Quando entrei no dormitório, com os olhos inchados e o rosto escondido no peito dele, Dominique e Lily me alcançaram com agilidade, enquanto tentavam entender o que estava acontecendo.

— Eu não consegui… – resmunguei, em meio as lágrimas e o abraço protetor que elas estavam me dando.

— Oh… Graças a Merlin… – Domi suspirou, acariciando meu cabelo.

— Como poderia? Ele é só um bebezinho, não tem culpa… Não tem culpa! O que eu vou fazer agora?

— Nós estamos aqui, vai ficar tudo bem…– Lily murmurou, enquanto tentava me acalmar.

Eu não sabia como seria o meu futuro, de repente, todos os planos que havia feito durante toda minha vida, tornaram-se insignificantes e pequenos demais, diante da minha atual situação.

Era assustador não saber o que o futuro estaria me reservando, principalmente, com uma criança a tiracolo, no entanto, agora não havia muita coisa a ser feita, tinha que aceitar e encarar aquela situação.

***

Não estava pronta para contar ao mundo sobre a gravidez, por isto, estava ficando cada vez mais difícil sustentar esse segredo.

Além de Scorpius e eu, apenas Lily e Dominique sabiam, entretanto, várias pessoas já estavam percebendo que havia algo acontecendo comigo.

Os professores estavam sempre perguntando se eu estava bem, já que meu desempenho vinha caindo nas últimas semanas, Scorpius estava sempre por perto.

Ele estava tão perdido e assustado quanto eu, no entanto, se mantinha firme em minha frente, a única vez que realmente o vi titubear, foi quando Alvo descobriu acidentalmente sobre o bebê.

Meu primo pirou, ignorou completamente o fato de Scorpius ser seu melhor amigo e, partiu para cima dele sem pensar duas vezes.

O mais impressionante foi que Scorpius deixou Alvo lhe socar repetidas vezes, sem sequer, se proteger.

Quando o nariz dele já estava sangrando o suficiente e, eu me enfiei entre eles, foi que finalmente Scorpius pareceu acordar de um transe.

— Seu merda, sabe o que fez com a vida dela? – ele sabia, nós dois sabíamos.

— Acredite, Alvo, eu entendo sua reação. Mas não venha me falar disto, como se eu tivesse simplesmente ignorado a situação, eu estou aqui. Estou ao lado dela, para o que ela precisar. Sei que fodi com nossas vidas, não precisa jogar isso na minha cara! Não é só a vida dela que vai mudar, porra. É a minha também, você acha que eu queria um filho agora? Acha que essa situação é favorável para mim? Acha que escolhi isso? Foi irresponsabilidade? Foi, mas não tem o que ser feito, apenas aceite isso… E se puder, seja meu amigo agora e me apoie, porque a última coisa que eu preciso, é que logo você se volte contra mim.

E ele saiu caminhando pelo corredor, deixando Alvo e eu para trás.

— Ele tem razão… – suspirei. – Não fique contra ele, acredite isso é a última coisa que fará bem para a gente. A culpa não é só dele, tenho tanta culpa quando ele, tudo que nos resta é encarar isso agora, Alvo… – ele me olhou atento, balançando levemente a cabeça.

— Já pensou quando contar isso ao tio Ron e tia Hermione?

Aquele era o ponto, meu maior pesadelo era enfrentar os meus pais. Não saberia como suportar o olhar decepcionado que eles me dariam.

— Todo o tempo… – fui sincera.

— Estou do lado de vocês, ok? Vou estar aqui, me desculpe pela reação… É que isso era tão improvável, não pelo Scorpius, mas por você… – ele suspirou, me puxando para um abraço.

— De qualquer forma, essa criança terá a sorte de ter você como mãe e aquele babaca como pai, vocês vão se sair bem nisso, tenho certeza.

***

Quanto mais o tempo passava, mais instáveis as coisas ficavam. Sentia sutis mudanças ocorrendo o tempo todo no meu corpo, minha pele estava mais limpa e macia, meus cabelos estavam crescendo cada vez mais rápidos, e o volume na minha barriga estava aumentando gradativamente.

Os sintomas estavam cada vez mais evidentes também, minha fome havia aumentando bastante, o irritante era depois de praticamente todas as refeições, colocar tudo o que consumia para fora.

Lily insistia em dizer que eu estava mais corada, mesmo que eu achasse que estava era cheia de olheiras e pálida.

Meu reflexo no espelho estava mudando, enquanto todo meu interior modificava-se lentamente também, meus sentimentos oscilavam muito, tinha dias que estava radiantemente feliz, enquanto em outros, apenas chorava.

