seu preço, não possuía nenhuma importância.

— Boxe — intrometeu-se Alvo. — Para qual família você trabalha?

A criaturinha ficou embevecida, os olhos brilharam como duas moedas.

— Para uma grande família!

Assim que compraram os conjuntos e materiais mais simples, Tiago, ligeiramente impaciente, contou os galeões, sicles e nuques que ainda tinham e arrastou os irmãos pelo Beco Diagonal até o final de sua extensão. Alvo tentou acelerar o passo, mas a bolsa de pele de briba parecia pesar mais do que antes. Foi quando enfim chegaram à loja acanhada e desprovida de beleza que Alvo se tocou qual era. Olivaras.

Uma varinha... Sim, ele andava desejando uma há séculos. Sentiu o estômago dar cambalhotas ansiosas. O Sr. e a Sra. Potter estavam na porta os aguardando com uma expressão ansiosa no rosto.

Na vitrine do Olivaras havia apenas um exemplar sobre um almofadado; na porta, os dizeres “Artesão de Varinhas de Qualidade desde 382 A.C. Entraram em seu interior, ressoando uma campainha no fundo do estabelecimento. Em um dos cantos, Tiago se sentou numa cadeira e os pais e Lílian se juntaram a Alvo, apreciando cada centímetro da minúscula e vazia, porém fascinante, lojinha. Haviam inúmeras caixinhas aprumadas até o teto, como uma fortaleza celestial de magia. O que dava um toque rústico no local era a camada de poeira em cada móvel, como se fosse um edifício abandonado há anos. Lílian espirrava descontroladamente.

Atchim! — faiscou novamente. Um lenço flutuou até a sua mão.

— Espero que vocês me perdoem — disse uma voz meiga. Alvo rodopiou o tronco e espiou o velho de cabelos alvíssimos e desgrenhados de olhos do tamanho de bolas de bilhar, claros como uma pérola. — Eu só faço faxina aos domingos. — E sorriu.

Alvo e Lílian se mantiveram estáticos.

— Olá — cumprimentaram, sem jeito.

O Sr. Olivaras passou os olhos pela Sra. Potter, mas acabou detido na cicatriz em forma de raio na testa do pai de Alvo.

— Como eu já esperava — disse o Sr. Olivaras, voltando-se para o menino. — Mais um membro da família. O senhor é idêntico ao seu pai, Alvo Potter. Sim, eu me lembro bem daquele dia, embora já faça vinte e seis anos anos! Azevinho, vinte e oito centímetros de comprimento, maleável... Curiosa combinação, mas uma boa varinha.

Seus enormes olhos se viraram para Tiago.

— Quanto a você, jovem Tiago, não faz muito tempo desde o nosso último encontro. Vinte e um centímetros, razoavelmente inflexível, fio da cauda de unicórnio fêmea, feita de corniso. Anda aprontando muito com ela, suponho.

Tiago abriu um sorriso malandro.

— O senhor nunca falha.

Olivaras deu um risinho frouxo e tossiu.

— Quanto à senhorita — dirigiu-se a Lílian. — É a primeira vez que a vejo pessoalmente, porém não a última. Espero ansiosíssimo a sua próxima visita.

Lílian deu um sorriso enviesado e seu rosto ficou púrpura. O Sr. Olivaras se aproximou ainda mais de Alvo, que relutou para não dar um passo para trás, os olhos leitosos e prateados penetrando-o. Ele fitou o Sr. Potter, comparando-os.

— Tem os olhos do pai. — Seu longo e branco dedo retiraram os cabelos do garoto da testa. — Mas nenhuma cicatriz. Um bom sinal. Enfim, estique o braço faz-tudo. Assim mesmo. — O Sr. Olivaras arredou uma fita métrica do bolso e mediu Alvo de todas as formas: em torno da cabeça, do ombro ao cotovelo, a distância entre os olhos, da axila ao calcanhar. — Sabe, Sr. Potter, a sua visita é como uma conquista para mim. Acabei de vender uma varinha para a filha mais velha de Hermione Granger...

