Alvo Potter e a Sala de Espelhos escrita por Tiago Pereira


Capítulo 16
Capítulo 16 — O Impasse


Notas iniciais do capítulo

E aí, gente. Tudo bem? Espero que sim.
CHEGAMOS A CEM COMENTÁRIOS!!!
Na moral, eu nem sei exatamente o que dizer, apenas obrigado por todos vocês terem comentado, seja com elogios ou críticas. É uma conquista imensa, uma marca que eu não imaginava que chegaria, mas, graças a TODOS VOCÊS, nós conseguimos. Muito obrigado, aqui #TeamPereira!!!!
LEIA AS NOTAS FINAIS.
Boa leitura.



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ALVO HESITOU POR UM MERO INSTANTE. Ele não queria se meter em confusão, a Profa. McGonagall fora específica em dizer que não queria mais vê-lo aprontando. Contudo, um assassino estava dividindo o mesmo terreno que ele. E se alguém se ferisse? A culpa o assolaria pelo resto de sua vida.

— Não podemos fazer isso sozinhos — disse Alvo, decidido.

— Então vá chamar Wayne e Rose — sugeriu Tiago, acompanhando o irmão pela escada espiral que dava acesso ao dormitório masculino.

Alvo entrou nos aposentos do primeiro ano, caminhando sem fazer barulho e cutucou a bochecha de Wayne. O amigo rolou na cama e abriu um olho.

— Alvo? — admirou-se. — Pesadelos?

— Sim. Mas na vida real.

Alvo narrou a Wayne o que Tiago lhe mostrara no Mapa do Maroto; ele imediatamente vestiu um robe vermelho-sangue e seguiu Alvo até a outra porta que dava acesso ao dormitório feminino. Os garotos subiram os primeiros degraus da escadaria, mas sentiram seus pés deslizarem sobre uma superfície lisa. Uma buzina alta e melancólica soou e Alvo e Wayne começaram a escorregar para trás, um ao pé do outro. Massageando o cocuruto, eles repararam que, de alguma forma, os degraus haviam se deformado em um grande escorregador.

— Tem como fazer menos barulho? — Tiago apareceu sibilando como um ganso raivoso, Alaric e Carl nos seus calcanhares, bocejando.

— Não é por nada, não, mas eu acho melhor cairmos fora daqui o mais rápido possível — aconselhou Alaric.

Os três rapazes correram para a sala comunal, deixando Alvo e Wayne estatelados no chão. Uma garota vestindo um robe cor-de-rosa apareceu no alto da escada, segurando uma lamparina a óleo. A chama iluminou o seu rosto e os amigos puderam ver uma nesga do rosto sardento de Rose, que apagou o fogo e desceu tranquilamente o escorregador, sentando no chão ao lado deles.

— Vocês estão loucos? — Rose sussurrou com raiva. — Não é uma hora apropriada para tentar invadir o dormitório das garotas, poderia ter acordado uma pá delas.

Alvo e Wayne começavam a se levantar, atônitos com o que acabara de acontecer.

— Em todo o caso — disse Rose, erguendo-se do chão —, por que vocês estavam tentando entrar lá?

— Estávamos procurando você — sussurrou Alvo, agora trilhando o mesmo caminho de Tiago. — Eu vi o assassino de Yancey, em Hogwarts.

As três crianças pararam diante da sala comunal vazia. Nem Tiago, Alaric ou Carl estavam lá tampouco; já deveriam estar indo à orla da floresta proibida, pensou Alvo.

— Alvo, isso é loucura — falou Rose, limpando as pestanas dos olhos. — É impossível entrar em Hogwarts sem passar pelos portões.

— Aparatação — concluiu Wayne.

— Francamente — contestou Rose. — Os terrenos de Hogwarts possuem um feitiço anti-aparatação. Está escrito em Hogwarts: uma história.

— Do mesmo jeito — Alvo interrompeu a discussão. — Existem outros meios, como a rede de Flu.

— Ainda não faz sentido, Alvo — Rose denegou. — As redes de Flu são controladas pela Comissão de Regulamentação da Rede de Flu e qualquer conexão ilegal é desligada facilmente. Duvido muito que o Ministério cometeria um erro tão primário envolvendo Hogwarts, um dos lugares mais seguros do mundo.

