Alvo Potter e a Sala de Espelhos escrita por Tiago Pereira


Capítulo 19
Capítulo 19 — A Festa de Natal


Notas iniciais do capítulo

E aí, gente. Beleza? Espero que sim.
Desculpem a demora para postar, disse que entregaria a vocês o capítulos há duas semanas, PORÉM, eu tive de reescrever este capítulo quando notei que era necessário uns remendos. Espero que vocês entendam.
CHEGAMOS A 130 COMENTÁRIOS! OBRIGADO, PESSOAL, AMO VOCÊS. :)
Boa leitura!



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A TOCA ESTAVA UMA VERDADEIRA DESORDEM. Enquanto os adultos montavam uma tenda no jardim para que eles ceassem, Vovó Weasley corria de lá para cá de muito mal-humor, gritando para que Lílian e Hugo parassem de brincar e recolhessem as embalagens dos presentes de uma vez. O Sr. e a Sra. Granger — vô e vó de Rose e Hugo —, que haviam recém-chegado, observavam com admiração as mágicas que eram realizadas, ao passo que Vovô Weasley mirava com fascínio a moeda de um Pence que ganhara deles.

— Vocês podem levar esses garfos e facas? — disse Vovó Weasley apontando para Alvo e Wayne. — Rose, mexa o molho! Victoire, Teddy, ajudem na decoração lá fora!

Ainda que houvesse muitos encontrões por todos os cantos e tivessem de aturar as broncas da Vovó Weasley, as coisas começaram a transcorrer bem. Aos poucos, a tenda estava montada e enfeitada com sinos e guirlandas, o bolo de frutas estava esfriando e o tradicional programa de Natal enchia os cantos da cozinha com trilhas conhecidas como “Campana dos Duendes”, cantada em grugulês — uma língua áspera e nativa dos duendes — e “Papai Noel adotou um hipogrifo chamado Bingo”.

Depois de cumprirem suas tarefas, Alvo, Wayne e Rose ficaram encarregados de espantar os gnomos do jardim e colherem algumas cenouras. De fato, não foi um afazer muito simples, principalmente quando alguns gnomos apareciam do nada e mordiam os calcanhares deles de maneira discreta e fugaz. Enquanto Alvo massageava a parte de trás do pé, pensou em uma maneira eficiente para derrubar as criaturazinhas pequenas e carecas: bolas de neve. O menino enfiou a mão no gelo e atirou uma pelota bem no dorso da cabeça do gnomo, derrubando-o de cara no chão. Wayne e Rose riram e também começaram a atirar bolas de neve nos gnomos que desataram a correr e escorregar, até darem início a uma verdadeira guerra entre os três amigos, que se esforçavam para desviar, ora patinando no gramado úmido.

— Espero que vocês já tenham colhido as cenouras que eu pedi. — Vovó Weasley estava parado à porta com as mãos na cintura.

Calados, mas ainda alegres, Alvo, Rose e Wayne tornaram a puxar cenouras do chão, frios, molhados e ofegantes. Era um dia especial, uma oportunidade ímpar que todos tinham para se divertirem à beça com as suas famílias e amigos. Um dia para tentar esquecer os inúmeros infortúnios que eles passaram em Hogwarts.

De volta À Toca, Vovô Weasley, que estava aprendendo a manusear um acendedor de fogão na lareira, ajudou a secar a roupa das crianças com um simples aceno da varinha, deixando-os aquecidos e confortáveis.

— Vovô, o senhor sabe que isto não funciona em lareiras, não sabe? — perguntou Rose.

Vovô Weasley, que estava com a careca ligeiramente vermelha de suor das exaustivas tentativas, virou-se para a neta.

— Sei, sei — afirmou. — Mas os artefatos trouxas possuem várias utilidades, eh? Os Granger disseram que é possível!

Deixando o avô trabalhar inutilmente em sua experiência de acender uma pequena fagulha na lareira, as crianças marcharam até a escada, quando Alvo parou de chofre em um dos patamares.

— Quer ver uma coisa incrível? — Alvo instigou Wayne.

— Tipo o que? — replicou Wayne com curiosidade.

Com um ar enigmático, Alvo conduziu Wayne e Rose pelos degraus até o pequeno andar acima do quarto em que os garotos dormiram. O teto era muito mais baixo do que nos outros lugares, mas mesmo assim, Alvo não conseguia alcançar a aldraba do alçapão. Wayne, que era ligeiramente mais alto do que os amigos, abriu o alçapão retrátil, fazendo com que uma escada caísse aos seus pés.

— Já aviso que aqui é bem fedido — disse Rose, fanha, com o cheiro de esgoto que saía do buraco quadrado.

Um de cada vez, as crianças subiram a escadinha até o minúsculo sótão. Havia um barulho tosco de sucção, onde Alvo pôde contemplar, ao colocar os ombros para dentro do quarto, que vinha de uma criaturinha viscosa e careca do tamanho semelhante a um ser humano um tanto baixo. Wayne, através da escuridão, parecia estar em um tom esverdeado.

— É um vampiro — concluiu o menino. — Como o da professora Monet.

— Um pouco mais bonito, sinceramente — zombou Alvo.