Alvo se empertigou enquanto a fita media o comprimento do seu nariz sozinha. Rose já estava no Beco Diagonal. O Sr. Olivaras perpassava os olhos pelas prateleiras, selecionando cuidadosamente algumas caixas.

— Minhas varinhas possuem substâncias poderosíssimas, Alvo Potter — disse o velhinho enquanto a fita caía em espiral no chão. — Imagino que já as conheça. Pelo de unicórnio, pena de fênix e cordas cardíacas de dragão. Entretanto, em minhas inúmeras excursões pelo mundo, produzi varinhas incomuns! Há um tempo eu pesei a varinha de uma bruxa americana. Bigode de furanzão! Uma fonte incrivelmente incomum de magia.

Um sorriso pileque atravessou o rosto de noz viscosa do Sr. Olivaras.

— Teste-a. Castanheira, trinta e nove centímetros, pelo de unicórnio macho. Excepcionalmente elástica.

Alvo não sabia exatamente o que fazer. Acabara de erguer a varinha e o Sr. Olivaras a retirou de sua mão como se fosse uma bomba prestes a explodir. Entregou-lhe outra.

— Lariço, fibra de coração de dragão, vinte e nove centímetros, flexível. Experimente.

Mais uma vez, Alvo se sentiu patético ao movimentar a varinha para o nada.

— Creio que esta não — disse o Sr. Olivaras, tomando da mão do garoto. — Prove mais uma...

E, uma a uma, Alvo experimentou os mais diferentes tipos de madeira — sorveira, tília, picea —, mas nenhuma delas se manifestou ao menino. Tiago já havia fechado os olhos, esparramado na cadeira, um sonoro ronco zumbindo de sua boca. Entrementes, Lílian apoiara o queixo nas mãos, observando ansiosamente o irmão testar sua décima quinta varinha enquanto o pai apertara o seu ombro em apoio.

— Cliente difícil o senhor, Alvo Potter. Elegi diferentes varinhas, porém como é de nosso conhecimento, a varinha escolhe o bruxo. Não se desanime... veja bem esta combinação: espinheiro-branco, dezesseis centímetros, boa, porém meio mole.

Alvo, que estava perdendo a disposição aos poucos, sacolejou a varinha, não produzindo nenhum efeito. Meteu o rosto nas mãos e soltou um lamento profundo.

— Sr. Olivaras, há a possibilidade de nenhuma varinha funcionar? — inqueriu Alvo, esmorecido.

O Sr. Olivaras transcorreu as mãos pelas madeixas brancas.

— Pergunta interessante, mas isto é impossível. Todos os bruxos que possuem um nível mágico autossuficiente são escolhidos. Só precisamos achar a varinha certa... bom, por que não arriscar? Esta varinha é completamente fora dos padrões britânicos que eu costumo produzir, Sr. Potter. Cipestre, pena de grifo, vinte e três centímetros, boa e meio maleável.

Alvo tomou posse do artefato. Os dedos que apertavam o cabo da varinha começaram a vibrar como uma colmeia de vespas agitadas e um calor intenso avermelhou a sua mão; o garoto rasgou o ar com um movimento e foi levemente impelido quando faíscas vermelhas e douradas irromperam como estilhaços por todo canto da loja. O estrondo chegou a derrubar Tiago da cadeira e Lílian se escondeu atrás de uma pilha de caixas. A torrente iluminara o rosto dos pais e de Alvo, que fulgurava sozinho de tanta alegria.

— Foi você, Alvo? — perguntou Tiago, se levantando.

— P-parece que sim... — respondeu humildemente.

O Sr. Olivaras sorria debilmente.

— Parece que todos os membros da família Potter têm uma peculiaridade. Esta varinha tem uma história bizarra e interessante, Sr. Potter. — O velhinho embrulhou a varinha em um papel pardo e recolocou na sua caixa, encarando-o com os olhos cintilantes. — Como disse, fiz várias expedições ao redor do mundo e, em uma dessas oportunidades, tive o prazer de conhecer a Grécia, lugar repleto de magia, tenho de admitir.