Alvo parou para refletir um pouco, lembrando da série de eventos que ele presenciou.

— E então, na floresta, o servo encontrará o impasse... — entoou lentamente. — Tudo se encaixa: Hagrid disse que alguém teria ajudado a Legião Escarlate a entrar e parece que está acontecendo. Mas quem? Bom, não importa, a predição diz que eu tenho de estar na floresta para deter Carver.

Wayne e Rose se entreolharam.

— Certo — disse Wayne. — Vamos com você.

Alvo afastou o retrato da Mulher Gorda e os três passaram pelo buraco, desembocando no corredor do sétimo andar listrado pelo luar. Atravessaram-no correndo, afinal, não podiam perder tempo, ainda mais sem obstáculos, já que Filch deveria estar encostado em uma das paredes tirando um cochilo, sem ter ideia do que estaria acontecendo. O mais perigoso empecilho que poderia atrasá-los era o fantasma de Madame Nor-r-ra, mas eles estavam dispostos a arriscar tudo. Dobravam cada curva derrapando, saltando dois degraus de uma vez, até chegarem no segundo piso, onde Alvo parou de chofre.

— Que houve? — arfou Rose.

Alvo pensou bastante antes de dizer:

— Avisem a Profa. McGonagall sobre Carver, o escritório dela fica no corredor com uma gárgula de pedra. Flor do cardo é a senha.

Wayne tartamudeou.

— Quê! Não, nem pensar, vamos acompanhar você, Alvo, pare de querer bancar o herói.

Alvo se sentiu irritado com a frase do amigo.

— Não estou querendo bancar o herói! Se vocês forem comigo, serão expulsos ou coisa pior. — Então lançou um olhar para Rose, que derramava algumas lágrimas silenciosas. — Você sabe o que tem que fazer...

Rose fungou.

— Vamos, Wayne, não podemos impedi-lo.

A garota seguiu em direção do corredor do segundo andar. Wayne pejou-se antes de continuar a caminhar na esteira de Rose, balançando a cabeça negativamente. Ele não entendia, não entendia que Alvo era a Criança Amaldiçoada, que carregava o Estigma da Morte e que seu destino estava ladrilhado em dor e luto. Contudo, Alvo não estava disposto à morte heroica que o Sr. Olivaras mencionou que sua varinha teria. Ao menos não naquele momento.

A noite estava debilitante e fria, os flocos de neve caíam lentamente sobre os jardins do castelo, tecendo um tapete branco sobre a relva. Quanto mais se embrenhava na Floresta Proibida, mais Alvo sentia o medo se apoderando dele. Não conseguia mais avançar, suas pernas já não o obedeciam mais. Ofegando, o menino freou e escorou em uma das árvores cheias de salpicos prateados. Onde é que ele estava com a cabeça? Ele não tinha chances de vencer Rodric Hotwan, não era forte como seu pai ou como Tiago. As lágrimas começaram a fazer um rastro quente e salgado no rosto do menino, porque, no fim das contas, ele era apenas isso: um menino covarde, que tem medo de testrálios.

— Quem está aí? — A voz rouca de Hagrid reboou.

Alvo calou os soluços mordendo o próprio punho. Agachado e arrastando a barra de saia longa, continuou a se embrenhar no meio das árvores e arbustos. Tinha ido tão longe que não cumprir mais uma parte da predição era um pecado inestimável. Continuou desbravando, afastando as teias de aranha, até avistar um vulto encapuzado metros à frente dele, a varinha erguida.

— Falta pouco, minha senhora... — dizia a figura. — Muito pouco...

Alvo deu um passo para trás, cauteloso, não poderia ser visto...

Creque.

A figura de capuz se virou e apontou a varinha para o local que Alvo estava. Sem pensar duas vezes, o garoto se atirou no chão e rolou até uma moita coberta de neve. Sorrateira e sombria, a silhueta começou a se mover lentamente para frente. Era Carver, não tinha como ser outra pessoa. Alvo precisava agir rápido, soltar fagulhas para chamar os colegas, talvez. Não, não, isso levaria tempo demais, forçou-se a pensar.

