Alvo Potter e a Sala de Espelhos escrita por Tiago Pereira


Capítulo 18
Capítulo 18 — A Capa da Invisibilidade


Notas iniciais do capítulo

E aí, meus queridos e queridas, tudo bem? Espero que sim.
Desculpem o pequeno atraso. Era para o capítulo sair sábado, mas teve certos problemas (gente no notebook) e me impediram de fazer a postagem tranquilamente. Contudo, cá estou eu para entregar um capítulo muito legal. :)
Obrigado a todos que comentaram, já são mais 100 ACOMPANHAMENTOS!!!! ;D Tô muito feliz com vocês.
NOVIDADE NAS NOTAS FINAIS!
Boa leitura. :)



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A VIAGEM DE VOLTA A LONDRES PARECEU TRANSCORRER mais rápida do que nunca para Alvo. Ele, Rose, Wayne e Chloe, ao contrário da maioria dos estudantes, não estavam muito ansiosos para o Baile de São Valentim, principalmente com a ideia de Rodric Hotwan e Rúbia Scarlet poderem se espreitar atrás de seus pais a qualquer instante. Ainda que o Profeta Diário não noticiasse nenhuma morte ou menção sobre a Legião Escarlate, nos cantos de algumas páginas já havia instruções do Ministério da Magia de como proteger residências com o Feitiço Fidelius. Era uma clara tentativa de alertar a população sem criar pânico.

— É claro que estão todos despreocupados, Alvo — disse Rose ao primo, após ele questionar se alguém tinha ideia da trama que envolvia o Antaglifo. — Poucas pessoas sabem algo sobre Hotwan e, se conhecem, ficam aliviadas que ele esteja preso, mas confusas com o seu sumiço. Todo o mundo confia no ministro e no seu pai. Se eles acharem que está tudo bem, então está tudo bem.

— Mas quem disse que eles acham que está tudo bem? — rebateu Alvo. — Nós sabemos que não está tudo bem, imagina o chefe da Seção de Aurores e o ministro da Magia!

— Eu sei — continuou Rose com diligência acariciando os pelos de Escavador. — Mas, sinceramente, Alvo, você não acha que se alguma coisa estivesse realmente fora do normal seu pai já não teria avisado a todos?

Alvo encolheu os ombros e não disse mais nada, enquanto os amigos se distraíam com varinhas de alcaçuz e tortinhas de abóbora até o trem parar de volta à estação nove e três-quartos, um pouco mais escura pela neve e cheia de pais e parentes embalados em capas e cachecóis, assim como os estudantes de Hogwarts. As crianças desceram da locomotiva e apanharam suas malas, a gaiola de Íris sacudindo enquanto a coruja piava. Alvo não estava nem um pouco disposto a ouvir os sermões da mãe, já não bastasse as detenções do Prof. Longbottom — que felizmente foram passadas para depois das férias — e as broncas frequentes da Profa. McGonagall para ele deixar de ser ingênuo diante da Profa. Trelawney, como se o vaticínio não fosse verdade.

Conforme o vapor ia se desvanecendo, os rostos dos parentes iam surgindo, ainda meio distorcidos, e logo Alvo avistou o recorte da silhueta de sua mãe que veio em sua direção dando inúmeros beijos no seu rosto e arrepiando seus cabelos.

— Eu t-também estava com saudades, mamãe... — gaguejou Alvo sem escapar do afeto da Sra. Potter e indo direto ao ponto: — Você não está brava?

— Brava?! — A Sra. Potter soltou Alvo, revelando um ar de cansaço. — Eu estou furiosa, com os dois!

Tiago acabara de se reunir e também foi engolfado pelos beijos da mãe.

— Aqui não, mãe — Tiago se esquivou da Sra. Potter, seu rosto corava e ele não parava de olhar para os lados.

Wayne continuou parado um pouco atrás dos Potter, visivelmente constrangido.

— E você deve ser o Wayne — disse a Sra. Potter com um grande sorriso acolhedor e dando um abraço no garoto. — Imagino que tenham se divertido à beça em Hogwarts.

