A Filha das Trevas - Marcados (LIVRO 2 - COMPLETO) escrita por Ally Faro


Capítulo 56
Capítulo Cinquenta e Seis - Os Malditos 16 e a Fontana di Trevi


Notas iniciais do capítulo

Todos sabemos que a vida da Bell tá bem difícil ultimamente, mas vamos ver se pelo menos uma vez dá pra ter uma pausa de tanta desgraça, pelo menos tempo suficiente de uma refeição, não é?
Obrigada por não desistirem da história e nem de mim. :D



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                Belinda suspirou. 16 anos. Os malditos 16 anos finalmente não batiam mais a sua porta, simplesmente a abriu e passou como se comemorando um velório, se tornando o novo dono da casa. Lestrange suspirou outra vez e tocou no cordão de prata que ganhara de Dorian, sabia que não poderia fugir de seu aniversário, era da única coisa que não podia escapar, além da inevitável morte, contudo essa era uma que a menina não fazia ideia de quando viria, entretanto imaginava que poderia ser no dia seguinte, pelas mãos de Bellatrix ou mesmo de Voldemort, que agora todos sabiam de seu regresso, assim que colocasse os pés na Mansão Malfoy. Belinda gostaria de simplesmente deitar em sua cama e dormir até o final das férias, entretanto não era tola em achar que seria possível, deixara sua ingenuidade a muito tempo. Todavia naquele momento não queria, não precisava e nem podia permanecer em Hogwarts, não àquela hora da noite.

          Dorian a viu aparecer a sua frente, ela estava séria, mesmo quando o encarou parecia conter uma irritação diferente da que ele já se acostumara, mas ele entendeu, logo que iniciaram as aulas de Occlumency vira em sua mente o que 19 de julho representava em sua vida e compreendia o porquê daquela irritação contida nela. Não era só a data de seu nascimento, ia muito além.

—Feliz aniversário. –Debochou.

         Dorian tinha total conhecimento de como poderia abordá-la e ela sorriu tamanho o deboche que ele empregou nas felicitações, que passavam longe de ser exatamente isso, mas como ele aprendera a notar, aquele sorriso não era minimamente real, era apenas a máscara que ela já se adaptara a mostrar a todos, contudo um personagem em qual ele não acreditava e nem precisava fingir acreditar.

—Onde está meu presente, sendo assim? –Arqueou a sobrancelha.

—Eu sou um ótimo presente. –Ele disse com uma mistura de diversão, sarcasmo e algo como imoralidade, gesticulou para si mesmo. O que fez a menina bufar e apontar para o pescoço dele.

—Onde está o lacinho? –Ela entrou na brincadeira, fingindo procurar e ele sorriu.

                Dorian sabia que havia algo nesse novo convívio entre eles, algo que os permitia ir além da obrigação da convivência e treinamento, ele vira e descobriu muito sobre ela, a garota era mais machucada do que se permitia mostrar, as vezes até pra si mesma. E por mais triste que fosse, ele era obrigado a reconhecer que aquela dor que ela sentia e escondia, era muito familiar a ele.

               Belinda era grata a Dorian. Haviam ficado próximos de algum modo, não saberia em que momento exato, contudo tinha certeza que havia sido após o passeio por Cabo Verde. Eles começaram a se enxergar realmente. Não eram amigos, não, não era isso, mas havia alguma coisa entre eles.

—Idiota. –Ele resmungou e ela sorriu.

—Você começou.  –Se defendeu como se realmente se sentisse no dever de fazer, mas ele sabia que não, era somente automático dela. Era mais fácil fingir estar bem.

                Dorian sabia não precisar fazer o que estava prestes a fazer, mas cada momento que passava com Belinda, ele se via mais na menina e via uma similaridade com a própria desgraça. Isso o fazia querer aliviar pelo menos um pouco aquela miséria.

—Vamos pular o ódio de aniversário e sair pra comer?

            Dorian viu a expressão de choque no rosto dela. Belinda não esperava e nem imaginava que ele lhe ofertaria tal convite.

—Isso tudo é por que não estou falando com o Malfoy? –A surpresa em sua expressão e voz era genuína.

