Alvo Potter e a Sala de Espelhos escrita por Tiago Pereira


Capítulo 3
Capítulo 3 — A revogação


Notas iniciais do capítulo

BOA TARDE, GENTE, TUDO BEM? Espero que sim.
Mais uma sexta-feira, mais um capítulo. Vão se acostumando, hein! u_ú
Este capítulo é para quem está ansioso para saber o que vai acontecer com Alvo e Tiago depois da confusão do último capítulo. Será que OS DOIS VÃO SER EXPULSOS DE HOGWARTS?
Espero ter atiçado a curiosidade.
Ah, e muito obrigado pelos elogios e por estarem lendo e comentando, vocês moram no fundo do meu coração.
Boa leitura!
Obs: Cliquem no asterisco (*) quando aparecer.



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— QUAL FOI A ÚLTIMA entrega que você fez a este endereço? — perguntou a Sra. Potter com dureza. — Diga!

Os garotos congelaram. A mãe fez um movimento com a cabeça e os irmãos debandaram para dentro do chalé. O seu olhar perpassou por Alvo como uma lâmina afiadíssima raspando em sua espinha.

— Trouxe três unidades de Sabão de Ovas de Sapo — respondeu Donald, formalmente. — Endereçados ao senhor Tiago Sirius Potter.

A Sra. Potter lançou um olhar fulminante sobre Tiago, que se encolheu igual uma lesma derretendo. O garoto riu, sem graça, e afundou a mão nos cabelos, desconcertado.

— Eu não me lembro disso — falou a Sra. Potter. — Como pode provar que não é um impostor?

— É, mamãe — disse Tiago, atônito. — Ele está falando a verdade. Se não confia no Donald, confie em mim.

— Não deveria confiar em você — retrucou a Sra. Potter, inflexível. — Entretanto, nas condições atuais, sei que estão falando a verdade. Entre, Doni, e me desculpa o inconveniente.

Donald MacDuff limpou os sapatos no carpete e se adiantou ao pórtico, apertando a mão da Sra. Potter.

— Besteira, Ginevra! — desdenhou Donald. — Temos um verdadeiro bruxo doidão solto, você fez certo em se precaver. Não é à toa que estou vestido de estrangeiro. A propósito, se não fossem os seus filhos, duvido muito de que eu estaria aqui.

A Sra. Potter empurrou a porta contra o batente e se virou para as três figuras.

— Ah, é? — perguntou, colocando as mãos nos quadris. — Isto é novidade para mim. Aliás, há muitas coisas que eu realmente não estou sabendo sobre esta noite. Quer beber alguma coisa, Doni?

Alvo evitou encarar a mãe, fitando os seus tênis. A Sra. Potter chispou os garotos para a sala enquanto convocava uma intocada garrafa de uísque de fogo da cozinha para Donald. Os retratos na parede se empertigaram para ver o que se passava com os garotos; Hengisto de Woodcroft, um homem de bata azul e cabelos e bigode desgrenhados, pulou de quadro em quadro até chegar no grande retrato dos cinco Potter atrás do sofá de chintz aonde os garotos se encontravam discutindo.

— Você é um tresloucado, Tiago — guinchou Alvo. — A sua ideia era maluca, maluca!

— Alvo, não fique chorando pela poção derramada — respondeu Tiago. — Lá no fundo, sabíamos que não ia dar certo.

— E agora? — perguntou, com os dedos retesados nos bolsos da calça.

Vamos fazer figas e esperar o melhor — Tiago entoou o lema dos Chudley Cannons.

— É melhor fazerem mesmo.

Ouviram a voz da mãe ecoar do pequeno hall. A mulher veio caminhando com Donald, que dava goladas no uísque direto da garrafa. Os olhos de Alvo se direcionaram para o fogo tremeluzente da lareira.

— Agora, sem mais delongas — disse Donald, repousando sua bolsa de carteiro em cima da mesinha no centro da sala, rodeada pelas poltronas e o sofá. Abriu-a e enfiou o braço até a axila no interior. Alvo arregalou os olhos. — Aqui está! Ah, não, confundi: está escrito Pontner. Pelas plicas de Merlim, está bem no fundo!

Donald meteu o braço novamente na sua, aparentemente, pequena bolsa de carteiro. O coração de Tiago estava tão acelerado quanto uma Firebolt e ele pensou que fosse desmaiar ali mesmo. Alvo conseguia ouvir a respiração rasa do irmão e chegou a sentir o sangue latejar em seus ouvidos.

No alto da escada, Lílian apareceu segurando seu hipogrifo de pelúcia. Reparando na presença da mãe, empalideceu e engatinhou para se esconder atrás do balaústre de madeira. Lílian olhou para os irmãos, sem saber o que fazer.

— Agora, sim! — disse Donald, erguendo um grande envelope de pergaminho e entregando nas mãos da Sra. Potter.

Aja, Lílian, pensou Alvo. Tiago já estava da cor de papel sulfite, quando gritos revoltosos ecoaram no corredor de cima, seguidos de uma avalanche de quadros.

— Veja, parece que há fantasmas aqui nesta casa! — exclamou Donald, seu rosto iluminado pelas reentrâncias de luz nas janelas acortinadas.