“Conheci um velho fabricante de varinhas na ilha de Míconos, um homem muito inteligente. Suas varinhas eram incomuns. Amieiro e artéria de Quimera... pereira e casca de Hipocampo... E então resolvi arriscar ao produzir esta varinha: cipestre e pena de grifo. Ah, sim... uma combinação extremamente perigosa, segundo o próprio fabricante grego. Ele me dizia que suas propriedades eram incríveis.”

Os cinco Potter ouviam atentamente o que o Sr. Olivaras contava, sem piscar.

— Grifos, caso não saibam, são animais ferozes e guardiões de tesouros, embora sejam capazes de criar laços com os humanos. No leste europeu, eu pude presenciar a amizade entre essas criaturas e seres humanos, mesmo sendo mortíferos. A pena de grifo é uma incrível fonte de proteção, embora divirja com a cipestre. Esta madeira encontra sua alma gêmea na coragem e na valentia, porém, Sr. Potter, tome muito cuidado. 

— Cuidado? — indagou Alvo, curioso. Ele o pai se entreolharam. — Por quê?

O Sr. Olivaras desfez seu rosto alegre e seus olhos percorreram a família como um pêndulo.

— Sabe, Sr. Potter, durante minha expedição, o mesmo fabricante de varinhas disse a mim que esta combinação possui um lado bom e ruim. O lado bom é que bruxos com este tipo de varinha estão fadados a grandes feitos. No entanto, estão predispostos a uma morte heroica. Seja cauteloso.

Alvoroçados, os pais e os filhos saíram da loja com uma reverência ao Sr. Olivaras — que convidara Lílian, com muito ânimo, a comprar sua varinha em breve — e andaram o mais rápido possível em direção à Floreios e Borrões, que estava abarrotada de pessoas se acotovelando. Uma grande faixa estendida nas janelas do primeiro andar dizia:

HAROLDO MONTMORENCY autografa:

O VILAREJO DAS TORMENTAS CONTRA AS MORTALHAS VIVAS
O mistério revelado. Como o maior aventureiro de nosso tempo conseguiu solucionar o caso das Mortalhas Vivas e libertar uma vila das garras da desgraça eterna?

Prefácio de Bipin e Rabindra Basu

Hoje, de 12:00h às 17:30h

— Acho melhor vocês irem na frente — aconselhou a Sra. Potter.

Para Alvo, Tiago e Lílian, encarar a quantidade de pessoas que apinhava a entrada da livraria estava fora de cogitação, mas como mal tinham dinheiro no fardo e Alvo queria falar com Rose, correram o risco de serem esmagados. Por serem mais baixos que os adultos, conseguiram se desvencilhar do público até chegarem à porta, onde uma barricada invisível os fez cair de costas em cima dos outros bruxos.

— Desculpe — disse Alvo, após uma onda de ofensas.

O garoto se encaminhou novamente para a entrada da livraria e, onde deveria ser o vácuo da porta, havia algo que o abetumava.

— Ei! Fique onde está, Potter! — gritou alguém no interior da livraria. Alvo percebeu instantaneamente que não se dirigia a ele. Um menino surgiu na entrada, as vestes bordô finíssimas chamando muita a atenção. Cada fio de seus cabelos havanos estava impecavelmente penteado e seus olhos âmbar cintilavam. — Não é só porque seus pais estão aqui que você é bem-vindo. Aqui é a área VIP.

Tiago rosnou.

— Onde você comprou este modelito, Montmorency, tinha para homens?

— Isto se chama faille, coisa que pessoas da sua laia jamais saberão — retrucou o garoto, irritado. — Agora, se a madame quiser entrar no estabelecimento, fique à vontade. — Ele se referia a Lílian, que estava com o sangue fluindo pelas bochechas.

— Eu prefiro ficar do lado de fora a conhecer um velho com hálito de catarro — respondeu a menina, fria.

O garoto ficou tartamudeando.

— Temos que entrar — sussurrou Alvo aos irmãos.

— Algum motivo especial? — retrucou Tiago, com desdém.

— Vários — afirmou Alvo concludente.