—Não. –Dorian negou. –E você não deixou de falar só com o Malfoy, você não fala com ninguém.

 -Eu falo com você. –Resmungou.

               Dorian assentiu e puxou a jaqueta.

—Exato, só comigo, com ninguém mais.  –Falou vestindo a jaqueta de couro.

—Por que diabos está fazendo isso? –Ela mordeu o lábio.  –Qual o motivo?

                Dorian poderia rir da cara de confusa da menina, ela realmente tentava decifrar se ele estava fazendo piada da situação.

—O motivo, Belinda, é que você não fala com ninguém e por estar se saindo, um pouco menos pior do que antes, merece sair pra comer algo, pelo menos hoje.

—Dorian!

—Belinda! –Ele a imitou e ela bufou.

—Olha, eu sei que... 

—Belinda. –Ele a cortou seriamente, os olhos lilases firmes nos dela. –Ninguém merece passar o aniversário, por mais que odeie a data, sozinho. –Belinda notou algo na voz dele, só não sabia o que. –Nem mesmo alguém irritante como você. –Acrescentou.

              Belinda ponderou por um momento, com Dorian era sempre assim, surpreendente. Era engraçado, todas as vezes que ele lhe dizia algo que ela sabia haver motivos pessoas e escondidos, o significado real lhe escapava, em uma eterna brincadeira de Rato e Gato. Lestrange sorriu um pouco, balançando negativamente a cabeça, antes de encara-lo outra vez.

             Dorian percebeu que fazia tempo que não via aquele sorriso nela, despido de raiva, havia um sentimento novo, pelo menos direcionado a ele. O sorriso trazia gratidão. E a percepção daquilo o pegou desprevenido.

—Só se você pagar a conta. –Ela alertou e ele bufou.

—Você abusa da generosidade das pessoas, em?

—Às vezes. –Concordou, quase tranquila.

—Vamos lá, antes que eu desista de ser legal. –Ele resmungou algo que ela não escutou, mas não se importou em perguntar, sabia que ele não repetiria.

              Belinda simplesmente caminhou até o rapaz e segurou em seu braço.

—Escolha um lugar. –Ele disse, a encarando de canto.

               Belinda ponderou e encarou o perfil bonito do rapaz. Ela poderia confiar nele naquela noite, afinal ser traída por Dorian não seriam realmente decepcionante.

—Me leve em um lugar bonito, com boa comida, boas coisas pra ver, mas ainda assim calmo... Algo que me dê ideias para desenhar.

          Dorian pensou rapidamente e logo desaparataram na parte mais alta da escadaria de frente a Fontana di Trevi. Algo lhe dizia que Belinda iria apreciar o passeio e talvez fosse isso que a menina precisasse, ninguém que estava completando 16 anos deveria parecer estar pronta para o próprio velório, ao invés de uma festa com os amigos.

             Lestrange olhou o monumento à sua frente e soltou o braço do rapaz. Havia um casal em frente a uma enorme fonte e algumas pessoas aleatórias ao redor, mas ninguém os viu chegar, todos pareciam focados no monumento a frente.

—Estamos em Roma. –Dorian lhe informou. –Bem vinda a Fontana di Trevi, considerada a fonte mais bonita do mundo para os Trouxas.

          Belinda analisou as esculturas esculpidas delicadamente em pedras. Na parte superior havia um balaústre com quatro estátuas.

—Cada uma daquelas estátuas sobre o balaústre indica uma estação do ano. –Dorian informou, começando a descer a escadaria para se aproximar da borda da fonte. –Ali no centro –Ele indicou o arco onde uma estátua masculina sentava sobre uma concha, que era puxada por dois cavalos-marinhos, um aparentemente tranquilo e o outro empinando a rédea. –é a representação do que os Trouxas chamam de deus Oceano e os cavalos-marinhos que puxam o carro de concha significam que o mar, as vezes, é tranquilo e seguro e em outras vezes pode ser revolto e perigoso. Enquanto que o chafariz representa o mar. Está vendo ali as estátuas nas laterais?

               Belinda seguiu o que Dorian indicou e analisou. Curiosa pra saber o que Dorian tinha a falar sobre elas.

—O que tem?

