You're burning up, I'm cooling down. escrita por Thai


Capítulo 22
Millions of ghosts float.


Notas iniciais do capítulo

Queria esclarecer algumas dúvidas que surgiram no capítulo anterior. Esqueçam tudo o que viram do Sam na série nessa sexta temporada. Eu vou seguir o rumo dos livros, que no caso é: após chegar em Vilavelha ele manda Goiva para Monte Chifre, mas ele mesmo nunca vai até lá.
Sobre a conspiração dos Meistres, eu incluí porque precisava esclarecer o que motivou o Sam a deixar seu treinamento, mas não pretendo me aprofundar nessa questão, ok? Não é o foco da história.
Então é isso, consegui dar um jeito de postar aqui na viagem, espero que gostem!



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— Há coisas que fogem de meu conhecimento, Jon. Era um simples aprendiz na Cidadela, nem mesmo Meistre Moryn sabe a verdade. — Sam dizia. Estava exausto, mas, ainda assim, Jon o mantinha ali como um prisioneiro, o interrogando até o esgotamento. Os olhos pesavam e temia acabar dormindo em meio a uma frase. Mesmo estando cansado, prosseguiu. — Arquimeistre Marwyn foi ter com Daenerys Targaryen. Não sei que fim levou, nunca mais tive notícias. Vilavelha é um lugar de segredos sombrios e milenares, Jon. O que sei é que não os agrada a ideia de dragões, feitiçaria e profecias. Tive que ocultar o que Meistre Aemon me falou sobre a garota Targaryen.

Sansa estava sentada em seu cadeirão com Sam a sua frente. Jon se mantinha de pé, firme e com aparência determinada. Ela também tinha sono, mas as histórias que o corvo contava eram curiosas demais. Sentia-se ainda uma criança ouvindo relatos fantasiosos da Velha Ama.

— Então não os alertou sobre Os Outros? — Jon não era capaz de conter a frustração que se tornava aparente em sua voz.

— Eles fecharam os ouvidos, Jon. Não querem ouvir e se insistisse acabaria sendo silenciado. — Sam tinha o mesmo olhar assustado de quando Jon o conhecera, parecia quase uma vida atrás. Ele soltou um bocejo demorado e esfregou os olhos fortemente, tentando se manter desperto. 

— Está fatigado, Jon. Deixe que se vá. Precisa de um repouso, foi uma longa viagem. — Sansa comentou tentando ser sensata. Embora estivesse interessada no que Sam tinha para dizer, sabia que não arrancariam muito dele naquele estado.

Jon assentiu relutante, só então se sentando. Ele a olhou e ela lhe lançou um sorriso que foi capaz de acolhê-lo. Sentiu o quão exausto ele também estava quando seu corpo relaxou sobre o assento. A madrugada já avançara e o castelo tinha um silencio sepulcral.

— Pode ir, Sam. Encontrará algum guarda no corredor, peça para que lhe indique o caminho. — olhou para o amigo e se sentiu grato por tê-lo a salvo. Sam parecia ainda mais grato sob a possibilidade de poder deitar-se sobre uma cama macia em um cômodo aquecido.

Quando Sam partiu, Jon e Sansa ficaram em silêncio. Processavam as informações que tinham recebido, cada um a seu modo. Jon pensava na guerra, em como poderiam vencê-la se não tinham armas para tal. Sansa ainda tinha as palavras de Sam sobre Daenerys Targaryen ecoando em sua mente. E se Melisandre estiver errada? A mulher errara uma vez a respeito de Stannis Baratheon. Esforçava-se para não deixar que uma esperança incerta lhe inundasse, mesmo assim algo dentro de si lutava para que se agarrasse àquela possibilidade. Olhou então para Jon. Ele tinha os olhos perdidos em um ponto fixo distante, como se apenas seu corpo estivesse ali, mas sua mente tivesse sido carregada para longe. Parecia sem esperanças. Ela então se levantou, caminhando até ele em seguida. Quando Jon notou a aproximação, Sansa já havia se aconchegado em seu colo.

— O que vamos fazer? — ela perguntou em um sussurro, envolvendo os braços em volta dele e repousando sua cabeça no ombro de Jon.

— Eu não sei — ele tinha os dedos se enroscado em uma mecha de fios acobreados enquanto a outra mão descansava sobre o abdome dela. Sansa podia sentir a frustração que emanava dele. — Tive certeza de poucas coisas em minha vida, Sansa. Essa é apenas mais uma de minhas dúvidas.