Dois bruxos altos e corpulentos, com um ar de importância, apareceram no pórtico. Um deles era ligeiramente jovem, pele negra, cabeça raspada e músculos marcando as vestes azuis. Havia uma clara, porém sinistra, cicatriz perto do olho. Alvo não teve dúvidas de que era um auror. Sua aparição arrancou suspiros das mulheres em torno da Floreios e Borrões. A outra bruxa era Flora Nigthingale. A mulher encarou Alvo e Tiago e uma ruga se formou entre suas sobrancelhas.

— Algum problema? — questionou o auror, sua voz extremamente familiar.

— Estes três aí estão causando uma verdadeira matina — resmungou o garoto. — E, como vocês devem saber, sou Marcus Montmorency, neto de Haroldo Montmorency, dono deste evento.

Flora Nightingale pigarreou.

— Perdoe-me minha intromissão, mas o senhor tem ciência de quem são estas três crianças?

— E daí quem eles...

Eles são filhos de Harry Potter — disse rudemente. — E, se não me engano, o Sr. Potter está hoje aqui com sua família no intuito de comprar o material dos seus filhos. A tarde de autógrafos só se inicia meio-dia e ainda faltam... — Consultou o relógio de bolso. — Trinta e sete minutos.

— M-Ma-Mas...

— O tempo disponibilizado para a preparação de tal evento foi somente quinze minutos antes do horário — disse o Auror com os braços cruzados. — Considerando os minutos que o povo ficou fora da livraria, devemos adiar em dez minutos a tarde de autógrafos até que todos possam fazer suas compras.

Os burburinhos começaram a correr entre as pessoas e algumas até soltaram uivos de alegria ao saberem da possibilidade de encontrarem Haroldo Montmorency antes do horário. Um bruxo atarantado se juntou à porta, prancheta em mãos, os cabelos na lateral da cabeça arrepiados.

— Como... não podemos... isto é loucura!

O auror ao lado de Flora desfez a barreira e organizou uma fila que os cinco Potter encabeçaram para entrar na livraria. Tinha esperança de encontrarem logo de cara os parentes, mas Alvo foi obstruído por uma Flora Nightingale séria.

— Flora. — O Sr. Potter acenou a cabeça.

— Olá, Sr. Potter — cumprimentou formalmente Flora. — Posso dar uma palavrinha com os dois?

Tiago e Alvo trocaram olhares enxotados. A Sra. Potter crispou os lábios.

— Suponho que sim — disse o Sr. Potter com um sorriso educado. — Vamos procurar os seus irmãos, Gina, avisá-los que já estamos por aqui.

Lílian, contrafeita, caminhou na esteira das pessoas que entravam na loja, sumindo de vista com os pais. Flora levou os garotos para longe da multidão, em direção da periferia do local.

— Fico contente em saber que vocês estão bem desde nosso último encontro — comentou a auror, dando uma sacudidela que quase fez os joelhos de Alvo cederem. — Infelizmente, não conseguimos colocar aqueles filhotes de trasgo em Azkaban. Apesar dos reforços, eles fugiram para os confins da terra, porque não estamos localizando-os de nenhuma maneira. Pior do que tudo isso são os rumores... há mais ou menos três meses atrás, nosso correspondente africano disse que encontrou bruxos insanos, dizendo que viram um espírito agourento de cabelos claros vagando por Burkina Faso. Conversa estranha, não acham?

Alvo mirava o rosto ravino de Flora com um quê de perturbação. Aquela história não parecia ter nada a ver com os homens mascarados, tampouco com Rodric Hotwan. O mesmo auror que estava com Flora cutucou o ombro de sua companheira e sussurrou algo em seu ouvido. A mulher anuía em cada frase dita.

— Meninos, preciso ir — disse Flora, repentinamente. — Ah! Antes que me esqueça, Adônis Somersby, estes são Alvo e Tiago Potter.

O auror de cabeça raspada estendeu a manzorra aos garotos. Alvo olhou para sua mão e para seu rosto, a cicatriz sob o olho proeminente.

— É um prazer — disse Adônis, a voz grave familiar. Ele pareceu notar para onde Alvo olhava. — Isto aqui — Deslizou o dedo pela cicatriz. — Foi um presente dado na mesma noite que vocês conheceram Flora.