— Afinal, era isto que você queria me mostrar? — Wayne tossiu engulhando

— Não — disse Alvo, indo direto ao ponto. — Contei tudo ao meu pai.

— Tudo? — surpreendeu-se Rose.

Tudo — confirmou Alvo.

Rose abriu um sorriso.

— Isso é ótimo, Al! — E olhou para Wayne em busca de apoio.

— É — disse Wayne, um pouco a contragosto. — Ao menos algum adulto estará ciente, não?

— Ele bem que poderia dar uma revistada na Sala de Espelhos — comentou Alvo.

— Ah não poderia não. — Uma voz reverberou pelo sótão, sobrepondo o ronco do vampiro. Os três amigos olharam para trás e encontraram a cabeça de Tiago no buraco do alçapão. — Vocês já foram no sexto andar? Há uma fortaleza que cerca a Sala de Espelhos, cheio de armadilhas para que ninguém entre ou saia de lá. Foi o próprio Copperfield que montou.

— Tá, mas por que papai não pode investigar? — contestou Alvo.

Tiago se apoiou no chão do sótão e colocou o corpo todo no interior do recinto, agachando-se para não bater a cabeça no teto.

— Porque Copperfield não quer ser interrompido — explicou Tiago. — E, se ninguém sabe o que ele faz, como que vão contestar alguma atitude dele? De todo o jeito, Copperfield trabalha para o Ministério e isso já deveria bastar. Agora, se não se importam, mamãe está chamando, os Fawcett chegaram.

Os Fawcett eram uma família bruxa que também vivia em Ottery St. Catchpole. Os adultos, Sirimeu e Isobel, eram dois ex-colegas de Hogwarts que estudaram na mesma época que o Sr. Potter, tio Rony e tia Hermione, na Casa de Corvinal. O casal tinha um filho, Harper, que herdara os cabelos lisos e negros da mãe e tinha a mesma idade de Lílian e Hugo, fazendo visitas constantes n’A Toca quando os amigos estavam lá — o que era muito corriqueiro, já que os Potter e os Weasley trabalhavam bastante.

— Olá, Isobel, Sirimeu — cumprimentou o Sr. Potter com a cabeça. Mesmo depois de tantos anos, os dois olhavam com muito fascínio a cicatriz em forma de raio na testa do homem. — Como vai, Harper?

Quase que em seguida, outra família vizinha aparatou no quintal dos Weasley: os Lovegood. Luna, uma amiga do Sr. Potter e uma das líderes da Armada de Dumbledore — um antigo grupo de estudantes clandestinos que aprendiam Defesa Contra as Artes das Trevas sozinhos — era uma mulher excêntrica de cabelos compridos, louros e sujos. Estava de mãos dadas com o marido — e professor das crianças —, Rodolfo Scamander. Aos pés do pai, Lorcan e Lysander, duas crianças extremamente parecidas, tanto consigo quanto com a mãe, encaravam os Weasley e os Potter com um olhar sonhador. Suas sobrancelhas eram totalmente arqueadas e claras e seus cabelos bagunçados e mal cortados. Junto da família, Xenofílio Lovegood, um homem murcho, porém de aspecto feliz, mirava com seus olhos vesgos um duende tentando surrupiar talos no pomar, os cabelos brancos e leves como algodão-doce esvoaçando nas laterais de sua cabeça. Todos, exceto Rodolfo, usavam um barrete vermelho na cabeça com uma coroa de visco e um colar com um cunquate pendurado; Luna ainda trazia nos braços uma fornada de biscoitos de forma irregulares.

— Fui eu que fiz — disse Luna olhando diretamente para o Sr. Potter. — O cunquate é para atrair os bezerros apaixonados. Papai quer recolher os excrementos deles, é muito benéfico para as flores e ervas mágicas.

— Se quiser nós podemos trazer um pouco para você, Arthur — disse afavelmente Xenofílio Lovegood.

— Ah... será um... prazer... Molly queria fazer os repolhos crescerem... — balbuciou Vovô Weasley.

— Vai ser um prazer imenso receber um monte de bosta de bezerro apaixonado no correio — zombou tio Rony.

Tia Hermione lançou um olhar “cale-a-boca-já”.

— Oi, Rony Weasley — disse Luna. — Belo bigode.

Tio Rony deu um sorriso enviesado, sem saber se Luna estava sendo irônica.

— Vamos entrar — convidou a Sra. Potter. — Esses biscoitos parecem deliciosos, Luna. Como vão, Lysander, Lorcan?

— Bem. — Os gêmeos falaram em um coro sinistro. — Excepcionalmente bem.

— Pronta para seu primeiro grande evento? — perguntou a Sra. Potter a Luna.

Luna, desde que o marido assumiu o cargo no corpo docente de Hogwarts, havia sido promovida à vaga de Rodolfo: Diretora Consultora Magizoologista no Profeta Diário. Apesar de passar grande parte do tempo tentando evidenciar a existência de Bufadores de Chifres Enrugados, em abril, ela e a mãe de Alvo viajariam para Areia Deliblato, na Sérvia, para fazerem a cobertura in loco da Copa Mundial de Quadribol — a qual Alvo não aguentava mais esperar. Os Potter sempre recebiam entradas no camarote VIP do ministro da Magia, destinado à mais alta cúpula.

