You're burning up, I'm cooling down. escrita por Thai


Capítulo 12
Save me, I think I'm losing my mind.


Notas iniciais do capítulo

Olha só eu postando mais um capítulo na madrugada. Não sei, as madrugadas parecem me inspirar de uma forma que os dias não conseguem. O bom é que posso aproveitá-las por causa das férias.
Recomendo demais vocês lerem esse capítulo ouvindo essas duas músicas:
https://www.youtube.com/watch?v=ZmWBrN7QV6Y
https://www.youtube.com/watch?v=bE8QZzpdDFw
Capítulo dedicado à princesa Gabriela Alves.



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Sansa viu Jon e sentiu seu coração acelerar enquanto corria em sua direção. Não se importou com o que sua razão lhe dissera tantas vezes antes, o abraçou como se fosse a última vez em que o veria. O abraçou porque sabia que era o único capaz de fazê-la sentir-se humana. Sentia-se apenas uma carcaça sem vida na maior parte do tempo, arruinada pelos abusos que havia sofrido. Como um corpo inerte cheio de cicatrizes. Mesmo assim ele havia conseguido ver além de suas mágoas e fora capaz de amá-la. E aquilo significava tudo para ela. Ele conseguia enxergar a pessoa que havia dentro de si e não as marcas que Ramsay e Joffrey haviam lhe deixado. Tinha consciência de que ninguém a veria daquela forma além dele. Quando se afastou e o olhou, viu seus olhos cinzentos muito opacos.

— Eu amo você. — as palavras que saíram de sua boca não foram impensadas. Tinha total controle e consciência sobre o que dizia. Enquanto tinha as mãos de Mindinho sobre seu corpo e sentia os lábios dele pressionados contra os seus, a imagem de Jon era a única coisa que a fazia ter forças para rebater as investidas opressoras.

O observou piscar algumas vezes, enquanto seu corpo aguardava temeroso sua resposta. Embora Jon já houvesse confessado seus sentimentos anteriormente, temia tê-lo afastado ao mostrar suas fraquezas. Sabia, no fundo, que era um pensamento leviano. Aquilo havia feito com que Jon a amasse com mais intensidade. Saber que existia alguém no mundo com tantas feridas quanto ele o fazia não sentir-se sozinho.

— O que disse? — indagou. Sansa o olhou com um sorriso surgindo em sua face, observando como ele parecia querer confirmar o que havia dito, como se não acreditasse nos próprios ouvidos.

— Disse que amo você. — a face de Jon se iluminou e ele abriu um sorriso entusiasmado, os olhos voltaram a ter o familiar brilho e Sansa relaxou ao ver a reação esboçada.

— Eu também amo você.

Então ela o abraçou. Aninhou-se em seus braços querendo que tudo ao seu redor desaparecesse. Querendo que seu passado fosse um pesadelo que já havia acordado e que sua realidade era aquela, ao lado dele. Sabia, no entanto, que no momento em que o largasse, todo o peso de suas dores voltaria a lhe afagar o coração, o apertando como mãos gélidas. Estava sempre nervosa, sempre alerta, sempre com medo. E viver daquela forma não era viver. Sua própria existência a comprimia, a dominava.

***

Estavam ambos nos aposentos que eram de Jon. O cômodo era muito frio e a lareira recém-acesa não era suficiente para derreter a grossa camada de gelo que parecia ter formado uma muralha entre os dois. Sansa havia se sentado sobre a cama. Jon a observou enquanto esperava que dissesse algo. Mas ela não o fez. Depois de terem declarado os reais sentimentos que nutriam um pelo outro, não sabiam como agir. Jon a levou para seu quarto porque sabia que algo a incomodava e queria descobrir o motivo de seu choro. Sansa parecia muito inquieta, como se não encontrasse conforto sob a própria pele. Ele então não conseguiu manter a distância entre seus corpos, aquele frio vindo dela o fazia estremecer de forma involuntária e queria voltar a sentir o calor que sentia quando estavam juntos. Sentou-se de frente para ela e agarrou suas mãos. Os dedos eram gelados.

