Alvo Potter e a Sala de Espelhos escrita por Tiago Pereira


Capítulo 17
Capítulo 17 — Scarlatum


Notas iniciais do capítulo

E aí, gente, tranquilo? Espero que sim.
PRIMEIRO CAPÍTULO DE 2017! EBA!
À princípio, eu tenho de agradecer a todos vocês, especialmente duas pessoas que recomendaram a fanfic neste período de hiato: Gi e Vic. Valeu, de coração! Que 2017 seja tão bom quanto 2016 foi para essa história. ;)
Como prometido, mais um capítulo!
Boa leitura. :)



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NO FIM DAS CONTAS, AS COISAS ACABARAM dando certo para Alvo. Não tinha sido expulso, nem ferido ou morto e conseguira cumprir mais uma parte da predição. Quanto a McGonagall escrever uma carta ao seus pais, isso era um problema. Alvo enviara uma coruja perguntando se Wayne poderia passar o Natal com eles, na qual o Sr. Potter aceitou bondosamente. Duvidava muito que ele mudaria de opinião. A Sra. Potter era o grande empecilho. Diferentemente de muitas mães, ela não se importava em dar bronca nos filhos, e o deixaria de castigo no momento que o visse. Entrementes, Alvo torcia para que o pai de Wayne não achasse que ele era uma má pessoa e mudasse de ideia. Em tese, o amigo não tinha para onde ir, senão Hogwarts.

A manhã seguinte foi muito estranha. A história, como Alvo já sabia, acabaria vazando, mas a repercussão foi melhor do que ele jamais imaginou. A maioria dos alunos da Grifinória os recebeu com uma tempestade de aplausos. Havia uma parte que resmungava alto quando Alvo passava (“Só porque são filhos do Potter, pensam que não têm limite”). Nem Lucy queria falar muito com ele, assim como fizera ao descobrir que o garoto voou em uma moto nas férias de verão. Fred e Roxanne, porém, estavam achando a maior graça em provocar os outros alunos:

— Abram alas para o Complô Potter! — gritava Fred.

— Bruxos extremamente perigosos e malignos estão circulando pelos corredores! — continuava Roxanne.

Descontraídos com as piadas de Fred e Roxanne e extasiados com a última noite, Alvo, Rose e Wayne tomaram um café da manhã muito mais prazeroso que os anteriores. Os flocos de neve que caíam durante a noite tinham se transformado em uma verdadeira nevasca cinzenta e grossa, que deixava o interior do castelo muito mais escuro que normalmente era durante o dia. O Salão Principal estava decorado com doze grandiosos e belos pinheiros natalinos iluminados por fadinhas vivas — Alvo achou graça nisso — além de guirlandas de azevinho entrelaçando-se com viscos por todo o teto. As corujas, que faziam uma nuvem em dias de correio, ficavam mais tempo sob os cuidados de Hagrid até se recuperarem para fazer novas entregas, durante o inverno. Íris, no entanto, apareceu saudabilíssima planando suas asas castanhas até o seu dono.

— Ah, não — lamuriou Alvo enquanto desamarrava a carta das patas escamosas da coruja-das-igrejas. — Deve ser dos meus pais... nem posso imaginar o que vem pela frente...

— Ao menos não é um berrador — consolou Louis enquanto o primo abria o envelope.

Em uma letra tremida, aparentemente de fúria, Alvo leu a curta mensagem.

Sabemos de tudo.

Papai e mamãe

Tremendo da cabeça aos pés, Alvo dobrou o pergaminho e o enfiou no meio das vestes. Ele não podia ser punido com tanto rigor, tinha seguido todas as instruções do pai: não se meteu com Pirraça (fora o poltergeist que viera ao seu encontro todas as vezes), não duelou com ninguém (ainda nem tinha aprendido) e não deixou Tiago enrolá-lo — talvez um pouco.

E por falar em Tiago...

— Você também recebeu? — O garoto parecia tranquilo. — Parece que é o fim da linha para nós, irmãozinho...

Alvo perdeu a cor.

— Ãh... você acha que vamos ser... banidos de casa? — perguntou ingenuamente com os pelos da nuca em pé.