Tiago abriu a boca, surpreso.

— Eu sei quem é você! O javali...

Adônis balançou a cabeça, sorrindo.

—  Ótima percepção, Tiago Potter, uma qualidade essencial para quem quer se tornar um auror. — E lançou uma piscadela ao garoto, levando Flora consigo.

Tiago ficou se bajulando do que Adônis havia dito sobre ele. Chegaram ao fundo da loja, onde encontraram a maioria dos Weasley e os pais, todos segurando os caldeirões novos com os tradicionais livros de escola. Rose, porém, tinha comprado uma coleção completa dos livros de Haroldo Montmorency, o que revoltou Tiago (“Como ousa comprar algo dessa família asquerosa?”).

 — Esse dinheiro é para ser usado na Madame Malkin e com o presente de vocês dois, OK? — disse o Sr. Potter, colocando mais galeões no fardo dos filhos. — Andem com cuidado.

Tiago e Alvo assentiram, a ansiedade brotando no peito. Até agora, eles não tinham revelado a ninguém sobre o incidente com a professora de Adivinhação. Ele deveria? Não, falou uma voz no fundo de sua cabeça, não queria estragar o bom clima que se instalara. Os Potter e seus primos foram arrebanhados para longe da livraria, cada vez mais lotada de bruxos e bruxas de todas as idades.

Alvo, no último mês, refletira profundamente sobre qual seria o seu presente ideal. Pensou em tudo que havia ganhado: a bolsa de pele de briba, a bússola rastreadora, o espelho de dois sentidos, uma belíssima pena de escrever de falcão, sacas de doces, um despertador-agenda e abafadores mágicos. Mas só havia um lugar onde ele poderia encontrar a melhor variedade de produtos magnânimos...

— Podemos visitar tio Jorge  — disse Rose, como se tivesse lido a mente do primo.

Como um dragão de biquíni, a Gemialidades Weasley ficava em evidência entre as monótonas paredes que estampavam os números noventa e dois e noventa e quatro. Repleta de cartazes, giras-giras que rodopiavam como fogos de artifício e luzes ofuscantes, a loja estava tão cheia quanto a Floreios e Borrões, embora a faixa etária dos clientes fosse de adolescentes e crianças curiosas. Um cartaz serpenteava e brilhava em uma das vitrines, as letras espocando em um tom laranja de doer a vista.

Pronto para voltar às aulas? Sabíamos que não!

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As crianças entraram na loja cheia de fregueses, Alvo mal conseguia se locomover no meio de tanta gente. Cativantes e sorridentes, Fred e Roxanne apareceram com suas vestes magenta, que chamava muito a atenção dos transeuntes.

— Como vão, família? — disseram em uníssono, apertando a mão dos primos.

— Comprando os materiais? — interpelou Roxanne, advertindo em seguida um garoto que metia varinhas de brinquedo no casacão. — Ei, você aí, se não quiser passar o resto do ano no St. Mungus, sugiro que devolva o que você pegou! — E voltou-se para Alvo. — Já escolheu o que quer de aniversário, Al?

Alvo, distraído pela arquitetura pitoresca do local, respondeu com um gemido.

— Podem pegar o que quiser — disse Fred, piscando para Tiago. — Como vão os experimentos, sócio?

Alvo se distanciou um pouco dos primos e encheu um latão com Detonadores-Chamariz, Pó Escurecedor Instantâneo do Peru e Pântanos Portáteis. Diferentemente do irmão, não tinha interesse em cabular aulas ou criar o caos em meio às aulas de Hogwarts. Porém, julgou que seria útil quando precisasse escapar dos murtiscos durante a Cerimônia de Seleção.

Enquanto isso, as pessoas apontavam para ele, sem se importar ao elevarem a voz.

“É o filho do Potter! É Tiago, não é mesmo?”

“Eu já vi a foto dele no Profeta Diário. Veja, Marge, como ele é fofo!”

