Alvo Potter e a Sala de Espelhos escrita por Tiago Pereira


Capítulo 4
Capítulo 4 — O vaticínio


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde, gente, tudo bem com vocês? Espero que sim. :)
Primeiramente, eu gostaria de agradecer cada um de vocês por estarem usando uma parte de seu precioso tempo para lerem minha fanfic. Sério, muito obrigado, pra valer. O apoio de vocês é essencial para que eu veja que eu estou no caminho certo. Nem de longe eu esperava um feedback tão positivo! Mais uma vez, obrigado. :)
Agora, vamos para um capítulo que, digamos assim, vai começar a interligar a história.
Boa leitura e prestem atenção nas referências. :)



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HOUVE UMA AZÁFAMA INSTANTÂNEA. Os Weasley e os Potter entraram em pânico. Dominique, ainda suja de farinha, discutia com tia Fleur em francês; Teddy e Victoire correram para a despensa e todos os membros começaram a disparar de um lado a outro, embora o miúdo Alvo Severo Potter permanecesse no âmago da sala de estar, imóvel e absorto. O ministro da Magia estava a poucos metros dele, pronto para lhe enviar à Azkaban, supôs. Mas foi apenas um feitiço acidental!, pensou. O que havia de errado nisso?

Nada fez sentido naquele momento.

— Silêncio! — a Sra. Potter alteou a voz. — Não precisam fazer tanto escândalo! Atendam o Quim enquanto as crianças arrumam a mesa. Vamos tirar esta bagunça daqui e...

O som das galinhas afanando com cacarejos ecoou pela sala e pela cozinha.

— OK, vá atendê-lo, mamãe. Tente prendê-lo lá fora o máximo que puder — disse a Sra. Potter. Velozmente, retirou a varinha do decote de suas vestes e convocou os talheres, bules de chá e torradas pardas. — O que vocês estão esperando? Mexam-se!

Como obedientes formigas em operação, tio Gui, tio Jorge e a Sra. Tonks começaram a abarrotar a mesa com a louça branca e lustrosa. O Sr. Potter, tio Rony e tia Hermione ajudavam a retirar uma torta de pêssego da fornalha, liberando um rescaldo na cozinha. Dominique e Roxanne limpavam o rosto com uma toalha, Teddy e Victoire levavam mais uma cesta de roupa para o andar de cima e Tiago sussurrava no ouvido de Alvo enquanto ele levava a terrina com bolos de caldeirão.

— Ei, Al, acha que o Ministro veio aqui cortar nossas cabeças? — perguntou.

— Eu suponho que não — respondeu Alvo. — Acho mais provável que mamãe faça isso.

A pequena cozinha, aos poucos, foi se tornando insuportável para tanta gente, por isso todos foram se acomodar no quintal. A comprida mesa, que parecia infindável, estava saturada de pessoas, todos cotovelo contra cotovelo, quase impossível de se mexer. O cheiro da bouillabaisse da tia Fleur impregnou o ar; Louis e Molly apertaram as narinas, engulhados. Louis meneou a cabeça para Alvo quando sua mãe lhe ofereceu uma concha do tal guisado de peixe branco. Alvo recusou prontamente.

— Venha, Quim, junte-se a nós — ouviram a voz da Vovó Weasley. — Estamos todos tomando o café. Deseja beber alguma coisa: chá, suco de abóbora, água de Gilly?

A porta se abriu com uma troada. A Vovó Weasley lamentou — “Eu já pedi pelo menos umas cinquenta vezes para o Arthur consertar esta porta!”. As crianças prenderam a respiração quando o bruxo alto e careca, de ombros largos, foi introduzido no recinto. Suas vestes azul-prussiano se arrastaram no chão, farfalhando, e a argola dourada na sua orelha brilhou contra o sol, criando uma pequena auréola escarlate nos olhos de Alvo.

— Obrigado, Molly — disse Kingsley, com a voz lenta e profunda. — Eu precisava conversar urgentemente com o Harry e me informaram que ele estava na sua casa. Desculpe invadi-la sem um aviso prévio.

— Besteira, Quim. Você é sempre bem-vindo. — A Vovó Weasley corou. — Meninos, meninas, cumprimentem o ministro Shacklebolt.

— Por favor, Molly, todos aqui já me conhecem, eu acredito — disse Quim modestamente. — Podem me chamar de Kinsgley mesmo.

Kingsley sorriu e acenou para a mesa. Todos os adultos o cumprimentaram com euforia, oferecendo-lhe tudo que estava na mesa. Alvo, que se servia, deixou verter o leite na sua caneca, arrancando gargalhadas dos primos. O garoto tremia descontroladamente.

— E a dor nas costas, Drômeda? — perguntou o ministro da Magia, complacente.

Os olhos anchos e deleitantes de Andrômeda Tonks cintilaram.

— Ah, Kingsley, você sabe como é, a idade chega e as dores aparecem. Mas eu bebi a poção que você me recomendou e estou bem melhor, muito obrigada.

Kingsley tornou a curvar o canto dos lábios. Sua expressão, então, se converteu em uma carranca séria e intransigente.

— Harry, podemos conversar um pouquinho?

