Nove Meses escrita por Miriã Melo Lima


Capítulo 2
Capitulo 02


Notas iniciais do capítulo

Capitulo revisado e editado 13/06/2017



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Três meses e o tormento… Esse teu sofrimento, eu também já posso sentir… Vê se aquieta o coração, para quando eu sair daqui…”

Ainda era quase surreal assimilar aquela verdade: eu estava grávida. Depois de fazer cinco testes de farmácias e, mais duas poções, tinha que finalmente me convencer que não havia como mudar aquele resultado.

Pelas minhas contas, deveria estar com pouco mais de um mês, talvez dois.

Mesmo sendo extremamente inteligente, sensata e irritantemente sabe-tudo, não sabia quase nada sobre gravidez. Ou sobre como tudo aquilo funcionava.

Claro que todas as garotas no mundo, conhecem os sintomas clássicos: menstruação atrasada, enjoos matinais e indisposição.

Só que saber sobre aquilo e viver aquilo eram coisas completamente diferentes.

E depois de passar dois dias inteiros trancafiada no meu quarto, chorando por algo que não poderia mais ser mudado, decidi que estava na hora de ser racional e enfrentar aquela situação.

O primeiro passo foi sair da cama e me preparar para enfrentar o mundo: mesmo não conseguindo nem ao menos enfrentar a mim mesma!

Não conseguia entender como poderia ter sido irresponsável àquele ponto, minha vida estava arruinada e não havia nada que eu pudesse fazer.

O segundo era procurar o pai. Definitivamente, eu não encararia aquela situação sozinha, não mesmo.

Aquela, talvez, fosse a parte mais complicada até ali, porque terminantemente, Scorpius Malfoy, não era o cara que você ia escolher para ser pai de seu filho.

Scorpius era imaturo, irresponsável e incapaz de levar qualquer coisa a sério.

Nós não éramos os melhores amigos, apenas nos suportávamos mesmo. Tínhamos amigos em comum e nada, absolutamente, nada mais.

Enquanto eu era a nerd obcecada por livros e futuro, ele era o carinha popular que já havia conquistado o mundo, somente por ser quem ele era.

Categoricamente, ser um Malfoy, nunca fora um problema para ele. Claro, que boa parte disto, tem a ver com Draco ter conseguido reerguer o sobrenome da sua família, depois da guerra.

A questão era que Scorpius e eu juntos, éramos um verdadeiro desastre.

Nós havíamos dormindo juntos em uma festa na Sala Precisa, whisky de fogo e cerveja amanteigada, haviam feito o trabalho de nos deixarmos grogues o suficiente, para fazer a gente sentir-se atraídos um pelo outro.

Uma noite de bebedeira e sexo havia gerado um bebê.

Maldita noite. Maldito álcool e maldito Malfoy, que não se protegeu.

Suspirei pela milionésima vez. Bati levemente na porta do dormitório dele, esperando pacientemente que ele abrisse.

Quando ele fez, vi seus olhos cintilarem em um misto de surpresa, malícia e divertimento.

— Eu sabia que você, um dia, ainda ia bater a minha porta e pedir bis, ruiva!

Viu? Patético.

Ao menos, eu teria o prazer de arrancar aquele sorriso maldito do rosto dele.

— Precisamos conversar. E sério. – avisei, enquanto, pouco a pouco, o sorriso que ele sustentava, desaparecia do seu rosto pálido.

— O que você tem? Andou sumida por dois dias… Dominique e Lily estão com a mesma cara de velório que você… E bom, é estranho você bater aqui! – Scorpius era um bom observador, disto, eu nunca tive dúvidas.

— Estou grávida, Scorpius! – não estava em posição para fazer rodeios, seria muito mais fácil, contar de uma vez por todas e resolvermos aquilo.

Um longo minuto de silêncio passou, enquanto eu via os olhos acinzentados escurecerem ao ponto de tornarem-se pretos e brilhantes, e depois, seu rosto empalidecer ainda mais que o normal.

— Eu não entendi… – ele murmurou, engolindo em seco.

— Sim… Você entendeu! Estou grávida, você é o pai… e temos que dar um jeito nisso, porque não, definitivamente, eu não estou pronta para ser mãe e jogar meu futuro no lixo. Eu não quero isso, não posso! – suspirei, despejando minhas frustrações sob ele.

— O quê? Você quer…hum…abortar? – ele me olhou, em um misto de decepção e surpresa.

Meu coração se revirou no peito com aquilo. Doía demais…

— Não… Quer dizer, você não pode! – ele começou a se exaltar, estupefato.

— SIM, EU POSSO! – gritei. – O corpo é meu e a escolha também é minha! Sou eu quem vou passar por todas as mudanças físicas e psicológicas… Sou eu quem vou ter que abrir mão do meu futuro e da minha vida para criar essa criança, eu, e não você, nunca você! Então não venha com esse olhar de decepção e com esse dedo para me apontar! Eu preciso apenas que me apoie e que vá comigo, e aí me ajude com tudo… – suspirei.

— Rose…

— Não! Minha decisão está tomada! Preciso de dinheiro… Tenho algum, mas tenho certeza que não será suficiente…Tem que ser rápido, porque, enquanto mais rápido, melhor! Preciso que você vá comigo e que assuma sua responsabilidade nisso. Precisamos ter tudo pronto até o próximo passeio a Hogsmeade e aparatarmos em um consultório trouxa.