— Se não pudermos vencer isso e... — ela começou tentando parecer casual, se erguendo alguns centímetros para poder olhá-lo nos olhos. Aqueles olhos que tinham o poder de acalentá-la e quebrá-la ao mesmo tempo. — E surgir uma alternativa que... que me machuque de algum modo...

— O que está dizendo? — Jon a interrompeu, erguendo suas sobrancelhas em um arco que indicava uma ansiedade nervosa.  

— Apenas não hesite, Jon. Faça o que tiver que ser feito. — dizer aquelas palavras fez com que Sansa sentisse uma sensação de desconsolo. A fez sentir-se só, mesmo que Jon estivesse tão próximo de si, a embalando em um ninho de sossego.

— Disse que tenho certeza de poucas coisas, mas meu amor por você não é uma delas. Jamais permitiria que algo a ferisse. Não entendo aonde quer chegar, mas não me agrada. — a face de Jon agora era inflexível, dura como uma pedra de gelo. Era nortenho até os ossos, Sansa podia ver aquilo. Rhaegar havia deixado traços invisíveis de si no filho.  

— Há coisas mais importantes. Manter a paz é uma delas, salvar o máximo de pessoas possíveis. Minha vida não deve ser colocada como superior. Milhões de pessoas irão sofrer. — eram palavras dolorosas, mas Sansa sabia que se um sacrifício seu era demandado, não iria vacilar. Não podia vacilar.  

— Ninguém sofreria mais do que eu se lhe perdesse. Sua vida para mim vale mais do que qualquer outra. — sentia-se incomodado. Jon não entendia porque Sansa entrara em um assunto tão mórbido. No entanto, tinha certeza de cada palavra que proferira,mesmo que fossem controversas. Não importava se todas as vidas existentes tivessem que ser perdidas se isso significasse que Sansa ficaria a salvo.

— Mais do que todas as vidas de Westeros? — ela sabia a resposta para sua pergunta. Mesmo assim, quando Jon falou, uma tensão lúgubre percorreu por seu corpo.

— Sim. — era uma afirmação firme, sem voltas.

Ela se afastou, sabendo que não conseguiria conter a vontade de chorar enquanto o olhasse.

— É melhor eu ir. — disse, se desvencilhando dos braços dele e se apressando para sair.

Jon a alcançou, no entanto, a puxando para seus braços, impedindo-a de dar mais um passo que fosse.

— Não sei o que se passa com você. Não sei de onde vêm essas palavras, mas eu não gosto delas. — ele tocou o queixo dela, o erguendo para que visse seus olhos. Poderia saber se estava lhe escondendo algo contanto que a olhasse nos olhos. Sansa havia ficado muito boa em esconder o que sentia, no entanto.

— Não há nada. São apenas divagações — ela o encarou, tentando manter a face impassível.

— Apenas pare com isso, por favor. Eu nunca vou deixar que nada a machuque novamente. — era uma promessa que Jon carregava consigo como um distintivo de honra.

E quanto a você? E se você tiver que me machucar? Quis perguntar, mas concluiu que permanecer na dúvida era a melhor opção. Então se ateve a sorrir. Daqueles sorrisos que havia aprendido a forçar em situações extremas. Sansa se inclinou para beijar os lábios de Jon e depois saiu da sala. Andou apressada até seu quarto, desejando que ele não a seguisse. Não sentiu os passos dele atrás de si e respirou aliviada. Quando estava dentro do cômodo, deixou que as lágrimas que segurava escorressem por sua face. Estou perdida.

Quando estava quase embalada pelo sono, alheia a toda a realidade que a cercava, Sansa sentiu quando Jon finalmente entrou em seus aposentos. Não sabia quanto tempo  havia passado na sala do conselho depois de o ter deixado, mas o sentiu tenso quando ele deitou ao seu lado, a abraçando. Não precisou que dissesse nada para perceber que não abriria mão dela com facilidade, seus braços eram firmes a envolvendo, como se quisesse impedir que escapasse. Aquilo a perturbou e perturbou seu sono, espantando todo o cansaço que outrora sentira. Não dormiu. Conseguia ouvir Jon respirar suavemente ao seu lado, envolto em um sono profundo. Quis acordá-lo, para poder ouvir sua voz e acalmar seu coração que bombeava apressado em seu peito, mas não o fez. Ao invés disso, se virou com cuidado para poder olhá-lo. Ele estava sereno, quase tão doce quanto uma criança que nunca havia enfrentado uma tormenta. Quis guardar aquela imagem para momentos em que precisasse dele e ele não estivesse lá, então continuou a contemplá-lo, memorizando cada linha de sua face.