— Não temos fantasmas — disse a Sra. Potter, enrugando a testa. — Lílian! Está tudo bem?

Todos ouviram passinhos correndo.

— Que inconveniente! — disse Tiago, com escárnio. — Quer que eu vá lá ver o que houve?

A Sra. Potter deu um risinho sarcástico. Os protestos dos retratados que caíram continuaram a reverberar.

— Eu vou ver o que está havendo. — E virou-se para Donald. — Doni, se quiser utilizar a nossa rede de Flu.

Donald largou a garrafa de uísque de fogo na mesma mesinha e recolocou a bolsa em transversal no peito. Deu um aceno com a cabeça para a Sra. Potter e bateu continência aos irmãos Potter.

— Nos vemos em breve, rapazes. Obrigado por me salvarem daquele policial trouxa, ainda bem que enfeitiçaram ele e...

Alvo fez uma careta, ciente de que estaria encrencado. A Sra. Potter ouvia tudo de boca aberta. Vendo que havia falado de mais, Donald se precipitou na lareira, apanhou uma pitada do Pó de Flu brilhante e, quando atirou na lareira, chamas verde-esmeralda se elevaram com um rugido. Ele entrou e gritou: “Átrio!”. E desapareceu.

— Que história é essa de enfeitiçarem trouxas?! — perguntou a Sra. Potter, exasperada. — Vocês me devem uma explicação.

— Lílian também está envolvida — disse Tiago, com um tom de urgência contundente.

Alvo acotovelou as costelas de Tiago, balançando a cabeça em desaprovação.

— Sua irmã está dormindo... — A Sra. Potter ergueu os olhos em direção do balaústre, o hipogrifo havia ficado para trás. — Era só o que faltava.

— Ela estava ajudando a gente — sussurrou Alvo a Tiago, indignado. — Você comeu o quê? Titica de pufoso?

— Só sei que não vamos nos ferrar sozinhos — retorquiu no mesmo tom.

— Lílian Luna Potter! — exclamou a Sra. Potter, estupefata. — Desça aqui neste exato momento antes que eu vá buscá-la.

Uma onda de passinhos ecoou do corredor acima do deles e Lílian foi descendo a escada de madeira com a cara amarrada e as orelhas queimando. Lançou um olhar fulminante para Tiago e se sentou entre os dois irmãos, encolhida e envergonhada. A Sra. Potter, com as mãos atrás do tronco, se posicionou na frente dos três filhos, perpassando os olhos de um em um, pousando em Tiago por um instante.

— Quero que me explique o que você tinha na cabeça quando saiu perambulando em plena madrugada em uma moto voadora por Godric’s Hollow — disse a Sra. Potter. — É melhor ser bastante convincente, se não quiser passar um ano sendo ensinado em casa.

Tiago não disse nada, apenas abaixou a cabeça.

— Vocês três têm noção do perigo que correram? — A Sra. Potter andou de um lado a outro, a carta presa entre os dedos. Suspirou e retomou a falar. — Estou totalmente desgostosa! Imagine que coisa terrível vocês aparecerem amanhã no Profeta Diário e as pessoas falando mal dos meus filhos! E, se há uma coisa que eu não permitirei, é que saiam falando dos meus filhos de maneira equivocada.

Alvo se aprumou no sofá. À medida que o calor do corpo ia passando e a adrenalina ia baixando, mais dores pelo corpo sentia. O ardor nos ombros e na coxa eram quase insuportáveis. Desejou muito que a bronca da mãe fosse breve, as suas pálpebras estavam começando a pesar uma tonelada a mais — ele nem tinha dormido ainda. Entretanto, ele foi despertado quando Tiago disse:

— Na verdade, mamãe, a verdade está aí na carta.

— Como assim? Não é a lista de material?

— Assinada por Mafalda Hopkirk? É melhor que você leia, por favor.

Alvo sentiu o lábio tremer, os olhos esbugalhados. A Sra. Potter desenrolou o pergaminho e hesitou por um instante. Sua mão esticou e pousou a carta no colo de Tiago.

— Acho que é melhor você ler para nós — disse. — Não temos segredos a esconder entre nós, certo?

Alvo viu o pomo-de-adão de Tiago subir e descer. O garoto pigarreou, mas um estrépito fez todos paralisarem. Os quatro Potter capitaram um pio alto de estourar os tímpanos.

— Outra coruja! — exclamou Alvo.

Correram para a cozinha, onde encontraram caldeirões tombados de boca para baixo. A coruja cinza estava aterrissada na mesa com um maço de cartas preso no bico. A Sra. Potter apanhou uma tigela sobre a pia com algumas amêndoas tostadas e deu para a coruja, que soltou as cartas e regozijou, assoviando. Alvo e Lílian se aproximaram da mesa. O maço estava desfeito e uma carta sobrepunha-se à outra. A Sra. Potter tomou a dianteira e alisou o pergaminho ligeiramente danificado pelo bico da hiperativa coruja.

