You're burning up, I'm cooling down. escrita por Thai


Capítulo 13
The Queen in the North.


Notas iniciais do capítulo

To animadinha hoje haha
Primeiro de tudo queria agradecer do fundo do meu coração pela recomendação da Scarlett. Muito obrigada, florzinha. É muito gratificante ver que estou conseguindo agradar vocês.
Segundo, eu criei uma vontade obsessiva de reler todos os livros das Crônicas mais uma vez. Já tinha relido antes, mas sinto que sempre que leio aquelas páginas é um mundo novo sendo descoberto, sempre têm surpresas escondidas.
Então eu e uma amiga criamos um grupo de leitura e fizemos um cronograma todo bonitinho com prazos e dias para debate de cada livro. Quem tiver interessado é só entrar nesse grupo aqui: https://www.facebook.com/groups/GrupoAlguemDisseNaTV/?fref=ts
E depois de ser aprovado ir nesse post: https://www.facebook.com/groups/GrupoAlguemDisseNaTV/permalink/664355187050141/
Vou gostar muito de ver vocês por lá, pra podermos discutir nossas visões sobre todo esse universo. Se forem entrar me avisem!
Agora, sobre o capítulo em si, quis dar um ar mais leve depois de todos esses acontecimentos pesados dos últimos capítulos. Minha cabeça está borbulhando de ideias nesse momento e mal posso esperar pra compartilhar vocês.



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Os primeiros raios pálidos de luz que invadiram o quarto de Sansa a fizeram despertar a contragosto. Abriu os olhos muito lentamente de forma preguiçosa, dando um demorado bocejo. Custou a acostumar-se com a claridade da manhã. Estava muito confortável e aquecida. Quando deu por si e abandonou a embriaguez do sono, viu-se em uma posição que não imaginaria estar nem em mil anos. Seu corpo se acomodava naturalmente sobre o de Jon, como se já tivesse estado ali em outras circunstâncias e pertencesse àquele lugar. Estava com a cabeça encostada no peito dele. Não se lembrava em que momento da noite havia pedido por seu colo, mas tinha certeza de que seu corpo havia esboçado a necessidade daquela proximidade.

Aproveitou-se do tempo enquanto ele ainda dormia para observá-lo. Nunca havia se prolongado tanto em repará-lo, então foi uma grata surpresa descobrir os detalhes que o compunham. Tinha o rosto magro e longo, o maxilar era marcante e suas feições estavam serenas, sem deixar revelar muito. A barba era por fazer e os fios negros cresciam grossos e densos. As finas linhas de sua face eram sutis e harmoniosas. Tinha os olhos fechados, mas sabia que eram coloridos por um cinza tão escuro que se confundia por preto. Os lábios eram uma grossa linha, róseos e tentadores. Os cabelos eram tão escuros que lembravam o céu noturno sem estrelas e sequer luar. Seu peito subia e descia conforme respirava suavemente. Percebeu que vestia uma fina blusa branca. O tecido cru era quase transparente. Tinha cordões de lã a amarrando em seu corpo. Ele estava muito quente, quase como se não sentisse necessidade de proteger-se do frio. Pensou que o sangue que corria por suas veias era lava pura, pulsada pelo fogo de dragão em seu coração. Entendeu que embora todas as suas feições fossem fortemente Stark e fosse estranhamente parecido com Ned, a pele morna era característica Targaryen. Demoraria a acostumar-se com aquilo.

Seus olhos se fixaram nas cicatrizes que se revelavam através do tecido tênue. Sentiu quando seu coração passou a pulsar cansado, apercebendo-se de uma angustia que a comprimia. Não conseguia imaginar a dor que deveria ter sentido ao ser esfaqueado por seus companheiros. Sansa guiou seus dedos longos e delicados por sobre o pano até às marcas. Desenhou o vestígio de um golpe no peito dele, muito próximo de seu coração, passeando com cuidado pela pele morta. Jon se remexeu, porém continuou a tocá-lo. Sentiu os olhos dele queimando sobre si enquanto a encarava e interrompeu seus movimentos para buscar pelo olhar dele. Todos os pelos de sua nuca arrepiaram-se ao ser flagrada em seu ato curioso. Sorriu-lhe sem jeito enquanto começava a ruborescer. Jon estampou um sorriso travesso. Sansa observou os olhos semiabertos e sonolentos. A alma dela estava calma, tranquila, quase como se estivesse em paz.

— Bom dia — Jon murmurou mole e a envolveu em seu abraço.

— Bom dia — o sorriso de Sansa era iluminado e leve, como se a noite que se passara não tivesse acontecido.

— Como está se sentindo? — ele perguntou esticando seu corpo de forma a se espreguiçar.  

