Coração de Lata escrita por Lady Padackles


Capítulo 8
É que eu estava nervoso demais...




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/697697/chapter/8

— Ai, Sam, espero que a gente não esteja viajando a toa, viu? A Cassandra ficou puta quando eu disse que ia pro Japão. – Oliver olhou o patrão, que esperava ao seu lado na fila do embarque. Atrás deles, um grupo de quatro seguranças para protegê-los.

Oliver Queen era o braço direito de Sam na empresa, e Winchester chamou-o para acompanhá-lo na viagem. Sabia que precisaria de ajuda, e Oliver além de competente, sabia falar japonês com mais fluência que ele. Fora o fato de ser seu amigo, e Sam possivelmente precisaria de algum apoio emocional. Estava uma pilha de nervos.

Winchester não havia contado a Dean que viajaria acompanhado, com medo que ele sentisse ciúmes. Oliver era um homem muito bonito: louro de olhos azuis, e muito musculoso. Mesmo assim, sentir ciúmes dele era tolice, já que Queen era hétero, e casado com Cassandra...

— A Cassandra tem que entender! Viajar a trabalho é necessário as vezes... – Sam bufou. Não gostava de Oliver se lamentando em seus ouvidos. Nem precisava dizer que ele também estava preocupado e torcia para conseguir um bom investimento. Se não conseguisse, estaria em uma situação realmente ruim.

Quando finalmente sentaram-se em suas poltronas, ambos trataram de se acomodar da melhor forma possível. Seria uma longa viagem...

—----------------------------------------------------------------------

O dia amanheceu na mansão dos Winchester. Dean se levantou pensando em explorar o lado de fora e ter ideias de como fugir dali. Sentia saudades de estar perto da natureza, e também, com Castiel distraído, talvez o robozinho não ficasse pensando em beijá-lo e coisas do tipo.

O louro ficou bastante decepcionado quando olhou pela janela e viu a chuva que caia. Suspirou pesadamente. O verão havia acabado, e o outono, pelo jeito, já estava começando com chuva...

— Bom dia, Dean! – Castiel cumprimentou sorridente, assim que viu seu dono de pé.

Dean sorriu de volta, um pouco chateado por causa do mau tempo.

— Pelo jeito vamos ter que ficar aqui dentro hoje... – lamentou-se o homem, apontando a janela. Fazer o que? Teriam que se contentar com jogos eletrônicos e televisão. Pelo menos até a chuva passar...

Para infelicidade de Dean, choveu o dia inteirinho, e o dia seguinte também. Castiel, apesar de não ter se declarado de novo, tentava aproximar-se mais do louro sempre que lhe era possível. Campbell gostava do robô, e sempre se esquivava de maneira delicada e com educação. Era exatamente porque gostava dele que não queria se envolver demais.

Estavam vendo televisão. Um filme que Castiel havia escolhido, e, que por coincidência ou não, era um romance homossexual. Lá pelas tantas, o androide repousou sua cabeça no ombro de Dean.

— Castiel... Por favor, assim você me atrapalha... – O louro disse, sentindo-se um tanto culpado, ao ver o robozinho afastar-se sem reclamar.

—----------------------------------------------------------------------

Enquanto isso, a muitos quilômetros de distância, Sam estava tendo um péssimo dia.

— Malditos japoneses! Filhos da puta! - esbravejava ele aos ouvidos de Oliver.

— Eles não são obrigados a investir mais na sua empresa, Sam... O investimento foi pouco, mas fazer o quê? Vamos cortar os gastos... A gente dá um jeito.

— Cortar os gastos!? - Winchester ficou alarmado. Oliver falava como se cortar gastos fosse algo possível. Bem, até era. Mas não o suficiente para livrá-los da crise. Com tão pouco investimento, o único futuro que ele conseguia enxergar era a falência.

Queen deu de ombros. Estava satisfeito por pelo menos terem conseguido resolver tudo depressa. Não tinham conseguido todo o investimento que queriam, mas pelo menos os japoneses não ficaram enrolando por mais tempo. Dois dias de reuniões e nada mais. Agora podiam ir pra casa. Cassandra ia ficar feliz com a surpresa.

—----------------------------------------------------------------------

— Cas, o que há com você? - Dean reclamou mais uma vez depois que o robô insistiu em recostar sobre ele.

— Eu... - o robozinho olhou o patrão com a expressão um tanto assustada. - Eu não sei, Dean. Eu... Acho que estou com frio.

Campbell riu. Castiel estava agora dando uma de espertinho para se encostar nele.

— E desde quando você sente frio, hein, mocinho? - perguntou achando graça.