Havia um certo quê subtendido na frase da Sra. Potter que Alvo, Wayne e Tiago assimilaram. O primeiro semestre, de fato, tinha sido repleto de eventos infortunados, longe de ser uma estadia normal como fora a da maioria dos alunos. Enquanto muitos deles diriam excitadamente aos pais que aprenderam como transformar um palito de fósforo numa agulha, Alvo narraria a fatídica noite em que perseguiu um assassino e quase foi envenenado por uma fada mordente. Tirando as vezes em que ele pôs em risco a própria pele por causa do vaticínio, o trimestre de primavera foi muito prazeroso, principalmente com a descoberta de seus dotes em Poções.

Agora que o Expresso de Hogwarts parara de expelir nuvens gordas de vapor, Alvo enxergou tio Rony, tio Jorge e tia Angelina cumprimentando seus sobrinhos. Alvo perscrutou com os olhos todos os cantos, na esperança de encontrar mais algum parente, mas se deparou apenas com pais e filhos atravessando a plataforma à pilastra que os levaria de volta à estação Kings Cross. Nenhum sinal de seu pai.

— Mãe, e o pai? — sussurrou Alvo depois de abraçar os tios.

— Está trabalhando — respondeu a Sra. Potter com frugalidade. — Deve aparecer mais tarde, não se preocupe.

Meio deprimido, Alvo empurrou sua mala junto de Wayne e Rose e atravessaram a barreira que separava o mundo dos bruxos e dos trouxas, a mãe e os tios acompanhando logo atrás com os primos.

— Nem nos despedimos da Chloe! — lembrou-se Alvo em um tom acusatório.

— Ela é escorregadia — justificou-se Rose. — Vocês a viram saindo do nosso lado?

Alvo e Wayne menearam a cabeça.

— OK, vamos nos separar. — A Sra. Potter contou cada membro da família. — Tiago, Alvo, Rose, Wayne e Molly irão comigo e Rony. Dominique, Fred, Roxanne, Lucy e Louis irão com Jorge e Angelina. Victoire, querida, se quiser ir na frente aparatando...

Victoire deu um sorrisinho e saiu andando na direção da saída, atraindo a atenção de muitos homens enquanto passava com os cabelos louros platinados esvoaçando nas suas costas. O único a não ser pego pelo encanto foi Tiago, que tentava convencer a mãe a aparatar com Victoire. A discussão perdurou o caminho todo até a família entrar no Aston Martin DB5 de tio Rony — magicamente alterado para aconchegar todos os membros —, onde a Sra. Potter lançou um olhar censurador ao filho, que o fez ficar calado. Não seria muito inteligente perder as estribeiras no meio de Kings Cross, os pios indignados das corujas e as escapadas de Escavador já chamavam muito a atenção dos transeuntes.

A noite veio com um sopro gelado e cortante, fazendo todos se encolherem no banco traseiro durante toda a viagem à Ottery St. Catchpole, a excêntrica vila aonde se localizava A Toca — uma construção retorcida, cheia de chaminés e cômodos para receber toda a família Weasley.  Wayne parecia um pouco desconfortável com a ideia de estar voando em um carro invisível, agarrando-se nas laterais do banco, o tom de pele um pouco esverdeado. A tensão do menino só passaria quando todos se envolveram em uma conversa sobre a família Eviecraddle, com direito a uma cômica história sobre quando o Sr. Eviecraddle aprendeu a usar um telefone.

— Seu pai sabe mexer em um feletone? — comentou tio Rony surpreso.

Telefone — corrigiu Wayne. Rose riu entre os dedos. — Sim, ele sabe. Minha mãe não gosta de usar corujas, acha loucura demais.

— Mas por que sua irmã não estuda em Hogwarts? — perguntou Molly.

— Porque, segundo ela, a disciplina no Reino Unido é muito mais frágil do que na Rússia — contou Wayne com uma vozinha esganiçada. — Lá, em Koldovstoretz, eles seguem uma linha mais dura no aprendizado. Um monte de caca de dragão, isso sim.

Todos riram no carro. Tio Rony fez o carro baixar um pouco, iluminando com o farol os campos e arvoredos que cercavam A Toca.