— Certamente que não — respondeu Tiago com seu típico sorriso maroto. — É claro que papai vai ficar na nossa cola, mas nada de ruim vai acontecer conosco. Carver se foi, deve ter caído da vassoura por aí.

— Como sabe? — interpelou Wayne cético.

— Ele foi mordido por fadas mordentes — lembrou Tiago.

— Alvo também — replicou Wayne. — E continua vivo.

Rose meneou a cabeça como se o amigo tivesse dito a coisa mais absurda do mundo.

— A mordida de uma fada mordente pode não ser tão potente — falou —, entretanto, seis delas pode ser letal, se não ingerir uma dose do antídoto. E onde ele arranjaria o antídoto?

— Com a mesma pessoa que o colocou aqui dentro? — apostou Wayne.

Rose se calou, seguindo exemplo de Alvo e Tiago. Agora que Wayne dissera, parecia uma possibilidade real.

— As únicas pessoas que possuem o antídoto — tornou a dizer Rose — são as enfermeiras e o professor de Poções. Quais as chances de ser um deles?

— As mesmas que qualquer um! — exclamou Wayne.

Alvo pensou em Boxe por um instante. Não queria compartilhar sua desconfiança para os amigos, eles não conheciam o elfo como ele. De certo modo, Boxe não parecia ameaçador, muito menos mancomunado com as Trevas. Contudo, o anel possuía a mesma inscrição que a Sala de Espelhos e ele precisava saber a relação que ambos tinham.

Às quinze para as dez, Alvo, Rose e Wayne se despediram de Tiago e subiram para o terceiro andar, admirando as franjas metálicas que decoravam os balaústres das escadas. Quase todos os alunos da primeira série faziam fila à porta antes mesmo da sineta tocar, a aula de Defesa Contra as Artes das Trevas era a favorita da grande maioria. Os três amigos entraram correndo e se sentaram nas cadeiras bem diante da escrivaninha do professor, os lugares mais concorridos da turma. Não tardou muito tempo até o Prof. Silvanus entrar com entusiasmo, uma pilha de caixas de madeira flutuando às suas costas, enquanto os estudantes apanhavam seus exemplares de As forças das trevas: um guia de autoproteção.

— Boa-tarde — cumprimentou ele, depositando a pilha em um canto da sala. — Podem guardar os livros e apanharem as varinhas. Aula prática, senhores!

Alvo e Wayne jubilaram, enfiando seus livros na mochila. Eles adoravam aprender novos feitiços que pudessem ser úteis em um duelo, por exemplo, ou azarações para rogarem quando vissem Filch dormindo ou tentando espiá-los com seus espantosos olhos saltados. O Prof. Silvanus descreveu um floreio com a varinha e as mesas e cadeiras foram afastadas, abrindo um enorme espaço no meio.

— Certo então — disse o Prof. Silvanus. — Queiram, por favor, cada um pegar uma caixa e fazer fileira na minha frente. Não se preocupem, não são tão pesados quanto parecem, um simples Feitiço da Levitação deve bastar.

Um a um, os alunos murmuraram a fórmula cabalística (“Wingardium Leviosa!”) com certa dificuldade para transportar as caixas — Rose foi a primeira a posicionar a sua. Assim que todos se enfileiraram, o Prof. Silvanus tornou a dizer:

— O feitiço que aprenderemos hoje, senhores, é muito simples. Chama-se... — O professor mirou Alvo. — Scarlatum. Tudo que vocês precisam é de um aceno e, é claro, uma boa dicção. Sr. Finch-Fletchey, se não se importa... — Tomando o lugar do aluno, o Prof. Silvanus apontou a varinha contra o seu caixote. — Scarlatum!

Um fulgor escarlate irrompeu da ponta da varinha e acertou a caixa, arremessando-a contra a parede oposta, estilhaçando-a com um estrondo. Os primeiranistas ficaram lívidos de espanto.

— Bem... tentem não danificar as caixas... não se preocupe, Sr. Finch-Fletchey, poso consertar em um instante... — Depois de remendar os pedaços da caixa, o Prof. Silvanus aplaudiu estimulantemente. — Mãos à obra!