Ergueu os olhos, pensativo. Pouco a frente dele havia um emaranhado de galhos secos suspenso em uma árvore. Alvo estreitou as pálpebras, vendo apenas asas brilhantes e curvas, como as de besouros. Fadas mordentes, concluiu. Ele as conhecia das vezes que algumas delas invadiam as cortinas d’A Toca; sua mãe sempre ia resolver com um pouco de Fadicida. O único recurso que Alvo tinha era sua varinha. Fisgou-a de dentro das vestes e mirou com cuidado na parte visível do ninho, sem que Carver o visse. O homem se aproximava cada vez mais e, se encontrasse o garoto encolhido, o mataria antes que ele pudesse mover qualquer músculo.

Alvo respirou fundo e ordenou num sussurro:

— Diffindo!

O ninho se rompeu e meia-dúzia de fadas mordentes avançaram contra a cabeça de Carver e de Alvo, os dentinhos pontudos arreganhados, os quatro punhos cerrados, batendo as asinhas com raiva. Carver começou a correr, abanando os braços, disparando feitiços às cegas. Um tropel começou a ser ouvido, seguido de gritos e chamados.

— Alvo! — berrava Rose.

Alvo, porém, estava agachado, dando murros no ar para afastar uma fada mordente adulta que o atacava. O garoto gritava, abandonando todo comedimento, sem se importar se Carver o mataria ali e agora. A fada fincou os dentinhos afiados no dorso da sua mão, arrancando um grito gutural dele.

— Scarlatum! — Um raio vermelho passeou por cima dele. — Scarlatum!

Alvo deu um tapa que espantou a fada mordente e viu uma vassoura se distanciar dele, rumo à lua. Carver havia fugido. Um braço forte amparou Alvo pelas axilas e o ajudou a ficar de pé. Era o Prof. Silvanus, evidentemente. Rose, Wayne, Tiago, Alaric, Carl, Hagrid e a Profa. McGonagall vieram em seguida.

— Mais um pouco e eu teria acertado ele — lamentou o Prof. Silvanus.

— Alvo! — Hagrid veio para lhe dar um abraço apertado e asfixiante. — Como você está?

Alvo segurava o seu punho, que escorria sangue e um líquido prateado.

— Sua mão! — guinchou Rose. — O que houve?

— Fada mordente — explicou Alvo, gemendo de dor.

— Alvo Potter! — exclamou a Profa. Minerva, vestindo seu robe de tecido escocês e com os cabelos presos numa rede. Alvo sentiu o peito congelar. — O Sr. Eviecraddle e a Srta. Weasley me explicaram o que aconteceu. O que eu havia dito sobre agir com bom senso?

— Mas professora... — Alvo ofegou. — A senhora...

— Sem mas! — retorquiu a Profa. McGonagall com severidade. — Eu sinceramente não vejo outra alternativa senão...

— Professora, venha ver! — chamou Hagrid.

A Profa. McGonagall lançou um olhar intolerante aos alunos.

— Eu já cuido de vocês seis.

Caminhando com cuidado, a Profa. Minerva se juntou a Hagrid e ao Prof. Silvanus, que observavam um enorme ovo branco e reluzente no chão. Com um floreio na varinha, o Prof. Silvanus ergueu o ovo no ar e começou a girá-lo para uma análise.

— Alguma peculiaridade, Mylor? — perguntou a professora.

— Aparentemente nenhuma, professora — respondeu o Prof. Silvanus, enrugando a testa. — O ovo está intacto e não apresenta nenhum sinal de Arte das Trevas. É inofensivo.

— Ótimo — disse a Profa. McGonagall. — Hagrid, pode, por favor, fazer uma análise minuciosa deste ovo e mandar um relatório ao meu escritório o mais rápido possível?

O Prof. Silvanus pareceu escandalizado.

— Claro — Hagrid estufou o peito e embalou o ovo em seu casacão. — Um pouco de calor manterá vivo o que estiver aqui dentro.

Hagrid caminhou em passos largos para a sua cabana, erguendo as sobrancelhas para os garotos enquanto passava por eles.

— Professora, me desculpe, mas a senhora confia mesmo que Hagrid possa fazer uma avaliação profunda no ovo? — questionou o Prof. Silvanus.

— Mylor, eu confiaria a Hagrid minha vida — A Profa. McGonagall respondeu com veemência. — Você já fez a sua parte por aqui. Sugiro que leve Potter a Madame Longbottom, imediatamente, para tratar desse machucado. E assim que estiver curado, Potter, vá direto para minha sala.