— Mais uma carta, Tiago? — rezingou a mãe. — E da Minerva McGonagall? O que você andou aprontando? Olha, eu não estou com muita paciência para ficar recebendo cartas de advertências. Parece que você nunca muda! — A Sra. Potter trocou de carta e parou subitamente. Sua sobrancelha se ergueu e um sorriso contagiante se abriu. Ela entregou a carta ao seu filho do meio e lhe apertou em um abraço antes que ele pudesse entender. — Parabéns, Al! Com todos estes acontecimentos foi até difícil lhe desejar feliz aniversário. Mas não pense que eu esqueci do que você e Tiago fizeram, OK? Aliás, quem te deu esta camisa? Ah, não importa, abra logo a carta.

Alvo, rubro como uma beterraba, ergueu a carta meio amarelada na altura dos olhos e mal conseguiu descrever o que sentira. Sua boca tremeu, procurando alguma palavra adequada, mas não conseguiu pensar em nada. O pergaminho era grosso e pesado. Desceu os olhos até à tinta verde que indicava o destinatário e só precisou somar dois mais dois para entender quem era o remetente; mesmo assim, ele virou a carta e tocou no lacre de cera constituído por um leão, um texugo, uma cobra e uma águia circundando a letra “H”.

Sr. A. Potter,

O Quarto ao Lado do Banheiro

Chalé dos Potter, Inumerável

Godric’s Hollow, West Country

Alvo, com as mãos trepidando, apanhou a carta de dentro do envelope e leu para si:

ESCOLA DE MAGIA E BRUXARIA DE HOGWARTS

Diretora: Madame Minerva Ross McGonagall

(Ordem da Fênix, Ordem de Merlim, Primeira Classe, Grande Feiticeira, Madame, Bruxa Chefe, Membro Honorária da Associação Internacional dos Transfiguradores)

Prezado Sr. Potter,

Temos o prazer de informar que V.S.ª tem uma vaga na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.

Estamos anexando uma lista dos livros e equipamentos necessários.

O ano letivo começa em 1º de setembro. Aguardamos sua coruja até 12 de agosto, no mais tardar.

Atenciosamente,

Neville Longbottom

Diretor Substituto

No rodapé do pergaminho, na mesma caligrafia do padrinho, estava escrito: “Feliz aniversário, Al. Desculpe pela demora em entregar sua carta, queria transformar seu dia mais do que especial. Muitos anos de vida.”

Alvo estava esbaforido, um sorriso de orelha a orelha estampado no seu rosto magro. Lílian e a Sra. Potter se emparelharam ao garoto, lendo a carta para se certificar que tudo aquilo era tangível. Pela primeira vez naquele nove de agosto, Alvo não desejou que tudo não passasse de um sonho; pelo contrário, queria pausar este momento e vivê-lo até enjoar. Na outra extremidade da mesa, Tiago estava retirando o pedaço longo de pergaminho do envelope. Pela velocidade que lia, Alvo teve certeza de que o irmão pulava as palavras que não entendia. Seus olhos estavam inchados, como se tivesse passado a noite aos prantos; no entanto, era apenas um reflexo da insônia. Alvo supôs que seu estado poderia ser pior ou igual de Tiago, mas ele não sentia mais cansaço ou dor. Na realidade, ele mal sentia o seu corpo.

— Há tanta coisa para se comprar! — disse Lílian, sonhadora. — Vestes, livros e, por que não, uma Poção Capilar Alisante? Afinal, seus cabelos são tão rebeldes e...

— Lílian, não viaja — disse Alvo, um pouco ofendido.

— E o que diz a sua carta, Tiago? — perguntou a Sra. Potter.

Tiago ergueu a palma da mão, pedindo um instante. Correu os olhos como uma máquina de escrever pelo pergaminho. Quando seus olhos pararam com os movimentos fugazes, Tiago soltou vivas eufóricos, enquanto fazia uma dança tão desengonçada quanto um corredor em um rinque de patinação. Alvo abafou um risinho ao notar que só ele via a comicidade. A Sra. Potter tomou a carta das mãos do filho que puxara Lílian para uma valsa desarticulada, cantando um trecho da música de Celestina Warbeck:

Você roubou o meu caldeirão! Meu chapéu preto favorito... Veja, mãe, eu não fui expulso! Então você roubou meu caldeirão!

Oh, você roubou seu caldeirão! — cantou Lílian.

Mas você não pode ter o meu...

E os olhos rolaram até Alvo. O garoto reuniu todas as forças para conter a risada entalada em sua garganta e completou a frase com uma voz grave como a de Celestina:

... Coração!

— TIAGO SIRIUS POTTER!

O grito da Sra. Potter fez os três filhos paralisarem. Eles conheciam bem esse tipo de advertência. Alvo queria sorrir e comemorar a chegada de sua carta e do seu décimo primeiro aniversário, mas sabia que, depois de tudo o que ocorrera, seria muito difícil ter paz nos próximos meses. Acontecera tanta coisa em menos de doze horas que ele queria que a alegria fosse a única emoção que anestesiasse o seu corpo de todas as outras preocupações. Tecnicamente, nada do que houve era de sua conta, mas, no fundo do seu coração, ele sabia que era absolutamente culpado de muitos eventos.

— Você está por um fio de não voltar para Hogwarts este ano — disse a Sra. Potter, amuada. — Então é bom não comemorar muito cedo.