Passadas meia-hora de tentativas frustrantes, os alunos perceberam que uma boa pronunciação não era suficiente para realizar o feitiço. Enquanto Wayne e Rose bufavam de raiva, Ross se sentiu muito orgulhoso de que sua caixa movesse dois centímetros — mesmo que com um empurrãozinho de seu pé. Alvo olhava concentrado para sua caixa; ele já tinha visto o Prof. Silvanus executar este feitiço antes, não parecia ser tão complicado quanto agora.

Scarlatum! — Alvo deu um sacolejo na varinha, soltando um arroubo ao ver o lampejo escarlate que serpenteou contra a caixa, lançando-a para frente.

A turma toda parou para contemplar o seu feito, mas ninguém, exceto Fergus, Ravi, Louis e Wayne lhe deram um cumprimento. Pelo contrário, quando Alvo olhou Rose, a prima estava parada com os braços cruzados e um verdadeiro esgar no rosto, como se tivesse chupado uma bala amarga. Entrementes, em um canto da sala, o Prof. Silvanus balançava a cabeça com um sorriso enigmático de satisfação.

— Assombroso, Sr. Potter, assombroso.

Apesar dos esforços, o êxito de Alvo foi a melhor coisa que aconteceu no resto da aula. Willow Macmillan se empenhou com afinco, até conseguiu fazer sua caixa voar alguns centímetros, mas, enquanto guardava seus materiais, Alvo jurou tê-lo visto resmungando como quem tivesse fracassado miseravelmente em uma tarefa de vida ou morte. O Prof. Silvanus dispensou os alunos, onde Alvo forçou alguns minutos a mais arrumando sua mochila para que, por fim, só restasse os dois na sala de aula.

— Excelente trabalho hoje, Alvo — disse o Prof. Silvanus afavelmente. — Um desempenho digno de um filho de Harry Potter.

E, com essas palavras, Alvo se despediu do professor, um sorriso gigante em seu rosto, imaginando se Tiago já recebera um elogio do gênero algum dia em Hogwarts. Rose e Wayne se encontravam nos corredores, calados e aborrecidos com a última aula, assim como o resto da turma. De fato, esta tinha sido a aula mais difícil de Defesa Contra as Artes das Trevas e Alvo tinha se saído melhor do que qualquer outro colega; contudo, não queria parecer arrogante em falar sobre o comentário que o Prof. Silvanus acabara de lhe fazer. Para sua sorte, o humor dos colegas melhorou quando o Prof. Longbottom apareceu na porta do Saguão de Entrada anunciando que a aula de Herbologia tinha sido cancelada pela nevasca. Esforçando-se para mostrar uma reação de tristeza na frente do professor, os três amigos subiram as escadas rapidamente na direção da Torre da Grifinória, Alvo olhando de esguelha em todos os cantos em busca de um mísero sinal da presença de Boxe.

— Oi, Alvo — cumprimentou uma garota de cabelos cor de chocolate, acompanhada da amiga. As duas abafavam risinhos.

— O-oi — gaguejou Alvo.

As meninas riram de novo e passaram por ele, quase correndo.

— Você está famoso, cara — debochou Wayne. — Não custa nada lembrar que nós também fomos atrás do Carver quando meninas aparecerem.

A única que não via graça nenhuma era Rose. Com as orelhas vermelhas, a menina cruzou os braços e continuou caminhando firmemente até o retrato da Mulher Gorda.

— Rose — chamou Alvo. — Está tudo bem?

— Está — disse laconicamente Rose. A Mulher Gorda estava prestes a proferir alguma coisa; o que era ninguém sabe, porque a garota não lhe deu a oportunidade. — Pastinaca.

O retrato girou para a frente, ligeiramente ofendida. A sala comunal, àquela hora, estava quase deserta, fora algumas poltronas pontuadas por Ravi e Louis que jogavam uma partida de pedras cuspideiras, Fergus acompanhando tudo de perto. Alvo e Wayne subiram os degraus da torrinha em direção do dormitório dos meninos, deixando suas mochilas em cima da cama.

— Acha que Rose ficou com ciúmes? — perguntou Alvo com franqueza.

— Acho — respondeu Wayne. — Quer dizer, não sei se ciúmes é o termo correto. Ela é a melhor aluna da nossa série, filha de Hermione Granger e mesmo assim as pessoas só parecem ter olhos para Alvo Potter.