O Sr. Potter arrastou a cadeira para trás e se ergueu, abrindo um espaço para tio Rony e tia Hermione se esticarem mais.

— Sra. Weasley, a senhora se importa se usarmos o sótão? — perguntou o Sr. Potter.

— Certamente que não, querido — disse a Vovó Weasley. — Só tomem cuidado com o vampiro, às vezes ele fica meio agitado e atira as cuecas velhas do Rony.

— Mamãe! — protestou tio Rony. — Por que você vive guardando essas porcarias? Acha que o vampiro tem uma atração pelo cheiro de...

— Rony! — Tia Hermione o interrompeu enquanto todos riam.

— Ele passou tanto tempo disfarçado como você, Roniquinho, que até adquiriu seus antigos hábitos! — exclamou tio Jorge. — Você vivia usando a mesma cueca por duas semanas.

A mesa se encheu de gostosas risadas e, quando repararam, nem o Sr. Potter, nem Kingsley estavam presentes; Alvo havia notado o semblante aturdido do ministro da Magia antes de entrar na casa torta. A Sra. Tonks tentou engajar uma conversa sobre a inflação da Poção Wiggenweld; Rose ainda estava com o rosto rubro quando Alvo murmurou, levando um muffin aos lábios, sôfrego.

— Por que o ministro da Magia estaria aqui para falar com o meu pai?

Rose destrinchou a torrada com ovos mexidos.

— Seu pai é Chefe do Qartelgenral. — Terminou de engolir. — Desculpe. Seu pai é chefe da Seção dos Aurores, Alvo, acredito que seja corriqueiro este tipo de reunião. Ainda mais agora que um bruxo se escafedeu de Azkaban. Não é algo que acontece todo dia. Na verdade, faz mais de vinte anos que alguém conseguiu fugir e olha que eram os dementadores na época. O rodízio de aurores nunca falhou antes... mas não se preocupe, não creio que ele irá demitir o seu pai.

— Por tudo que é mais sagrado, que história é essa deste prisioneiro que sumiu?

Rose, que estava erguendo sua caneca até a boca, estagnou durante o trajeto e esbugalhou os olhos azuis.

— Você não sabe mesmo? — questionou, incrédula.

Alvo sacudiu a cabeça.

— Bom, já que você está diretamente relacionado com a história, acho justo que saiba tudo que eu possa informar — disse a prima. — Mas agora não é o momento mais apropriado.

Alvo bufou.

— Por que está todo nervosinho, Alvo? — falou Tiago da outra ponta da mesa, sua voz apenas mais uma no meio das dezenas loquazes na cozinha.

— Tiago, não enche o saco, por favor — silvou Alvo, acidentalmente. O irmão parou por um instante e entalhou um sorriso malicioso na sua face travessa.

— Falando assim parece uma cobra. Quem sabe a Sonserina não é a sua Casa. — Tiago notou uma palidez impressionante no irmão. — Ah, sim, Alvo... Sonserina! A famosa Casa que produziu bruxos das Trevas, bruxos com meio-cérebro...

— ... bruxos com estrume no lugar dos miolos — completou Fred, se intrometendo na conversa. — Soube que os murtiscos aparecem nos pijamas deles à noite! Como aqueles que eu trouxe no ano passado, lembra?

O rosto de Alvo perdeu quaisquer resquícios de cor, se é que era possível. Estava tão lívido quanto o leite que ele deixara derramar. Ele se lembrava piamente do que eram os murtiscos. Fred trouxera um de Hogwarts da aula de Trato das Criaturas Mágicas.  Murtiscos eram criaturas tacanhas que se assemelhavam com ratos, porém carregavam saliências bizarras no lombo, como tentáculos. Alvo nunca vira algo tão estranho quanto eles.

— Alvo, é mentira! — esbravejou Rose. — Salazar Slytherin era tão vaidoso quanto vocês e jamais deixaria que os alunos da sua Casa dormissem de maneira tão desconfortável! Prezava tanto pela nobreza que chegou a segregar os bruxos de sangue não-puro, embora isto não vigore nos dias de hoje, é claro. E, Fred, não tente bancar o sabichão porque se eu me lembro bem, você teve que passar o Natal com uma touca de esquimó. Preciso mesmo falar o porquê?

Fred se afundou na cadeira.

— E como pode afirmar tudo isso sobre a Sonserina? — indagou Tiago, desafiador.

— Li em Hogwarts, Uma História — disse Rose, radiante.

— Parece que temos mais uma leitora ávida por aqui — caçoou Fred, se empertigando. — Seus olhos não se cansam de tantas palavras chatas? Por que vocês não vão ler algo que preste como A Bíblia do Batedor?

Lucy ergueu os olhos para o primo.

— Parece que não são apenas os sonserinos que têm meio-cérebro, não é mesmo?

— Por que ficou tão ofendida, Lucy? — perguntou Tiago, mordaz.

— Não se finja de burro, Tiago — disse Lucy, áspera. — Se é que está fingindo. Eu sei de muitas coisas sobre você que te deixariam embaraçado, graças à leitura. Se você lesse o Jornal Estudantil saberia que há muitas histórias que o colocam como um verdadeiro patife em Hogwarts.