A carta estava pousada na mesa, a tinta parecia até fresca à luz do sol nascente. Alvo puxou o pergaminho para perto de seu corpo e leu discretamente enquanto a mãe iniciava um sermão para cima de Tiago. Apertou os olhos e afastou uma pena que se soltara da coruja  durante sua chegada triunfal.

Prezado Sr. Potter,

Foi enviado uma carta às quatro e vinte e três da manhã de hoje, por intermédio de Donald MacDuff (correspondente do Ministério da Magia), acerca do acúmulo de penalidades que culminaram na expulsão de V.S.ª da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts (Decreto para restrição racional da prática de bruxaria por menores, 1875, parágrafo C). Entrementes, fomos notificados por uma testemunha ocular detentora de magia que o senhor executou a guarda de um funcionário do Ministério da Magia Britânico sob ordens de um auror com total êxito. Sua atitude não foi obliterada.

Em conjunção dos chefes das Seções de Controle do Mau Uso dos Artefatos dos Trouxas e de Uso Indevido de Magia, da chefe do Departamento de Execução das Leis da Magia e da diretora da instituição em questão, foi realizado uma reunião que determinou a revogação da:

Infração grave da seção 13 do Estatuto de Sigilo da Confederação Internacional de Bruxos: Utilização irresponsável de uma Triumph Bonneville T120, modelo de 1959 enfeitiçada, em prol de chamar a atenção da comunidade não-mágica (trouxa); realizada em Godric’s Hollow no dia nove de agosto de dois mil e dezessete.

Com esta anulação, o senhor continua a ser membro do corpo discente da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. A diretoria aprecia o seu ato de altruísmo para com nossa comunidade e lhe congratula por tal. Todavia, é nosso dever fazer a ressalva de que bruxos menores de idade não podem realizar feitiços fora da escola.

P.S.: Segue em anexo na próxima página a lista de materiais do terceiro ano.

P.S.²: O senhor terá de cumprir dois meses de detenção.

Boas férias!

Aproveite sua liberdade,

Minerva McGonagall

Diretora da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts

Alvo ergueu os olhos para o irmão, que tinha um brilho demente dançando nos orbes castanhas.

— Eu não estou criando nenhum biltre nesta casa, ouviram? Isto serve aos três — disse a Sra. Potter, com o semblante rígido feito uma rocha. — Considerem-se de castigo até o final das férias. Nada de sair de casa, nada de experimentos e nada de sair do meu alcance.

Os três irmãos protestaram em silêncio para não criarem mais um tumulto e foram rechaçados para os seus quartos no andar de cima. Tiago, ao passar pelo fogo da lareira, rasgou e incinerou o pergaminho sentenciando a sua presença em uma audiência disciplinar, excepcionalmente cheio de si. Subiu as escadas com o peito estufado, cantarolando. Lílian, à suas costas, apresentava um sorriso zombeteiro no rosto assoberbado de sardas.

— Não fique se gabando, Tiago, você não escapou do castigo. E ainda me deve quinze galeões.

Tiago parou de chofre e Alvo deu de cara com sua nodosa espalda.

— Você não cumpriu sua função direito — disse Tiago, com um tom que lembrava piamente Flora Nightingale. — Portanto, não te devo nada.

E continuou subindo os degraus de madeira da escada, se trancando no maior quarto dos três.

— Papai vai ficar sabendo disso! — choramingou a garota.

Alvo subiu um degrau e colocou o braço ao redor do ombro de Lílian. Suas entranhas estavam tão comprimidas quanto um punho quando ele disse, com um certo pesar:

— A essa altura do campeonato, ele já deve estar sabendo de tudo.

Alvo, depois de uma certa relutância, conseguiu descansar por algumas horas. O cuco, que permanecera no interior do relógio desde meia-noite, roncava sonoramente. Os ponteiros, que eram duas asinhas de um pomo de ouro entalhados em um campo de madeira, indicavam nove horas.

Ainda com a camiseta dos The White Bats e o jeans, o garoto mal se lembrara que horas havia adormecido e muito menos qual fora a última vez que dormira tão mal. Com a visão turva, Alvo coçou as pestanas e obteve, aos poucos, a imagem do quarto entrando em foco. Sua cama ficava ao lado de uma janela; na parede, haviam diversos pôsteres e bandeiras colados sem muita desenvoltura — a cola já estava gasta na ponta de alguns. Os que mais se destacavam eram um laranja e preto com dois cês opostos e uma bala de canhão passando no côncavo de um deles; o outro estava sobre a cama de Alvo: uma flâmula verde desfraldada da Seleção Brasileira de Quadribol autografada pelo artilheiro Gonçalo Flores, seu ídolo.

O garoto abriu as persianas e lançou uma olhadela para as casas adjacentes do outro lado da rua. Parecia que nada de errado tivesse acontecido por ali há algumas horas: a Sra. Punkett regava as plantas, os jornais eram entregues em casa em casa e não havia sinal de uma coruja pelo céu.

Alvo estava pronto para se levantar quando sentiu um peso anormal sobre a cama; as ripas de madeira gemeram e se partiram. Inexplicavelmente, o garoto flutuava a centímetros do chão, ao passo que Teddy Lupin sorria resplandecente no meio dos destroços; seu cabelo arrepiado estava em um tom azul elétrico.