***

Bran Stark estava de pé. Sustentava-se sobre as próprias pernas enquanto tocava o campo verde de vegetação rasteira com as palmas dos pés desnudos, era uma clareira ampla e iluminada. Pisava sobre gramas verdes com pequenas flores amarelas, enquanto as esmagava quase sem querer com seus pés descuidados. Sempre que evitava machucar uma rosa, acabava a destroçando de qualquer forma, não importava quanto esforço e cuidado colocasse na ação. Águias voavam sobre sua cabeça em círculos, pareciam estar em perfeita harmonia, movendo suas asas como em uma dança. Um rio nascia ali próximo, mas quando se aproximou, percebeu que as águas estavam paradas. O tom era vermelho vibrante, quase como se o sangue de centenas de milhares de homens tivesse sido usado para regá-lo. Viu morte por todos os lados. A vida havia corrido dali e os peixes, que notou serem trutas, estavam mortos, boiando na água, estáticos. E então as aves começaram a despencar do céu, caindo no rio como pedras, já em óbito. Bran deixou que um grito assustado saísse de sua boca e começou a correr para longe.

A neve começou a cair de maneira incessante e inesperada, em flocos ligeiros quase tão finos quanto gotas de chuva. Sentia o gelo lhe perfurar a carne, mas, de algum modo, o sangue havia congelado em suas veias e não sentia frio. O campo que o envolvia naquele instante estava vazio. Via apenas o branco se estender no horizonte por metros e metros adiante, até onde sua vista não alcançava. O sol era escondido por nuvens carregadas e cinzentas, fazendo com que o dia parecesse noite. Começou a caminhar com passos moderados, sentindo seus pés sendo engolidos pela neve acumulada sob eles. De repente, Verão apareceu ao seu lado, se enroscando entre suas pernas. Bran sorriu para sua cria de lobo, acariciando os pelos do animal e encarando os grandes olhos cinzentos que o miravam ameaçadores. Cinzas... Os olhos de Verão eram amarelos, tão amarelos quanto o sol deveria ser no topo, mas não o era. Deu passos moderados para trás, se afastando com cautela do lobo-gigante que agora lhe mostrava os caninos pontiagudos. Preparou-se para correr, mas então suas pernas falharam e sentiu seu corpo desabar no chão frio, inerte como uma escultura de pedra sepulcral. Observou apavorado quando um lobo de neve avançou contra o animal de olhos cinzas e cravou suas presas de gelo na garganta do outro, fazendo com que sangue jorrasse e a neve se tornasse rubra. Então animal nevado se derreteu.

Sentiu uma vontade desoladora de chorar, mas as lágrimas se congelavam em seus olhos, incapazes de escorrer. Bran espremeu os olhos quando um esplendor alvo ameaçou cegá-lo. Viu quando a Muralha começou a se erguer diante de si, brilhante e cristalina. Crescia cada vez mais à medida que piscava os olhos, mas a via tremer. Balançava como se fosse um tênue pedaço de tecido. O vento era muito forte ali, o estapeando no rosto sempre que o atingia. Ouviu o som de um berrante ecoar grave, lhe enchendo os ouvidos. Foi tomado por uma angustia e se encolheu como uma criança indefesa, gritando enquanto sua voz se misturava ao barulho ensurdecedor. E então se fez silêncio. Um silêncio desesperador.

Quando Bran tomou coragem de olhar ao redor, a Muralha havia derretido e ele era carregado por uma correnteza violenta de águas agitadas. Deixou-se ser guiado pelo curso da fluência e quando seu corpo atracou, estava em uma praia de areias vermelhas. Um vulcão se erguia tão alto que não conseguia ver seu pico, mas lava escorria por suas fortalezas de pedra, laranja e brilhante. Flamejantes jatos de rocha derretida irrompiam do topo, mas Bran não sentiu medo. Sequer se moveu um passo. Antes que o líquido fervente pudesse tocar seus pés, transformava-se em cinzas bem diante de seus olhos. Um dragão voava ao redor do vulcão, mas nunca se aproximava. E então o lobo de neve surgiu, mantendo-se firme e intacto mesmo com o calor que queimava. Os olhos eram vermelhos e estavam vidrados em Bran. Parecia querer se comunicar, mas o garoto Stark não compreendia a mensagem.

Quando acordou, Bran estava suado e ofegante. A alvorada já havia raiado e a luz pálida iluminava seu quarto fracamente. A lareira que deveria estar acesa para aquecê-lo, agora era apenas um rastro de fogo, faminto e sem ter do que alimentar-se. O frio era fúnebre e ele sentiu medo correr por seu sangue.