O Prof. Silvanus acenou com a cabeça, claramente chateado. Alvo pressionava as costas da mão, tremendo e sentindo um pouco de tontura. Nunca ouvira o relato de alguém que foi mordido por uma fada mordente antes. A comichão espalhada até a ponta dos dedos indiciava que o veneno começara a fazer efeito, mas ele ainda se sentia bem, com vitalidade. O Prof. Silvanus segurou no seu ombro e o afastou dos amigos, que acompanharam, temerosos, a sua passagem de volta ao castelo. Era nítido e palpável o medo que eles sentiam de serem expulsos — o que não seria nem um pouco injusto, pensou Alvo.

— Professor — disse Alvo, com a voz fraca —, que feitiço foi aquele que o senhor usou contra...?

Alvo evitava mostrar muito conhecimento sobre a situação.

— Hum? — O Prof. Silvanus enrolava a barbicha. — Ah, sim. Scarlatum. É um feitiço impactante, Alvo, muito poderoso, se quer saber. Por que o interesse?

— Achei fascinante — confessou Alvo com um brilho diferente nos olhos.

O Prof. Silvanus sorriu.

— Posso ensinar-lhe, se quiser — disse. — Já adianto que é um feitiço bem avançado.

— Tudo bem — Alvo tropeçou nos degraus de pedra da entrada. — Ãh... eu gosto de desafios...

— Estou vendo — ironizou o Prof. Silvanus, movendo os olhos para sua mão sangrando. — Foi uma baita mordida, hein?

Alvo assentiu, a visão um pouco turva.

— Quando eu estava trabalhando em Burkina Faso, conheci uma garota que foi picada por pelo menos uma dezena de fadas mordentes — contou o Prof. Silvanus. — O estado dela era deplorável. Mesmo assim, ela foi curada com um antídoto. Demorou um pouco, é claro, mas ela voltou ao normal.

— Então eu não vou morrer? — Alvo revelou o seu maior medo naquele momento.

O Prof. Silvanus riu baixo.

— Eu espero que não — admitiu. — Seria uma perda inapreciável para todos nós.

Enquanto subiam os degraus de mármore da escadaria, Logan McLaggen e uma garota de cabelos longos e negros apareceram, a expressão perplexa estampada em seus rostos. Ambos estavam com o distintivo brilhante dos monitores preso elegantemente no peito.

— Professor, o que está havendo? — inquiriu com urgência o garoto.

— Sr. McLaggen, sem desespero — apaziguou o Prof. Silvanus. — Você e a Srta. Cornfoot precisam procurar o Prof. Godunov em seus aposentos, vão à Torre de Astronomia e procurem quaisquer indícios de uma vassoura no céu. Há um criminoso voando por aí. Não durará muito tempo, julgando o seu estado.

— Fomos tentar falar com o Sr. Copperfield, ele não está em Hogwarts — informou Cornfoot.

— Ouvimos sons dentro da sala dele — completou McLaggen. — Batroc não nos deixou chegar perto, disse que o Sr. Copperfield tinha de ir ao Ministério o mais rápido possível. Afinal, por que ele tirou os aurores de Hogwarts?

— A área já é considerada segura — disse rapidamente o Prof. Silvanus. — E é mesmo. Não há como entrar em Hogwarts sem passar pelo Ministério antes. A não ser que alguém tivesse ajudado. Agora, preciso levar o menino Potter à ala hospitalar.

O Prof. Silvanus passou no meio dos dois monitores e continuou a andar apressado até o terceiro andar, abrindo a porta da enfermaria com delicadeza. O lugar estava vazio, por isso Alvo foi colocado em uma das primeiras camas enquanto o Prof. Silvanus ia até os aposentos da Madame Longbottom para chamá-la.

Em questão de minutos, tanto a Madame Longbottom quanto o Prof. Silvanus apareceram. A enfermeira-chefe, de robe amarelo, os cabelos em desalinho e olheiras sob os olhos, foi direto a um armário, revirando e escarafunchando frascos rotulados como antídotos. Com exímia habilidade, Madame Longbottom se aproximou de Alvo e fez o garoto parar de segurar a mão, que formigava incomodamente. Despejou uma gota da poção negra e retornou ao armário de antídotos.