— ‘dia, Al! — cumprimentou Teddy. Ele atirou um pequeno e quadrado pacote no colo do garoto. — Feliz aniversário!

Alvo, com um sorriso meio torto pelo ímpeto da noite mal dormida, rolou para fora da cama, enquanto Teddy arrumava com a varinha os estrados, deixando a cama de Alvo nova em folha. O garoto desfez o embrulho encardido e se deparou com um par de lustrosos vidros.

— Comprei no Beco Diagonal — disse Teddy, rindo da reação confusa de Alvo. — É um Espelho de Dois Sentidos, bem útil.

— E como funciona? — perguntou Alvo, se sentando na cama consertada.

Teddy se arrastou para o seu lado.

— Você precisa dar para alguém que valha o seu tempo, primeiramente. Depois é só sussurrar o nome dela e você aparecerá no outro espelho. Uma maneira bem esperta para se comunicar com alguém distante.

Ele abaixou o tom de voz.

— Não conte para ninguém, mas eu usei um desses com Victoire em Hogwarts. Sabe, só para não perder o contato.

Alvo riu e entregou um dos espelhos para Teddy.

— Muita gentileza de sua parte, Alvo, mas eu acho que você deve entregá-lo à outra pessoa — recusou peremptoriamente. — Uma pessoa que possa ser útil.

Alvo e Teddy ouviram alguém bater na porta.

— Ih! Parece que chegou a minha hora — gemeu Teddy. — Vejo você mais tarde, Al. Aproveite seu aniversário.

Teddy sumiu com um estalo. A porta se abriu e o Sr. Potter entrou mansamente no quarto de Alvo e se sentou ao seu lado, assim como Teddy fizera há instantes atrás. O Sr. Potter e Alvo eram extremamente parecidos, tirando algumas peculiaridades como os fios grisalhos na cabeça do pai, a famosa cicatriz em forma de raio na testa e sua companheira na bochecha. Alvo estava pronto para receber uma bronca — o que não contribuiria nem um pouco com seu humor — porém foi surpreendido por seu tom afável.

— Teddy esteve aqui? — perguntou o Sr. Potter. Alvo assentiu. — Foi o que pensei. Ele sempre faz um estardalhaço. Sua mãe está uma fera achando que Tiago estava realizando experiências para seu tio Rony. Enfim, achei que só veria Teddy n’A Toca. Arthur o acolheu lá por alguns dias com a avó.

Seus olhos pararam no par de espelhos.

— Ele te deu?

— Hã-hã — respondeu Alvo. — É um Espelho de Dois Sentidos.

O Sr. Potter sorriu, enrugando a cicatriz na bochecha.

— Eu já sabia — Alvo não compreendeu. — Também soube que sua carta chegou, filho, parabéns. E feliz aniversário, é claro. No fim do mês nós vamos comprar os seus materiais e você pode escolher o seu presente.

Alvo se animou.

— O que eu quiser?

O Sr. Potter anuiu. Seu rosto se iluminou como uma vela. Poderia escolher um saco de sapos de menta ou uma Turbo XXX! O que quisesse. Mas havia um detalhe que lhe surrupiava o ânimo: ele não merecia nada disso.

— O quê, Al? — inquiriu o Sr. Potter. — Não gostou?

Alvo suspirou.

— É que... ninguém te contou?

O Sr. Potter se ergueu, absorto. Como sempre, estava com vestes perfeitamente drapejadas com seu corpo. Ele mirou Alvo com um sorriso e se ajoelhou para ficar na sua mesma altura que o filho.

— Sim, Al, eu fiquei sabendo de tudo — disse o pai. — Passei a noite inteira procurando o... Bom, fico muito... hã... feliz pelo que você e o Tiago fizeram, mesmo, em partes, estando errados. Você só tem onze anos, Al. Precisa passar pelas etapas da vida de um bruxo, entende. Ainda tem que aprender a controlar sua magia e, dentro de seu tempo, irá mostrar a todos que é um grande bruxo. Não estou te recriminando. Na verdade, a maior parcela de culpa é minha, já que sou o Chefe do Esquadrão. O que eu estou querendo dizer é que você precisa ser mais cauteloso, embora aquele que não corre riscos jamais saberá o que é coragem.

— Mas e toda a confusão que criamos? — questionou Alvo com vergonha. — Explodi as luzes e Tiago usou a sua moto... tinham trouxas por lá.

— Os obliviadores resolveram tudo — explicou o Sr. Potter. — Vocês não foram o único transtorno da noite. Nem quero imaginar o que vai acontecer se a Rita Skeeter souber...

Apesar do pai estar falando mais para si, Alvo conseguia compreender sua preocupação. Rita Skeeter era correspondente de fofocas do Profeta Diário e adorava causar um estardalhaço em seus artigos sensacionalistas. Até hoje o Sr. Potter tremia só de ouvir da biografia que ela escrevera sobre ele — um quarto de verdade e três quartos de besteira.

O Sr. Potter pressionou os lábios na testa do filho.

— Não demore a descer, Al — recomendou o pai. — Vovô Weasley nos convidou para tomar café da manhã n’A Toca.

— OK — respondeu Alvo. Seu pai meteu a mão na maçaneta prateada. — Obrigado pelo conselho, pai.