—Uma representa abundância, enquanto a outra a salubridade.

—Salubridade no sentido de higiene ou sanidade? –Ela brincou e Dorian sorriu, a encarando de canto.

—Deixarei que você escolha.

—Isso é injusto!  –Ela se fez de indignada.

—Muitas coisas nessa vida são, mas sobre isso eu descordo completamente.

               Belinda bufou, mas deu um curto sorriso.

—Tudo bem, escolherei a sanidade então.

           Dorian a viu analisar cada detalhe da fonte, os olhos atentos absorvendo cada parte de cada estátua. Ele sempre gostara da Fontana di Trevi, era um lugar bonito para desenhar e mesmo um bom canto a pensar, embora ele nunca tivesse vindo no lugar para não ter pelo menos uma pessoa. Dorian sempre achara curioso que mesmo em meio a multidões uma pessoa poderia se sentir sozinho e, dependendo do momento, aproveitar essa solidão.

—Existe uma lenda que fala que quem vem a Roma deve jogar, de costa, uma moeda sobre o ombro direito dentro da fonte. –Ele comentou e ela franziu o cenho. –Falam que assim você voltará a Roma.

          Belinda sorriu e parou em frente a fonte, olhando as milhares de moedas reluzindo no fundo da água.

—Pelo visto muitas pessoas creem nisso.

—Não sei se todos acreditam. –Ele foi firme. –Acho que fazem somente por tradição ou mesmo suposição. –Deu de ombros.

—Você fez isso? –Belinda o encarou. –Quer dizer, você jogou uma moeda?

               Dorian coçou a nuca e deu um leve e saudoso sorriso.

—Minha mãe acreditava nessas besteiras, então quando me trouxe aqui, quando eu tinha 6 anos, me fez atirar um Galeão. –Sorriu, parecendo voltar a si e perceber que dissera muito. –Bem, besteira.

               Belinda deu um pequeno sorriso e assentiu.

—Você tem um galeão?

              Dorian não se surpreendeu tanto por ela não perguntar nada, sabia que a menina era discreta e não invadia o espaço pessoa de ninguém, o que o chocara mais foi o pedido em si, mas ele colocou a mão no bolso e retirou o que ela pedira.

         Belinda virou de costa para a fonte, girou o galeão entre os dedos uma única vez e fez o ritual que levava tantos Trouxas a atirarem moedas na fonte, não acreditava naquilo, mas o fato de Dorian ter contado algo de sua vida, pela primeira vez desde que se conheceram, a fez querer retribuir de uma forma sutil e que não ficasse óbvio. Ele lhe contara um segredo, ela jogaria a moeda, não por crença, mas por agradecimento.

—Sabe, eu realmente notei que estou com fome. –Ela lhe informou, voltando a ficar de frente para a fonte.

           Dorian notou o sorriso na menina, os olhos furiosos pareciam ter acalmado um pouco, a fúria ainda estava ali, mas contida. Ele se questionou o que a fizera relaxar tão repentinamente, mas Belinda era estranha o suficiente, ele bem aprendera, ao ponto de não necessitar de nenhuma razão especifica, ela só precisava de espaço que conseguia se acalmar, talvez a decisão de trazê-la a Roma a fizera encontrar a paz que precisava.

—Todos que vem a Itália precisam comer pizza.  –Ele decretou.

—E o que é isso exatamente? –Ela pendeu a cabeça para o lado.

                Antes que Dorian conseguisse responder, foram interrompidos.

—Non vuoi comprare una rosa per la tua ragazza? –Uma mulher de 30 e poucos anos chamou.

          A mulher trazia uma cesta de rosas no braço, um largo e acolhedor sorriso no rosto e parecia cheia de alegria. Belinda estranhou o fato de alguém querer que Dorian comprasse uma rosa pra ela, principalmente achando que ela fosse sua namorada.

—Lei non è mia...

—Non siamo amanti. –Belinda cortou, rindo um pouco, um riso verdadeiro. As pessoas realmente poderiam achar que ela e Dorian eram um casal? Mas a parte engraçada era ver um vinco confuso se formando entre as sobrancelhas do albino.