— Sim — disse Luna placidamente. — Estou fazendo o meu vestido para a abertura com a bandeira da Suazilândia. Sabia que eles foram os primeiros a reconhecerem os Dilátex como símbolo nacional?

Alvo, Rose e Wayne se encararam, prendendo a risada. Não queriam fazer nenhum comentário desagradável a Luna, por mais absurdo que fossem suas observações, afinal, ela não era amiga da família?

— Não — respondeu gentilmente a Sra. Potter, olhando por cima do ombro depois de ouvirem um som de chicote. — Ah, Neville acabou de aparatar! Harry, vá recebê-lo.

O interior da tenda estava montado magnificamente com uma enorme mesa lustrosa no centro — que seria utilizada na ceia —, circundada por outras mesinhas com quatro cadeiras em volta — que seriam usadas depois da refeição —, um varal com os dizeres “FELIZ NATAL”, bolas douradas penduradas por todo o canto, velas gigantes e fadinhas coloridas voando pelo local. Alvo adorava as refeições natalinas que a Vovó Weasley se encarregava de fazer. Havia de tudo: batata assada, faisões, uma travessa generosa de salsicha, molheiras com os mais diversos acompanhamentos, ervilhas, purê de pastinaca, gemada e outras bebidas alcóolicas e, é claro, três perus gordos. Assim que Neville, Ana e a Sra. Tonks se juntaram a eles, tio Jorge se apressou para abrir uma bombinha de bruxo da Gemialidades Weasley com tia Angelina. Diferente do artefato dos trouxas, essa fazia um som de trovão e liberava uma fumaça azul, derramando uma chuva de jujubas sobre eles.

— Jorge, pare com isso, depois do almoço você abre mais destes demônios! — gritou Vovó Weasley.

Mesmo depois de banquetes em Hogwarts, os almoços de Natal, para Alvo, ainda eram inigualáveis. Além da comida estar excelente, era sempre bom parar para ouvir as histórias dos primos e dos tios. A parte mais chata, possivelmente, eram os relatos políticos de tio Percy, a qual as crianças não entendiam quase nada.

— Os Diggory não vem mesmo? — O Sr. Potter murmurou de canto dos lábios ao Vovô Weasley.

— Não — respondeu Vovô Weasley. — Amos anda muito recluso ultimamente, nunca mais foi o mesmo desde... você sabe.

— Nenhum de nós foi o mesmo, Sr. Weasley — enfatizou o Sr. Potter.

A sobremesa veio flutuando com um floreio da Vovó Weasley: pudins flambados, bolo de frutas secas, bolo de tronco e gelatinas multicoloridas começaram a encher a mesa.

— Luna — disse tia Hermione, mordendo um biscoito com grossos pedaços de chocolate. — Estes biscoitos estão ótimos, o que você acrescentou de diferente?

— Ameixas dirigíveis — Luna contou. — Elas dão um sabor ótimo e tem propriedades bem exóticas.

Tia Hermione deu um sorriso amargo e, quando Luna parou de olhar em sua direção, Alvo reparou que tia limpava a língua em um guardanapo.

— Lunática — murmurou tio Rony à esposa.

Alvo já sentia a calça mais apertada do que o comum quando eles finalmente puderam estourar mais bombinhas de bruxos. Além de serem envolvidos pela névoa, os brindes que viam ou eram cômicos ou incríveis. Harper Fawcett teve sorte grande ao ganhar um elmo de cavaleiro, ao contrário de Lorcan — ou Lysander, Alvo não sabia a diferença — que ganhou um Frisbee-dentado; aos olhos do garoto, o objeto mais adorável do mundo. Até o Sr. e a Sra. Granger entraram na brincadeira, aplaudindo os ratinhos brancos que ganharam de brinde.

Já espalhados nas outras mesinhas, os adultos bebiam drinques atrás de drinques. O rosto de tio Carlinhos e tia Audrey já estavam bem mais rosados do que o normal após a quarta taça de hidromel.  Assim que a grande mesa central foi retirada, uma música começou a sair tremida de altos falantes que os garotos não tinham reparado; aos poucos, uma pista de dança se formou. Vovô Weasley deu abertura com uma dança com Vovó Weasley, seguidos do Sr. e a Sra. Granger, todos sob a balada de Celestina Warbeck. Alvo, que era muito tímido para arriscar alguns passos, ficava observando os pares enquanto bebia sua gemada: Tiago e Dominique, Teddy e Victoire, Louis e Molly. As crianças riram muito da valsa desengonçada entre Xenofílio Lovegood e Luna, que mais pareciam avestruzes correndo em câmera lenta. Os olhos de Alvo varreram o local em direção da mesa em que tio Gui e tia Fleur tomavam alegremente suas taças de conhaque francês. Julgando que aquele era o momento ideal para falar com eles — e para fugir de um tio Carlinhos embriagado —, Alvo fez um sinal convidativo com a cabeça a Rose e Wayne.

Os três garotos se aproximaram da mesa.

— ... Esta música é tam ruim, Gui...

Alvo pigarreou.

— Com licença, tio Gui, tia Fleur — disse com um sorriso exagerado. — Podemos nos sentar?