O Sr. Potter retribuiu com um sorriso e saiu do quarto. Alvo, com o sangue fluindo pelas bochechas, empacotou novamente o par de espelhos e o enfiou na gaveta da penteadeira, junto com a embalagem de Pastilhas Dançantes. Encarando o próprio reflexo, percebeu que era uma questão de tempo até acharem que ele estava dormindo com os mendigos da pracinha: seu cabelo estava sujo e seu rosto coberto por uma camada de fuligem, assim como Tiago. Ergueu o braço e deu uma rápida fungada nas axilas, inalando o cheiro vil de suor.

Correu ao banheiro e encheu a banheira de água quente e espuma, adicionando um fio da loção de flores de sombrinha. Assim que o perfume da loção se alastrou e a água atingiu um tom esverdeado, Alvo mergulhou na banheira e um pensamento o acometeu: faltava pouco para ele ir para Hogwarts... qual Casa ele cairia?

Há muitas gerações que os Potter eram selecionados para a Grifinória e Alvo não queria ser a ovelha negra da família. Os Weasley estavam todos na Grifinória e as chances de um deles ser selecionado para outra Casa eram praticamente nulas. Seus primos viviam vangloriando a Grifinória e execrando o maior rival, a Sonserina. Mas... e se ele caísse na Sonserina? Seus pais iriam deserda-lo, ao menos se dependesse de Tiago. O irmão sempre dizia que a Sonserina era lar dos desmiolados e os primos reforçavam lendas, como:

— Ouvi dizer que os sonserinos têm um basilisco de estimação.

Ou:

— Eles são obrigados a dormir nas masmorras, amontoados e, se você não obedece, os monitores te prendem de ponta cabeça.

Desde então, Alvo colocou em sua cabeça que, de todas as Casas de Hogwarts, ele não poderia ser selecionado para a Sonserina. Sob nenhuma hipótese.

Alvo vestiu uma blusa e tentou arrumar o seu cabelo negro e espetado, mas não conseguiu domá-los por muito tempo. Viu seu reflexo no espelho e julgou estar com uma aparência muito melhor do que meia-hora antes.

“Aconselho você comprar uma Poção Capilar Alisante”, disse uma voz feminina no espelho. Lílian passou pelo corredor e falou pela fresta da porta:

— Eu te disse.

Alvo fez uma cara do tipo ninguém-pediu-sua-opinião e desceu as escadas do chalé. Não havia ninguém na sala de estar, tampouco no hall. Caminhou até a cozinha e encontrou-a totalmente organizada. Os caldeirões, que antes coalhavam o chão, estavam apinhados na mesa; sua mãe havia trocado a toalha de mesa por outra com estampa do Hollyhead Harpies, A coruja cinza já havia sido despachado e, encostado na pia, estava Tiago, livre de toda camada de sujeira, secando a louça e resmungando.

— Castigo? — perguntou Alvo, contendo um riso.

Tiago ergueu os olhos, com uma carranca, e tornou a abaixá-los.

— Você não escapou, também — respondeu o irmão. — Alguma hora ou outra vai descobrir sua punição.

Tiago terminou de secar o prato de porcelana e colocou em uma outra pilha que já estava alcançando o seu peito. O quadro de Fleamont Potter, um homem de cabelos pretos com uma dosagem exagerada de Poção Capilar Alisante, óculos redondos, bigode de escovinha e trajes desbotados numa paisagem rural, tossiu, chamando a atenção dos garotos:

— Eu não acho que isto seja uma punição — disse, depreciativo. — Quando eu estudava em Hogwarts e caçoavam do meu nome, duelava com qualquer criatura que se atrevesse a fazer isso. Sempre pegava detenção. Lembro do monitor-chefe me acorrentar pelos tornozelos e me deixar horas de ponta cabeça nas masmorras enquanto aquelas vacas da Sonserina riam da minha cara!

— Não fale assim perto das crianças, Fleamont! — estrilou Euphemia Potter, a mulher em pé perto da romãzeira. Seus cabelos eram escuros e ela trajava um vestido largo, além do guarda-sol verde.

— É. Não fale desse jeito perto das crianças, Fleamont — parodiou a Sra. Potter na porta da cozinha. Euphemia guinchou baixinho. — Já terminou sua tarefa, Tiago?

— É claro, mamãe — disse o garoto, secando a mão. — Está tudo limpo e belo como seus branquíssimos dentes.

A Sra. Potter corou com o elogio e sorriu.

— Tudo bem, já pode ir. Mas antes, eu gostaria que você provasse suas vestes do ano passado. Alvo, você também pode vir, nunca se sabe se alguma peça cairá bem em você.

O quarto de Tiago era o maior da casa e, por sua vez, o mais desarrumado. O chão estava apinhado de pergaminhos amassados e um caldeirão enferrujado ainda expelia uma fumaça pouco espessa, fazendo com que um cheiro característico de caramelo, nozes e uva passa fosse sentido por todo o cômodo. Havia pacotes de Pastilhas Dançantes com o lacre rompido, meias sem par perdidas na cama e, assim como no quarto de Alvo, vários pôsteres nas paredes. Uma das maletas com os equipamentos para as aulas de Poções estava com verme-cegos esmagados nas fendas. A Sra. Potter olhou para o quarto com repugnância e, com um floreio, conseguiu reorganizar o quarto, o que deixou Tiago revoltado. A porta do guarda-roupa se abriu e as vestes pretas voaram glamourosamente e pousaram na cama. A Sra. Potter separou uma pilha com vestes largas e onduladas e a outra com apenas três conjuntos pretos, simples e menores.