Os olhos de Tiago se estreitaram.

— Que tipo de histórias?

Lucy delineou o melhor sorriso irônico possível, seus olhos perfurando Tiago como brocas.

— Devo mencionar sobre Alfredo Livingstone?

Alvo deu um riso burlesco.

— Ninguém precisa saber disso — disse Tiago, contrafeito, virando as costas para a prima. — Lílian, pare de falar sobre mini-pufes com Hugo e me passa estes biscoitos, por favor.

Lílian, oblíqua, empurrou ao irmão uma lata com desenhos de brocados. Seus olhos esvoaçaram para o céu azulado, onde um borrão caleidoscópico ia se materializando na figura de uma coruja-barrada. A ave passou por cima das cabeças dos presentes e deixou cair um maço volumoso de cartas em cima do mingau de aveia, respingando nas pessoas mais próximas.

— Que droga, Mercúrio, você não sabe entregar nada sem fazer estardalhaço? — guinchou a Vovó Weasley, enquanto Teddy limpava o torso de Victoire. Tio Gui rosnou. — Guilherme Arthur Weasley! Ele está só ajudando!

Vovô Weasley estava aliviando a carga da coruja quando outras duas passaram batendo as asas por eles, pousando nas espaldas das cadeiras. Uma das corujas era Pichitinho, de tio Rony, a outra Alvo era um ímpar espécime com penugem laranja cingindo todo o seu dorso e cabeça, dando-lhe o ar de ser mais um membro da família Weasley. Era Rouquin, a outra coruja da família.

— Minhe nosse, Gui! — reclamou tia Fleur. — Estes diabins stan agitades!

— Lá vem a Fleuma... — resmungou a Sra. Potter.

— Nada de pânico — disse Vovô Weasley, desamarrando o barbante que envolviam as cartas. Fez um carinho em Mercúrio, que dava grandes sorvadas no suco de abóbora de tia Angelina. — Jorge, Rony, podem ajudar a tirar as entregas das outras duas?

Os tios se ergueram com dificuldades e desamarram as outras entregas das patinhas escamentas das corujas. Tio Rony revirou os olhos.

— Cartas da escola. Devem ser as listas de materiais — disse Vovô Weasley, de repente, enquanto distribuía os pergaminhos amarelados. — Uma para Molly... Fred... passem esta para a Victoire...

Enquanto as cartas eram espargidas entre os primos, tio Rony desfazia o nó que prendia as patas da coruja ruiva, apanhando o pacote do tamanho de um tijolo. Girou a embalagem em mãos, procurando o remetente e encontrou uma garatuja escrita sinuosamente: “para Alvo, de Hagrid.” O homem ruivo coçou o topo da cabeça.

— Que diabos! — exclamou, surpreso. — Alvo, uma encomenda chegou para você.

Tio Rony deslizou o pacote amarronzado no colo de Alvo, que o apalpou, curioso.

— O que você acha que é? — indagou ao tio.

— Não sei — Tio Rony deu de ombros. — Abra.

Alvo rasgou de cima à baixo o pacote; os olhos de alguns primos pararam no garoto, como se ele fosse bater a penalidade que decidiria a Copa Mundial de Quadribol. Meteu a mão no interior do embrulho quadrado e pescou uma bolsa felpuda com uma longa corda, configurada para se utilizar em torno da nuca.

— Uma bolsa?

Tia Hermione se ergueu e foi ao lado de Alvo.  Ela e Rose analisaram meticulosamente, resvalando o dedo pela textura, discutindo hipóteses. Rose tentou abrir a bolsinha, mas ela se comprimiu.

— Curioso, não acham?  — perguntou Alvo.

Tia Hermione estalou os dedos, efusiva.

— Eu sabia que já tinha visto! É uma bolsa revestida por pele de briba, Alvo. Somente o dono tem acesso aos itens dentro dele, bastante útil.

— Isso tem um dedo do Hagrid, com certeza — afirmou tio Gui.

— Agrid é um homam imprrevisive — comentou tia Fleur. — Como serrá que ele está com Madame Maxime?

Alvo encolheu os ombros. Ele só tinha visto Madame Maxime uma vez e ficou surpreso com sua aparência: era a maior mulher que o garoto já conhecera. Mesmo assim, não era uma selvagem que grunhia, mas uma dama de excelentes modos, além de ser diretora da Academia de Magia Beauxbatons, a escola de magia francesa.

Assim que todos terminaram de comer e todos voltaram para o interior d’A Toca, Alvo testou sua nova bolsa, colocando maçãs no seu interior e desafiou todos os primos a tentarem abrir. Roxanne foi até impelida após suas exaustivas investidas. A Sra. Potter, sentada em uma das poltronas, olhava constantemente para o relógio do tamanho do aro de basquete pendurado na sala de estar. Haviam vinte e cinco ponteiros, que eram os rostos de cada membro da família Weasley e, no lugar de números, haviam escritas nos mostradores. Os indicadores das crianças estavam parados em “férias”, ao passo que quase todos os adultos estavam em “casa”, a não ser tio Percy, tia Audrey, o Sr. Potter e tio Carlinhos, que estavam assinalados em “trabalho”. Não demorou muito até que o Sr. Potter, acompanhado de Kingsley, descessem as escadas. O Chefe do Quartel-General dos Aurores demonstrava uma certa irritação em seus gestos. Todos se voltaram para os dois homens.