Alvo ergueu os olhos para Wayne, ultrajado.

— Não que você queira isso... — apressou-se em corrigir Wayne. Alvo não lhe deu atenção, ainda não tinha se esquecido de que o amigo lhe dissera que ele queria bancar o herói, na noite que enfrentara Carver. — Sabe, Alvo, por mais que insista em recusar, você tem de admitir que a sombra do seu pai te acompanhará pelo resto de sua vida acadêmica, a não ser que você crie um título, e é o que você está fazendo. Veja seu irmão, um dos alunos mais populares, rei das pegadinhas, artilheiro da equipe de quadribol... ele já conseguiu afastar o rótulo de “filho do Harry Potter”. Entenda, as pessoas nunca vão se lembrar de quem você foi realmente, mas da sua reputação.

Alvo inspirou fundo, as bochechas corando. Incapaz de acrescentar algo às palavras de Wayne, mudou de assunto como se nada tivesse acontecido.

— Temos bastante tempo livre hoje — disse com um sorriso travesso. — Podemos ir à biblioteca, Rose vai gostar. — Alvo olhou para os lados, conferindo se ele e o amigo estavam realmente a sós. — E, não conte a ninguém, mas Tiago disse para mim que Filch e Madame Pince dão uns amassos nos intervalos das aulas.

Desinteressado na informação de Alvo, mas sem querer entristecê-lo, Wayne riu com o nariz.

— Prefiro comer ovas de sapo do que ver isso — caçoou com uma careta.

O convite para ir à biblioteca não ajudou muito a disposição de Rose. Os amigos tentavam engajar uma conversa sobre as férias enquanto caminhavam corredor adentro no quarto andar, Wayne narrando uma vez que seu pai comprou um peru enfeitiçado que tentou atacá-lo na ceia de Natal. As armaduras que enfeitavam o castelo, Alvo notou, estavam iluminadas por velas perpétuas nos elmos e ramos de viscos pendiam do teto a grandes intervalos. A biblioteca, diferentemente das outras ocasiões, se encontrava muito mais silenciosa — fato que se explica com a chegada dos feriados.

— Olha, eu separei uma lista de assuntos onde podemos encontrar algo sobre Hotwan ou Scarlet — disse Rose animada enquanto desenrolava um pergaminho. — Não é possível que eles não estejam em nenhum livro, talvez alguma referência, alguma cita...

— Não adianta, eles não aparecem em nenhum livro.

— Quê!

Mas a voz, tampouco, saiu da boca de Alvo ou Wayne. Viera da garota que arrastava um banco para se sentar junto deles.

— Eles não estão em nenhum livro — repetiu Chloe Bridwell calmamente. — Oi, dorcas.

Alvo acenou com a cabeça, surpreso com a chegada repentina da menina.

— Ah é? — rebateu Rose, irônica. — Vai me dizer que você simplesmente leu as dezenas de milhares de livros desta biblioteca, vai?

— Óbvio que não — replicou Chloe, erguendo uma sobrancelha.

— Então como sabe que eles não são citados em nenhum livro? — Rose parecia indignada. Àquela altura já estava claro que a relação entre ela e Chloe era péssima.

— Eu apenas sei — respondeu displicentemente Chloe. Enfiando a mão na mochila, retirou um livro com a capa remendada com fita adesiva. — Talvez a resposta que nós procuramos esteja aqui: História da Magia na América do Norte.

Rose riu em deboche como se Chloe fosse tão estúpida quanto um cão caçando o próprio rabo.

— Mas você não tinha dito que eles não estavam em nenhum livro?

— Disse e mantenho minha palavra — Chloe deu de ombros e arrastou o livro para Alvo. — Podem se aprofundar mais, se quiserem, mas vou dar uma rápida resumida das informações que eu sei que são sobre Rodric Hotwan e Rúbia Scarlet.

— Nós não queremos sab...

— Rose, dá para você ficar quieta? — irritou-se Alvo.

Rose, contrafeita, não disse mais nada.