Castiel não retribuiu o sorriso, e só aí Dean percebeu que o androide não estava brincando. Tinha algo acontecendo. E era algo muito errado...

— Não sei... O robozinho respondei com a voz fraca. Eu estou tremendo...

Sim. Castiel estava tremendo. Dean desligou a televisão e, assustado, foi examiná-lo. O androide estava, além de trêmulo, muito gelado.

— Meu Deus, o que fazer!? O primeiro impulso de Dean foi enrolar o robô em uma coberta felpuda. Queria poder chamar um médico, mas no caso de Castiel, ele não podia... Desesperado, o rapaz pegou o manual do robô. Começou a folheá-lo afoito, mas era um volume tão grosso que só deixou Campbell mais nervoso...

—----------------------------------------------------------------------

— Calma, Sam. Ficar desesperado não vai adiantar muita coisa...

— Você diz isso porque não foi você que arruinou a empresa do seu pai... Se quiser, pode cair fora e arranjar um bom emprego em outro lugar.

Winchester estava agora sentado com Queen dentro de um bar/restaurante no aeroporto. Teriam que esperar ainda alguma horas até poderem embarcar.

— Mais uma, por favor – Sam pediu ao garçom, se referindo a uma dose de uísque.

— Você também pode arranjar um bom emprego, se tudo der errado... - Oliver tentou amenizar, deixando Winchester ainda mais desgostoso.

De repente o celular do moreno tocou. Era Dean. No mesmo momento Sam sentiu seu coração sair pela boca. Seu marido não sabia que estava voltando cedo pra casa... Achava que estaria trabalhando, em reunião, em uma hora como aquela. Aquilo só podia significar algo grave. Muito grave... Isso se fosse mesmo Dean a telefoná-lo, e não um sequestrador que tinha se apossado do celular do rapaz.

— Alô! - Winchester atendeu alarmado.

— Sam! - ouvir a voz de Dean não deixou de ser um alivio. Mas o louro soava desesperado.

— O que aconteceu, amor? Você está machucado!?

Queen tocou o braço do patrão, como se o gesto pudesse confortá-lo de alguma tragédia. Pelo jeito era uma notícia ruim.

— Não... É... - a voz de Dean estava embargada. - O Castiel... Ele... Sei lá... Está tendo um treco. Desculpa eu te atrapalhar no trabalho, mas eu não sei o que fazer, Sammy!

Sam levou um ou dois segundos para digerir a informação.

— Castiel tendo um treco? - perguntou, agora com indignação na voz.

— É... Ele está tremendo. Está todo gelado... E agora. Nem está mais falando coisa com coisa. - Sam ouviu o louro fungar discretamente.

Então Campbell estava ligando para falar de um robô quebrado? Poderia estar atrapalhando uma reunião importante! Poderia estar interrompendo um momento de negociação... O moreno sentiu uma onda de calor subir à sua face.

— Ah, Dean. Vai a merda! - Esbravejou ele - Eu disse pra você ligar se tivesse uma emergência! Vai catar coquinho...

Dean tinha Castiel recostado em seu corpo, e o envolvia com um dos braços. Com a outra mão, segurava o celular. Estava desesperado.

Enquanto seu amigo parecia convulsionar ao seu lado, Sam, em vez de ajudá-lo, lhe dava um bronca?

O louro sentiu que as lágrimas agora surgiam com abundância em seus olhos.

— Vai a merda você, Sam! Se eu estou te ligando é porque não tive opção. O que eu faço com ele? - perguntou por fim, tentando se acalmar. - O fabricante é japonês. Talvez você possa pedir ajuda a alguém...

— Eu estou ocupado! - o moreno berrou, assustando não só Campbell e Queen, como um grupo de japoneses sentados em uma mesa próxima. - Se o Castiel quebrou, vai ver televisão, ou jogar videogame. - sugeriu, com raiva. Aquilo não era hora de se preocupar com um robô. Ele tinha problemas piores. Muito piores...

— Então vai se fuder, você e esse seu trabalho de merda. E todos esses japoneses filhos da puta!

Dean desligou o telefone na cara do marido. Estava com muita raiva. Não porque Sam não pôde ajudá-lo, mas porque gritou com ele. Fora um insensível, ignorando seu sofrimento. Castiel não era um objeto qualquer. Era seu amigo...

—----------------------------------------------------------------------

— Castiel? - o louro chamou, choroso.

O robô abriu os olhos e fitou seu dono, mas nada falou, deixando o coração de Dean ainda mais apertado.

Eu vou conseguir ajuda... Fica aqui quietinho, que eu já volto. - o louro disse, ajeitando o androide no sofá com cuidado. Em seguida deu-lhe um beijo nos cabelos. Não queria deixar Castiel sozinho, mas não tinha outra opção.