Tiago provou pelo menos duas vestes até a mãe pedir para que não o fizesse mais.

— Parece que teremos de comprar vestes novas. Veja, você cresceu uns cinco centímetros, Tiago. — E retirou um rolo de pergaminho do bolso do sobretudo. Puxou a tampa da Pena Caneta-Tinteiro e fez uma anotação rápida. — Prove aquelas vestes, Alvo.

Alvo se precipitou e trocou a blusa pelo conjunto simples preto, mensurando com os olhos. Encaixou a peça no seu corpo franzino, enrugando ainda mais o traje abarrotado. Ajeitou e repuxou o sobretudo que teimava em não se ajeitar em seu corpo e se olhou no espelho. A roupa, tanto na manga quanto na barra de saia, estava larga e repleta de sulcos em torno de seu corpo.

— Não ficaram boas — reclamou Alvo. — Você poderia doá-las ao Fred, talvez.

A Sra. Potter fez um sinal para que ele ficasse parado e começou a decotar o traje com um feitiço. O resultado, porém, fez Alvo preferir como estava antes. Os cortes tinham ficado toscos e irregulares embaixo, dava até para sentir uma brisa nos tornozelos.

— Ficou ótimo, não é? — A Sra. Potter encarava o resultado com muita satisfação.

Alvo sorriu enviesado. Eles tinham condições de comprar vestes sob medida, afinal, sempre compravam para Tiago. Mesmo assim, a Sra. Potter se empolgou e cortou as outras duas vestes, enquanto Tiago ria da cara do irmão nas costas da mãe. Quando a sessão de tortura acabou, a Sra. Potter falou felicíssima:

— A parte boa é que iremos economizar com o uniforme. — Então riscou um ítem na lista de materiais de Alvo.

— Eu falei que você iria ser punido, Alvinho — debochou Tiago, assim que a mãe saiu. Deu mais uma gargalhada e arrebanhou o irmão para fora do seu quarto.

Os cinco Potter se posicionaram defronte da lareira. Os irmãos estavam todos com uma cara péssima, fosse pela fome ou pelos castigos que os pais impuseram. Depois de um monólogo entediante sobre as responsabilidades de utilizar a magia, todos estavam prontos para ir À Toca pela rede de Flu. Tiago ainda levava uma bronca do Sr. Potter por fingir dormir em seu discurso.

— OK, Lílian e eu vamos na frente — disse a Sra. Potter, já com uma pitada do pó na mão. Deu um beijo na bochecha do marido e atirou o pó nas chamas. As duas entraram rapidamente nas chamas que se ergueram, dizendo em uníssono. — A Toca!

Assim que a mãe e a irmã sumiram, Tiago se ofereceu para ir com Alvo, mas o Sr. Potter puxou o filho mais velho pelo braço.

— Eu não quero a Terceira Guerra Bruxa — disse. — É capaz de eu buscar Alvo na Travessa do Tranco. Você vai comigo.

Alvo deu uma piscadela para Tiago e se serviu com o Pó de Flu, lançando-o no fogo. Houve uma trovejada e a cor verde-esmeralda iluminou o rosto de Alvo. Teve de se abaixar para não bater a cabeça no console.

— A Toca! — gritou Alvo, com clareza. O garoto fechou os olhos e sua boca se encheu de cinzas. Em um acesso de tosse, seu corpo rodopiou no mesmo lugar e, quando parou, estava diante da apertada cozinha, onde um homem alto e magro, com óculos de aro de tartaruga na ponta do nariz, acenava euforicamente. Com a coluna ligeiramente curvada e os cabelos cobre-desbotado nas laterais da cabeça, o Vovô Weasley puxou Alvo pela mão e lhe acolheu num abraço. Alvo ouviu, entre a estática, a notícia da separação de Donaghan Tremlett pelo rádio antigo.

— Ah, maravilha! — urrou o Vovô Weasley. — Mais um herói chegou!

A Vovó Weasley, mulher baixa, rechonchuda e com cabelos bastos da mesma cor que o marido, deu um forte abraço em Alvo e encheu-lhe de beijinhos por todo o rosto.

— Graças aos céus, você está inteiro, querido — disse. — Feliz aniversário.

Assim que Alvo foi solto do sufocante abraço dos avós, uma outra onda de pessoas veio lhe cumprimentar e desejar os parabéns. A Sra. Tonks, tio Jorge e tia Angelina, tio Gui e tia Fleur — que cantava “Parabéns a você” em francês —, todos lhe sufocando em abraços. Pela janela, Alvo viu jarras de suco de abóbora voando. Dominique e Roxanne vieram abraça-lo com as roupas sujas de farinha de trigo e os cabelos em pé.

— Acidente culinário? — perguntou Alvo com um sorriso gentil.