— Obrigado, dorcas — agradeceu Chloe e pigarreou. — Aí diz um pouco sobre a magia norte-americana em seus primórdios e, se você prestar atenção, menciona uma força-tarefa conhecida como Purgantes, responsáveis por capturar criminosos, mas que acabaram se tornando um bando de corruptos e mercenários que traficavam bruxos ou saqueavam qualquer coisa que pudesse lhes render ouro. Como não havia nenhum órgão que pudesse refreá-los, o número de Purgantes cresceu absurdamente até que, em 1693 foi criado o Macusa, o Congresso Mágico dos Estados Unidos, que reuniu e treinou doze voluntários para serem aurores. Abra na página setenta e três, tem o nome de cada um dos voluntários.

Alvo, curioso, folheou o livro até o capítulo que se referia ao Macusa, onde encontrou a tal lista dos doze primeiros aurores a servirem o Presidente Jackson. Haviam nomes que ele nunca ouvira falar antes, mas que eram prestigiados na América do Norte: Helmut Weiss... Caridade Wilkinson... Bertilda Roche... Gondulfo Graves... Guilherme Fischer... Teodardo...

— Fontaine! — exclamou Rose de supetão, atraindo os olhares bisbilhoteiros. — Alvo, é o sobrenome de casamento da irmã da tia Fleur...

— Fontaine é parente do diretor de Ilvermorny, Agilberto — informou Chloe, mas ninguém lhe deu atenção.

— Mungo MacDuff — sussurrou Alvo, ciente de que só ele e Tiago reconheceriam o sobrenome de Donald. Será que ele sabia que tinha um parente famoso?

Potter — Wayne apontou para um dos últimos nomes da lista. — Alvo, Abraão Potter.

Alvo correu os olhos pela lista.

— E ele possui mesmo algum parentesco comigo?

— Hum-hum — Chloe anuiu energicamente. — Minha mãe disse que chegou a sair na primeira página do The New York Ghost, uma semana depois que seu pai derrotou Voldemort.

“Continuando a história, agora que você descobriu que um parente seu trabalhou no Macusa contra os Purgantes, entenda que o avô e o bisavô de Scarlet foram Purgantes”, prosseguiu Chloe. “Abraão Potter foi responsável pela execução do irmão de seu bisavô, outro Purgante”.

— Espera aí — Rose interrompeu. — Alvo, Hagrid disse que Scarlet atacou o seu pai! Será que foi por causa disso? Uma espécie de vingança pessoal?

— Possivelmente — Chloe respondeu no lugar de Alvo — Os Scarlet e os Potter são inimigos históricos. Ainda há muito que podemos descobrir sobre a família de Scarlet e Hotwan, como, por exemplo, como eles conseguiram apanhar o Espelho de Apate ou o que eles estavam atrás quando invadiram Hogwarts.

— O Antaglifo — ditou teatralmente Alvo, explicando sobre os poderes da pedra. — Mas nós não sabemos onde ela está.

Olhando atentamente para um ponto na mesa, Rose pareceu despertar de um transe, cobrindo a boca com os dedos.

— Eu sabia!...

— Sabia o quê? — Wayne se aprumou ansioso na cadeira.

— Hotwan estava atrás do Antaglifo em Hogwarts, não estava? — raciocinou Rose. — Mas não achou nada e tentou assaltar um cofre no Gringotes.

A explicação não pareceu surtir efeito em Alvo.

— Você está insinuando que o Antaglifo esteja no Gringotes? — questionou Wayne.

Rose fez que sim.

— Então nós não deveríamos ficar tão preocupados, certo? — sugeriu Alvo sem certeza.

— Ah, deveríamos sim, dorcas — falou Chloe com convicção. — Se Hotwan pode sumir bem debaixo do nariz do Ministério sem que ninguém saiba como, ele, a partir de agora, é um oponente muito esperto. Não entendo por que ele voltou para Azkaban.

— Dá para especular — disse Wayne. — Uma vez eu disse que ele poderia ter cumprido o que deixou pendente. Pode ser, quem sabe, que ele apanhou o Antaglifo do Gringotes e escondeu em uma das dimensões do Espelho.

— Tss — Rose estalou a língua. — Curioso, mas não faz muito sentido: como Hotwan entrou no Gringotes, com a segurança rígida que eles têm? E não teria como entrar lá sem o par do Espelho, a menos que alguém tenha posto lá, o que é muito difícil.