— Espero que estejam todos lá — disse a Sra. Potter. — Gui me falou que só virá amanhã, Fleuma deve esperar ele também.

As crianças deram gargalhadas, porém tio Rony pareceu ligeiramente incomodado com a brincadeira. O carro continuou a descer em uma linha tênue até acontecer um solavanco que fez todos irem para a frente; pelos vidros embaçados da janela, Alvo notou que haviam pousado ao lado da garagem. Com os músculos retesados, as crianças desceram do Aston Martin DB5 e caminharam pelo quintal escuro e coberto de neve. Wayne, que estava admirando a arquitetura d’A Toca, tropeçou em uma galinha gorda que escapara de seu cercado.

— É incrível — afirmou Wayne com felicidade. — Mil vezes maior que a minha.

— Não é à toa, coleguinha — disse Tiago. — Somos uma família que se reproduz tanto quanto coelhos.

Tiago Sirius Potter, olhe a boca! — exclamou a Sra. Potter logo atrás. — Eu estou por um fio com você!

Acabrunhado, Tiago seguiu sozinho a trilha até a entrada dos fundos, onde a Vovó Weasley já os esperava com um avental florido e luvas térmicas de algodão. Ela fez um movimento tão brusco para abraçar cada um de seus netos que sua varinha quase caiu do bolso.

— Veja só como vocês cresceram! — disse abraçando Alvo. — Gina, essas crianças estão um gelo! Ah, você deve ser o novo amigo do Alvo. — A Vovó Weasley se referia a Wayne, que recuou.

— Sim — respondeu Wayne. — Obrigado por me receber, Sra. Weasley, é um prazer.

Sem rodeios, Vovó Weasley também agarrou Wayne e lhe deu um forte abraço maternal e despachou os garotos para dentro da casa. Havia tanta gente tumultuando a entrada que era difícil dar um passo a mais. Os cômodos, aos poucos, foram se enchendo de vozes e Alvo teve de se esforçar muito para ir junto de Wayne e Rose cumprimentar tio Percy — calvo e grisalho —, tia Audrey — alta e sorridente — e Teddy, que jogava uma partida de snaps explosivos com Victoire, Lílian e Hugo.

— E aí, Alvo! — disse Teddy, os cabelos amarelo-mostarda em pé, depois de cumprimentar Wayne. — Um bom semestre?

— Com certeza... — Alvo enrubesceu com a lembrança das encrencas que se metera. — E você, como vai o treinamento para aurores?

— As melhores notas em Esconderijos e Disfarces — entoou Teddy com o orgulho. — Estou me esforçando muito para não levar bomba em Vigilância e Rastreamento. Minha vó diz que sou igual a minha mãe.

Houve um silêncio constrangedor, que Victoire quebrou com um beijo no queixo de Teddy.

— Ela era muito boa, então — concluiu. — Mas vocês não vão guardar as malas? Vovó rotulou as portas, ficarão no quinto andar.

Alvo entendeu a claríssima deixa para ele e Wayne saírem de lá. Arrastando os malões, os garotos subiram direto ao quinto andar, um pouco exaustos de galgarem dois degraus de uma vez. Alvo não estava muito contente com a ideia de dormir no último patamar, pois sabia que era onde ficava o menor quarto da residência.

— Espero que você não estranhe muito — disse Alvo com receio ao amigo. — Nossa família é um pouco... estapafúrdica.

— Pelo menos estão todos juntos — confessou Wayne.

Alvo não soube o que responder, então mudou rápido o assunto.

— Quero que você conheça um pouco da minha família — falou, esclarecendo: — É importante você entender um pouco quem é quem aqui... ãh... começando pelo tio Carlinhos: ele é um cuidador de dragões que vive na Romênia.

— Irado — deslumbrou-se Wayne. — Nunca vi um dragão de perto...

— Sorte sua... — murmurou Alvo, recordando das histórias de tio Carlinhos e suas sinistras cicatrizes. — E depois tem o tio Gui e a tia Fleur, funcionários do Gringotes. Tio Gui trabalha no Egito, mas costuma vir sempre em datas especiais para a Inglaterra... Só não repare nas marcas no rosto dele, nem no fato dele comer carne malpassada, OK?