— Diga-me o que se passa. — implorou. O atormentava saber que sofria. Mesmo com tantas incertezas dentro de si, o seu próprio estado não importava quando a via daquela forma.

Ela o olhou. Jon sentiu-se vasculhado. Como se estivesse desbravando cada molécula de seu corpo. Como se soubesse seus medos mais profundos, mesmo os que ele sequer tinha consciência. Sansa fechou os olhos e suspirou pesadamente. Os vislumbres que viajaram por sua mente variaram desde as agressões em Porto Real até o sorriso sádico de Ramsay ao violá-la. Sentiu as mãos ásperas de todos os homens que passaram por sua vida passeando por seu corpo. Podia ouvi-los dizer-lhe palavras horríveis e humilhantes. E então a face de Mindinho tornou-se muito viva em suas alucinações. As lágrimas se esforçavam para cair, mas ela as segurava. Se chorar eles vencem. Se cair eles a terão derrubado. Repetia aquilo para si mesma como um mantra. Quando abriu os olhos novamente e viu Jon, sua imagem não a encheu de paz como antes. Era como se não reconhecesse a presença em sua frente.

— Ficarei bem — ela disse. O sorriso que se repuxou em sua face machucou Jon como nunca havia sido ferido antes. Sequer se comparava aos golpes dos homens que haviam lhe traído. Era um sorriso sofrido e sorrisos não deveriam ser tão cheios de dor.

— Fale comigo, Sansa. O que aconteceu enquanto estive fora? Alguém a machucou? — ele tocou os braços dela com um movimento repentino e vasculhou a pele exposta a procura de machucados. Sansa arregalou os olhos assustada e se levantou bruscamente, afastando-se depressa. Jon observou o distanciamento confuso. — O que há de errado? — sua suplica era em total desespero e ele avançou contra ela.

Sansa olhava o homem que se aproximava com terror. Era Joffrey. Os cabelos muito loiros reluzindo o fogo que crepitava na lareira. Os olhos verdes muito sombrios, nublados e perigosos. Eu matei seu pai.

— Não me toque! — Jon a olhou com aflição, não entendendo o que se passava. Era como se ela falasse com alguém que não fosse ele. — Não me faça ver isso, por favor! — seus olhos estavam distantes e ela mirava um ponto fixo.

Viu então Mindinho. Os olhos cruéis a encarando, a despindo com luxuria, cobiça e desejo. Você se parece tanto com Catelyn.

— Não há ninguém aqui além de nós, Sansa. Você está me preocupando. — a voz de Jon era como um eco afastado.

E então era Ramsay. O sorriso que se tatuava em sua face era sadista e perverso. Ele se divertia com sua dor. Isso não vai doer... muito.

— Eu não posso suportar mais. Por favor, pare! — ela deu um grito agudo e aquilo encheu Jon de medo.

— Sou eu. Jon. — ele tentou apaziguar a situação, mas não sabia como lidar com aquilo. Sansa tinha um ataque de pânico e ele nunca a havia visto tão miserável. Estendeu seus braços e a abraçou, recebendo uma resistência nervosa. Ela lutava contra ele e o esmurrava com força, toda a força que tinha. — Sou Jon, Sansa. Jon Snow. Olhe para mim. — ele tomou a face dela em suas mãos e a forçou a olhá-lo nos olhos.

Sansa parou de lutar enquanto o olhava. Seu corpo relaxou ao redor dos braços dele e encontrou os olhos aflitos de Jon sobre si.

— Eu... — ela espiou ao redor. Seus pensamentos estavam confusos.

— Fale comigo. O que houve?

Brienne entrou no quarto de supetão. Estava ofegante.

— O que aconteceu aqui? Ouvi Lady Sansa gritar.

— Você me diga o que aconteceu aqui enquanto estive fora. Olhe o estado de Sansa. — ele ainda a mantinha sob seu abraço, mas questionara Brienne acusatório.