      Dorian a encarou surpreso, não fazia ideia que a menina soubesse falar italiano, principalmente com um sotaque tão bom e até mesmo bonito.

—Ma fanno una bella coppia.

               Belinda riu novamente. Era estranho que os considerassem um casal.

—Grazie. –Agradeceu de qualquer modo.

               Dorian a viu relaxar e sorrir. Era aniversário dela e ele poderia fazer uma gentileza. Principalmente porque recordou de sua mãe dizendo que os aniversários, por mais que uma vida fosse difícil, deveriam ter pelo menos um momento acalantador para ser recordado.

—Una rosa, per favore. –Pediu, puxando a carteira com dólares do bolso.

             A mulher os estudou por um momento, primeiro encarando Dorian e depois lançando um demorado olhar a Belinda, por fim entregou uma bela rosa vermelha. Se despedindo dos dois em seguida, o que fez Belinda sorrir.

—Não direi parabéns. –Prometeu ele, entregando a rosa pra menina, que entendeu que, não a frase, mas a flor significava os parabéns.

              Algo no modo como Dorian lhe oferecia a rosa, a fez querer desenhar a flor nas mão de dedos longos e pálidos. Belinda o encarou e sorriu, pegando a belíssima rosa vermelha. As pétalas eram tão macias, a fazendo aproximar do rosto para sentir o aroma perfumado.

—Obrigada.  –O encarou sorrindo, fazendo Dorian dar de ombros.

—A propósito, como você sabe falar italiano?  –Mudou de assunto.

             Belinda deu de ombros também, voltando a encarar a fonte e fez careta, brincando delicadamente com as petálas, mas sem olha-las.

—Mary, lembra quem é ela? –Ela o encarou de canto.

—Sua madrinha.

             Dorian vira diversas imagens de Mary na mente de Belinda.

—Ela amava aprender coisas novas e ensinar para os outros. –Ela sorriu nostálgica. –Ela falava italiano e acabou me ensinando um pouco. –Deu de ombros. –Quando ela faleceu, eu pedi a Narcisa para concluir meus estudos da língua.

—E ela permitiu?

—Sim, sim. –Ela assentiu, falando lentamente. –Narcisa sempre me permitiu aprender e ter tudo o que eu gostaria, obviamente que isso dentro dos limites do nosso mundo. –Ela umedeceu os lábios com a ponta da língua, brincando cuidadosamente com uma pétala da rosa entre o indicador e polegar. –Assim como me permitiu estudar muitas coisas do mundo Trouxa, mas nunca me misturar. Acho que ela e Lucius ficariam histéricos se soubessem que ando no mundo Trouxa.

—E se soubessem que você está comendo comida Trouxa?

—Creio que iriam explodir de nervoso. –Brincou e ele sorriu.

—Então vamos lá. –Ele a chamou, começando a caminhar para longe da fonte. –Vamos experimentar algumas coisas.

              Belinda riu baixinho, mas o acompanhou.

             Dorian a surpreendeu de várias formas naquela madrugada. Primeiro com sua gentileza e com o segredo da crença das moedas na fonte, depois com a rosa, em seguida com comidas gostosas que lhe apresentou, por todas as brincadeiras e tranquilidade que a fez sentir.

              Belinda retornou a Hogwarts poucos minutos antes do amanhecer e a primeira coisa que decidiu desenhar, fora a mão de Dorian lhe estendendo a rosa, fora um gesto de paz entre eles, mais do que o convite para o jantar ou leva-la a Roma.

             Não, não eram um casal, nem mesmo amigos, entretanto estava nascendo algo entre eles, algo tão tímido que era melhor não tentar nomear e acabar com aquilo antes de começar. Talvez não fosse vingar, mas naquela madrugada os dois estiveram bem com o que tinham, aquela sementinha tímida e sem jeito era muito mais que o suficiente. Belinda pensava nisso enquanto encarava seu desenho e ouvia as colegas de quarto começarem a despertar.

 

 


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Notas finais do capítulo

E ai? Curtiram?

Deixem seus comentários.

O que acham que irá acontecer com essa "sementinha tímida" na relação de duas das pessoas mais complicadas dessa história?

Beijos e até o próximo capítulo.



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