Wayne assentiu com um esgar de preocupação.

— E então temos tio Percy e tia Audrey, os que estão lá embaixo — explicou Alvo, arrancando um “Ahhh” de entendimento do amigo. — Tio Percy é Chefe do Departamento de Transportes Mágicos, ou, como chamam os editores do Profeta, um “burocrata almofadinha”. Tia Audrey também trabalha no Ministério, Controle de Aferição de Vassouras, muito importante nesta época de Copa Mundial de Quadribol.

“Tio Jorge e tia Angelina, ricos e co-proprietários da Gemialidades Weasley, você deve conhecer”.

— É claro que conheço! — exclamou Wayne com um ar sonhador. — Tudo lá é genial. Vomitilhas, Febricolates... de onde eles tiram tanta criatividade?

— Antes eu não sabia — respondeu Alvo com franqueza. — Atualmente eles trabalham com experimentos junto de Fred, Roxanne e Tiago. São meio que “sócios”. De qualquer jeito, não fique espantado com o fato de ele só possuir uma orelha, ele perdeu em uma batalha.

Os dois amigos chegaram no quarto andar, um pouco arfantes da longa caminhada.

— E então vem tio Rony e tia Hermione — continuou Alvo. — Meu tio trabalha como co-gerente da Gemialidades Weasley, só que em Hogsmeade, em uma filial. Tia Hermione é...

— ... chefe do Departamento de Execução das Leis Mágicas — completou Wayne. Alvo pareceu estupefato. — Fala sério, quem não conhece Hermione Granger hoje em dia?

— Sim, sim, tem razão — disse Alvo sem jeito. — E então só restou meus pais...

Wayne o interrompeu com um pigarreio.

— Poupe-me, Alvo, apesar de seus pais serem pouco conhecidos, sei quem são eles — falou ironicamente.

Alvo e Wayne subiram alguns lances de escada e se depararam com uma porta descascada com uma placa marcada como “Quarto de Tiago, Alvo e Wayne”. Abaixando-se um pouco para não baterem a cabeça no teto inclinado, os meninos entraram no quarto que possuía um tom violento de laranja, com apenas duas camas.

— Este era o antigo quarto do tio Rony — disse Alvo tentando ser claro. — Ele torce para o Chuddley Cannons.

Depois de deixar as malas no quarto, os dois garotos tornaram a descer, topando a todo instante com os primos, para a sala de estar. Vovó Weasley não queria jantar até que todos tivessem voltado do trabalho — o que não era muito difícil saber graças ao relógio encantado que, em vez de marcar as horas, indicava a localização de cada membro da família. Todas as crianças estavam marcadas em férias, e os adultos em casa, exceto Vovô Weasley, tia Hermione e o Sr. Potter, que marcavam trabalho.

Enquanto todos aguardavam o jantar com os estômagos protestando, a Sra. Potter, Lílian e Hugo ajudavam a decorar espalhafatosamente os cômodos da casa, com direito a tudo: papéis laminados, varal de meias, cartões dos mais diversos no console da lareira e uma árvore enfeitada com franjinhas bordô e verde.

— Teddy, querido, você e Victoire poderiam ajudar a limpar as couves-de-bruxelas? — sugeriu a Vovó Weasley, passando pela sala de estar com o cesto de roupa e consultando o grande relógio. — Ah! Arthur e Hermione estão a caminho.

Quase em um instante depois, houve uma batida na porta de entrada e o som de passos dentro da casa. Logo em seguida, os rostos do Vovô Weasley e de tia Hermione apareceram. Em um rápido aceno de cumprimento, Vovô Weasley se largou na poltrona, ajudado pela Vovó Weasley a tirar sua capa de viagem empoeirada.

— Dia difícil, querida, apreendemos duas poções embelezadoras adulteradas — contou Vovô Weasley, limpando seus óculos de aro de tartaruga.

— Delinquentes — rezingou Vovó Weasley em apoio ao marido.