— Claro — disse tio Gui afastando os olhos de Victoire e Teddy. — Sentem vocês três, arrastem uma cadeira para cá.

Rose, um pouco trêmula, porém decidida, aguardou Alvo puxar uma cadeira para perto da mesa antes de começar a tentativa de persuasão.

— Muito trabalho no Gringotes?

— Muito, como de costume — tio Gui sorriu. — Ainda estou tentando conquistar a confiança de alguns duendes egípcios, eles não me conhecem como os da Inglaterra.

— Isto é normal, não é mesme? — tia Fleur mostrou apoio ao marido. — No Grringotes onde eu trrabalho, Brraguilhe nam confiava em mim no iníce.

Alvo e Wayne se entreolharam; Rose manteve o semblante neutro para não levantar nenhuma suspeita.

— Ah, o velho Braguilha não é um lá duende muito amável mesmo — completou tio Gui. — Muito antigo no Gringotes, não dá confiança a qualquer um.

Tia Fleur lançou um olhar de revolta ao esposo.

— Não estou falando de você, querida — justificou-se tio Gui. — Braguilha geralmente é encarregado dos bens mais preciosos do Gringotes. Tenho certo receio disso, ele é um pouco extremista quando se trata de tesouros, ainda mais aqueles forjados por duendes. Acha que tudo que os duendes produziram a eles pertencem quando o proprietário morrer.

— Como, por exemplo, uma relíquia familiar? — interpelou Alvo, pensando se sua capa da invisibilidade teria sido tecida por um duende.

— Sim — respondeu tio Gui. — Até mais do que isso... tesouros verdadeiramente grandes. Suponho que já estejam familiarizados com a lenda sobre “Os treze tesouros da Inglaterra”.

Rose respondeu afirmativamente, mas tanto Alvo quanto Wayne menearam a cabeça.

— Isto me lembra quando maman e papa contavam parra mim o conto de Roux-Ga-Roux, o Homam Lobo — contou tia Fleur um pouco afetada pelas doses de conhaque.

Tio Gui assentiu.

— “Os treze tesouros da Inglaterra” é uma lenda antiga muito famosa e incorporada na cultura dos trouxas sobre Merlim. Segundo os trouxas, Merlim queria reunir os deuses com os humanos e expulsar um povo da Inglaterra. É claro que a história não é bem assim. Merlim sempre ambicionou os treze tesouros como um instrumento dele poder viver tempo suficiente para realizar seu maior desejo.

Fred e Roxanne apareceram com uma bandeja com bolinhos de frutas secas.

— Aceitam? — ofereceu Fred estendendo a bandeja.

Tio Gui e tia Fleur recusaram, ao contrário das crianças, que já erguiam as mãos para apanhar um bolo.

— Se eu fosse você não apanhava esse não — sugeriu Roxanne ao ver Alvo se aproximar de um bolinho com glacê azul. — Está endereçado ao tio Percy.

— Um recheio muito especial — disse Fred abafando as risadas.

Alvo, conhecendo bem os primos, não hesitou em escolher outro bolinho. Enquanto comia, olhava para baixo, matutando a hipótese de o Antaglifo ser um dos treze tesouros e o porquê de Rodric Hotwan não ter conseguido obtê-lo.

— E você acha que esses tesouros existem de verdade? — Rose se empertigou na cadeira, retomando o assunto no momento que Fred e Roxanne saíram.

— Provavelmente — Wayne falou antes. — Se Merlim estava atrás.

Tio Gui virou o último gole de conhaque de sua taça; tia Fleur lhe serviu mais um pouco.

— Existe uma lista especificando quais são os tesouros — disse tio Gui contendo um arroto. — Há ambiguidade entre os trouxas e os bruxos, cada um indicando quais são os artefatos. Contudo, ambas as lendas dizem que é preciso fazer um ritual, magia bem avançada e, muitas vezes, das Trevas.

Alvo se engasgou com o bolo, bebendo mais goles da gemada.

— Merlim utilizava magia das Trevas?

— Não, não — tio Gui negou com convicção. — Merlim era um bruxo muito avançado para sua época, não é? Desde cedo ele já defendia a ideia de bruxos e trouxas conviverem em paz. Não é à toa que ele fundou sua própria organização a favor dos direitos dos trouxas: a Ordem de Merlim. Hoje, obviamente, possui outros intuitos e me arrisco a dizer que já não tem o mesmo prestígio de antigamente. É uma vergonha misturar Minerva McGonagall, Dumbledore, Newton Scamander com a gentalha como Cornélio Fudge ou Pedro Pettigrew ou Arturo Black.

— E qual era o maior desejo de Merlim? — questionou Rose, limpando os lábios em um guardanapo.

Tio Gui não tardou em responder.

— Esta não é uma pergunta que deveria ser feita a mim — refutou com um sorriso bondoso. — Mas, se eu pudesse palpitar, diria que Merlim, depois de reunir os treze tesouros e realizar o ritual, escolheria viver tempo suficiente até construir uma sociedade na qual os trouxas e bruxos coexistissem sem conflitos.

Tia Fleur fungou.

— Isto é tam bonite. — E deu um beijo bem na cicatriz do marido.

— Só que ele nunca conseguiu reunir os tesouros — Wayne suspirou.