Campbell já tinha ligado para o fabricante, mas só conseguia ouvir uma mensagem em japonês do outro lado da linha. Sam sabia falar um pouco, mas Dean não entendia nada. Se Castiel estivesse em condições, talvez pudesse ele mesmo conseguir ajuda. Mas o pobre robozinho mal conseguia balbuciar alguma coisa naquele momento.

O louro então entrou na internet e pesquisou sobre robôs. Existiam muito poucos no mundo como o seu, todos com aparêcias distintas. E eles eram caros... Não achou nada além de algumas fotos e do manual, que ele já tinha.

—----------------------------------------------------------------------

— Nossa, Sam... Nunca vi você falando desse jeito com o Dean... Não vai descontar suas frustrações em cima dele!

Sam bufava. Não era ele que descontava suas frustrações em cima de Dean. Era o louro que estava exagerando, ficando maluco por causa daquele maldito robô.

— Ele bateu o telefone na minha cara, Oliver. Tudo por causa de um robô idiota que eu dei pra ele de presente. O Dean parece retardado. Trata o androide como se fosse gente... Tomara que ele quebre de vez. - o moreno desabafou.

— Trata o robô como se fosse gente? - Oliver estava curioso. Sam então contou a ele sobre Castiel e como ele parecia um ser humano de verdade.

— Sam... Você que é maluco... Eu jamais daria um robô dessas para a Cassandra. Isso é encrenca na certa...

— Pelo amor de Deus, homem! - Winchester exaltou-se. - Ele é um robô! Um robô, entende? Importa se ele se parece com um homem? Ele não é um homem! Dean vai ter que entender isso.

—----------------------------------------------------------------------

Dean não sabia mais o que fazer. Chorava segurando Castiel em seus braços quando reparou que o sol começava a brilhar lá fora. Depois de dias de chuva... Dias em que ele e Castiel nem colocaram o nariz para fora de casa.

Sentindo uma pontadinha de esperança, Campbell pegou o robozinho em seus braços e carregou-o até o pátio da piscina, deixando que a luz solar esquentasse seu corpo.

Horas mais tarde, o androide já estava bem. Dean suspirou aliviado. Castiel era tão humano, que ele nem mesmo lembrara que o robô precisava da luz exterior para recarregar as baterias. Não podia deixar ele descarregar de novo. Nunca mais... Mesmo que chovesse, o robô precisaria ficar, pelo menos por algum tempo, do lado de fora.

Apesar de tranquilo com a recuperação de Castiel, Dean continuava com o coração apertado. Tinha brigado com Sam. Desligado o telefone na cara do marido. Não queria ligar e atrapalhá-lo de novo no trabalho, mas precisava se desculpar.

Era natural que Sam tivesse ficado tão furioso. Ele, Dean, estava se apegando demais a Cas, e era de se esperar que o marido sentisse ciúmes. E a verdade, é que ele tinha motivo para isso... Dean já não conseguia esconder de si mesmo que gostava do robozinho mais do que deveria.

Por duas vezes pensou que fosse perder seu androide, e sentiu-se completamente desesperado. Se aquilo não fosse amor, paixão, então o que haveria de ser? Mas ele também amava Sam, disso Campbell tinha certeza. Mesmo que eles não passassem muito tempo juntos, ou nem mesmo tivessem muitos assuntos em comum, o amor que ele sentia por aquele alce gigante era enorme. O louro sorriu tristemente ao lembra-se do moreno com seu cabelos esvoaçantes e lindas covinhas no rosto. A última coisa que queria na vida era magoá-lo.

Mas seria possível amar dois ao mesmo tempo? Dean estava confuso. Por mais que doesse, ele precisava decidir o que fazer antes de machucar mais ainda as pessoas que amava.

—----------------------------------------------------------------------

Sam também estava triste por ter brigado com Dean. Agora, dentro do avião, aconchegado em sua poltrona de primeira classe, estava mais calmo e repensava a conversa que tiveram. Tudo bem que seu marido era um pouco tolo, se preocupando com Castiel como se fosse gente. Mas o louro estava mesmo desesperado, dava para sentir em sua voz. Campbell não tinha o costume de atrapalhá-lo no trabalho, não fizera de propósito...

Oliver tinha razão. Ele estava descontando suas frustrações em cima de Dean... Tadinho. Ligara para Sam a procura de apoio e recebera um coice de volta... Winchester suspirou. Ligaria para se desculpar assim que chegasse à Europa, onde faria conexão.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Coração de Lata" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.