Entrementes a um canto, tia Hermione abraçava Rose com muita força, as lágrimas quase vazando de seus olhos.

— Eu estava com tantas saudades de você! — soluçou tia Hermione.

— Eu também estava, mamãe — soluçou também Rose.

— Isso porque elas trocaram correspondências ontem — Wayne sussurrou com o canto da boca a Alvo, ambos observando a cena.

Rose e tia Hermione continuavam se abraçando num misto de bronca e comoção.

— ... vocês quase se mataram!

— ... eu sei, mamãe...

— ... você e Rony têm o mesmo juízo!

— Ei! — protestou tio Rony com as orelhas escarlates. — Isso... isso... não tem nada a ver! Aliás, você não se meteu com o filho do Malfoy, certo? Superou ele em todos os testes?

Tia Hermione lançou um olhar de severidade ao marido. Em resposta, tio Rony se virou para Alvo e Wayne, que se mostraram a favor de tio Rony.

— Que crueldade a sua querer incutir um preconceito tão idiota, Ronald — disse Hermione com firmeza. — Ainda mais depois de tudo o que aconteceu.

Tio Rony cruzou os braços, mas continuou resmungando em silêncio.

— Absurdo... o menino teve o que mereceu...

Mesmo que não tivesse mencionado, todos sabiam o que havia acontecido com Malfoy e sua perda de memória, a qual tentava recuperar com terapias na sala de Merle Copperfield. Ignorando totalmente a atitude do marido, tia Hermione virou-se para os Potter.

— Harry disse que vai demorar a chegar — declarou. Alvo sentiu o corpo murchar. — Está tendo alguns contratempos.

— Típico do Harry — disse Gina num suspiro. — Eu não imaginava nada aquém vindo dele. Eu sabia que uma hora ou outra isso aconteceria de novo.

Com essas palavras perdidas no ar, Vovô Weasley tratou de tomar as rédeas.

— Não temos mais tempo a perder, então — disse com ânimo apesar do cansaço. — Esse cheiro é de sopa de cebola?

Arrebanhados, as crianças e os adultos foram até a cozinha, o cheiro da sopa impregnando cada canto do recinto. Um pouco espremidos, Vovó Weasley fez um aceno com a varinha em direção do caldeirão e uma concha de metal mergulhou no recipiente, servindo em cada uma das tigelas o caldo espesso e amarelado e um pedaço de pão.

Alvo jantou em silêncio, dando curtas respostas às perguntas sobre Hogwarts que Lílian fazia; Rose se encarregava de dar complemento às explicações, contando seus feitos nas aulas de Feitiços e alguns fatos que aprendeu em História da Magia.

— Ânimo — Wayne tentou estimular Alvo.

— Meu pai deve estar atrás do que houve com o Hotwan, tenho certeza — afirmou Alvo com convicção.

— Alvo, esquece Hotwan — disse Rose pacientemente. — Seu pai tem muitas tarefas, quem sabe é apenas um grande relatório. Não é a primeira vez que ele chegará tarde, imagino.

— Não, não é — concordou Alvo, dando prosseguimento com sua ideia: — A última vez que ele chegou muito tarde foi no meu aniversário.

Rose ponderou as palavras do primo antes de responder.

— Conte tudo ao seu pai então — sentenciou.

— Nós já debatemos sobre isso — replicou Wayne. — Não temos provas.

— Isso não importa agora, Wayne. — Rose respirou fundo. — O que importa é que algum adulto esteja ciente, ainda mais um auror, eles raramente dispensam hipóteses...

Com o fim do jantar, já tarde da noite, algumas crianças começaram a erguer as mãos para abafar bocejos.

— Cama, todos vocês — disse Vovó Weasley atenta. — Jorge, Percy, Rony, Gina se quiserem voltar para suas casas, amanhã Gui e Carlinhos estarão por volta das sete por aqui, tentem vir antes.

— Mamãe, se não se importa, vou esperar o Harry antes de ir para casa — falou a Sra. Potter decidida.

— Nós também — afirmou tio Rony, entrelaçando os dedos aos de tia Hermione.