Alvo sentia sua mão queimar a partir do ponto em que Madame Longbottom despejara a poção. Seus nervos, ossos e músculos se aqueciam por toda a sua extensão até o garoto sentir um calor gostoso se espalhar pelo resto do seu braço. Madame Longbottom voltou apressada segurando uma taça.

— Beba isto, Alvo — ordenou. — É o antídoto.

Com a mão boa, Alvo bebeu tudo em uma golada e o mundo ao seu redor começou a girar. Por pouco a taça em sua mão não caiu no chão. Então, assim que tudo voltou ao normal, Alvo se sentia a pessoa mais saudável do mundo, as vias descongestionadas, o corpo aquecido e relaxado.

— Obrigado — agradeceu Alvo. Só agora conseguiu notar que Madame Longbottom suava de nervosismo.

— Deviam ter me trazido na hora — reclamou Madame Longbottom. Fez um aceno com a varinha, convocando uma garrafa do Velho Uísque de Fogo Ogden e usou o cálice vazio de Alvo. — Essa vida de curandeira é realmente estressante.

Pousou a taça na mesa de cabeceira.

— Ah, que falta de educação a minha — lamentou Madame Longbottom. — Pode beber um pouco, professor.

— Muito obrigado, Ana, mas terei de recusar — dispensou Prof. Silvanus. — Preciso estar sóbrio para conduzir Alvo.

— Claro, claro — refutou Madame Longbottom, envergonhada. Não queria passar uma má impressão. — Estique a mão ferida, Alvo... Isso, muito bem. Férula!

Ataduras saíram da ponta da varinha de Madame Longbottom, enrolando-se na mão esquerda de Alvo e prendendo-se firmemente a uma tala.

— Ótimo, assim está melhor — disse Madame Longbottom, satisfeita. — Como está se sentindo?

Ela se referia a Alvo.

— Hum... bem, obrigado — disse Alvo, feliz por não estar com a outra mão enfaixada.

— Ana, precisamos ir agora — falou laconicamente o Prof. Silvanus. — A Profa. McGonagall quer ver Alvo o mais breve possível.

Madame Longbottom abriu e fechou a boca, pronta para contestar a decisão. Ela não deixava nenhum paciente seu passar pela enfermaria sem ter de se hospedar por uma noite lá. Entretanto, desta vez, apenas concordou e bebeu mais um gole do uísque de fogo.

Em cinco minutos, Alvo e o Prof. Silvanus, incrivelmente silenciosos, precipitavam-se na direção da gárgula de pedra.

— É aqui que eu me despeço — disse o Prof. Silvanus. — Boa sorte, Alvo.

Alvo ficou parado, as lágrimas umedecendo os seus olhos.

— Professor — falou, reunindo coragem —, era verdade quando o senhor disse que me ensinaria aquele feitiço, não era?

— Era — respondeu o professor com franqueza. — Desde que você não seja expulso.

Alvo riu, zombeteiro. Quais eram as chances dele não ser expulso?

Introduzindo todo o ar gelado nos pulmões, o garoto proferiu com clareza a senha para a estátua:

Flor do cardo.

A estátua saltou para o lado e Alvo galgou na escada rolante circular até a porta de carvalho. Bateu três vezes a aldrava em forma de grifo e a porta se abriu.

Em torno da mesa da Profa. McGonagall estavam dispostas seis cadeiras — cinco delas ocupadas pelos amigos e uma reservada a ele. Todos se viraram para encará-lo entrar.

— Com licença, professora — disse Alvo educadamente, indo se sentar ao lado de Tiago.

— Meus votos de saúde, Potter. — A Profa. Minerva mirou penetrantemente Alvo e voltou a atenção para os outros alunos. — Como eu ia dizendo: seis alunos apanhados fora da cama atrás de um assassino! Por mais nobres que tenham sido os motivos, é inaceitável que isso aconteça.

Alvo abaixou a cabeça, evitando olhar diretamente nos olhos da professora. De soslaio, via que Rose tremia de medo e nervosismo. Achou que ela desmaiaria ali mesmo a qualquer instante. Alvo sentiu um assomo de tristeza com relação à prima; ele sabia que, para ela, ser expulsa era tão ruim quanto ser envenenado por centenas de fadas mordentes. Não deveria ter ouvido o conselho de Tiago, ele sempre acabava se dando mal. E desta vez tinha envolvido muita gente inocente em suas desventuras.