Dominique era uma garota alta e magra, como a maioria de seus parentes, dona de um belíssimo par de olhos azul-perolados e cabelos loiro-prateados, além de um sorriso encantador que a tornava uma garota extremamente esbelta. Roxanne não era tão alta quanto os demais; seus cabelos eram negros e longos e sua pele marrom e lisa.

— Estávamos preparrando seu gâteau — disse Dominique, forjando um sotaque.

— Ela quis dizer o seu bolo — disse Roxanne, ao notar a confusão mental de Alvo.

Mais um ronco alto e Tiago e o Sr. Potter saíram de dentro da cozinha, tornando-a quase insuportável para tanta gente. Teddy e Victoire saíram da despensa, molhados e com cheiro de sabão.

— O que estavam fazendo? — perguntou tio Gui, fuzilando Teddy.

— Lavando roupa, senhor — respondeu Teddy, rubro. — Victoire me pediu ajuda.

— Ela sabe muito bem lavar as roupas sozinha — retrucou tio Gui, a cicatriz proeminente no rosto púrpura.

— Ãh... eu sei, senhor... é que...

— Fui eu que pedi, Gui — disse a Vovó Weasley, ríspida. — Bom, querido, já podem ir se trocar para o café.

— É claro — Teddy bagunçou os cabelos de Alvo.

Victoire estalou um beijo em cada bochecha do primo menor.

Joyeux anniversaire! — disse a garota bem-apessoada. Alvo não a compreendeu e Victoire apertou suas bochechas. — Feliz aniversário, Alvinho!

O garoto massageou as laterais carnudas da face e caminhou na direção da sala de estar cheia de poltronas. Lucy lia um livro enorme de capa de couro de dragão e letras arabescas que diziam: Desvendando os Mitos Mágicos do Egito Antigo, por Haroldo Montmorency. Seus óculos quadrados a faziam lembrar muito o seu pai, Percy. Os cabelos ruivos estavam presos com uma fita azul; ela abaixou o livro e deu um curto sorriso para Alvo. É claro que ela estava sabendo do que havia acontecido com ele e Tiago. Seu avô não havia o chamado de “outro herói”? E, com certeza, Lucy estava odiando essa admiração por uma infração de lei.

Molly, de cabelos fartos, jogava snaps explosivos com Louis, loiro como as irmãs. Os dois se ergueram e deram um abraço em Alvo, desejando-lhe felicidades com um sorriso no rosto.

— Enfeitiçando policiais trouxas? — perguntou Molly, gozando da cara do primo. — Todo mundo já está sabendo. Vovô disse a todo mundo que encontrou pela frente.

— Não seja dura com ele, Molly — disse Louis, tirando o cabelo da orelha. — Foi uma questão urgente.

— Francamente, Alvo, eu não esperava isso de você — disse uma voz que não escapou dos lábios de Louis e Molly. Alvo girou o tronco e encontrou no último degrau da escada que dava acesso aos andares a garota magérrima, com sardas e cabelos lanzudos e ruivos. Rose Weasley, a prima com qual tinha maior afinidade. Usando um suéter correu para dar um abraço em Alvo, as lágrimas rebentando de seus olhos azuis. — Eu fiquei tão preocupada! O que deu em vocês? — E puxou Tiago para um abraço de partir as costelas quando o garoto se reuniu aos demais na sala de estar.

— Não exagere, Rose — disse Tiago. — É preciso muito mais do que bandidinhos de quinta categoria para derrubarem Tiago Sirius Potter, o grande...

— O grande borra calças — caçoou Fred, descendo as escadas com Hugo, tio Rony e tia Hermione. — E vocês têm que ver quando Hilda Withby chega perto do Tiago, ele cai durinho.

— Isso... isso... não tem nada a ver!

Fred era o mais alto dos primos Weasley e com as feições típicas da família — cabelos ruivos e sardas —, assim como Hugo, que herdou os cabelos crespos da mãe. Tio Rony havia deixado um bigode pitoresco crescer embaixo do seu nariz e tia Hermione parecia estar rindo de uma piada. Todos finalizaram seus abraços nos recém-chegados, desejando os parabéns a Alvo, até que Roxanne apareceu ofegante, fazendo um anúncio que fez Rose e tia Hermione soltarem um gritinho agudo e congelar o estômago de Alvo:

— O ministro da Magia acabou de desaparatar no jardim!


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Notas finais do capítulo

Pela plicas de Merlin (como diria o Donald)! Bom, se o Ministro apareceu por lá, é claro que tem coisa importante vindo pela frente, não é mesmo?

E eu tava relendo hoje e percebi: o título entrega todo os suspense do capítulo, hahaha! "A revogação", de quem será, não é mesmo? Hahahaha! Enfim, espero que tenham gostado. Apareçam nos comentários, vou respondê-los com muito carinho. E não se esqueçam de apertar em "acompanhar" para não perderem as notificações de capítulos novos!

Curiosidade do capítulo: Donaghan Tremlett é um famoso baixista da banda bruxa As Esquisitonas, que toca no Baile de Inverno de Hogwarts em Cálice de Fogo. Foi dito pelo Profeta Diário que ele se casaria no segundo semestre de 1995.

Obrigado por lerem e até o próximo capítulo!

Att,
Tiago



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