Rose chegou ao seu lado com um potinho rosa em mãos, rotulado: Infalível Removedor de Espinhas em Dez Segundos contra acnes, furúnculos e cravos indesejados. Ela se aproximou ainda mais e sussurrou tão baixo que Alvo teve de colocar o seu ouvido a centímetros de seus lábios.

— Mamãe e papai andam muito preocupados ultimamente. — Seu rosto tingido de vermelho transbordava tensão. — E eu também estou. É tudo muito estranho, sabe...

— ... espera aí — interrompeu Alvo. — Não foi você que disse que eu não deveria me preocupar?

— Bem... — Rose mordeu o lábio. — Eu não queria que você ficasse com isso na cabeça!

Alvo riu. Como se ele fosse esquecer muito cedo daquela madrugada...

— Esquece — disse, a fim de apaziguar a situação. — Por que você anda tensa?

— Não é todo dia que alguém foge de Azkaban, Alvo — replicou Rose, as orelhas quentes. — Pouca gente sabe o que está acontecendo. Acha mesmo que a patrulha em Godric’s Hollow foi igual às outras? Em Ottery St. Catchpole não havia nenhum sinal de perigo ou Vovó Weasley teria dito, embora ela tenha ficado a maior parte do tempo longe das novidades. Apenas nossos pais souberam realmente o que estava acontecendo, além do próprio ministro Shacklebolt, é claro. Nem mesmo os aurores estavam por dentro das notícias!

— Então a segurança de Godric’s Hollow estava melhor armada? — Alvo demandou, olhando para os lados, notando que algumas orelhas fugazes captavam trechos da conversa. — Desculpe. Não prefere conversar em outro lugar?

— Vamos à Madame Malkin — sugeriu Rose. — Não quero ficar pensando nisso, preciso  memorizar alguns feitiços simples antes de entrar na escola. Há tantos! Feitiço Alarmador, Feitiço Iluminador...

Enquanto a garota listava os feitiços, Alvo deixou alguns galeões no balcão ocupado por tio Jorge e os dois saíram de fininho sem falar muito com os outros. Entraram na loja Madame Malkin Roupas para Todas as Ocasiões, onde foram atendidos por uma bruxa robusta e alegre vestindo uma bata florida.

— Hogwarts? — perguntou no mesmo instante que viu as crianças. — Tudo o que vocês precisam está aqui mesmo, queridos.

— Já não preciso de uniforme — Alvo respondeu com azedume. — Vou comprar o que falta na minha lista.

Rose foi levada para os fundos da loja, enquanto Alvo retirava e desenrolava a lista de materiais. Deu uma rápida inspecionada e tornou a guardá-la, dirigindo-se à uma prateleira com pares de luvas encaixotadas. Haviam das mais diversas texturas: escama de hipocampo, couro de dragão e a sofisticadíssima pele de manticora. Alvo localizou uma caixa no alto da prateleira e teve que ficar na ponta dos pés para alcançá-la; toda arrebentada e, aparentemente, usada, uma luva de couro cinza estava dobrada em um papel rançoso.

— Couro de erumpente. — Ouviu uma voz entediante à suas costas. Um garoto de rosto pontiagudo e pálido fez uma cara de nojo para a antiga peça. — Não vai comprar isso, vai? Parece que o próprio erumpente o vomitou e embalou com as próprias tripas.

Alvo sentiu um nó nas entranhas.

— Ao menos é original — respondeu Alvo, não querendo prolongar o assunto. Deu uma boa olhada no menino: cabelos loiros esquálidos, olhos cinzas como duas nuvens nubladas, uma capa verde-garrafa abotoada até o pescoço e uma nítida soberba no tom de voz.

— Meu pai já comprou os meus materiais — tornou a falar o garoto. — Couro de dragão legítimo. Eu, se fosse você, não mexeria muito com estas antiguidades, pode contrair catapora de dragão ou coisa pior. Se quiser, posso ajudá-lo a pagar uma luva que preste.

E curvou os lábios em um sorriso irônico.

— Não, obrigado — disse Alvo, retraindo as sobrancelhas.

Uma segunda bruxa corcovada entregou um pacote ao menino pálido. A bruxa virou-se para Alvo.