— Obrigado pela hospitalidade, Molly — disse Kingsley, ao chegar na sala de estar.

A Vovó Weasley parou de tricotar.

— Foi um prazer recebê-lo, ministro — piscou, com um sorriso gentil.

— Parabéns, Arthur, por ter confiscado aquele caldeirão velho — congratulou Kingsley, num sorriso acalentador. — Você não faz ideia do quanto eu fiquei chocado quando soube que o Mylor estava utilizando aquilo para se defender. Eu mesmo o recompensei com um novo da Loja de Caldeirões Potage. Tsk! Minerva anda errando muito na escolha dos seus professores.

Tiago puxou a gola da camisa.

— Nem o Oakden Hobday deu certo e olha que ele parecia ser um sujeito decente — completou Kingsley. — Tentei dar uma força para ela, mas Minerva não cede facilmente.

— Obrigado, Quim — disse o Vovô Weasley, esfuziante. — Aliás, imaginei que não se importaria se eu guardasse o caldeirão na minha garagem, eh?

Kingsley, como de praxe, sacudiu as mãos.

— Não, não! Eu já conheço o seu apreço por objetos exóticos.

Vovô Weasley riu.

— Mais uma vez, agradeço pela hospitalidade — disse Kingsley. Seus olhos se moveram até as crianças no chão e nas poltronas. — Antes de ir, poderia falar com Tiago e Alvo, só por um minuto?

A sala se abismou em mudez. Alvo desbotou novamente. A surpresa embargara a sua voz. Ele não estava nem um pouco a fim de dormir em uma cela em Azkaban. Rose deu um empurrãozinho no primo, que se ergueu do chão e caminhou com o ministro até à cozinha, as juntas retesadas e inobedientes aos seus comandos.

— Até breve — despediu-se Kingsley, antes de entrar no outro cômodo.

— Tem certeza de que ele não veio arrancar nossas cabeças? — gemeu Tiago, pareando com o irmão.

Alvo chiou algo incompreensível, porque nem mesmo ele sabia o que dizer naquele momento. O ministro puxou uma cadeira e convidou os garotos a fazerem o mesmo.

— Muitos anos de vida — disse Kingsley, acenando a cabeça para Alvo.

— O-o-b-brigado... — Alvo respondeu depois de um tempo.

Kingsley lançou um Feitiço Isolante Acústico e ligou o rádio, que tocava música pop.

— Adoro essa cantora... Glenda Chittock, não?

Tiago travou uma risada.

— Realmente, Tiago, o nome dela é hilariante — gorjeou Kingsley. Ele colocou sua mão em cima da mesa e entrelaçou os dedos, ponderoso. — Mas o que eu tenho a dizer não é muito engraçado, garotos. Lamento muitíssimo, mas vocês terão de responder a um inquérito a respeito da morte de um auror.

— Nós o quê?! — exclamou Tiago, incrédulo.

Os lábios de Alvo tremeram.

— M-mas nós... nós não o matamos!

— Eu sei — disse o Ministro, calmamente. — Vocês não estão sendo acusados de homicídio, mas foram as únicas testemunhas oculares além da auror Flora Nightingale. Terão de responder, sinto muito.

— É injusto! — rezingou Tiago.

— No meu governo não há injustiça — disse Kingsley, seco. — Veja bem, garotos, vocês ainda tiveram uma grande sorte. Este inquérito estava marcada para o mês de setembro, mas eu insisti que não atrapalhassem o ano letivo de vocês. Seu pai entrou com um recurso e conseguiu alterar a data.

Tiago estava pronto para uma nova onda de protestos e xingos, mas Alvo se antecipou:

— Qual a nova data?

— Não foi definida ainda. — O ministro Shacklebolt se levantou e caminhou até a porta. — Mas posso antecipar que será na terceira semana de julho.

— Durante a Copa Mundial de Quadribol... — rangeu Alvo.

— Você não é a única pessoa que está triste com tudo isto — continuou Kingsley, abrindo a porta com dificuldades. Os garotos o acompanharam. — Bom ano letivo para vocês.

— Ministro — disse Alvo, após reunir muita coragem. O homem parou de chofre.

Quim, por favor — corrigiu o homem alto e careca.

— Quim. Quem eram aqueles homens mascarados que encontramos?

O ministro hesitou.

— Bruxos maus — respondeu, selecionando as palavras. — Na verdade, são servos de bruxos maus. Quero que fiquem longe deste assunto, o máximo que puderem. Não saiam de casa, deixem os adultos trabalharem.

Tiago cruzou os braços, carrancudo.

— Temos mesmo que comparecer neste inquérito? — perguntou Alvo, esperançoso.

— Sim, terão — lamentou Kingsley. — Entendam, é um procedimento necessário, eu não tenho culpa. Vocês tiveram o azar de estar no lugar errado, na hora errada.