— Eu já tinha dito que não queria mais vê-los cometendo tolices por causa de uma.. uma... Bom, das profecias de Sibila. Os dois. — McGonagall olhava friamente para Alvo e Tiago. Alguém bateu na porta. — Deve ser o Longbottom.

Como previsto, o Prof. Longbottom abriu a porta e entrou. Alvo sentiu um certo alívio em ver o padrinho. Ele jamais permitiria que eles todos fossem expulsos, ainda mais depois das histórias que contava sobre a Armada de Dumbledore, ocasionalmente, em suas aulas. Os lábios do professor tremiam debilmente.

— Longbottom — disse a Profa. Minerva, as narinas brancas —, você anda incentivando este tipo de prática perigosa em suas aulas?

Fez-se um silêncio amedrontador. O alívio de Alvo deu lugar à iminência da expulsão, novamente. E se o Prof. Longbottom fosse demitido por causa deles? Teriam arruinado a carreira de um homem inócuo. Alvo seria a pessoa mais odiada da escola, sem dúvidas.

— N-Não, professora... — gaguejou o Prof. Longbottom.

A boca da Profa. Minerva estava totalmente contraída de zango.

— Professora, a senhora não entende... — defendeu-se Alvo antes que ela demitisse o padrinho. — A culpa foi minha, eu que quis ir sozinho atrás de Carver.

— Isto é óbvio, Potter — disse a professora com mais calma, as lentes dos óculos brilhando. — Explique-se.

Em puro medo, desespero e vergonha, Alvo contou tudo, direcionando os fatos à sua imprudência e sem mencionar o Mapa do Maroto — apesar de ser uma pessoa justa, a Profa. McGonagall não inspirava confidências. Ela notou que faltava uma parte da história.

— Até entendo que as cadeiras do Salão Comunal da Grifinória sejam confortáveis — ironizou a professora —, mas não compreendo como sabiam que um assassino perambulava pelos jardins de Hogwarts.

— Bem, é que...

— Eu vi pela minha janela, professora — inventou Tiago. Alvo olhou chocado para o irmão. Fosse por receio que Alvo acabasse abrindo o jogo ou por lealdade, Tiago continuou a interceder sua teoria: — Tinha um vulto se movendo perto do Salgueiro Lutador e eu resolvi alertar meu irmão para que pudéssemos avisar a senhora, mas Alvo, precipitado, quis ir logo de encontro com o assassino.

— Intrigante — disse McGonagall, desconfiada. — Muito galante de sua parte tentar defender o castelo, Tiago Potter, mas por que o senhor não veio diretamente a mim? E como tinha certeza de que o vulto encapuzado era Carver, especificamente?

Tiago parecia estar sob controle da situação.

— Pela clara razão de que nós não sabíamos onde ficava o seu escritório, professora. — Os colegas balançaram a cabeça. — Somente meu irmãozinho sabia. E como é um rapaz leviano, quis salvar o dia. Nós — apontou para Carl e ALaric — fomos atrás do professor Silvanus, já que ele entende muito em defesa contra as Artes das Trevas. Por sorte, ele já estava fora de seus aposentos. Agora, quem está falando que viu Carver foi o Alvo, deixe que ele responda sua pergunta.

Alvo sentiu que um ovo de avestruz descia pela sua garganta. Todos os olhos se voltaram para ele.

— Eu... eh... vi o rosto dele — mentiu, mas não pareceu convencer. — O mesmo rosto que está no Profeta Diário.

Pela reação, a Profa. McGonagall parecia acreditar nas suas histórias, encarando-os como uma águia atenta.

— Parece que a Grifinória representa alguma coisa para vocês — disse brandamente. — Devo incutir a gravidade do risco que vocês correram esta noite. É muita burrice abandonar suas camas por qualquer coisa. Vocês tiveram muita sorte de não acabar feridos. Cada um de vocês ganha dez pontos para a Grifinória.

Sem acreditar, os seis amigos arregalaram os olhos e comemoraram — inclusive o Prof. Longbottom. Rose desatou a chorar copiosamente e abraçou Wayne pelo pescoço.