— O mais provável é que, quando Hotwan foi preso, tenha deixado um de seus Purificadores para vasculhar o tal Antaglifo — afirmou Chloe.

— Purificador? — interrompeu Alvo.

— É como chamam os membros da Legião Escarlate — explicou Chloe sucintamente. — Um infiltrado que tenha passado informações enquanto Hotwan esteve sumido e que agora deve ter recebido instruções para assaltar o local onde o Antaglifo esteja seguro.

— Bem coerente a sua teoria, Chloe — elogiou Rose. As duas garotas se entreolharam e sorriram.

Depois de tanto presumirem planos para saquearem o Gringotes, as quatro crianças foram pegas por um fato inusitado: por mais que estivessem metidos nesta investigação há meses, eles jamais imaginariam, contudo, que bruxos tão malévolos quanto Rodric Hotwan ou Rúbia Scarlet poderiam dar início a uma amizade tão bonita entre Alvo, Wayne, Rose e Chloe. Mas esta é a parte boa que a infelicidade e as desventuras nos proporcionam: os amigos de verdade.


Pelas janelas do castelo, o céu ia sendo tingido pelo habitual violáceo crepuscular enquanto os alunos do primeiro ano iam partindo em direção de suas salas comunais após um exaustivo tempo de Transfiguração com a Profa. Aingremont e suas revisões sobre as Leis de Gamp. Alvo e os amigos passaram pelos corredores abaixados e com as mãos protegendo a cabeça, porque Pirraça havia preparado um bombardeio com bolas festivas para se despedir dos alunos antes das férias de Natal.

No entanto, nada atrapalhou o humor dos estudantes. O castelo todo parecia estar animado, Alvo chegou a ver fantasmas ensaiando um coral com músicas natalinas, inclusive. A lista de alunos que permaneceriam em Hogwarts era bem curta, principalmente entre os mais novos, que não viam a hora de chegar em casa e contar aos pais as suas experiências no primeiro semestre.

E, apesar de toda a euforia, o que deixou os alunos mesmo em polvorosa estava pregado nos quadros das salas comunais. Os três amigos estavam interessados em saber a grande novidade, mas havia muitas cabeças na sua frente, seguidos de gritos agudos das garotas — um tipo de grito excitado.

— O que está havendo, Vic? — perguntou Rose quando se aproximaram da prima.

Victoire, que lia um exemplar de Curso Avançado em Defesa Contra as Artes das Trevas, jogou os cabelos para trás — que prendeu a atenção de um abobalhado Wayne — e sorriu para os primos mais novos.

— Oi, Rose, oi, Alvo, oi... — Ela mirou Wayne com cara de tacho. — Olá — disse por fim. — Vai ter um Baile de São Valentim, em fevereiro.

— Isso explica a gritaria — caçoou Alvo.

Victoire deu uma risada frouxa.

— Então, você vai? — perguntou Rose com um quê subtendido.

— Bem... é que... é que... eu... não posso levar quem eu gostaria... — gaguejou Victoire tristonha.

De repente, Alvo se lembrou de um assunto muito importante que eles haviam deixado de discutir enquanto estavam na biblioteca.

— Ãh... Victoire, você anda recebendo correspondências do seu pai? — E já emendou outra pergunta em seguida. — Sabe se ele vai passar o Natal n’A Toca?

Victoire arqueou as sobrancelhas, curiosa com a pergunta.

— Ele disse que passaria sua folga na Inglaterra, então acho que sim. — Vendo que Alvo quase pulara de alegria com a notícia, questionou: — Por que a pergunta?

Agora reparando que um soco no ar não era nada discreto, Alvo improvisou uma desculpa:

— É que estou com... saudades do tio Gui... Ãh... Wayne, vamos, temos que arrumar nossas malas.

Alvo puxou Wayne pelo cotovelo e subiram os degraus da torrinha onde se localizava os seus dormitórios, com a nítida impressão de que Rose deveria estar com as orelhas vermelhas por tê-la abandonado.

— Sua história foi tão convincente quanto às d’O Pasquim — zombou Wayne. — Pode me dizer o que seu tio Gui tem de tão importante assim?

Naquele instante os garotos atravessavam a soleira dos aposentos do primeiro ano vazio.

— Ele trabalha há anos como desfazedor de feitiços no Gringotes — informou Alvo.