Kingsley ergueu as sobrancelhas em forma de alento; lançou um último aceno e rodopiou a capa no próprio eixo, desaparecendo em um vórtice. Alvo manteve-se estático enquanto o sol açoitava seus olhos. Tiago, frustrado, chutou um caldeirão na cabeça de um gnomo, que tombou com um galo na testa.

No entanto, nem mil calombos mudariam a decisão do ministro da Magia.

O mês de agosto transcorreu melancolicamente para Alvo Severo Potter. O seu aniversário foi comemorado timidamente n’A Toca e desde então não vira mais nenhum parente, a não ser os irmãos e os pais.

O pai passava a maior parte do tempo fora de casa ou trancado em seu escritório, trabalhando horas a fio, aumentando o estresse da mãe. Alvo jurou até ver alguns fios desbotados em sua cabeça.

O jantar era realmente monótono. Em quase todas as refeições a Sra. Potter servia purê com salsicha; Alvo apenas ciscava no prato enquanto a fome abandonava o seu corpo pouco a pouco. Até desejou provar o bouillabaisse de tia Fleur. A notícia do inquérito enfurecera o Sr. Potter de uma maneira impressionante, fazendo-o jurar a todo custo que encontraria o bruxo clandestino, afinal, já havia capturado dezenas de malfeitores.

As visitas de Teddy e de Hagrid no jantar foram estimulantes à família. O meio gigante trazia sanduíches de carne de arminho, que não eram nada saborosos, mas o seu bom humor já era o suficiente para transformar as refeições em um espetáculo recheado de atrações. O Sr. Potter contava piadas, Hagrid cantava e esvaziava garrafas de quentão, a Sra. Potter escrevia artigos de Quadribol e Teddy divertia as crianças mudando a forma do seu nariz.

Vejam quan son eu — disse Teddy, com os cabelos loiros e o nariz tênue. — É clarro que sou moí... Titia Fleuma!

Todos na mesa riram com intensidade. Depois do jantar, a Sra. Potter acenou com a varinha e os pratos e tachos se ergueram no ar e se empilharam, flutuando até a pia; uma esponja se levantou e começou a lavar toda a louça, espirrando um pouco de espuma no chão.

— Ainda acho que mamãe me ensinou o feitiço de maneira errada — lastimou a Sra. Potter.

Teddy e Hagrid se ergueram e iniciaram as despedidas.

— Obrigado pelo jantar — disse Teddy, abraçando o Sr. Potter e a Sra. Potter. — Acho que só nos veremos depois de amanhã, certo?

— Quando você preferir — sorriu o Sr. Potter. — Amanhã vamos ao Beco Diagonal comprar os materiais para Alvo e Tiago, se quiser ir junto. Acredito que todo mundo vá amanhã.

Teddy murmurou:

— Até a Victoire?

O Sr. Potter assentiu.

— Então eu posso pensar no assunto — disse Teddy, bem-humorado.

Hagrid, ligeiramente exaltado, dava um abraço de partir as costelas nas crianças.

— Nos vemos daqui uns dias, Alvo e Tiago — disse o meio gigante. — E, nos vemos em breve, pequena Lílian.

A garota ruiva deu um curto sorriso, claramente chateada.

— Não se preocupe — consolou Hagrid. — Quando você menos esperar, já estará estudando com os seus irmãos.

Desta vez, aplicou um abraço mais delicado na garotinha. Virou o rosto barbudo para Alvo e bagunçou seus cabelos.

— Espero que tenha gostado da bolsa que enviei.

— Ah, sim, tenho usado toda hora!

— Que bom! Eu já havia dado uma dessas para o seu pai quando completou dezessete anos e achei melhor presenteá-lo mais cedo. — Hagrid se abaixou para falar com o garoto, fazendo uma enorme sombra. — Assim que você chegar em Hogwarts está convidado para tomar chá na minha cabana na sexta-feira, OK?

Alvo sentiu a animação tomar conta de seu corpo.

— OK, com certeza! Será o maior prazer!

Hagrid lhe lançou um sorriso e se ergueu, batendo a cabeça no teto.

— E você — disse num tom rigoroso, enquanto apontava o seu enorme dedo para Tiago —, nada de confusões.

Tiago e Hagrid se encararam por um instante e então caíram na gargalhada, se contorcendo e dando tapas na coxa.

— É claro, pode deixar, Hagrid — disse Tiago após recuperar o fôlego.

Hagrid limpou uma lágrima falsa e acompanhou Teddy até o quintal. O metamorfomago lançou o Feitiço da Desilusão nele e Hagrid tocou o seu guarda-chuva florido no topo do ninho que era seu cabelo. Nem todo o seu corpo sumiu, ficando um par de manzorras para trás, até que elas desapareceram dos olhos dos Potter. Alvo deu um aceno para o quintal e então se seguiu o estalo e a noite tornou a ficar calma e silenciosa em Godric’s Hollow. O pai voltou a se trancar em seu escritório, a mãe começou a escrever um artigo sobre a ascensão de Aidan Lynch a técnico da Seleção Irlandesa nas vésperas da Copa Mundial — a qual os irlandeses necessitam urgentemente de três vitórias em três partidas para se classificarem.