— Não dá para saber — tio Gui esvaziou mais uma taça de conhaque, o rosto tingindo um rosa-claro. — Pode ser que sim, pode ser que não. Demoraria anos, talvez décadas, para encontrar os objetos necessários. Muitos deles poderiam pertencer à outras famílias sob um testamento, e testamentos são contratos mágicos inquebráveis. Um objeto jamais será de sua posse a não ser que o legítimo dono o repasse. Enfim, é uma lenda, ninguém sabe se é verdade ou apenas uma metáfora. Eu prefiro acreditar que seja real, ou os duendes não tentariam esconder tantos segredos em relação a objetos mágicos.

Alvo, Wayne e Rose ficaram com um semblante de dúvida.

— Mas, tio Gui, você acha que os duendes têm alguma ligação com os tesouros? — indagou Alvo.

— Sim, acho — replicou tio Gui. — Muitos duendes possuem um sentimento antibruxo e Merlim nunca os colocou em uma posição de destaque na sua ideologia. É claro que apenas um grupo seleto conhecia essa cobiça de Merlim, porém, aos poucos, com a sua caçada, o número de pessoas, no caso seres, que conheciam seu segredo foi aumentando. É possível que os duendes tenham protegido à mão de ferro alguns objetos forjados por eles, ou furtados ou até mesmo duplicados. As ideias dos duendes não conferem com as dos humanos, então, é tudo um grande mistério.

Alvo teve uma sensação agourenta de estar pedindo demais; no entanto, tornou a perguntar sem rodeios.

— Rodric Hotwan estava atrás do Antaglifo, não é? Pertencia aos duendes?

Tio Gui e tia Fleur se entreolharam, espantados.

— Bem... — disse-lhe tio Gui com muita cautela. — Hotwan foi capturado antes de conseguir arrombar o cofre no Gringotes, não se sabe o que ele queria. Quanto ao Antaglifo... — tio Gui começou a sussurrar. — Alvo, não sei como você tem essa informação, mas não é certo ficar espalhando aos quatro ventos. E não, o Antaglifo pertence ao Ministério da Magia.

Houve um estrépito que chamou a atenção de todos. Alvo mirou por cima do ombro e se deparou com um grande canário pousado em uma cadeira perto deles. Todos caíram na gargalhada — exceto Vovó Weasley, tia Audrey e Lucy. Num instante depois, por baixo de uma revoada de penas amarelas, tio Percy reaparecera, os óculos de aro de tartaruga tortos no rosto que agora estava rubro.

— Jorge Weasley! — exclamou Vovó Weasley, erguendo-se da cadeira. — Quantas vezes eu já pedi para você não aparecer com esses produtos perigosos para cá?

Tio Jorge, que se contorcia de tanto gargalhar, tentou fechar o rosto para responder.

— Não venha me culpar, a senhora que assou os bolos — defendeu-se.

Vovó Weasley pareceu embasbacada para retrucar o argumento do filho.

— Eu... não... nunca confundiria... nem recheei... absurdo! Arthur!

— Não se preocupe, mamãe — disse tio Percy com frieza, tossindo penas. — Foi apenas uma brincadeira.

— Ah, Perce, esse é o espírito! — disse tio Jorge abraçando os ombros do irmão.

As comemorações deram continuidade com muitos risos e com pouca dança. Tio Carlinhos e Rodolfo, que discutiram por horas sobre os diferentes espécimes de dragões, brindavam cálices de vinho e cantavam músicas natalinas aos abraços. Entrementes, Alvo, Rose e Wayne tinham deixado de lado a conversa com tio Gui. Haviam recebido tanta informação importante que era necessário digeri-las antes de tomar alguma providência. O único jeito de se distrair era divertindo-se com as bombinhas. Wayne ganhara um jogo completo de xadrez de bruxo feitos totalmente de bronze, ao passo que Rose se divertia com seus balões incandescentes, enquanto Alvo fora brindado com uma caixa verde, que mostrou-se muito interessante ao seu padrinho.

— Isto é um capixingui, Al — explicou Neville ao ver o kit de cultivo nas mãos do afilhado. — É a planta símbolo de Hogwarts. Você poderia cultivá-la nos terrenos, o que acha?

— Uma excelente ideia — concordou Alvo, mais interessado nos balões luminosos de Rose do que seu kit.

Neville deu um gole na sua taça de uísque de fogo e enfiou a mão nas vestes, arredando dois envelopes ligeiramente amassados e distribuindo um a Alvo e outro a Tiago.

— É para você — disse com um sorriso no rosto ao afilhado. Ele entregou uma a Tiago também. — Não sei se você vai gostar, foi tudo o que pudemos negociar com a Profa. McGonagall.

Agora que a dança já tinha acabado e os adultos estavam ligeiramente bêbados para ficarem bamboleando pelos cantos, a maioria das pessoas começou a dar atenção em Alvo, Tiago e suas misteriosas correspondências de Hogwarts. Um esgar se formou no rosto dos garotos. Será que eles seriam expulsos em pleno Natal? Não podia ser verdade. Com as bochechas queimando, Alvo retirou o pergaminho amarelado do envelope e leu a mensagem para todos, a voz morrendo conforme terminava:

 

Prezado Sr. Potter,

O aluno Sean Brandon Glascott Jr., 5ª série, capitão do time de quadribol da Casa Grifinória, convida V.S.ª a participar do teste para a posição de apanhador, que ocorrerá no dia 6 de janeiro de 2018, horário a combinar com o mesmo doravante denominado CAPITÃO. Em caso de confirmação, uma coruja deverá ser despachada, no mais tardar, dia 31 de dezembro de 2017.