Sem rodeios, as crianças deram “boa-noite” aos tios e pais e subiram os degraus para os quartos nos andares acima. Alvo e Wayne foram se despedindo dos primos aos poucos, até sobrarem os dois e Tiago.

— Parece que alguém vai ter de dormir no chão — comentou Tiago ao entrar no quarto e ver as duas camas.

Alvo se sentiu extremamente ofendido com a indireta do irmão.

— Se você está insinuando que serei eu, pode tirar o hipogrifo da chuva!...

Entretanto, quando os três garotos foram se deitar, Alvo ficou com o colchão no chão. Contrafeito, sabia que seria grosseria colocar Wayne para dormir no seu lugar, ao passo que Tiago não daria margem para que ele dormisse em uma das camas. Pensando na diversão do dia seguinte, Alvo conseguiu adormecer até ser golpeado com algo fofo e pesado.

— Feliz Natal, Al! — exclamou Tiago, já na manhã seguinte.

Com o corpo duro de susto, Alvo ergueu a cabeça e olhou para o lado, Wayne coçava o canto dos olhos e dava um bocejo.

— Feliz Natal — desejou Wayne ainda sonolento.

Com muito estardalhaço, Tiago saiu do quarto de pijamas, gritando e batendo nas outras portas sem a menor cerimônia. Alvo e Wayne riram e vestiram os roupões; a caminho da saída, o amigo chamou a atenção:

— Olha, Alvo, tem alguma coisa embaixo da cama.

Curioso, Alvo se agachou e fisgou uma espécie de manta extremamente leve e sedosa com um brilho prateado. Ele jamais vira algo parecido com aquilo, um artefato tão macio quando pluma, tão leve quanto o ar, repleto de dobras refulgentes. Para sua surpresa, havia um bilhete espetado.

Para Alvo Severo Potter,

Está na hora de passá-la ao novo herdeiro.

                                      Papai

Alvo revirou o bilhete a espera de mais explicações, mas não encontrou mais nada.

Tiago reaparecera na porta.

— Vocês dois não vão descer? A árvore está cheia de presen...

Mas a última palavra se perdeu, porque quando Tiago entrou no quarto e encontrou o irmão segurando o pano prata e brilhoso, sua expressão era de completo assombro.

— O-onde você conseguiu isso?

Alvo olhou do manto para Tiago e deu um sorriso triunfante, mesmo sem saber o que tinha irmãos. Se Tiago ficara tão impressionado, ele tinha certeza de que era algo importante e que o irmão daria qualquer coisa por aquilo.

— Eu ganhei do papai — respondeu Alvo com desdém.

— Por que papai deu a você e não a mim? — Tiago olhava o irmão com inveja. — Eu sou o filho mais velho, ela deveria ser minha.

Alvo e Wayne trocaram olhares confusos.

— Ãh... — Alvo tentou pensar em uma desculpa convincente, porém deixou o orgulho de lado. — O que é isto e por que deveria ser sua e não minha?

Tiago girou os olhos para cima.

— Por Dumbledore! — exclamou como se Alvo acabasse de dizer que convidou um gnomo de tutu para o Baile de São Valentim. — Alvo, isso é uma capa da invisibilidade!

Wayne colocou uma das mãos sobre a boca, atônito.

— Eu já ouvi falar delas, deve valer uma fortuna. Ela dura quanto tempo?

— Não é qualquer capa da invisibilidade — disse Tiago rilhando os dentes. — É a capa de Ignoto Peverell, uma relíquia rara que, segundo a tradição, deve ser dada ao filho mais velho, então, com licença, você tem algo que me pertence, vamos, não seja ridículo.

Tiago estava com os braços esticados para tentar apanhar a capa, mas Alvo recuou.

— Não — insistiu veementemente. — Tinha um bilhete que dizia claramente que era para mim.

Alvo exibiu o pedaço de pergaminho que estava preso à capa.

— Você só pode estar me gozando — Tiago puxou a capa e leu a mensagem, sua pele tingindo de rosa. — Não, não, não, deve haver um engano. Talvez o papai não saiba nossas idades. É, deve ser isso, tenho certeza. Vou resolver isso em um instante.