— Nunca me senti tão bem. É uma pena ter tanto a fazer — ergueu seu corpo sobre os braços em apoio para levantar-se, mas ateve-se por um momento enquanto o olhava.

— O que olha? — Jon questionou sentindo-se envergonhado com os olhos curiosos de Sansa se demorando sobre ele.

— Você — voltou com seus dedos à cicatriz sobre o peito de Jon e desenhou o contorno da ferida. — Ainda consegue sentir a dor? Digo, quando olha por muito tempo, consegue reviver e sentir como se tivesse sendo ferido naquele instante? — tinha curiosidade sobre aquilo. Queria saber se ele também recordava dos golpes que havia levado.

Jon ficou imóvel por um tempo, tanto porque lembrar-se da noite em que havia sido traído era desconfortável, quanto porque não queria mover-se o bastante para tirá-la de seus braços. Ele a encarou. A claridade que adentrava através da janela refletia em seus cabelos alaranjados e davam a impressão de que pegavam fogo, pareciam tardes de outono ou um pôr do sol no verão. Os olhos eram de um azul profundo e difícil de classificar. Nunca havia visto, mas imaginava serem como o anil do mar ao ser tocado pela lua. Imaginava que podia afogar-se neles a qualquer instante. O osso de suas bochechas era protuberante e lhe dava um ar de elegância, era cortês mesmo em aparência. Seus lábios eram um risco pouco espesso, mas convidativo. A pele era alva e brilhante, tocou-a só para sentir a maciez. E então suspirou.

— Lembro-me de cada face ao me apunhalar, uma por uma, da primeira à última. Dos rostos de meus companheiros, pelos quais lutei para manter a vida. Daqueles que já nutriam certo rancor por mim. Sempre que fecho os olhos posso sentir a dor e a vitalidade se esvair de mim através de meu sangue. Posso sentir o frio me acobertar e todo o calor de meu corpo me deixar. Todos os dias. — sua voz era embargada pelo pesar.

Sansa se moveu para abraçá-lo e passar compreensão em seu gesto.

— Sinto muito que tenha passado por isso — falou sincera. — Se pudesse tomaria todas as suas dores para mim. — então o olhou. — Gostaria de voltar ao passado e tratá-lo de forma mais amável.

— Está tudo bem agora. Ser filho bastardo de Eddard Stark me moldou como sou, e acredito ser alguém digno agora. — Sansa se ergueu e sentou-se na cama com as pernas cruzadas sob seu corpo e tomou uma das mãos dele nas suas.

— Quer falar sobre o que me disse noite passada? Sinto que precisa de alguém para extravasar o que sente. Estou aqui. — ela lhe sorriu de forma terna e o incentivou com o olhar.

— Não estou acostumado com a ideia. Quero dizer, nunca desconfiei, mas faz sentido. Você não parece surpresa, no entanto. — ele a analisou intrigado.

— Falei com Bran uns dias após você ter partido. Ele teve uma visão sobre nós... — comentou de forma sugestiva e Jon entendeu do que falava. — Então veio até mim e me contou sobre uma visão que teve sobre o pai... Meu pai — se corrigiu depressa. — E tia Lyanna. Imagino que tenha ouvido a mesma história que eu. Como se sente?

— Sinto-me confuso e acredito que irei demorar em assimilar todas as informações que recebi. Arya já sabe e me ajudou a entender, mas disse que jamais deixaria de me ver como seu irmão — um sorriso de satisfação brincou em seus lábios.

— Arya ama você — Sansa constatou. — Sempre foi uma figura a se espelhar para ela. Vivia rodeada de irmãos com aparências sulistas enquanto você era o único que se parecia com ela, com o pai... Lembro que diziam ser parecida com tia Lyanna, agora entendo que suas feições não vieram do sangue do pai e sim dela. Custei a entender o que de fato isso significava, mas faz tanto sentido... — as palavras de Sansa vazavam de sua boca de forma doce e Jon percebeu que se sentia mais confortável em ouvir dela que Eddard não era seu pai.

— Há sangue Targaryen correndo em minhas veias. Isso é inacreditável. — Sansa riu.

— Não acredito que seja, no entanto. Você poderia ser um rei um dia — disse divertida e sonhadora.

— Poderia ser seu rei — ele sugeriu e apertou suas mãos.