Scorpius estava instável também, embora sempre estivesse bem mais forte e centrado que eu, e agora, provavelmente, o considerava extremamente corajoso.

Já que ele havia marcado um encontro com os pais, para contar sobre minha gravidez, enquanto eu ainda tentava atrasar o máximo que podia, o dia de contar sobre a gravidez para toda minha família.

Suspirei. Olhando-me refletida no espelho, levantei a blusa de lã que usava, deixando minha barriga aparecer, virei-me de lado, olhando a pequena ondulação que já se via.

— É quase imperceptível… – ele parou no batente, enquanto seus olhos fixavam-se em minha barriga.

Soltei um breve sorriso, assentindo.

— Como foi? – perguntei curiosa, enquanto meu coração batia em um ritmo alucinante, não sabia como me sentiria se estivéssemos realmente sozinhos nessa.

— Bem… – ele entrou finalmente no quarto, batendo a porta. – Acho que a maior surpresa não foi o fato de ter uma garota grávida na história e, sim, quem é a garota. – ele sorriu, jogando-se na cama, desleixadamente.

— Eles me odeiam? – perguntei baixo, enquanto abaixava minha blusa.

— Não. Eles achavam que pela ordem natural das coisas, você deveria me odiar, acharam que estávamos juntos. – Scorpius riu. – Infelizmente fui obrigado a explicar como nosso filho foi gerado.

Fechei os olhos, fazendo uma careta.

— Devem achar que sou uma desajustada.

— Isso não importa, Rose. Minha mãe vai marcar uma consulta de pré-natal para você, enquanto não decide quando contar aos seus pais. – ele suspirou. – Se quiser, eles se disponibilizaram a conversar com eles.

Assenti.

— Obrigada, mas tenho que fazer isso sozinha. – recusei, mesmo querendo aceitar.

***

— Estou grávida. – quando aquelas duas palavrinhas pequenas e insignificantes quando separadas, escaparam da minha boca, o caos se instalou na Toca.

A verdade era que minha família poderia esperar isso de qualquer um dos meus primos e nunca de mim.

Não da perfeita Rose, filha da Ministra da Magia e de um dos maiores aurores do ministério.

Não da jovem com futuro promissor que todos esperavam coisas grandiosas.

— Que brincadeira sem graça é  essa, Rose?– meu pai soltou em seguida, enquanto todos me olhavam surpresos.

— Não é brincadeira pai. – suspirei. – Estou grávida. – afirmei, pela segunda vez. E o pai é Scorpius Malfoy.

Pronto, se aquela notícia seria suficiente para desestabilizar minha família, aquilo, somado ao fato de Scorpius ser o pai, tornou a situação ainda mais delicada.

Meu pai e Draco ainda tinham uma velha rixa, adoravam se provocarem todas as raras vezes que se cruzavam.

— Eu vou matar aquele filhote de Doninha. VOU MATA-LO, HERMIONE. – àquela altura, a confusão já estava armada e os gritos, e insultos, vinham por todos os lados.

Foi uma loucura, todos estavam completamente embasbacados e sem reação.

— VOCÊS PODEM, POR FAVOR, NÃO ME OLHAREM ASSIM! – gritei, chamando a atenção de todos.

— Como quer que olhemos você? Grávida, Rose? Daquele Malfoy?– lá estava meu pai, exaltado, vermelho e com os olhos inundados de lágrimas.

— Acreditem, ninguém aqui sente-se mais decepcionada do que eu mesma. Ninguém. Cometi o pior erro da minha vida e tentei concertar pelo modo mais fácil, fui egoísta ao ignorar o valor da vida que está sendo gerada, ao pensar somente no futuro brilhante que poderia ser destruído. Scorpius tem sido a pessoa mais incrível do mundo, provavelmente, vai ser um pai muito melhor do que eu, sei que isso não é o que vocês esperavam de mim, mas no momento, é a minha realidade. – funguei, em meio às lágrimas.

Depois daquilo, meu pai não me olhou mais, nem escreveu nenhuma carta, desde então.

Minha mãe deixou claro, o quando estava decepcionada, mas garantiu que estaria ao meu lado em todo tempo.

Fui a minha primeira consulta de pré-natal, Astória, Scorpius e mamãe, me acompanharam.

Foi bem esclarecedor, a médica me explicou todas as mudanças que aconteceriam, me receitou vitaminas e remédios que ajudariam com os enjoos, e pediu também, a primeira ecografia do bebê, que faríamos em alguns dias.

Descobri, que ao contrário do que a maioria das mulheres que não são mães pensam, não contamos a gravidez por meses, e sim, por semanas, e que aquela ainda seria apenas uma descoberta, diante das milhares de coisas que ainda viriam a descobrir sobre maternidade e ser mãe.