— Faltou a sua capa. — Os seus olhinhos faiscaram. — Vai querer experimentá-la, suponho.

Alvo crispou os lábios para não recusar o convite, sendo arrastado até outro canto da loja com o intragável menino. Ambos se sentaram de costas ao outro, enquanto a bruxa corria o dossel que mantinha cada um do seu lado, para alívio de Alvo.

— Joga Quadribol? — perguntou o garoto.

— Sim... — respondeu Alvo sem nenhuma emoção.

— Imagino que tenha uma vassoura.

— Ãh... ainda não.

O garoto deu um suspiro aliviado.

— Eu também não. Quer dizer, não uma que preste.

A bruxa meteu a mão por entre as cortinas de Alvo, que deu um pulinho de susto. Vestiu a capa preta e longa, enquanto agulhas prateadas se erguiam em um piparote e ajustavam o tamanho.

— Não pretendo entrar para o time, mesmo que eu tenha condições — continuou a falar o menino do outro lado do dossel. — Sabia que meu pai foi apanhador?

Mas Alvo não estava a fim de saber quem era o menino do outro lado. Não prestara atenção nas suas histórias até uma pergunta atingi-lo como um soco na boca do estômago.

— O quê?

— Já sabe para qual Casa quer ir? — repetiu o menino, a voz um pouco abafada pelo baldaquino.

— Ai! — Uma agulha espetou Alvo após um movimento brusco.

Mais uma vez a mão da bruxa se enfiou no baldaquino, as agulhas descreveram um arco no ar e aterrissaram leve demais.

— Acho que você terminou! — exclamou a bruxa corcunda.

Alvo soltou o ar pela boca, leve como uma pena em evitar a pergunta do garoto. Rose tornara a aparecer, o rosto corado de excitação. Quase que no encalço de Alvo, o menino saiu do dossel e já havia trocado sua capa com fechos prateados pela que estava usando. Lançou um aceno com a cabeça para Alvo e Rose.

— Até mais para vocês dois — disse com um ar presunçoso. — Vejo-os em Hogwarts e, de preferência, na Sonserina. Cuidado com a catapora de dragão!

E então Alvo teve motivos suficientes para apagar aquele rosto biltre da mente.

Alvo odiou o resto do dia. Perdera o interesse em falar com Rose (“Os aurores que cuidem disto”), comprou a luva de couro de erumpente e a capa de inverno, mas ainda não encontrara o presente ideal para si. Enquanto caminhava com Rose, topou com Tiago, Louis e Dominique a caminho de uma de suas lojas favoritas: a Artigos de Qualidade para Quadribol. Havia um certo ajuntamento na vitrine da loja, as crianças achatando o nariz contra o vidro, os mais velhos em uma roda de debate sobre os novos modelos de vassoura lançados. Com jeitinho, as crianças se embrenharam até o interior do recinto, onde haviam estrados com as vassouras mais incríveis que Alvo já vira na vida. Remexeu a saca de dinheiro no seu bolso, louco para comprar uma, mas lembrou-se que Quadribol não seria sua prioridade em seu primeiro ano, afinal, nem teria chances de ingressar no time.

— Papai, compre uma para mim! — disse uma das crianças na vitrine.

— Mal posso acreditar que estou vendo uma Starsweeper XXI com meus próprios olhos — comentou um homem de físico atlético.

Alvo, Louis e Rose olhavam para as vassouras como se o próprio Merlim estivesse prostrado entre eles. Dominique, no entanto, dava opiniões nem um pouco coerentes, como o quanto que os jogadores ficavam mais bem-apessoados nos uniformes de jogo. Tiago, enfatuado, caminhou até o balcão e falou com um tom enjoativamente engomado:

— Com licença, gostaria de comprar uma Varápidos.

O bruxo vendedor deu um sorriso bonachão e correu para os fundos da loja, voltando às pressas com uma vassoura reluzente em mãos. Mesmo não sendo um especialista, Alvo jurou tê-la visto antes.