Wayne fingiu fechar a cara e começou a enrolar um pulôver.

— Não precisa jogar na cara — brincou. — Tá, falando sério, tudo bem que seu tio trabalhou anos no Gringotes, mas como isso vai me ajudar a passar em Transfiguração?

Alvo, que desabotoava o fecho de sua capa, apressou-se a esclarecer.

— Não, seu retardado, isso não tem nada a ver com o fato de você ser aprovado em Transfiguração. Eu estou querendo dizer que ele estava no Gringotes no ano em que Hotwan tentou assaltar o cofre no Gringotes.

— Ah sim... — admirou-se Wayne. — Neste caso, você acha que ele vai querer nos dizer algo? Soa bem confidencial.

— Não sei — disse Alvo com sinceridade.

Fergus, Ravi, Ryan e Louis entraram no dormitório dando gargalhadas altas. Alvo continuou a dobrar suas roupas e enfiá-las na mala, encerrando o assunto sobe tio Gui. Embora não quisessem falar sobre o tal Baile de São Valentim, o tema não demorou a vir à tona quando Louis perguntou a Alvo e Wayne se eles iriam à festa. Tentando disfarçar a frustração de que não tinham coragem de convidar nenhuma garota ou que nenhuma delas o convidaria sob reais intenções, os garotos resmungaram em resposta.

— É melhor se apressarem — Louis os poupou de uma resposta bem elaborada. — As meninas já estão à espera de um convite.

— Eu chamei a Rhonda Byrne — disse Fergus com orgulho. Houve um certo silêncio entre Alvo e Wayne até o menino dar continuidade: — Ela aceitou.

— E vocês três? — Alvo se referia a Ravi, Louis e Ryan.

— Ravi vai com a minha prima, Anne Marie, e Louis e eu iremos com as gêmeas — explicou Ryan McGonagall. — Só estamos decidindo qual delas.

Os meninos riram.

— Precisamos nos mexer — murmurou Wayne a Alvo, como se estivesse realmente preocupado. — Eu poderia ir com a Rose e você com a Chloe, que acha?

Alvo, que preferiu não dizer nada, ficou imaginando um baile no qual ele e Chloe dançavam juntos e garota não parava de reclamar que ele estava malvestido e com os cabelos despenteados. Você está pisando no meu pé, dorcas, criava a imagem na sua cabeça. Mas que idiotice, você só tem onze anos, dizia uma voz na sua mente. Com uma sacudidela com a cabeça, Alvo continuou a organizar o malão — Wayne desistira de prolongar o assunto, visto que não teria o retorno esperado — e se deparou com uma embalagem encardida, onde o Espelho de Dois Sentidos se encontrava, um objeto que Alvo jamais dera a devida atenção. Ele retirou o pedaço de vidro e mirou o reflexo de seu olho verde-brilhante.

Você precisa dar a alguém que valha o seu tempo, disse Teddy no seu aniversário. Por um momento ele soube quem era esse alguém, mas não se tratava de nenhum de seus colegas de Casa, tampouco da sua família. Enfiando o embrulho no bolso interno das vestes, Alvo fechou a mala e saiu do dormitório (“Volto em cinco minutos”).

Atravessou a sala comunal fugaz, sem que Rose pudesse vê-lo — ele também não a viu — e desceu apressado as escadas, lançando-se a um atalho que Edessa Skandenberg lhe recomendara quando estava atrasado para a aula de Herbologia. Era uma escadaria secreta, na qual ele saltou um degrau que desaparecia e desembocou em uma tapeçaria, seguindo até um corredor onde transitavam alunos da Lufa-Lufa. Discretamente ele desceu o último lance de degraus e chegou no térreo, irrompendo em uma porta ladeada por duas gárgulas.

— Boa-noite para você também — resmungou uma delas.

— Noite... preciso falar com um professor — disse Alvo.

— Não nos diga coisas óbvias, sua caca de morcego — crocitou a outra gárgula.

Alvo, sem lhes dar a mínima importância, bateu na porta. Quase que instantaneamente, ela foi aberta pelo Prof. Scamander.