E, com um sorriso satisfeito, Tiago saiu do quarto.

— Então, você não vai experimentar? — disse Wayne depois de um tempo.

Alvo, que antes não entendia o valor do objeto que tinha em mãos, agora se sentia muito importante. Primeiro porque seu pai o escolhera como novo herdeiro, segundo porque Tiago se irritava com o primeiro fato. Alvo atirou a capa por cima dos ombros e viu que Wayne sorria entusiasmado.

— Incrível.

Alvo caminhou até o espelho do quarto, a estranha sensação de não estar vendo suas pernas se movimentando e os braços balançando ao lado do corpo. Refletido no vidro, apenas uma cabeça suspensa no ar com o corpo totalmente invisível. Era uma cena engraçada de se ver. Depois de deixar Wayne se ocultar sob a capa, Alvo trancou-a na sua mala, sem querer revelá-la a mais ninguém, a não ser, talvez, Rose e Lílian. Ainda não estava certo se deveria revelar a todos o que havia ganhado, afinal, nem seu pai quis que ele aparecesse em público com a capa ou teria deixado embaixo da árvore de Natal, como sempre fazia. Ficou imaginando que Fred e Roxanne iam pedi-la emprestada para soltar Fogos Filibusteiros na sala de Filch.

A sala de estar d’A Toca estava tomado pelas crianças. A árvore de Natal, um pinheiro modesto e cheio de iluminação, estava engolido por pilhas de presentes que Hugo e Teddy ajudavam a distribuir. Lílian estava sentada no braço de uma das poltronas, ao lado do pai e da mãe, experimentando o presente de tio Jorge, Fred e Roxanne, um incrível lançador que formava bolhas de sabão em formato de criaturas, como um erumpente. Tio Carlinhos — um homem musculoso e cheio de marcas de queimaduras, os braços vermelhos e crestados pelas chamas — e tio Gui já haviam chegado; tia Fleur gritava com todos para que não tocassem em sua Lenha de Natal (um bolo francês nos moldes de tronco de árvore).

Entretanto, apesar de todos — inclusive Wayne — terem ganhado muitos presentes, Vovó Weasley e tia Hermione prepararam suéteres para cada um deles, como faziam em todo ano. Alvo ganhou uma belíssima e caprichada suéter tecida em fios vermelhos e dourados em homenagem à sua entrada para a Grifinória, enquanto Wayne recebeu um suéter tricotada em lã azul-marinho, além de uma barra grande de chocolate caseiro do Sr. e da Sra. Eviecraddle. Eram tantas pessoas e tantos presentes que, quando Rose e Wayne se distraíram com sapos de chocolate e a nova Medalha-Metafórica aprimorada por tio Rony, Alvo considerou que era a hora perfeita para convidar o pai para uma conversa em particular.

— Hum... pai — chamou Alvo.

O Sr. Potter, que se divertia vendo o rosto de tio Rony se transfigurar para o de uma ema, virou-se para o filho.

— Algum problema, Al?

Alvo olhou para os lados para garantir que ninguém estivesse os ouvindo.

— Podemos conversar a sós?

— Claro — respondeu o Sr. Potter erguendo-se da poltrona e caminhando com o filho até a despensa cheia de máquinas fotográficas trouxas quebradas, um gravador de voz e sacos de ração para porcos. Tinha um cheiro incômodo de chiqueiro e mofo. — Então, o que você queria falar?

— Sobre o... “presente” que eu encontrei hoje no quarto — Alvo tentou ser o mais claro possível. — Por que deu a mim e não a Tiago?

O Sr. Potter pareceu que iria rir da preocupação do filho.

— Porque você precisa mais do que o Tiago — disse com simplicidade.

Alvo continuou confuso.

— Você não está com raiva?

— Não. — O Sr. Potter sorriu. — Por que estaria com raiva em pleno Natal?

Alvo fez uma carranca de interrogação. Será que sua mãe não havia contado tudo o que ele aprontara?

— Você não está sabendo?

— Que você saiu à noite atrás de um bruxo do mal? — disse o Sr. Potter. — Que a Professora Trelawney fez uma previsão a você no Beco Diagonal? Que Tiago roubou o Mapa do Maroto do meu escritório? Sim, eu sei.