— Aqui está, Varápidos! Classe mundial de vassouras, tecnologia de ponta, cabo de jacarandá, delicado e com uma aerodinâmica impressionante! As cerdas da cauda são de fibras de loureiro com lascas de sabugueiro selecionados por peritos. Sua velocidade ultrapassa os 200km/hora, tão rápido quanto uma bala de canhão! Uma ótima escolha, senhor. A Seleção Brasileira encomendou uma para cada jogador de seu time e aposto minhas fichas que eles serão os campeões da Copa Mundial do ano que vem. Posso embrulhar?

Tiago bem que queria sair voando a esmo com sua nova vassoura, porém, a Sra. Potter o proibiu expressamente de utilizar a vassoura para fins pessoais, ameaçando trazê-lo de volta para casa se soubesse que ele aprontou algo com a Varápidos.

— E então, Al, comprou alguma coisa para você? — perguntou o pai bondosamente.

O garoto meneou a cabeça.

— Por que você não compra uma coruja? — sugeriu Hugo, comendo seu sorvete de ruibarbo e caramelo com nozes da macadâmia. — Todo garoto quer uma coruja! Eu queria, pelo menos, muito melhor do que o coelho que Rose comprou.

Uma luz se acendeu no interior de Alvo. Puxando as vestes do pai, caminharam juntos para o Empório de Corujas, um lugar pouco iluminado e com pios e chilreios altos, além dos multicoloridos olhos das aves, que tremeluziam como bolas de gude. Ao ver pai e filho na loja, o dono fez uma reverência e apertou a mão dos dois incansavelmente.

— Sejam bem-vindos, família Potter, sejam bem-vindos! — As lágrimas brilhavam nas pestanas. — É uma alegria imensa recebê-los! Vieram comprar uma coruja, suponho.

E, depois de vinte minutos, Alvo estava levando uma gaiola com uma pequena coruja-da-igreja que se chamava Íris, segundo o vendedor. Não via a hora de mostrá-la a Tiago, que também tinha uma coruja chifruda, Agni. Até pensou em fazer uma competição de quem apanhava mais roedores!

O sol se tornava um nimbo rubente no horizonte quando os Weasley e os Potter iniciaram as despedidas. Rodric Hotwan havia ficado realmente de lado e não havia motivos para que Alvo se preocupasse com isso. Nenhum bruxo poderia tocar em um fio de seu cabelo enquanto o pai estivesse ali, do seu lado. Nem mesmo uma professora tresloucada colocaria a melhor época de sua vida em risco. Mas havia um medo sincero que não aquietava o coração de Alvo. Ao passo que terminava de comer o seu sorvete de chocolate e encarava os olhos de uma víbora na Loja de Animais Mágicos,  não tinha como não parar de pensar a todo instante: e se ele fosse para a Sonserina?

Enquanto isso, à incontáveis quilômetros de Londres, Scarlet acabara de finalizar o seu grimório.

 


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Notas finais do capítulo

Um final não tão misterioso, mas eu sempre quero deixar aquele tradicional gancho. Honestamente, é um dos meus capítulos prediletos. E o de vocês?

Opa, se você chegou até aqui, vai ficar sabendo de um fato chocante... SEMANA QUE VEM É O CAPÍTULO DO EXPRESSO DE HOGWARTS! Mas já? Espero que estejam tão felizes quanto eu.

É sério, o que vocês acharam do capítulo? Chato, emocionante, extraordinário? Eu quero ler o que vocês estão achando da fanfic até aqui. Sei que não é fácil com essa rotina de escola/trabalho/faculdade, mas hoje é sexta-feira, um belo dia para comentar, certo?

Podem se manifestar nesta caixinha aí embaixo, que eu serei tão carinhoso quanto o Boxe. :3

Curiosidade do capítulo: Íris é uma deusa da mitologia grega, corporificação do arco-íris e mensageira dos deuses com os seres humanos. Na minha humilde opinião, não existia nome melhor para eu dar à corujinha do Alvo.
P.S.: Por falar em corujas, vocês sabiam que "rouquin" em francês significa "ruivo"? E, considerando a família e as cores de sua pena, resolvi nomeá-lo assim.

Até sexta-feira que vem e cuidado para não contraírem catapora de dragão ou coisa pior! :D

Att,
Tiago