Alvo subiu as escadas correndo até o seu quarto, os pensamentos distantes do chalé. Só conseguia imaginar no dia de amanhã quando iria ao Beco Diagonal finalmente comprar seus materiais. Depois de anos de espera ele teria sua própria varinha! Não via a hora de poder dar um cuecão em Tiago, em vingança pelos últimos anos.

Girou a maçaneta e encontrou a mesma coruja laranja d’A Toca voando em torno do candeeiro, claramente agitada ou faminta. Nas suas patas estava um envelope. Alvo, curioso, tentou apanhá-la no ar, mas a coruja não parava quieta. Ouviu uma claque em baixo dos pés e notou que havia partido o mostrador da bússola rastreadora que havia ganhado de tio Gui.

— Mas que m... — rezingou enquanto segurava o pé latejando. Empurrou o objeto para baixo da cama enquanto a coruja finalmente pousava na cabeceira. Alvo se atirou para não deixá-la escapar. Desfez o emaranhado de fios dentais e abriu o envelope, puxando a carta. A caligrafia escorrida, porém delicada de Rose Weasley escrevia:

Caro Alvo,

Desculpe a demora para enviar esta carta. Estava esperando mamãe e papai pararem de trocar correspondências para utilizar Rouquin.

Não encontrei situação melhor para lhe contar a história do bruxo que sumiu.

Alvo se empertigou na cama, ao mesmo tempo que Rouquin alçava voo novamente.

 

Eu espero que você compreenda que eu não sei tudo sobre o assunto, então me perdoe se houver lacunas.

Bom, Rodric Hotwan é o nome do bruxo que sumiu de Azkaban sem deixar vestígios. Seu pai o colocou na cadeia em 2010, mais ou menos, pelo que ouvi. Ele tinha duas companheiras: Rúbia e Fúlvia Scarlet, além de uma pá de seguidores. Muitos deles usavam a máscara de um corvo, que era o símbolo da facção deles.

Busquei notícias antigas no Profeta Diário sobre eles e encontrei algumas informações interessantes. Há uns dez anos atrás eles saquearam uma pequena região na Turquia e recentemente eles estiveram no Reino Unido. Li que eles chegaram a entrar em Hogwarts! Não me pergunte o porquê, pois não há mais nada sobre. Não faço ideia qual seja o intuito deles, mas sei que o homem que você encontrou fazia parte da gangue de Hotwan. Mamãe pediu para que esquecêssemos o assunto e acho que você também deveria.

Amanhã iremos ao Beco Diagonal e acredito que vocês também. Espero que nos encontremos lá.

Não responda esta carta, apenas despache Rouquin o mais rápido que puder.

Rose

P.S.: Se ele ficar muito agitado, ofereça algumas frutas secas.

 

Alvo dormiu mal naquela noite. Após despachar Rouquin, com muitas dificuldades, deitou-se com a carta contra o peito, digerindo aos poucos as notícias. Seria uma grande coincidência Hotwan sumir na época que ele estava indo para Hogwarts?

A mãe levantou todos muito cedo na morna manhã seguinte. Com o contorno dos olhos escuros, os Potter engoliram o café. A Sra. Potter separou as cartas com a lista de materiais e a pequena família se ajeitou no Rolls-Royce Silver Shadow verde-escuro.

— Vamos ter que dar uma passada no Gringotes? — perguntou a Sra. Potter, enquanto revisava as listas.

O marido assentiu com um bocejo.

— É tão bom saber que a McGonagall permite que os primeiranistas possuam vassouras — prosseguiu a Sra. Potter. — Vai fazer o teste, Al? Você e Tiago podem jogar juntos, o que acha?

— Eu... — Alvo sentiu as orelhas queimarem. — Acho que não, mãe.

— É, mamãe, Alvo é um frangote! — debochou Tiago. — E sem falar que eu não jogo na Sonserina.

Alvo fechou a cara e cruzou os braços. Era por esse e outros motivos que não queria fazer o teste para o time, mesmo que os alunos do primeiro ano pudessem ter uma vassoura. Tiago zombaria do irmão no meio do jogo, independentemente da sua Casa. Todos diziam que Alvo herdara os dotes no esporte como os pais. Sempre que jogava com os primos era bastante elogiado como apanhador, embora a dona da posição, oficialmente, fosse a Victoire, desde que ela tinha treze anos. Ela havia dito que abandonaria o time para estudar no seu último ano para os N.I.E.M.’s — Níveis Incrivelmente Exaustivos de Magia. Tiago estava planejando fazer o teste pela primeira vez, agora que, segundo ele, o capitão era uma pessoa mais decente.

— Não fale assim, Tiago! — reclamou a Sra. Potter. — Tem certeza, Al? Aqui está falando que somente alunos que farão o teste poderão possuir uma vassoura. Vamos comprar uma para seu irmão.

Tiago quase saltou em cima da mãe para lhe abraçar.

— Obrigado, mamãe! — Estalou um beijo na bochecha da Sra. Potter. — E papai, é claro!

— De nada, Tiago — respondeu o Sr. Potter. — Mas tome cuidado ou eu vou bater o carro!

— Não, mãe, obrigado — disse rispidamente Alvo, mesmo que ninguém exceto Lílian ouvisse.