Brienne engoliu em seco enquanto estudava a imagem de uma Sansa desequilibrada.

— Não pensei que fosse tão grave, eu... Perdão, Lorde Snow, eu falhei. — a mulher baixou os olhos derrotada.

— Do que você está falando? Por que ninguém me diz nada? — Jon exigiu saber o que se passava.

— Lorde Baelish, ele... — Brienne não viu necessidade de continuar quando viu os olhos de Jon se encherem de fúria e entendimento.

Sansa sentiu seu corpo balançar quando Jon a largou e saiu do quarto depressa. Ela correu atrás dele, tentando recuperar os sentidos. Sabia que tinha que segui-lo, mas era difícil acompanhar seus passos largos enquanto sentia-se zonza. Seus pés davam passadas em falso e sua cabeça girava. Olhou para Brienne quando os braços da mulher a envolveram, lhe dando apoio e a guiando pelo caminho. Andaram por algum tempo pelo corredor, despertando olhares curiosos, para então entrarem em um cômodo que Sansa conseguiu, após certo esforço, distinguir como sendo o aposento de Petyr. A imagem que encontrou foi de completo terror. Jon estava sobre Mindinho e o rosto do homem estava ensanguentado enquanto as mãos de Jon se moviam em punho e lhe esmurravam com força excessiva.

— Jon, pare! — ela pediu, mas não obteve atenção.

Viu-se parada no pátio de Winterfell e Jon estava exatamente na mesma posição. No entanto, Ramsay encontrava-se sob ele. Sorria debilmente enquanto recebia os golpes, como se aproveitasse a dor e ela lhe desse prazer. Reviver aquela cena a perturbou como se todas as suas tormentas lhe açoitassem de uma vez só. Observou enquanto Brienne intervia. Jon levantou-se contrariado e as dobras de seus dedos estavam cobertas de sangue. Mindinho parecia desacordado e sua face era inchada. Sentiu-se alheia àquela situação, mas percebia o aglomerado de pessoas que compunham a cena. Passavam por ela como fantasmas a atravessando.

 Era como se estivesse em um universo paralelo.

— Sansa? — sentiu-se puxada de um lugar ilusório para a realidade. Viu Jon a olhando.

Percebeu que estavam sozinhos novamente. Quando aquilo tinha acontecido? Sua memória a havia traído.

— Como pôde fazer aquilo? — ela o questionou.

— Fazer o quê? — Jon ergueu uma de suas sobrancelhas e a analisou curioso.

Sansa olhou para as mãos dele e estavam limpas. O que a rodeava não era o quarto de Mindinho, muito menos o de Jon. Estava em uma imensidão branca de neve. Sentia-se  engolida pela infinidade de nada que a envolvia.

— Jon? — chamou. Sua voz reverberou pelo lugar e foi transpassada pelo vento como eco. Ninguém ouviu. Ninguém respondeu.

Fechou os olhos, espremendo suas pálpebras com força. Quando os abriu, olhou para suas mãos que tremiam e estavam vermelhas e grudentas. Cobertas por sangue. Seu sangue. A lâmina afiada e reluzente de uma espada a atravessava pelo estômago. Ao levantar os olhos, Jon a olhava com pesar. Ele tinha a espada em punhos e a afundava cada vez mais dentro dela.

— Sinto muito... — o ouviu dizer.

Sansa despertou ofegante. Ouviu-se gritar, mas não tinha controle sobre suas ações. Estava suada e seu corpo estava em chamas. Seu quarto era escuro. Gritava mais alto e seus pulmões explodiam pedindo por ar. Não conseguia respirar. Tinha fagulhas em sua garganta. Cinzas. O cômodo inteiro pegava fogo ao seu redor. Então despertou mais uma vez. O silêncio fúnebre da noite sendo interrompido por sua voz que saía em um uivo esganiçado. Dessa vez chamava um nome.

— Jon! — sentou-se na cama se debatendo. Estava em seus aposentos.