Sansa não lhe respondeu. Sentiu quando a realidade voltou a visitá-la após aquele breve momento em que vivera nas nuvens. Ele não poderia ser seu rei. Seu dever para com o Norte era de proteger cada alma viva que o habitava e com a guerra que seria travada precisaria de todo o apoio que conseguisse. A aliança com a casa Tyrell era essencial. Levantou-se de forma graciosa da cama e caminhou até um armário de madeira maciça e o abriu. Tirou de lá um vestido cinza pesado, pensando em tomar um banho demorado e começar aquele dia. Sentia o olhar de Jon a seguir a cada passo de dava. Ele sentiu frio de repente. Seguiu os passos da prima e a envolveu em seus braços enquanto ainda estava de costas para ele, tentando recobrar o calor que o fazia sentir, embora fosse fria.

— O que há de errado? — quis saber enquanto encostava seu queixo sobre o ombro dela.

Sansa virou-se para olhá-lo nos olhos. Queria poder fazer o que seu coração lhe gritava para fazer. Esquecer todos os lordes e suas regras imbecis, esquecer-se da guerra.

— Não pode ser meu rei, Jon. O nome Willas Tyrell lhe diz algo? — disse insegura quando pronunciou o nome do homem com quem deveria casar-se.

— Não tem que se casar com ele. Você me ama, não ama? — perguntou incerto.

— Lhe disse que amava, não disse?  Lembra-se de que a Mulher Vermelha lhe disse que era o príncipe prometido? Pense como isso faz sentido agora, Jon. Com sua origem. Pense que partirá para a guerra e terei que lidar com o temor de perdê-lo em batalha. Já experimentei essa sensação quando partiu para luta contra Ramsay. Pense que precisará do exército Tyrell ao seu lado e se é isso que terei de fazer para que continue vivo, o farei. Se for a única coisa que posso oferecer... — deixou transparecer seus medos.

— Se me oferecer seu amor não há nada que seja capaz de me derrotar e impedir que retorne para você.

— Gostaria que as coisas fossem tão fáceis quanto as faz parecer. — comentou melancólica e baixou seus olhos.


— Elas são se lutarmos por elas. Lutarei por você, Sansa Stark. Não posso deixar que escape por meus dedos agora que a tenho — tocou-a no queixo e ergueu o olhar dela até o seu.

Então a beijou. Beijou-a com ternura e paixão, querendo que aquele momento se eternizasse. Sansa retribuiu o gesto no mesmo instante, com uma ânsia calorenta surgindo em seu âmago.

— O que iremos fazer, então? — ela perguntou enquanto sua boca ainda estava colada na dele. Jon pressionou seus lábios contra os dela em um movimento urgente e tomou sua face nas mãos.

— Primeiro podemos anunciar aos Lordes toda a verdade. — ele sorriu ao imaginar a reação daqueles homens. — Não desejo mais esconder quem sou. Então você pode mandar uma carta a Olenna Tyrell e dizer-lhe que adie o casamento para quando tudo isso terminar. Encontraremos uma solução. — ele lhe assegurou. — Não deixarei que fuja tão fácil assim.

— Acredito que possamos fazer isso, sim. Agora precisa ir, tenho muito que fazer, Jon Snow. Sou Rainha do Norte — ela sorriu divertida.

— É minha rainha — as palavras que saíram de sua boca causaram estranhamento a principio, mas foi fácil acostumar-se com aquilo enquanto a olhava.

Então ele tocou seus lábios mais uma vez de forma terna e deixou o quarto. Sansa suspirou pesadamente, as pernas bambas. Sentiu-se feliz depois de tanto tempo de tristeza. Era incrível o poder que Jon tinha de alegrar seus dias. Agora, então, que não havia o empecilho de ser seu irmão para atormentá-la, sentia-se livre para amá-lo sem culpa. Tentava manter Willas no fundo de sua mente, guardado como um segredo, evitando pensar tempo o bastante para que isso arruinasse seu momento de paz. Arrumou-se devagar, preparando-se psicologicamente para mais um dia de obrigações. Brienne entrou no quarto um tempo depois. A mulher estava encolhida e seu olhar era de embaraço. Fez uma reverência exagerada.

— Bom dia, Lady Sansa. — cumprimentou sem olhá-la. Sansa assentiu. — Vim para que procure em seu coração um espaço para que me ofereça seu perdão, embora não o mereça. — Sansa riu da situação. A mulher a olhou com os olhos esbugalhados, estupefata. — Disse algo de errado, minha senhora?

— Não há nada para perdoar, Brienne. Nada do que aconteceu foi sua culpa. Não guardo rancor. — falou compreensiva. Culpava Mindinho e apenas ele, daria um jeito de se livrar de sua presença.

— Meu dever era protegê-la e falhei, sinto-me envergonhada.

— Pode ficar tranquila. Estamos bem, eu e você. Agora vamos cuidar dos afazeres do dia. O que temos hoje? — perguntou andando para fora do quarto.