P.S.: Com o acolhimento de uma reclamação oficial anônima devidamente provada e com a ordem expressa do Conselho Diretor da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, por excesso de penalizações consideradas graves, o aluno Alvo Severo Potter, 1ª série, Grifinória, não poderá participar mais de UMA atividade oficial organizada por uma associação, sociedade, time, grupo, clube ou grêmio estudantil até que uma contraprova seja apresentada no dia 20 de fevereiro de 2018 com a presença do aluno em pauta. Sendo assim, em caso de aceitação do Sr. Alvo Potter no time de quadribol da Casa Grifinória, este estará expressamente proibido de se envolver direta ou indiretamente do Baile de São Valentim que dar-se-á início às oito horas da noite do dia 14 de fevereiro de 2018.

 Atenciosamente,

Minerva McGonagall

Diretora da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts

Neville Longbottom

Diretor Substituto

E seguia-se uma lista com os nomes dos conselheiros da escola.

Neville olhou para Alvo com um sorrisinho amargo.

— O mesmo se aplica ao Tiago — informou. — Vocês não vão poder participar do time de quadribol e do Baile de São Valentim ao mesmo tempo.

Alvo ficou lívido de pavor. Ele não tinha cometido nada imperdoável para ser punido dessa maneira. Ele era a maior vítima das circunstâncias. Imaginou que ganharia a maior bronca dos pais na frente de todos, mas o que Alvo e Tiago viram foi o maior apoio que eles poderiam ter conseguido.

— Por que o Conselho Diretor faria uma coisa dessas com Alvo e Tiago? — perguntou tia Hermione.

— Isso é perseguição, Mione! — protestou tio Rony. — Sempre foi assim com o Harry. Eles fingem ser tão corajosos, mas nem revelam quem prestou queixa. Se eu encontro um desses mesquinhos, eu...

— Para o inferno o Conselho Diretor! — exclamou a Sra. Potter, olhando para o marido. — Parabéns, Al, amanhã iremos comprar uma vassoura nova para você fazer o teste.

— Para nós não tem problema vocês não participarem de um baile — reforçou o Sr. Potter.

— E o que aconteceu com Dencourt? — Tiago perguntou com os olhos bem abertos.

— Pediu demissão — Neville deu de ombros.

Tio Rony retomou a discussão anterior.

— Pft! — impacientou-se. — Como se esse Conselho nunca tivesse vontade de dar umas voltinhas à noite. Isso não é motivo para excluir um aluno de uma atividade, jamais. Quem é mesmo o presidente dos conselheiros? É o tal do Zacarias Smith, não é? Ah, eu vou matar ele...

— Na verdade, a Profa. McGonagall recebeu uma denúncia muito séria... — Neville revirou os olhos para sua taça. Ana continuou calada.

— Percebemos isso — caçoou tio Jorge. — É claro que os filhos de Harry Potter são altamente perigosos e do mal, mas que coisa eles poderiam ter feito?

— Um aluno apareceu dizendo que Alvo e Tiago utilizaram o Feitiço da Memória nele no Dia das Bruxas — continuou Neville. — Quando eu fiquei sabendo voltei correndo para o castelo.

Alvo já estava começando a somar dois mais dois. Perda de memória, Dia das Bruxas, Sala de Espelhos...

— Com que provas? — rebateu Rose, já compreendendo a situação.

— Nenhuma concreta, exatamente — disse Neville, seu rosto redondo suando. — Mas foi utilizada a Veritaserum na frente de todos os professores na frente dos membros do Conselho. A coisa toda parecia verdade... — Neville apressou a se defender. — Só que eu sei que não é!

— Não faz o menor sentido — retrucou Tiago. — Eu nem estava presente quando tudo aconteceu e Alvo e Wayne foram vítimas.

— Desembucha, Neville — disse o Sr. Potter com severidade. — Quem foi que acusou os meus filhos de um crime desses?

Neville respirou fundo, sem conseguir olhar diretamente para o seu companheiro de longa data. Sua voz soou quase inaudível quando ele revelou:

— Scorpius Malfoy.

O Natal parecia ter acabado mais cedo para todos, um tom melancólico caindo sobre as famílias. Depois de rodadas de xingamentos aos Malfoy, um a um, eles foram deixando a tenda e retornando lentamente às suas casas, os flocos de neve caindo brandamente do lado de fora. Quando os Lovegood foram embora, Rodolfo — mesmo alcoolizado — não pôde deixar de apertar o ombro de Alvo e lhe dar umas palavras de força.

— Eu sei que não foi você.

Entretanto, Alvo sentiu certa raiva pelo professor não ter revelado nada a ele antes.

E a cerimônia se seguiu até que Neville lhe deu um abraço forte.

— Não fique chateado com o baile — consolou-lhe. — Virão outros pela frente.