— E mesmo assim não está furioso? — Alvo estava boquiaberto.

O Sr. Potter meneou a cabeça.

— Eu não teria agido de outra forma — respondeu com veemência. — Al, você é livre para dar as costas ao vaticínio. As consequências de nossos atos são sempre tão complexas que predizer o futuro é uma tarefa realmente difícil. Você consegue entender a diferença entre ser arrastado para arena para enfrentar uma lutar mortal e entrar nela de cabeça erguida?

Alvo titubeou.

— A escolha é mínima.

— E é aí que reside toda a diferença do mundo, Al — continuou o Sr. Potter. — Se você acha que tem de defender sua família e seus amigos, faça, independentemente de haver ou não um vaticínio.

— Certo — disse Alvo, completando: — Pai, e quanto ao Rodric Hotwan? Você descobriu alguma coisa?

O Sr. Potter não se demonstrou muito favorável a contar demasiadamente.

— Estamos tentando descobrir.

Alvo respirou fundo.

— Acho que sei algumas informações que possam lhe ajudar.

— E quais seriam? — indagou o pai, intrigado.

Então Alvo contou detalhadamente ao pai tudo o que ele, Rose, Wayne e Chloe conseguiram descobrir durantes os últimos meses: o Espelho de Apate, o Antaglifo e como tudo isso se juntava com o vaticínio. O garoto estava certo de que tudo faria sentido, de que o Antaglifo era o que Rodric Hotwan procurava. Quando ele terminou, o Sr. Potter fez uma pausa um tanto longa.

— Vou verificar — disse sem querer ser grosso. — Mas peço que você não se envolva nesses assuntos. Promete?

— Prometo — respondeu Alvo, mais por respeito do que por sinceridade.

Entretanto, o Sr. Potter conhecia muito bem o seu filho, e ele sabia que Alvo não cumpriria essa promessa.

 


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam deste capítulo? Saudades de mais ação e mistério? Bem, eu também queria já emendar tudo, mas vocês precisam entender que essas partes são necessárias.

Então, vamos às novidades que têm a ver com que eu falei acima.

NOVIDADE NÚMERO UM: Pode ser que vocês estejam ansiosos para saber o que vai acontecer no Natal do Alvo, né? Bem, já adianto que vai ter muita treta e personagens novos/velhos. Para não deixar vocês com QUINZE DIAS de espera, eu me digo a vocês que vai ter MAIS UM CAPÍTULO ESSA SEMANA! UHUL! Então anotem aí na agendinha: sábado tem capítulo novo. :)

NOVIDADE NÚMERO DOIS: O roteiro da continuação dessa fanfic vai começar a ser escrito! Uhul de novo! E já adianto, o esboço da sinopse já vai indicar um tema que JAMAIS FOI EXPLORADO EM QUALQUER OUTRA FANFIC DE HARRY POTTER DO M U N D O I N T E I R O!!!!!!!!

NOVIDADE NÚMERO TRÊS: Eu não sou do tipo que sai divulgando fanfics por aí, mas gente, eu comecei a ler uma que eu preciso recomendar aqui. Se você é fã de Jogos Vorazes e do Finnick, vai amar! É uma shortfic que está no começo e tá bem legal.

Finnick Odair — 65ª Edição escrita por Magicath
https://fanfiction.com.br/historia/723037/Finnick_Odair_65_Edicao/

Desculpe a empolgação. São essas as novidades. :)

Curiosidade do capítulo: "O Chefe do Departamento de Transportes Mágicos, Percy Weasley, faz caretas enquanto assiste a partida. Ficando grisalho e careca, ele envelheceu consideravelmente desde a Batalha de Hogwarts (onde, claro, ele se tornou a personificação infeliz da frase ‘antes tarde do que nunca’). Oponentes políticos maldosos podem chamá-lo de “burocrata almofadinha”, mas outros dizem, no máximo, que ele ‘não é tão ruim uma vez que você o conhece’." Rita Skeeter sobre Percy.

Até sábado!

Att,
Tiago



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