A viagem foi mais rápida do que Alvo imaginou. Embora o pai utilizasse os botões multiplicador de invisibilidade e de aumento drástico de velocidade, os Potter só conseguiram estacionar em uma fileira de carros há quadras antes de Charing Cross. Vestidos como trouxas, a família passou por lanchonetes que perfumavam o ar com o cheiro de presunto e por cinemas com enormes filas para ver um filme que tinha o slogan de “o mais improvável da história” — Missão Impossível 6, leu Alvo.

Continuaram caminhando até encontrarem o barzinho com ervas-daninhas confeccionando sua estrutura externa. Os trouxas simplesmente ignoravam e entravam na livraria de um lado ou na loja de cd’s do outro, que tocava The Beatles em alto som. O Sr. Potter sacou a varinha e sussurrou alguma coisa na direção de cada parente. A família entrou no barzinho com aroma de orvalho, seu interior revestido por algumas urtigas e tímidas valerianas no teto. Alvo envolveu a bolsa de pele de briba no pescoço.

Haviam diversos suportes sobre as mesas onde ardiam velas intermináveis, dando uma iluminação castanha ao local. O Caldeirão Furado tinha uma energia alegre e diferente. De um lado, moças liam vorazmente uma revista brilhante; do outro, bruxos de cabelos oleosos e grisalhos fumavam longos charutos e falavam sobre o amistoso que marcava a volta dos Rojões de Banchory contra os Araras de Moutohora.

— Meu heptavô não perdia uma partida sequer! — vangloriou-se um deles. — Assistiu até o jogo contra os Flechas de Appleby! Uma verdadeira tragédia, meus amigos.

O balcão estava repleto de bruxos dos mais diversos tipos: altos e baixos, magros e robustos. Alguns deles brindavam e batiam suas canecas de cerveja amanteigada, enquanto outros liam o Profeta Diário acompanhado de uma xícara de café preto e fumegante. Atrás do guichê, um homem alto e forte, de pele morena, cabelos aveludados e olhos acinzentados, secava um cálice, ao passo que conversava com um bruxo de chapéu de copa alta e abas curvadas.

As notícias pareciam estar realmente quentes, porque ninguém sequer reparou que O Eleito estava diante deles. Os pais tomaram a dianteira enquanto os filhos caminhavam timidamente esperando algum assédio em cima deles, o que prontamente não houve. Enquanto passavam perto do balcão, Alvo ouviu um pequeno trecho da conversa do garçom.

— Eu já lhe disse, Stephen! — falou o garçom com certa irritação. — Eu já o vendi faz tempo, para um vendedor de quinta categoria. Aquilo era lixo!

— Sabe, Gael — disse o bruxo de chapéu. — Sou um grande colecionador de caldeirões...

O garçom riu e começou a limpar o balcão.

— Colecionador de caldeirões? Conte outra!

Alvo varreu os olhos pelo local. Havia diversos retratos tortos na parede com o seu padrinho, Neville, e a esposa, Ana, apertando a mão de bruxos famosos que passaram pelo lugar, como o ministro da Magia, ou a jogadora de Quadribol, Gwenog Jones, além de diversos rostos que Alvo não reconheceu. Os cinco Potter ultrapassaram as mesas quadradas de carvalho, com o assoalho rangendo baixinho. À medida que avançavam, Alvo começou a pensar que eles estavam sob efeito de algum encanto. Chegaram a um pátio exíguo de paralelepípedos e rodeado de blocos que erguiam um muro. Alvo achou que teria sido mais prático utilizar a rede de Flu, porém, graças a tio Percy, ela andava mais ocupada do que o normal.

— Parece que o Gael está mesmo ajudando o Neville — disse o Sr. Potter enquanto cruzava o patim. — Você viu? Estava cheio. Fico feliz por ele e Ana estarem trabalhando juntos em Hogwarts.

— Poderíamos ter dado um alô para o Gael! — disse a mãe, alterada. — Eu disse para você não usar nenhum feitiço!

— Não podemos perder muito tempo, Gina — justificou-se o Sr. Potter. — Você sabe que eles vão nos parar.

A Sra. Potter manteve os braços cruzados, a bolsinha sacudindo à medida que andava.

— Pode então cessá-lo? Como vamos fazer as compras?

O Sr. Potter, pressuroso, retirou novamente a varinha das vestes e apontou para a família, sussurrando. Entrementes, Tiago já estava na frente da lata de lixo, eufórico.

— Posso, pai? — disse esbaforido. — Você prometeu que sim!

O Sr. Potter abriu espaço para um Tiago cheio de orgulho retraindo sua varinha. Ali perto, Alvo sentia as entranhas torcendo como borracha no seu interior. A ansiedade fez sua temperatura subir radicalmente e seu coração se elevar à garganta, as perguntas aparecendo e as respostas sumindo. Despertou do devaneio assim que viu o muro se dobrar com as batidas da varinha de Tiago. Um orifício surgiu no centro e começou a crescer... e crescer... e crescer, a ponto de se tornar um gigantesco arco que ondulou e sumiu perante seus olhos. Alvo sorriu com todos os dentes a vista e seguiu no encalço da família pela popular rua confeccionada com pedras acidentadas. Por mais que fosse a enésima vez que o garoto estivesse no Beco Diagonal, o brilho nos seus olhos era sempre incandescente.