***

Quando Jon despertou de um sono pesado, Sansa não estava ao seu lado. Era incomum despertar depois dela, mas ele sabia que quando queria evitar pensar em alguma coisa, tratava de ocupar a mente com tarefas e obrigações. Foi informado de que ela estava em sua sala de conselho com o novo Meistre e Willas Tyrell. Quis ir até seu encontro porque ainda não ficava confortável com a presença do herdeiro de Jardim de Cima, mas seguiu até o Salão Principal com a esperança de forrar o estômago com alguma comida. Seu jantar havia sido interrompido pela chegada de Sam. Encontrou ali o amigo, ele comia em uma das mesas espalhadas pelo local e Davos estava ao seu lado. Os dois conversavam sobre alguma coisa, mas se calaram quando Jon se juntou a eles.

— Do que falavam? — questionou desconfiado.

— Sor Davos estava apenas me deixando a par dos acontecimentos — o patrulheiro disse, empurrando um pedaço de pão para dentro.

— Por que ficaram em silêncio quando cheguei, então? — mirou Davos, erguendo uma sobrancelha em dúvida.

— Estava apenas... — o Cavaleiro das Cebolas começou, mas foi Sam quem completou a sentença.

— Falava sobre você e Sansa... — tinha incerteza na voz, até mesmo certo cuidado com as palavras.

— Ah... — Jon deixou escapar o relance de um sorriso divertido em seus lábios. — Isso. Bem, o que posso dizer? — servia-se de pão, bacon frito e cerveja preta.

— Tantas coisas aconteceram enquanto estive fora — Sam falou, tentando processar todas as informações que recebera em tão pouco tempo.

Jon colocou a mão sobre o ombro do amigo e passaram a comer em silêncio. Sam não estava lá quando Jon fora traído pelos patrulheiros. Agradecia por aquilo, teria se oposto e talvez tivesse um fim mais trágico que o seu.

— Então... Quando será o casamento? — Sam indagou quando começaram a caminhar para fora do salão. Davos havia se retirado instantes antes, indo de encontro à sua Rainha.

— Estamos aguardando a chegada do tio de Sansa, Edmure. Ele agora tem posse tanto de Correrrio, quanto das Gêmeas, então precisou de tempo para manter a ordem antes de marchar para o Norte.

— Como isso aconteceu? — Jon olhou para Sam e viu que ele ainda custava a associar tal informação.

— Sentaremos e conversaremos sobre isso no jantar. — Jon prometeu. — E quanto a Goiva e seu bebê, estão seguros?

— A coloquei em um navio para Monte Chifre assim que cheguei a Vilavelha, só então segui para a Cidadela. Acredito que ela estará a salvo longe daqui. Minha mãe me escreveu, às vezes sinto pena por fazê-la acreditar que tem um neto... Mas não havia alternativa. Até o velho Randyll parece ter amolecido com a criança.

Jon maneou com a cabeça. Encontraram alguns homens Tarly pelo caminho, Monte Chifre era uma casa vassala aos Tyrell, mas a maior parte de suas forças havia sido mandada para escoltar Daenerys Targaryen. Jon se perguntou se chegaria a conhecer o pai e o irmão de Sam, desejou que não. Seguiram para o castelo e depois até o quarto de Bran. Sam lhe confessou que havia conhecido seu irmão, mas que não falara nada antes porque havia prometido que não contaria a ninguém que o Stark estava vivo. Havia sido um segredo duro de ser mantido, mas prezava por sua palavra. Quando entraram no cômodo, a atmosfera era fria e Bran estava sozinho. O rosto era pálido, sua pele estava encharcada de suor e fios de cabelos acobreados grudavam em sua testa, os olhos estavam envoltos por profundos círculos escuros.

— Bran? — Jon se aproximou do primo, sentando-se ao seu lado com cautela. Tomou as mãos do mais novo nas suas, estavam gélidas demais. — Onde está Meera?

— Não sei, não a vi hoje. Não tenho certeza. — a voz dele soava fraca, quase inaudível.

— Alimente a lareira, Sam — Jon pediu. O irmão juramentado da Patrulha da Noite começou a trabalhar apressado, colocando grandes toras de lenha no fogo, fazendo com que as chamas aumentassem enquanto consumia a madeira. Jon arrumou as cobertas ao redor de Bran, tentando fazer com que o calor voltasse para seu corpo. — O que houve?

— Jon... Eu tive um sonho — Bran começou, fixando os olhos na cria do lobo e do dragão. — Acho que devemos marchar para a Muralha o quanto antes. Os tempos de paz finalmente se findaram.


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Notas finais do capítulo

Bem, espero que tenham gostado do capítulo, me digam se acham que algo deve ser melhorado.



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