— Estou encantada da coragem que os senhores tiveram hoje, mas isso está ficando ridículo! — A Profa. McGonagall olhou-os com raiva. — Foi realmente muita sorte de ter algum assassino nos terrenos, caso contrário, os seis estariam expulsos. Espero que isso não se repita. Para garantir, escreverei às suas famílias ainda hoje.

Todos balançaram a cabeça em concordância.

— Professora — disse Rose, enxugando as lágrimas. — Por que os aurores não estão mais no castelo?

— Ordens do ministro — respondeu a Profa. Minerva, ríspida.

— E o que houve com o Copperfield? — interpelou Alvo de repente.

— Está doente, Potter — tornou a professora. — Chega de perguntas. Podem ir.

Aliviados e felizes da vida, os seis estudantes foram escoltados pelo Prof. Longbottom até o corredor do sétimo andar, onde a Mulher Gorda os aguardava com sonolência. Nem foi preciso pedir “por favor.”

— Como professor, tenho de aplicar uma detenção a vocês — disse o Prof. Longbottom, um pouco mais sério. — Uma semana de limpeza está mais do que suficiente.

Em seguida, sorriu para Alvo, Tiago e Rose.

De pijama, Alvo foi se deitar o mais rápido que pôde, com medo que alguém o acordasse para caçar mais um louco assassino. Ele pensou no que o Prof. Silvanus disse: a área já é considerada segura... não tem como entrar sem passar pelo Ministério... a não ser que alguém tivesse ajudado... Contemplou o teto recortado pelo formato do reposteiro, mas nenhum devaneio permitiu que ele adormecesse. Havia uma diretriz estranha que seu raciocínio estava levando; o caminho que ele tentou evitar o máximo que pôde. Somente uma criatura naquele castelo poderia intermediar viagens entre Hogwarts e o Ministério, que poderia sabotar qualquer cômodo sem ser percebido ou desconfiado. Não tinha outra escolha.

Então Alvo tomou uma decisão — estava na hora de deixar o ceticismo de lado e descobrir a relação que Boxe tinha com Impavidum.


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Notas finais do capítulo

E é assim, gente, que a fanfic acaba...
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ESSE ANO!

Fala a verdade, enganei vocês, não é? Pode assumir, foi uma pegadinha e tanto.

Falando sério agora. Galera, dois avisos importantes.

1) Farei uma viagem amanhã, dia 18 de dezembro e só retornarei no dia 8 de janeiro, logo será um período "sabático" (entenderam a piada?). No entanto, não se desesperem, queridos e queridas, no dia 14 de janeiro a rotina voltará normalmente, belê?

2) Uma notícia boa agora: 'Alvo Potter e a Sala de Espelhos' está inscrita e concorrendo no FanFiction Retro Awards em TRÊS CATEGORIAS: Melhor Fic de Ação, Melhor Fic de Aventura e Melhor Fic de Fantasia. Mas eu preciso da ajuda de vocês, galera. Parte da escolha será através do voto popular, por isso peço que vocês entrem nesse grupo [https://www.facebook.com/groups/1233031086712939/?fref=ts] e esperem as instruções de como votar, coisa e tal, tranquilo?

Não se esqueçam também de deixar a opinião de vocês. Eu quero saber o que vocês estão achando, poxa! Alguma especulação sobre o que vai acontecer com a fanfic daqui para frente? Quem morre, quem vive. Alguma reviravolta? DEIXEM NOS COMENTÁRIOS, EU QUERO LÊ-LOS.

Curiosidade do capítulo: "Fada Mordente (XX – Inofensivo/Pode ser domesticado)
Praga do mundo mágico, as fadas mordentes geralmente são confundidadas com uma fada normal. Elas possuem formas humanas e dois pares de pernas e braços, todos cobertos de espessos pêlos pretos, além de um par par de asas brilhantes e curvas, como as de besouros.
Facilmente encontradas no norte da Europa e América, preferem climas mais frios. Põem cerca de 500 ovos de cada vez, que geram filhotes entre duas e três semanas depois.
Fadas mordentes têm duas fileiras de dentes afiados e venenosos, razão para que alguém que sofra uma mordida deva procurar um antídoto com um curandeiro." Descrição em 'Animais Fantásticos e Onde Habitam' (livro).

E é isso, gente. Feliz natal, próspero ano novo, que possamos ser pessoas melhores todos os dias. :)

Até o próximo capítulo (e ano)!

Att,
Tiago



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