Minha decisão estava tomada… E sinceramente, eu não achava que algo pudesse me fazer mudar de ideia.

Era surreal demais me imaginar sendo mãe, não naquela época da minha vida, não sozinha.

***

Aqueles últimos dias vinham sendo os piores de toda minha vida. Scorpius estava me ajudando a preparar e organizar tudo… No entanto, deixava bem claro que ele era contra.

Discutíamos constantemente e a forma como ele andava me olhando, me deixava perturbada.

Eu havia me tornado uma decepção para ele, sentia isso em tudo que ele fazia e me falava.

E no meu mais profundo íntimo, também me sentia desumana… Culpada e decepcionada comigo mesma.

Quando o dia finalmente chegou, a ansiedade e o medo me sufocava. Dominique e Lily queriam ir comigo, mais achei que era melhor que elas me esperassem em Hogwarts, enxergava nos olhos delas, que eram contra também, embora, nunca tenham me falado nada, e apenas aceitaram e apoiaram minha escolha.

Já era difícil ter que lhe dar com o olhar acusatório de Scorpius, não precisava ver aquilo nelas também.

***

O cheiro de álcool me dava náuseas, a sensação de vazio e o silêncio da sala, faziam com que meu coração batesse acelerado em meu peito.

Scorpius mesmo sendo contra, havia agido de uma maneira que nunca havia esperado, ele tomou a frente de tudo, pesquisou pela melhor clínica e arcou com todos os gastos do procedimento.

A única coisa que ele se recusou a fazer, foi entrar no consultório junto comigo.

Havia lido sobre o procedimento, e parecia ser tudo muito simples e com baixos riscos, se feito da maneira correta.

Quando a enfermeira entrou me dando as instruções que precisavam ser realizadas, meu coração palpitava dentro do peito.

Minhas mãos suavam, meu corpo inteiro tremia.

De repente, aquela certeza que estava sustentando todos aqueles dias, simplesmente haviam se esvaído.

Talvez eu dê trabalho, uma vida de despesas… Mas por favor, me deixe ficar… E se por um acaso, eu não tiver seus olhos, você ainda vai me amar! Eu sei que a ansiedade é quase uma inimiga…Mas eu não quero ser confusão… Então, por favor, me deixe na sua vida… Mas vê se aquieta o seu coração…”

O que eu estava fazendo? Era só um bebezinho, um ser que não tinha culpa, se eu não estava preparada para ser mãe!

Como eu poderia cogitar a possibilidade de matar meu próprio filho? Era uma vida que crescia dentro de mim… Não havia nada mais precioso que uma vida sendo gerada, era excepcional e lindo ver como aquele milagre acontecia.

Como eu seria capaz de tirar a chance de um bebê vir ao mundo?!

Eu já podia sentir as mudanças… A forma levemente pontiaguda, que minha barriga estava tomando.

Aquilo era único. Não era o momento certo. Mas talvez, não houvesse momento certo para aquilo.

Eu estava assustada, mas poderia encarar aquilo, pelo bebê. Para a vida que estava crescendo dentro de mim.

Se é tempestade, todo medo… Se for arrependimento, por favor, tira daí, você ainda não me tem inteiro, nem me conhece direito, mas já posso te ouvir… E quando a barriga for crescendo, você ainda vai ser linda, eu nem preciso te ver, seca o choro e fica aqui comigo, que até assim tristinha, eu já sei que amo você!”

Eu não podia simplesmente ignorar aquele sentimento, que pouco a pouco, se alastrava dentro do meu peito, era uma mistura de sensações: medo, insegurança, amor, confiança, tristeza, alegria… Tantas contradições, tantas incertezas, haviam me levado até ali, eu simplesmente não havia dado chance para entender e aceitar aquela situação.

Em nenhum momento, eu pensei naquela vida, fui egoísta e pensei somente no futuro, em tudo que eu perderia ao ser mãe aos dezessete anos, mas o quê aquele ser perderia com essa decisão?

Ele não teria nem mesmo a chance de escolher, nem mesmo a oportunidade de nascer teria, se eu fosse egoísta ao pensar somente em mim.

Como eu poderia viver todos os meus sonhos, se para vivê-los, teria que roubar a vida dele?

Eu não poderia. Eu já não era única, minhas decisões, já não deveriam ser tomadas levianamente, agora eu era responsável por outra vida.

Não era tudo sobre mim, mais sim, sobre nós.

Antes que o médico pudesse entrar, saí daquela sala em passos largos e incertos, enquanto procurava desesperada pela saída.

Quando avistei Scorpius recostado em um pilar de gesso, corri em sua direção, ignorando todos os motivos que sempre tive para odiá-lo e me joguei em seus braços.

Scorpius me agarrou com tanta força e determinação, que eu soube que não estava sozinha.

Nunca estaria. Seja qual fosse minhas escolhas, ele estaria sempre lá.

A prova disto, era ele estar ali, mesmo não aprovando minha decisão.

Ele havia respeitado a minha escolha antes e respeitaria agora.

— Me tira daqui, Scorpius. Por favor, me tira daqui… – foi a única coisa que consegui dizer, enquanto as lágrimas corriam soltas pelo meu rosto, trazendo todos os sentimentos que estiveram reprimidos durante aqueles dias.

 

 


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