— Não estou chateado — Alvo disse com sinceridade. — Por que a McGonagall não impediu que isso acontecesse?

— Ela tentou. — Neville parecia nervoso. — Só que a maioria dos conselheiros se mostraram a favor do Malfoy.

— Achei que fosse a diretora que mandava e desmandava — interrompeu Tiago.

— Não é bem assim que funciona — explicou Neville. — O Conselho possui grande influência nas decisões. Somente alguns conselheiros foram contra, mas a Poção da Verdade determinou muita coisa. Muitos queriam que expulsassem vocês da escola, só que eles não possuem esse poder.

Ana estalou um beijo na bochecha de Alvo e Tiago.

— Não dê atenção aos Malfoy — disse arrepiando os cabelos dos garotos. — Todos sabemos que vocês são inocentes. E ainda tem a contraprova, não é?

Assim que a tenda foi desmontada e totalmente limpa, as crianças e os adultos se reuniram na lareira, todos usando a suéter que Vovó Weasley tricotara. Rose e Wayne estavam sentados em um canto da sala de estar, sem saber o que dizer para Alvo naquele momento. De todas as pessoas, os dois amigos eram os únicos que conseguiam respeitar a sua tristeza, ao contrário do resto da família que tentava estimulá-lo a qualquer custo. Não que ele não admirasse o gesto, mas a vontade de ficar solitário — como fizera tantas vezes quando o deprimiam — estava martelando o seu peito. Ele precisava saber tudo o que estava acontecendo com Scorpius Malfoy. Ele não ficara louco desde que perdera a memória? Como, então, que o garoto conseguiu recobrar uma lembrança tão valiosa — e falsa?

Alvo precisava ir diretamente de encontro com as informações.

— Onde você vai? — perguntou Wayne ao ver o amigo se levantar da poltrona.

— Ãh... dor de estômago — mentiu Alvo.

Rose e Wayne miraram-no com um olhar de total desconfiança, no entanto, continuar uma discussão sobre a falsa dor de barriga não era o que Alvo tinha em mente. Como uma cobra silenciosa, o menino se aproveitou da distração dos parentes e subiu lances de degraus em velocidade até o quarto em que havia dormido na última noite. Com todo cuidado possível, Alvo empurrou a porta sem emitir nenhum ruído e puxou sua mala debaixo da cama. Tirando algumas roupas e pares de meia do fundo do malão, Alvo encontrou o pacote encardido onde o pedaço de vidro se encontrava.

O coração do menino disparou. Será que ele tinha tanta intimidade com o Prof. Silvanus a ponto de atrapalhar o seu Natal para tratar de um problema pessoal?

Sim, custou-se a pensar. Não era uma simples questão particular, mas sim um contratempo urgente.

Alvo respirou fundo, limpou o caco enfeitiçado na manga do suéter e entoou claramente cada sílaba:

— Mylor Silvanus.

Demorou alguns segundos até que a íris verde-brilhante de Alvo desse espaço ao olho negro e profundo do professor de Defesa Contra as Artes das Trevas. O homem abriu um sorriso de orelha a orelha.

— Feliz Natal, Alvo — disse com sua voz meiga. — Eu já esperava o seu chamado uma hora ou outra. Aqui em Hogwarts não se fala em outra coisa. No que eu poderia ser útil?

Alvo, que sentira uma luzinha de prazer se acender ao saber que o professor atendera o seu chamado, se atirou na cama e falou quase em um murmúrio.

— Não sei quanto tempo terei em particular, professor, pretendo ser breve. — Então confessou sua preocupação sem rodeios. — O senhor poderia me contar tudo o que está acontecendo?

— Não posso contar tudo o que está acontecendo — respondeu calmamente o Prof. Silvanus. — Apenas o que sei. — E riu sozinho. — Ontem de noite, quase na hora do jantar, a família Malfoy pediu para falar com a professora McGonagall sobre um assunto urgente. É claro que a professora não acreditou à princípio, evidentemente por causa da rivalidade que Malfoy e seu pai tinha na época da escola, só que a Sra. Malfoy defendia com veemência o relato do filho e pediu a presença de todos os professores e conselheiros para decidirem a situação, o que deixou McGonagall furiosa. Ora, veja, quem é ela para querer se intrometer na direção de Hogwarts?

“Mas a Sra. Malfoy é uma mulher tão dura quanto McGonagall e disse que a professora estava sugerindo que os Potter eram imunes às punições.”

Alvo começou a abrir e fechar a boca em tartamudeio.

— Eu sei, ultrajante — antecipou-se o Prof. Silvanus. — Mesmo assim, McGonagall aceitou o pedido, afinal, a Sra. Malfoy faz parte do Conselho Diretor e também tem o direito de opinar, quer a professora goste ou não. Foi um processo bastante demorado, confesso, alguns professores, como Neville, Rodolfo e Moody, estavam em casa com suas famílias e vieram correndo para o castelo. Assim que os conselheiros terminaram de se reunir na sala dos professores e Scorpius contou a eles tudo o que houve, ficou uma dúvida no ar. Ninguém tinha provas contra você, até que Brutus sugeriu que utilizassem a Veritaserum no garoto.

Alvo, desta vez, abriu totalmente a boca.

— Então foi tudo graças ao Prof. Godunov! — exclamou Alvo incrédulo.