— Só um minuto, Lady Sansa. — chamou. Ergueu para ela o objeto prateado e pontiagudo. Era a adaga que Jon lhe dera. Havia deixado cair no Bosque.

— Obrigada, Brienne. — abriu um sorriso sincero, guardou a arma e partiu para fora do quarto acompanhada da mulher. Encontrou Davos no caminho.

— Os senhores irão partir agora para as Terras Fluviais, Lady Sansa. Imagino que gostaria de estar presente.

Sansa concordou com um aceno e se dirigiu para o pátio. A atmosfera era de total agitação. Homens passavam de um lado para o outro, carregando suprimentos e armas. Vestiam-se para a guerra e estandartes das diversas casas erguiam-se orgulhosos. Observou quando Robbet Glover aproximou-se dela.

— Lady Sansa — cumprimentou. — Partimos agora e encontraremos os homens Umber e Kastark no caminho. Será uma longa jornada devido ao inverno que nos castiga. Mas traremos a vitória para a senhora, minha Rainha. — o homem ajoelhou-se cortês e beijou-lhe as costas da mão destra.

— Que os Deuses lhes protejam, Lorde Glover, rezarei pelos senhores todos os dias. — o homem lhe sorriu e partiu, sumindo na multidão.

 Foi a vez de Wyman Manderly se precipitar até ela. Imaginava como seria para um homenzarrão como ele sobreviver às intempéries do tempo que serviriam como obstáculo.

— Cuidarei para que esses homens se mantenham em ordem, minha Rainha. As Gêmeas já são nossas. — ele gargalhou alto e chamou a atenção dos que passavam por um instante, beijou-lhe a mão com seus lábios babados como Lorde Glover fizera, mas não se ajoelhou, temia não ser capaz de ergue-se novamente.

— Fico grata por isso, Lorde Manderly — ela sorriu divertida.

— Pare de importunar Lady Sansa, Lorde Gordo — Lyanna Mormont apareceu de repente.

Sansa riu da situação e os observou trocarem farpas com o olhar. A pequena Lady a fazia lembrar-se de Arya. Ao pensar na irmã, conseguiu distingui-la entre o amontoado de homens, estava na companhia de Jon. Sorriu com a visão dos dois. Eles pareciam rir de algo e aquilo aqueceu seu coração. Era bom ver o clima de animação que contagiava a todos. Davos parou de frente para ela e a fez desviar da cena que a divertia.

— Irei agora, Lady Sansa. É de uma gratidão que não posso colocar em palavras a confiança que tem depositado em mim. — o homem de feições ordinárias sorriu para ela.

— Eu quem agradeço todo o apoio que me deu, meu nobre Senhor. Tem sido um conselheiro valoroso. Será a melhor representação de mim nessa batalha — então ela abraçou o homem. Era como abraçar seu pai. O largou antes que a nostalgia a fizesse chorar naquele momento que deveria ser de felicidade.

O homem saiu rumo aos Lordes que se reuniam. Ficou apenas com a companhia de Brienne e de Lyanna Mormont, a pequena não iria para a batalha, obviamente. Observou enquanto aglomeravam-se e davam fim nos últimos ajustes para a partida. Jon e Arya aproximaram-se dela. Jon tocou sua mão e entrelaçou seus dedos de maneira firme. Viu os estandartes balançarem contra o vento e sorriu imaginando se seu pai estaria orgulhoso dela. Lorde Manderly se equilibrava sobre um garanhão maior que os demais, só assim para suportar seu peso. Tirou sua espada da bainha, era imensa e brilhante. Olhou para Sansa e bradou honroso e orgulhoso.

— Vamos trazer a vitória para a Rainha do Norte! — falou tão altivo que Sansa sentiu o chão sob seus pés vibrar, contagiando todos os presentes.

— A Rainha do Norte! — gritaram todos.

Sansa não conseguiu conter o sorriso. Sentiu Jon apertar sua mão com mais força e se mexer para falar próximo ao seu ouvido.

Minha Rainha do Norte. — ela corou violentamente e sorriu.

O exército de vassalos começou a se movimentar e partiram rumo ao desconhecido, cavalgando sobre as neves nortenhas e levando consigo o acumulo de pessoas que estavam em Winterfell. Sansa não pôde reprimir a onda de felicidade que a invadiu. Nunca havia sentindo-se tão plena. Tinha o homem que amava ao seu lado e o respeito dos Senhores do Norte. Queria que seu pai e sua mãe estivessem ali para ver como havia crescido.


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Notas finais do capítulo

Espero muito que tenham gostado. Foi muito gostoso escrever sobre esse momento de empolgação. Beijos ♥