— Alvo! — exclamou Rodolfo, apertando-lhe a mão. Estava mais alegre desde a última vez que o garoto o vira. Na ocasião, ele discutia com o Prof. Godunov sobre uma catástrofe que viria a acontecer semanas depois. — Veja como está saudável, isso é colírio para meus olhos. O que procura?

— Rodolf... digo, professor — corrigiu-se Alvo. — Posso falar com o Professor Silvanus?

— Mas é claro... — O Prof. Scamander colocou a cabeça dentro da sala e chamou: — Mylor!

Ele ouviu passos e então o Prof. Silvanus apareceu. Ao ver Alvo, o professor abriu um sorriso agradável.

— Olá, Sr. Potter — saudou-o. — Em que posso ajudar?

— Eu gostaria de falar com o senhor... a sós...

Com uma ruga entre as sobrancelhas, o Prof. Silvanus apanhou uma capa do porta-casaco preso à parede e bateu a porta da sala dos professores. Atravessou o Saguão de Entrada e abriu a enorme porta de carvalho que dava acesso aos jardins. Uma lufada de vento gelado invadiu o castelo e Alvo se apressou a acompanhar o professor, arrependido de ter deixado sua capa de inverno na Torre da Grifinória.

— Desculpe a peculiaridade do local — disse o Prof. Silvanus, notando que os dentes de Alvo castanholavam —, mas me parece o lugar mais particular. Imagino que o senhor não interromperia meu chá da tarde se não fosse um assunto importante.

— N-não... — Alvo tentou falar, agarrando os braços. — E-eu queria te entregar uma c-coisa...

— Espere, isto está horrível. — O professor sacou a varinha e apontou para uma das janelas iluminadas. — Accio capa! — Dos vidros de uma janela, uma manta felpuda e pesada esvoaçou até a mão do Prof. Silvanus, que cobriu o aluno. — Pronto, bem melhor, não?

— S-sim, ob-obrigado... — disse Alvo com um sorrisinho amargo, o corpo se aquecendo aos poucos. — Professor, como eu ia dizendo... tenho uma coisa para entregar ao senhor...

— Espero que seja uma lata de pêssegos em calda, eu adoro — sorriu o Prof. Silvanus.

Alvo meteu a mão afundo nas vestes e puxou o embrulho, selecionando um par do espelhinho quadrado e entregando ao professor.

— Francamente, meu jovem, eu sei que não sou uma beldade...

— Ah, não se ofenda — acelerou a explicar Alvo. — É um Espelho de Dois Sentidos. Tenho o outro par, serve para nos comunicarmos.

— Como um bom mestre em Defesa Contra as Artes das Trevas, devo dizer que já ouvi falar sobre este objeto — comentou o professor, girando o pedaço de vidro na mão. — Contudo, não consigo deduzir as razões pelas quais você está presenteando a mim. Tentando ganhar nota?

— Não, não, nunca — Alvo negou com veemência. — É que... depois de todas essas coisas que vem me acontecendo, eu preciso de alguém que possa me ajudar nas horas difíceis. E o senhor é a única pessoa nesta escola que parece ser capaz de me compreender.

O Prof. Silvanus fez uma longa pausa, a respiração visível saindo no ar gelado expurgado de suas narinas.

— Você está dizendo que confia plenamente em mim?

— Plenamente — admitiu Alvo.

— Que bom que está deixando tudo isso claro.

E, dando as costas para os terrenos cobertos de neve, os dois saíram marchando de volta ao castelo, Alvo com uma estranha sensação de estar sendo observado.


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Notas finais do capítulo

Oi, de novo!

Espero, do fundo do meu coração que vocês estejam curtindo para valer a fic. Estou me esforçando de corpo e alma para trazer a vocês os capítulos. :) E, é claro, se você gostou ou não, deixa aqui nos comentários a sua opinião, eu vou ficar muito feliz em saber o que vocês estão achando de bom e de ruim. ;)

Curiosidade do capítulo: Aos curiosos, Antaglifo é a designação dada por Plutarco a uma rara pedra que teria a virtude de fazer que quem a trouxesse não se admirasse de coisa alguma. Essa pedra teria esculpida a imagem de Cibele, mulher de Saturno, e teria sido encontrada nas águas do rio Sagara na Frígia.

Até o próximo capítulo!

Att,
Tiago



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