— Entenda, era a maneira mais justa — disse o Prof. Silvanus em um tom apaziguador. — Como você, o garoto Malfoy também passou por momentos difíceis no Dia das Bruxas.

— Ainda não faz sentido — replicou Alvo. — Como ele conseguiu se lembrar de tudo?

— Ao que parece, Malfoy apresentou alguma evolução — esclareceu o Prof. Silvanus. — O Sr. Copperfield tem cuidado de exercícios para o rapaz recuperar a memória.

— Então foi Copperfield quem alterou as lembranças de Malfoy contra nós! — vociferou Alvo em conclusão.

O Prof. Silvanus riu da declaração de Alvo.

— Sim, isso faria muito sentido — falou com honestidade. — Entretanto, o Sr. Copperfield não aparece há semanas em Hogwarts.

Alvo sentiu o peito parar de arfar.

— O senhor acha que é verdade? — perguntou inocentemente. — Que eu lancei um Feitiço da Memória no Malfoy?

— Ah, Alvo... — Suspirou Silvanus. — Se eu tivesse acreditado não teria protestado pela sua permanência em Hogwarts como os outros professores.

— Até a Profa. Sable? — rebateu Alvo com relutância.

O Prof. Silvanus confirmou.

— Somente o Conselho Diretor pediu sua expulsão — contou-lhe. — Não faria o menor sentido tomar uma medida dessas antes de sua defesa.

— Por que não já me convocaram de uma vez hoje? — Alvo já estava elevando o tom de voz novamente.

— Simples — disse o Prof. Silvanus. —, porque os pais, neste momento, estarão vendo os Potter como perigosos e corujas aparecerão a todo instante na sala de McGonagall se algo não ser feito com vocês. A decisão mais plausível é afastá-los das atividades de grande porte até que tudo se resolva.

Alvo se sentiu ofendido.

— Então eu só fui chamado para o teste de quadribol como desculpa para me tirarem do baile.

— O quadribol — disse Silvanus como se já previsse a dedução — foi uma felicíssima coincidência do destino. O Sr. Dencourt pediu demissão e o Sr. Glascott já queria colocar você como substituto. E é claro que eu disse não, frisei que você não tinha feito o teste na data e que o substituto deveria ser o segundo mais bem classificado, a não ser que ele marcasse uma nova avaliação exclusiva para a posição. E foi o que ele fez.

— OK — Alvo ainda não compreendia —, mas se eu não for aceito ainda poderei participar do baile...

— Certamente que sim — ratificou o professor.

— ... então o plano de me tirarem não teria surtido efeito.

— Sim — tornou a confirmar o Prof. Silvanus. — E não. Por mais que você ainda possa participar, não significa que você vá. O objetivo dos conselheiros é tirá-los das atividades principais da escola, de qualquer jeito. Eles estão desesperados, pressionarão outros pais a desestimularem suas filhas a quererem acompanhá-los no baile e forçarão os professores a dar-lhes detenções diárias, por isso, Alvo, peço que você não faça nenhuma besteira, independentemente do motivo. Encontre meios de defender a acusação e prove que você e seu irmão são inocentes.

Alvo assentiu, sem encontrar palavras para expressar sua gratidão ao professor.

— Tenha cuidado — advertiu Silvanus. — As forças das Trevas corrompem os melhores de nós.

Passos ecoaram do lado de fora da porta e Alvo escondeu o espelhinho no bolso da calça. Tiago entrou no quarto, franzindo a testa para o irmão.

— Estou atrapalhando alguma coisa?

Alvo negou.

— Mamãe pediu para ver como você está — disse Tiago. — Julgando seu estado e a cara modorrenta, parece que está normal.

Alvo deu uma risada irônica.

— Muito engraçado — satirizou Alvo.

— Falando sério, mamãe está te chamando para comer — falou Tiago, baixando os olhos para o malão do irmão. — Você precisa arrumar suas coisas, pastel! — E atirou um par de meias enrolados no irmão, tornando a descer as escadas.

Alvo puxou de novo o vidro e levou até a altura do rosto, pronto para pedir desculpas ao professor. Para sua decepção, a única coisa que viu refletida foi seu rosto pálido; nenhum vestígio de Mylor Silvanus.


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Notas finais do capítulo

Pois é, gente, como vocês viram, não foi fácil preparar este capítulo. Tinha muita informação importante para acrescentar, alterei algumas cenas, removi outras, acrescentei algumas. Enfim, gostaram do resultado?

Agora que vocês possuem informações cruciais, vamos brincar de formar teorias? O que vocês acham que vai rolar daqui para frente. Lembrando que a previsão é que ocorra só mais SEIS CAPÍTULOS. Dá pra acreditar? :'(

Curiosidade do capítulo: Aos curiosos para saberem como é a bandeira da Suazilândia, aqui está: (https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/1/1e/Flag_of_Swaziland.svg/1200px-Flag_of_Swaziland.svg.png). Bem estilo da Luna, né?

Não sejam tímidos, fiquem à vontade para comentarem, favoritarem, recomendarem. Somos livres, não é mesmo? E sem falar que eu vou ficar MUITO feliz em saber a opinião de vocês. :)

Até o próximo capítulo!



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