— O que aconteceu? — Jon despertou num instante. Estava dormindo em uma cadeira ao lado de sua cama. Esfregou os olhos tentando despertar. — Estou aqui agora.

— Você é real? — perguntou agitada.

Jon se aproximou dela. Tocou uma de suas mãos e a guiou até seu rosto. Moveu-a por sua pele e então apertou deus dedos, os levando até sua boca, onde depositou um beijo delicado na pele dela.

— Sou real. — ele afirmou.

— Acho que estou enlouquecendo — estudou a expressão dele sob a meia luz. — Não sei dizer o que é real. O que aconteceu?

Jon a olhou compreensivo. Tocou a face dela e lhe afagou os cabelos. Sansa viu as dobras de seus dedos inchadas e vermelhas. O sangue coagulado formando feridas.

— Mindinho...?

— Infelizmente vai sobreviver.

— Isso foi real, então. Não consigo dizer se estou sonhando.

— O que você se lembra? — a incentivou a trabalhar sua memória. Cada parte de si queria ajudá-la.

— Acho... Acho que me lembro de Petyr me atacar no Bosque. Lembro que você voltou da viagem ao Gargalo. Lembro-me de ter visto Arya. E você... Esmurrando Mindinho.

— Isso é tudo real. Você não está louca. — falou com um tom de voz suave.

— Como vim parar aqui?

— Você desmaiou. Está dormindo há horas.

Sansa ficou em silêncio. Tentou reviver tudo o que se lembrava, tentando manter-se em equilíbrio com a própria mente. Tentando se agarrar à última gota de sanidade que lhe sobrava que era Jon. Olhou para as próprias mãos e as viu muito pálidas. Não havia sangue. Respirou aliviada. No entanto, temia estar dentro de outro pesadelo.

— Como posso dizer se estou ou não vivendo um pesadelo? — olhou para Jon com clamor.

— Velha Ama me contou certa vez que quando estamos sonhando não somos capazes de contar. Venha, vou ajudá-la. — ele agarrou as duas mãos dela e a guiou com os números enquanto contava seus dedos. Dez. — Está tudo bem agora.

— Obrigada por tudo — a gratidão transbordava através de suas palavras. — Jon... — então se interrompeu.

— O que foi? Pode me falar qualquer coisa — ele a incentivou com o olhar, lhe abrindo um sorriso acolhedor. Talvez tal incentivo foi o que lhe deu coragem de prosseguir.

— Quando disse que o amava... — começou, mas Jon não permitiu que terminasse.

— Não precisamos mais nos punir pelo que sentimos, Sansa. Não é errado.

— O que quer dizer?

— Não sei como falar isso sem soar estranho, mas... Não somos irmãos.

Agora se sentia afogando-se em um mar de ilusões mais do que nunca. Era sua mente lhe pregando peças novamente. Não podia sequer confiar em si mesma.

— Acorde — sussurrou para si. — Acorde, sua garotinha estúpida!

— Ei! Pare com isso. — Sansa o encarou. Ainda estava ali. — Isso não é um sonho. Irei lhe explicar com calma pela manhã. Mas agora tudo o que precisa saber para dormir tranquila é que estou aqui, sou real, nunca irei deixá-la sozinha. Eu prometo.

Aquelas palavras a confortaram. Ele a mantinha sã. Então a beijou. Tocou seus lábios com doçura e Sansa não foi capaz de impedi-lo, sequer queria. O beijou com a mesma paixão. Seus lábios se movendo em sincronia. Lembrava-se de que seu pai lhe prometera um marido corajoso, gentil e forte. E ele estava ali, a beijando como se fosse a última mulher no mundo. Como se conseguisse ver além de seus traumas. Jon via a sobrevivente dentro dela e havia estado ao seu lado orgulhoso durante toda a noite. Era um homem de verdade.  


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado desses momentos em que me aprofundei mais nos traumas da Sansa. O Jon a ajudando é algo que me faz apaixonar cada vez mais pelos dois. Beijos ♥