Um homem de cabelos volumosos e castanhos, com bigodes que lembravam um guidão de bicicleta, estava varrendo a fachada de sua pequena loja com caixotes e engradados montados em uma elaborada pilha. Alvo apertou os olhos para ler o nome da loja quando a mãe o chamou.

— Al — disse, espantando o garoto. — Vou ao Gringotes com seu pai. Vá com seus irmãos comprar os materiais para Poções. Tome.

A mãe entregou ao garoto um fardo pesado, cheio de moedas, e a lista de materiais dele e de Tiago.

— Mas nada caro, hein? — Os olhos de Alvo se acenderam. A mãe deu um beijo na bochecha de cada filho. — Nos encontramos no Olivaras. Cuidem da sua irmã!

Alvo assentiu.

Se o objetivo do pai era não ser reconhecido, havia falhado copiosamente. A multidão havia bifurcado. Assim que a família se separou, os bruxos começaram a parar as crianças para lhes cumprimentar, tocar em sua carne, perguntar pelos pais. Tiago, impaciente, puxou os irmãos pelo pulso, desbravando o caminho de pessoas que queriam a atenção deles. Uma vendedora caolha fez uma oferta nem um pouco atraente aos meninos: quatro rabos de ratazana grátis — recusaram imediatamente.

As três crianças atravessaram a marola de gente, olhando para todos os cantos, um sorriso bobo no rosto, os olhos resplandecendo. Havia de tudo no Beco Diagonal, coisas que só apareciam em época de compras escolares: biles de tatu, asas de fada mordente, telescópios elásticos de prata maciça, barricas que vibravam, contêineres de poções...

— Ah, vejam só, é a professora de Adivinhação — disse Tiago, apontando para a mulher que estava parada à metros dele, cheirando um pote com ervas aromáticas e equilibrando uma bola de cristal.

A professora era uma mulher realmente estranha, pensou Alvo. Era uma mistura bizarra de inseto com charlatã, diáfana, com xales imensos e brilhantes, além de mil colares, anéis e um par enorme de óculos que aumentavam seus olhos. O menino ficou com medo de passar ao lado da mulher, que só foi reforçado ainda mais quando os seus dedos finos e cobertos de anéis apertaram o braço de Alvo. Seus olhos se ergueram e confrontaram um par desvairado, fora de órbita, a voz rouca e longe de ser feminina sussurrante; o pote caiu no chão.

“Criança amaldiçoada... No final do décimo mês, aquele que detém os poderes libertará os demônios... E então, na floresta, o servo finalmente encontrará o impasse... Não permitirão que a alma se rompa em momento algum. Corvos.”

Ela parou. Sua cabeça ficou suspensa para trás e então seus olhos começaram a entrar em foco aos poucos, assim como sua voz emaciada.

“Uma vez falhará. No jogo da vida, a vida estará em jogo. Quando perceber quem é o traidor, será tarde demais... A vida inocente perecerá.”

Sua mão afrouxou e seus olhos voltaram ao normal. A mulher se assustou com a presença das três crianças, deixando o globo cair no chão, que reverberou um som oco e rolou pela rua.

— Desculpem, queridos — disse a mulher com a voz meiga. — Senti uma leve tontura e deixei cair minha essência de lavanda. Viram uma bola de cristal?

Alvo a olhou com espanto e não a respondeu, o que não fez diferença à professora. Ela apanhou o pote do chão e saiu caminhando na direção oposta como se nada tivesse acontecido.


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Notas finais do capítulo

Sinistro, não acham?

Algum palpite do que se trata o vaticínio?

Ah, não me xinguem, por favor, não é porque temos uma predição é porque temos O Escolhido, O Eleito. Não, galera, Alvo é, como me referi em homenagem à peça, a Criança Amaldiçoada. E tudo vai fazer sentido uma hora, acreditem em mim. :)

Espero que tenham sacado as referências, hein!

Antes de falar sobre as curiosidades dos capítulos, gostaria de indicar duas fanfic para quem gosta de Jogos Vorazes. Elas são fantásticas!
Os Jogos de Johanna Mason, de Tagliari:
https://fanfiction.com.br/historia/661496/Os_Jogos_de_Johanna_Mason/

Our Games, de Magicath:
https://fanfiction.com.br/historia/660259/Our_Games

Curiosidade do capítulo: Oakden Hobday e Mylor Sylvanus são dois personagens retirados de um planejamento da J.K. Rowling. Ambos seriam professores de Defesa Contra as Artes das Trevas depois da guerra, possivelmente. De um jeito ou de outro eu os acrescentei porque acho que se a J.K. Rowling os criou, eles não podem ser "descriados" por mim. :)

Não se esqueçam de comentar, favoritar, recomendar, dançar macarena, mas apareçam aqui porque eu vou adorar a presença de vocês e saber o que estão achando da fanfic até agora. :) Não sumam, hein, eu não tenho medo de fantasmas (tenho sim)!
Obrigado e até semana que vem.

Att,
Tiago



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